Um Olhar Crônico Esportivo

Um espaço para textos e comentários sobre esportes.

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sexta-feira, agosto 29, 2008

A “Sul Americana” reage


Há muito tempo fala-se mal da Copa Nissan Sul Americana.


De minha parte já falei bem dela, em especial em sua edição de 2007, que contou com a participação de um time da MLS – Major League Soccer.


Mesmo o meu ‘falar bem’ era cheio de ressalvas, a principal delas a época de realização. Não faz sentido fazer a Sul Americana no segundo semestre apenas para agradar ao Boca Juniors e ao River Plate, equipes com presença a bem dizer cativa na competição e, pior, entrando já em sua segunda fase. Claro, é direito da AFA indicar quem bem entender e da forma que melhor entender, mas isso é um acinte às demais equipes. Por trás disso, a necessidade dos dois times fazerem dinheiro, qualquer dinheiro, a qualquer custo, principalmente, e a infantilóide disputa do Boca que quer ser o ‘maior vencedor de Copas’ do mundo. Infantil, sim, porque sabe todo amante da bola que há Copas e copas.


No Brasil, a Sul Americana castiga, quero dizer, premia o campeão brasileiro com participação – que é obrigatória – na mesma. É a velha lógica tupiniquim de sempre penalizar os melhores times com jogos e mais jogos, boa parte deles sem sentido ou utilidade. Realizada durante o segundo turno do Campeonato Brasileiro, quando as definições ganham força, seja em cima, seja embaixo, nossas equipes, acertadamente, privilegiam o Brasileiro. Ou porque almejam o título ou porque querem a Libertadores ou porque já estão na reta do desespero e querendo sair dela, pois ao seu final está o rebaixamento.


Aliado a esse fato, há o baixo retorno financeiro da Copinha. Segundo informações (que ainda pretendo confirmar), cada equipe recebe US$ 75,000.00 por jogo e mais a renda do mesmo. Renda que já vem descontada em 20% (CONMEBOL, CBF e federação estadual). Ao campeão cabe um prêmio de 1 milhão ou de meio milhão de dólares. Nada de extraordinário, mesmo que seja o valor maior, lembrando que o dólar, novamente em viés de baixa, caminha para 1,60 e daí para baixo, a depender do humor do eleitor americano.


Ontem, depois de vários jogos com reservas, e do campeão brasileiro ter mandado a campo um time com 7 garotos, 3 reservas e somente 1 titular, veio a primeira reação e, como não poderia deixar de ser, partindo de quem partiu, veio na forma de um golpe baixo, bem casuístico. A seguir, transcrevo nota da Painel, publicada na Folha de S.Paulo de hoje:


“Quem mandou?


Patrocinadores da Conmebol fazem lobby para que a confederação brinde o campeão da Copa Sul-Americana com vaga na Libertadores-2009. Retaliação aos clubes que desprezam a competição e usam times reservas, alguns eliminados já na fase nacional do torneio. A tese é que dar um prêmio extra ao vencedor não fere o regulamento do campeonato. Além disso, as regras da próxima Libertadores não estão definidas. Pressionada, a entidade dá sinais de irritação com os brasileiros, que protagonizam duelos de reservas.”



Agora, leitores deste Olhar Crônico Esportivo, façam um pequeno favor: onde lê-se ‘patrocinadores’, leiam Traffic.


Entenderam?


Pois é. O polvo estica seus tentáculos.


Bom final de semana para todos.


Este blogueiro atrasou sua viagem por culpa desse polvo – ops – dessa agência.



:o)


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quinta-feira, agosto 28, 2008

Cesão solta a voz


No Cubo d’Água ele soltou os braços, as pernas, o corpo todo e conquistou o ouro na prova mais veloz da natação. Essa conquista foi basicamente fruto de seu esforço e do esforço de seus pais. No caso dele, especificamente, a CBDA nada participou.


Cesão veio de Santa Bárbara d’Oeste para o Pinheiros, onde treinou e nadou por dois anos com Gustavo Borges. Foi com essa base, somada ao seu início no interior, que ele mostrou-se dotado de grande potencial como atleta de natação. Conquistou uma bolsa de estudos numa boa universidade no estado de Alabama, nos Estados Unidos e mudou-se. Lá, passou a treinar com o australiano Brett Hawke, responsável direto por sua evolução.


O resto, todo mundo já sabe, ouro e bronze em Pequim.


Hoje vivi um momento de sorte. Saí para uma reunião, liguei o rádio e peguei o final do Esporte em Discussão, na Jovem Pan. O pessoal falava do garoto Oscar, que estreou ontem no Morumbi, no jogo contra o Atlético Paranaense. Ouvi com interesse, claro, e na sequência entrou o Cesão, em visita ao estúdio, que foi entrevistado ao vivo.


Conversa vai, conversa vem, boas perguntas, excelentes respostas – aliás, como se expressa bem o Cesão! – e já no tempo estourado, invadindo o horário do programa seguinte, um dos entrevistadores pergunta se ele tinha visto o Ronaldinho Gaúcho falando ao celular no pódio, durante a entrega das medalhas.


- Não sabia e não gostei de ficar sabendo.


Curto e grosso. Mas ele não parou nisso, até porque os jornalistas deram trela, naturalmente. Foi além e disse que isso era um desrespeito, que o pódio é um lugar sagrado para o atleta. Cesão estava mesmo impressionado com o fato, o que motivou um comentário com cara de pergunta:


- Você parece chocado com essa informação.


- Eu estou chocado, sim.


Só por isso já teria valido muito ouvir a entrevista, mas ela não tinha acabado e o mais impactante e importante ainda estava por vir.


A pergunta veio numa sequência sem grandes novidades, mais uma pergunta padrão de entrevistas do tipo:


- Cesar, tem algum dia que você lembra de ter acordado com mais dores, um dia em que você treinou mais, ficou mais dolorido?


- Todo dia é dolorido, a gente tem dores, é a vida de um atleta. Mas tem um dia que eu lembro que foi pior porque eu estava muito irritado.

(Observação: Cesão começou a falar e não foi interrompido.)

Eu estava saindo para treinar quando recebi um telefonema do Brasil, era o pessoal (da CBDA) pedindo para eu vir para cá, porque teria uma reunião dos atletas com o Lula e a minha presença era importante.

Eu expliquei que não dava para ir, não, porque eu estava numa fase muito importante do meu treinamento.

(Cesão explica:)

Eu tinha que pegar um vôo para Atlanta, lá pegaria um para São Paulo e depois outro para Brasília. Só de vôos, sem contar aeroportos e atrasos, seriam dezesseis horas de viagem. Eu perderia dois dias de treino para ir, mais um para ficar no Brasil, ou dois, e mais dois voltando, então não dava, e expliquei isso, mas o pessoal insistia.

Ligaram pro meu pai, no consultório, e ficaram duas horas falando com ele, não o deixando trabalhar, atender as pessoas.

Aí me ligaram de novo, dizendo que se eu não participasse iria perder o patrocínio de não sei quantos reais. Eu falei que tudo bem, podia perder o patrocínio, mas não podia abrir mão dos meus treinos e comprometer uma medalha (ele dá uma paradinha, ri e comenta que nem sabia se ia ganhar uma medalha).


- Cesar – pergunta um jornalista – quem foi esse idiota.

Cesão hesita um instante, o jornalista pergunta se ele pode falar e ele solta o verbo:


- Foi o presidente da CBDA.


A entrevista continuou por mais uns dois minutos e, com grande avanço sobre o programa do Anchieta Filho, terminou.


Xuxa, empresário de Cesão, estava com ele.


Achei tão impressionantes essas declarações que peguei o celular e liguei para um amigo, contando a ele o que eu tinha acabado de ouvir.


Esse é o mundo do esporte olímpico brasileiro, onde um presidente de confederação acha mais importante interromper um rigoroso programa de treinamento de um atleta apenas para ele aparecer numa reunião com o presidente da república – nesse ponto, sou obrigado a dizer que o presidente não sabe disso, porque se soubesse, ou quando vier a saber, vai reagir forte e vai sobrar para os aspones que criam esse tipo de absurdo.


Maior absurdo ainda, ou nem tanto, já que fica difícil mensurar os absurdos, é esse presidente de confederação ameaçar o atleta com a perda de seu patrocínio.


Esse é o pessoal que faz discursos pedindo dinheiro, dinheiro, dinheiro, dinheiro e mais um bocado de dinheiro, para fazer do Brasil uma grande potência olímpica.


Parabéns, Cesão!


Você é muuuuuuuiiiiito medalha de ouro.



Clique aqui e acesse a entrevista na íntegra, com 21 minutos de duração. Esse trecho sobre a ameaça começa aos 16'30".


P.s.: Coaracy Nunes é o nome do presidente da CBDA – Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos. Está no poder desde sempre, como os outros.



Correção: este blogueiro referiu-se ao presidente da CBDA como Almirante. Ele não é, nunca foi, é advogado. Peço desculpas pela falha. É o que dá confiar na memória e escrever sem pesquisar.



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Gerenciando a freguesia e ganhando mais dinheiro



Maximising Revenue from Ticketing and CRM



Esse é o nome de um relatório publicado pela Sport Business e destinado, basicamente, a dirigentes de entidades esportivas da Europa e de todo o mundo (como o ‘trem’ custa caro e este blogueiro é pobre e tupiniquim, não terei acesso ao dito cujo; mas deve ser bom, pois a Sport Business é gigantesca e vive, em parte, de produtos como esse).


Bom, lendo o título dá para entender que se trata de algo relacionado à maximização de receitas oriundas de bilheteria e de...


Ops! O que é esse tal de CRM?


É algo simples: Customer Relationship Management ou, em bom português, Gerenciamento de Relações com o Cliente. Trocando em mais miúdos, podemos dizer que se trata do que deve ser feito para conhecer, entender e, naturalmente, manter sua freguesia satisfeita e, desculpem pela redundância, freguesa de seus produtos ou serviços.


Na Europa, a receita dos jogos chega a impensáveis 42%, ou perto disso, da receita operacional total de alguns clubes. Claro, essa receita compreende mais que a bilheteria por si só. Essa, como disse Ferran Soriano em palestra aqui no Brasil (quem não leu pode achar neste Olhar Crônico Esportivo pesquisando por Ferran Soriano na ferramenta de busca), é a mesma coisa de que os circos do século XIX e começo do XX viviam. E de que viviam os clubes espanhóis até a liberação dos canais de televisão, o advento da TV paga e a explosão do futebol como entretenimento de massa já na década de 90 do século passado.


A nova realidade econômica, tecnológica, social, gerou novas necessidades e, naturalmente, novas oportunidades. Entre essas, destaca-se no mundo do futebol o advento do matchday ao invés da simplória bilheteria. Por matchday entende-se o conjunto de ações e ofertas que levam o torcedor a ser um consumidor, mais que isso, um multiconsumidor. Ao invés de comprar um ingresso e um picolé, o torcedor é exposto a um mundo de possibilidades, onde o picolé transforma-se em lauto almoço familiar ou jantar e aperitivos com os amigos, no próprio estádio, muitas vezes assistindo à própria partida enquanto o garçom circula com os pratos e copos. As lojas oferecem tudo e mais algumas coisas relacionadas com o clube do coração. O memorial, por um módico preço, é um atrativo a mais, para recordar o passado e sonhar com o futuro. E por aí vai.


Os clubes europeus bons de marketing executam múltiplas ações de CRM, digamos. Tirando a sofisticação e o anglicismo, nada mais são que ações que qualquer dono de padaria ou armazém deveria fazer com seus fregueses, algumas delas de uma simplicidade absoluta. Como saber o dia do aniversário de seu torcedor/associado/consumidor e cumprimentá-lo, talvez até dando um presente, uma lembrança, com a marca de seu time do coração. As possibilidades são inúmeras, infinitas, facilitadas hoje pelo desenvolvimento absurdo da informática, que faz com que um bom banco de dados se preste às mais fantásticas ações. Basta querer, claro, e basta ter esse banco de dados.


Ah, aqui o bicho pega.


Ter um banco de dados? Ora, a maioria de nossos clubes sequer têm um controle razoável de quem paga e de quanto paga para entrar num jogo!


Voltando ao relatório da SB, um dos itens do estudo não se aplica à nossa realidade: ‘Como otimizar preços (de ingressos) e evitar meio estádio vazio’. Pois é, não se aplica porque ainda temos que aprender a como fazer para encher meio estádio. Claro, há torcidas aqui e ali que vão mais aos estádios, mas costuma ser por fases. De qualquer forma, acabam sendo exceções que confirmam a regra.


Há outros tópicos muito interessantes, como um que trata da fidelização do comprador de ingressos para toda a temporada e como atrair mais compradores para esse segmento Premium.


Hummmmmmmmmmmm... Mais um tópico que não se aplica ao Brasil.


Bom, mas há tópicos de nosso interesse... Tem que haver, TEM! Eu acredito que haja...


Opa, tem um aqui: ‘Melhorar a eficiência operacional e a segurança através de novos formatos de ingressos’.


Bom, pensando bem, nosso negócio ainda é garantir que os ingressos sejam vendidos pelo clube e não pelos cambistas.


Ah, ok, esse sim, com toda certeza: ‘Desmistificando o complexo CRM e decidindo se ele compensa o investimento’ – ok, esse é um bom tópico, não resta a menor dúvida. Na pior das hipóteses, sempre ficaremos sabendo que vale muito mais a pena investir o que for necessário no relacionamento com o cliente do que deixá-lo abandonado ao deusdará.


É... Uma simples leitura desses e de outros tópicos do relatório mostra o quanto estamos defasados em relação ao que o esporte, e o futebol em particular, permite e que não fazemos.


Uma coisa que se aplica a nós, com toda a certeza e sem ironia, está na explanação de motivos que levaram a Sport Business a produzir esse relatório: “Muitas organizações (esportivas) estão deparando com quedas na freqüência e na audiência de seus espetáculos, devido à concorrência com outras formas de lazer e ao advento de novos canais de comunicação...” e esse estudo se propõe a mostrar algumas formas para impedir ou reverter esse quadro, que não é geral, mas em alguns países e esportes ganha importância.


Bom, é isso aí. Confesso que gostaria de ler esse estudo completo, mas não dá pra pagar 695 libras pela versão impressa ou 995 libras pela versão PDF, baixável pela internet. A libra hoje está cotada na base de uma para 2,9765 reais, ou seja, uma relação de 3 reais para 1 libra.


Entenderam o porque do chororô deste blogueiro?


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Duro e bom aprendizado

(Aviso aos navegantes: esse é um post sobre o São Paulo.)


Há muitos anos, no distante 1985, vi um time do São Paulo sair de campo eliminado de uma competição depois de um empate. Parte do time era de meninos, que sentiam ali, na pele, as agruras da vida adulta. Era o time de Muller, Silas, Sidney, que ao lado de Pita e Careca viria a dar muitas alegrias ao torcedor do São Paulo.

Ontem, uma cena parecida aconteceu. Num Morumbi vazio e meio gelado, um time com 7 garotos, com idades entre dezessete e vinte anos, não conseguiu vencer o Atlético Paranaense no tempo normal. A disputa foi para os pênaltis, o experiente Juninho viu o goleiro defender seu chute e o mesmo aconteceu com o garoto – pouco mais de dezessete anos – Oscar.

Deu para perceber que ele chorava depois de terminada as cobranças, aliás, não só ele. Vejo nessa manhã com cara de inverno que ele chorou copiosamente.

Bom, sem querer ser sádico, tudo que posso dizer é: Excelente!

Talvez por ser meio antigo, sou de opinião que as perdas e reveses forjam o caráter muito melhor que vitórias, em especial as falsas vitórias. Por isso é bom sentir, mesmo, o peso de uma derrota que não aconteceu como normalmente aconteceria. Por isso é bom sentir o peso de um jogo empatado que foi para a cobrança de pênaltis para, ali sim, o time ver-se derrotado pelo capricho, pelo azar, pela falta de pontaria, pela falta de experiência, pela tranqüilidade maior dos jogadores do outro time. Esse jogo, essa eliminação, da forma que ocorreu, pode ter sido muito mais marcante e muito mais instrutivo do que se Pedro Oldoni tivesse marcado um gol e o CAP tivesse vencido no tempo normal. O empate seguido pela cobrança de pênaltis e a eliminação doeu muito mais, machucou muito mais, até pelo gostinho de estar próximo para logo em seguida ficar inalcançável.

Oscar é um excelente jovem jogador, mas só o tempo, e ele mesmo, dirá se será um excelente, um grande jogador, quem sabe um craque na acepção da palavra, como muitos profissionais experientes antevêem dentro do São Paulo. E não se pode dizer que sejam pessoas ineptas ou inexperientes, pois são as mesmas que acompanharam Kaká e Denílson, entre muitos outros jovens nascidos na base do clube.

O menino Oscar não está sozinho. Sergio Motta, Juninho (Victor Junior), Henrique, Mazola, Wellington, entre outros, além de Aislan e Cazumba que já estrearam no ‘time de cima’, são promessas de bom futuro, de grande futuro.

Muitos torcedores e críticos ainda vão criticar a diretoria por essa decisão de inscrever os garotos na Copa Sul Americana, deixando os titulares propriamente ditos concentrados somente na disputa do Brasileiro, mas eu, particularmente, tenho plena convicção que essa foi a melhor decisão possível. A Copa Sul Americana, apesar do nome e propósitos pomposos, tem muito pouca importância. A rigor, ela leva do nada a lugar nenhum. Para um clube como o São Paulo, que já disputou a Libertadores, ela representa mais uma carga de jogos e viagens extenuantes. O time participa dela por sua condição de campeão brasileiro, mas não a valoriza, ao contrário dos argentinos, por exemplo, cujos grandes times fazem questão absoluta de disputá-la. Esse, por sinal, parece ser o maior entrave para que ela ocorra de forma simultânea com a Libertadores, como deveria acontecer e como acontece na Europa, onde a Champions League e a Copa da UEFA são disputadas ao mesmo tempo, por equipes diferentes. Com uma coisa boa: os clubes eliminados na primeira fase da Champions League, mas que alcançaram a terceira colocação em seus grupos, são encaminhados para a disputa da Copa da UEFA, já em sua fase eliminatória. Nesse caso, sim, trata-se de um prêmio. De consolação, é bem verdade, mas é um prêmio.

Financeiramente, a Sul Americana tem pouca atração, com uma cota de 75.000 dólares por jogo. Esse valor, que equivale a 120.000 reais, é muito baixo e as rendas não são compensadoras. Ontem, no Morumbi, pouco mais de três mil testemunhas, quero dizer, torcedores, deixaram 64.000 reais nas bilheterias. Esse valor, na prática, é o mesmo que zero, uma vez descontadas as despesas com o funcionamento noturno do estádio, as despesas com o jogo, as despesas com as taxas diversas: CONMEBOL, CBF, FPF e arbitragem. Só as três entidades ficam com 20% da renda bruta.

O raciocínio da direção do clube é simples: o São Paulo tem muito mais a ganhar concentrando-se na disputa do título brasileiro ou, em último caso, uma vaga na Libertadores de 2009. A leitura pode ser inversa, também: o São Paulo tem muito a perder dispendendo esforços para a disputa da Sul Americana.

Os dois jogos contra o CAP foram válidos. Os meninos ganharam seu batismo de fogo, amadureceram, cresceram. Os torcedores puderam vê-los em ação e os mais atentos terão notado que é muito cedo, ainda, para eles jogarem no time principal. Falta-lhes, mais que experiência, um físico mais desenvolvido, que lhes permita agüentar o ritmo e os trancos de um jogo entre equipes maduras da primeira divisão. Ontem à noite, já na metade do segundo tempo era visível que muitos estavam cansados, desgastados, até por não terem a experiência necessária para dosar as energias. Somente os craques ou as exceções encaram sem problemas os ‘times de cima’ logo de cara. O próprio São Paulo tem alguns exemplos recentes: Kaká, Alex Silva e Breno. O primeiro é craque, já nasceu craque, e mesmo com físico pouco desenvolvido em relação aos companheiros e, sobretudo, aos adversários, já estreou jogando muito bem. Os outros dois são jogadores privilegiados por uma constituição física muito forte, que aliada à boa técnica fez com que começassem a jogar na principal categoria do Brasil sem que sentissem grandes impactos. São, entretanto, exceções, e não a regra.

Do jogo de ontem, ficou o valioso aprendizado. Será importante no futuro.


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segunda-feira, agosto 25, 2008

A janela vai fechando...



Sexta-feira, 29 de agosto, fecha-se a janela de verão, na prática, uma vez que FIFA, CBF & Cia. bela não trabalham para registros e transferências nos finais de semana.


Vieram alguns, saíram alguns.


Saíram menos do que se imaginava a princípio, embora, segundo os diretores do São Paulo os compradores agitem-se mais um pouco nessa reta final. É aquela velha história: quem precisa vender e fez c* doce, como dizia vovó, agora corre atrás do dinheiro esperado e que não chegou. Sabedores disso, alguns compradores deixam tudo para essa última hora.


Diogo já foi, assim como Renan.

Diego, o Cavalieri, e Valdívia, também se foram.

D’Alessandro chegou e já está jogando, assim como Marcelinho Paraíba.

Thiago Silva já fechou seu semestre: fica no Fluminense até dezembro.

Thiago Neves, ainda, está fazendo onda e suspense, e não se sabe se fica ou se vai. Nada de anormal para quem é ele.

Hernanes disse que fica, mas a boataria de última hora diz que não é bem assim.

Alex Silva, por outro lado, vai mesmo e para o Hamburgo, a dar-se crédito às muitas conversas que circulam por toda parte.


De hoje até sexta-feira à noite ainda poderemos ter surpresas.


Mas agora falta pouco tempo. Na próxima semana já poderemos ter um horizonte mais claro sobre quem será quem nessa reta final do Brasileiro 2008.



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Sutileza olímpica



“Beijing, Beijing e tchau, tchau”



Esse é o título do anúncio em página inteira no Estadão (e provavelmente também na Folha, que ainda não vi) com que a Rede Record abre seu ‘ciclo olímpico’.


“... a única emissora de TV brasileira a transmitir os próximos Jogos... de Inverno... os Jogos Panamericanos... e... Londres, em 2012” – essa declaração forte, sem dúvida, está no miolo do texto, que encerra com uma chamada um pouco diferente:


“Record. A emissora oficial das Olimpíadas de Londres 2012”


As três competições são exclusivas da Record, que nos últimos anos criticou a Globo e o Clube dos 13 pela cláusula de exclusividade presente nos contratos de transmissão dos jogos do Campeonato Brasileiro. Como foi dito por este Olhar Crônico Esportivo, cláusulas de exclusividade são parte do mundo dos negócios e servem para valorizar o produto para quem vende e para quem compra. Nada há de anti-ético ou monopolista em sua existência, como chegou a ser dito, cifrada ou abertamente, por profissionais da Record, exaustivamente repetidos por alguns jornalistas.


Então, ficamos assim, certo?


A Rede Record vai contratar Cleber Machado, a quem teria sido prometido um “Luxemburgo” mensal (quinhentos mil reais) como salário para liderar a nova equipe de esportes que precisará ser criada, ou seja, terá que ser toda contratada.

A Rede tem um longo, cansativo e extremamente caro caminho a percorrer, independentemente dos 70 milhões de dólares já pagos pelo pacote das duas Olimpíadas e o Pan de Guadalajara. Como também já foi dito neste Olhar Crônico Esportivo, não se tratará apenas de contratar os ponteiros, os rostos que, em tese, deverão ser a cara da emissora, mas também contratar, treinar, entrosar toda uma gigantesca equipe técnica. Quando o primeiro fogo de artifício estourar em Vancouver, Guadalajara e, por fim, em Londres, tudo precisará estar ‘nos trinques’. E até o encerramento apoteótico que os ingleses farão no verão europeu de 2012, muito dinheiro precisará ser investido.


O pessoal do Comercial não perdeu tempo e já está no mercado, oferecendo o Ciclo Olímpico Record, chamado de Tripé Olímpico.


As cotas de patrocínio para os Jogos Olímpicos de Inverno, em 2010 em Vancouver, custam 5,2 milhões de dólares cada.


É complicado... Jogos de Inverno?

Que audiência a Rede conseguirá puxar para esse evento, cheio de provas de esqui, trenós e coisa e tal? Aparentemente, somente a patinação no gelo dará retorno de público.


As seis cotas nacionais para o Pan de Guadalajara têm custo unitário de 15 milhões de dólares. É um bocado de dinheiro, também.


O principal pacote publicitário cobre o Tripé Olímpico no decorrer dos próximos quatro anos, cobrindo os três eventos pela pechincha de 52 milhões de dólares.


É dólar pra burro, dinheiro de gente grande.

Em especial para ser investido em emissoras que não tem a preferência da maioria dos telespectadores.


Esse, por sinal, é um grande trabalho a ser executado: fazer com que o público acostume-se à Record ao invés da Globo.


Se pensar um pouquinho, encontraremos outras tarefas desse porte, com certeza doze trabalhos de Hércules para conseguir chance de sucesso na transmissão desses jogos.


Precavida, a direção da Rede fecha o texto com uma assinatura mais ampla e light, que vale a pena repetir:


“Record. A emissora oficial das Olimpíadas de Londres 2012”


Uma coisa é ser a “oficial”, outra é ser a única a transmitir.

Uma sutil diferença, uma verdadeira sutileza olímpica.


Como disse no texto “Moedas de troca da Record”, acredito que a Rede Record não vai ficar sozinha com os custos e, consequentemente, a transmissão desses jogos.

Aposto sete de minhas hipotéticas dez fichas que Galvão abrirá as transmissões de 2012 com o “Alô, amigos da Rede Globo” direto de Londres.


E, na Record, alguém estará transmitindo os jogos do Brasileiro e também da Copa Santander Libertadores.


O mercado vai ficar agitado e este Olhar Crônico Esportivo aposta as (sete) fichas de seu editor nisso.






Post Scriptum



Daniel Castro revela em sua coluna de hoje que a Record pretende contratar um time de 300 profissionais para seu projeto olímpico.


Como forma de viabilizar, ou melhor, de otimizar o aproveitamento desse pessoal e ao mesmo tempo ir preparando a audiência que já tem e cativando a que ainda não tem, a Rede pretende disputar – e comprar – os direitos de transmissão de campeonatos nacionais de esportes olímpicos, como vôlei, judô e ginástica. Diz ainda Daniel, titular da coluna “Outro Canal” da Folha de S.Paulo, que a emissora não irá transmitir todos, repassando as transmissões para a Record News, tal como faz a Globo em relação ao Sportv.


Na Record acreditam que a emissora do Jardim Botânico reduzirá drasticamente as aparições desses esportes na grade de programação.


Como eu disse na primeira parte desse post, eles teriam de contratar muita gente. E para Londres 2012 eu, particularmente, acho o número reduzido, ainda.


Os dados estão lançados. Olimpicamente falando, porém, fica melhor “as flechas estão lançadas” e, dependendo de onde e como caírem, seus resultados poderão ser letais.



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Olimpíada, substantivo feminino




A gramática e a realidade combinaram-se à perfeição na participação brasileira nos Jogos Olímpicos de Pequim: o relativo sucesso brasileiro – e sucesso apenas para consumo interno – deveu-se ao desempenho de Maurren, e de Fofão, Mari, Sheila, Paula, Fabi e suas companheiras do time de vôlei, assim como Keitlyn e Nathalia, além, é claro, de Fernanda e Isabe na vela.

O mundo masculino brasileiro fracassou em Pequim. Entenda-se por fracasso o desempenho de atletas que, por currículo e resultados recentes eram apontados fora do país como favoritos a medalhas. Como foram os casos de João Derly, no judô, Diego Hipolyto, na ginástica, o time de vôlei masculino de quadra, esse, sim, candidatíssimo ao ouro e o próprio futebol masculino, entre alguns outros. Falhamos, também, no mundo feminino, tanto na ginástica como no vôlei de praia, que voltam sem medalhas.

Evoluímos, inegavelmente, e nisso concordo com o Sr. Nuzman, dirigente eterno, que apontou o salto que demos em relação a Atenas, participando de 33 finais olímpicas contra 30 em 2004. Um crescimento de 10%, reduzido a pó quando comparado ao crescimento das verbas destinadas à “Pequim 2008”.

Nada menos de 1,2 bilhão de reais foi gasto nesse atual ciclo olímpico, o que dá a bagatela de 80 milhões de reais por medalha conquistada.
Ficaria mais barato e produtivo recompensar um Bolt ou meio Phelps com 100 milhões de dólares – 160 milhões de reais – cada, caso um deles ou ambos se naturalizassem brasileiros. Seríamos, então, uma potência olímpica, status prometido por Nuzman no distante ano de 1995, quando tomou posse na presidência do COB.

Será interessante observar se dirigentes do COB e das federações nacionais estarão em Piracicaba, em novembro, assistindo aos Jogos Abertos do Interior de São Paulo. Espera-se cerca de 15.000 atletas, competindo em todas as modalidades olímpicas, praticamente. Provavelmente, ou com certeza, não veremos cartolas em Piracicaba, afinal, estarão todos concentrados, pensando em como arranjar mais recursos para construírem suas ‘cidades da natação’, ‘cidades do vôlei’ e outras cidades diversas, sem falar, é claro, no esforço que todos estarão dispendendo, movidos por dinheiro público, para defender “Rio 2016”. Como todos sabem que não é conveniente misturar festas com esporte, estarão distantes de Piracicaba, mergulhados em festas por toda parte, de Ipanema a Trafalgar Square, da Praça da Paz Celestial a Manhatann.

Fora o futebol e mais recentemente o vôlei masculino, o esporte brasileiro sobrevive à custa de fenômenos, atletas que venceram muito mais por seus próprios e exclusivos atributos do que como frutos de uma estrutura e de uma prática voltada à valorização dos atletas e, principalmente, à prática de esportes como produto de política de estado voltada à saúde e à formação dos jovens.

Cada um dos oitenta milhões de reais que custou uma medalha olímpica, poderia ter sido usado na construção e manutenção de pequenos centros esportivos por todo o país, atraindo crianças e jovens, a partir de professores e instrutores bem pagos e altamente motivados para a difusão do esporte entre a juventude. Ao tomar conhecimento desses números percebe-se que dinheiro existe, o que não existe, e não é novidade, é a sua administração inteligente, para ficar no mínimo.

Grande novidade.




P.s.: esse texto será devidamente arquivado para permitir sua reutilização em 2012, no dia seguinte ao encerramento dos Jogos Olímpicos de Londres.

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