Que canelada, Ricardo Teixeira!
Esse tópico ia entrar no post anterior, “Boladas & Caneladas”, mas achei melhor colocá-lo à parte. Algo me diz que esse assunto irá render muito, principalmente no futuro.
“Pensei que a Bolívia e algum outro país da área andina é que estavam aborrecidos com a posição de Teixeira [Ricardo, presidente da CBF], mas me surpreendi que outros estejam. Teixeira, como nosso representante no Comitê Executivo da Fifa, não nos representou", afirmou Carlos Chávez, presidente da federação boliviana.
Anteontem, na reunião do Executivo da Conmebol, todas as federações nacionais do continente, exceto a brasileira, ratificaram o apoio aos jogos em locais acima de
Segundo Chávez, Teixeira anotou um ""gol contra" ao não assinar documento enviado à Fifa apoiando a decisão da Conmebol, que não vai vetar jogos na altitude em suas competições, como a Libertadores.
""É uma situação delicada. A atitude brasileira vai afetar o que sempre foi a Conmebol: unida, integrada e monolítica", afirmou o dirigente boliviano.
Teixeira agiu com base em resolução recente da Fifa.”
O trecho acima está transcrito da matéria a respeito publicada pela Folha de S.Paulo de hoje. O que a matéria não diz, mas eu me atrevo imaginar, é que essa decisão de R Teixeira será cobrada, e com juros, em futuro próximo.
Durante a maior parte de sua existência a Confederação Sul Americana de Futebol foi um local insalubre para o futebol brasileiro. Essa, por sinal, é tão somente a reprodução do que sempre aconteceu na vida real ou na vida geral. O Brasil sempre foi um estranho no ninho sul-americano, diferenciado, mas não isolado, pela língua e pela história. “Simon Bolívar” – Biografias Gandesa – México, 1960 (1ª edição), escrita por Gerhard Masur, a melhor biografia do grande ídolo de um certo coronel venezuelano, cita o Brasil em apenas 8 de suas 600 páginas. Pior ainda, nas menções significativas, o Brasil é o inimigo a ser temido e do qual se deve proteger. Em “Peixe na Água”, livro de memórias de Mario Vargas Llosa, intelectual de primeira grandeza com especial gosto pelo Brasil, inclusive com um livro de peso sobre Canudos, tampouco se encontra referências ao país e a seus intelectuais. Llosa só veio a descobrir o Brasil numa fase mais adiantada de sua vida e de sua carreira como escritor e intelectual combativo, além de político por algum tempo – foi candidato à presidência do Peru, derrotado por “El Chino” Fujimori.
Coincidindo com a maior abertura do Brasil para a América do Sul, a CBF também inseriu-se com jeito na CONMEBOL. Quando Teixeira pleiteou a Copa 2014 para o Brasil, em nenhum momento deixou de ter total apoio da Confederação, que ignorou simplesmente o desejo colombiano de organizá-la, curando-se do vexame de 1986, da mesma forma que jogou por terra quaisquer pretensões que grupos argentinos e chilenos chegaram a esboçar de apresentar uma candidatura conjunta – por sinal, estimulada abertamente por Blatter.
É esse castelo lenta e cuidadosamente construído que Ricardo Teixeira pode ter derrubado. Mais que defender a resolução da FIFA sobre os jogos na altitude, Teixeira defendeu a posição do Flamengo em campanha solitária a favor de não disputar jogos da Libertadores
Para complicar ainda mais esse quadro, dois dos presidentes dos paises afetados, o boliviano Evo Morales e Rafael Correa, do Equador, envolveram-se pessoalmente nessa disputa, contando com o apoio entusiasmado de Hugo Chávez, cujos tentáculos movidos a petrodólares vão muito longe da Venezuela.
Em minha opinião, errou o Flamengo com essa campanha, cuja motivação real desconheço. Muito mais que o Flamengo errou o presidente da CBF ao apoiar o pedido de seu filiado na reunião do Conselho Executivo da CONMEBOL e ao defender a recomendação da FIFA a respeito para jogos de seleções nacionais.
E voltou a deixar o Brasil isolado politicamente no seio de sua Confederação.
Essa fatura será cobrada do futebol brasileiro, estejam certos disso.
E não será barata.
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