Um Olhar Crônico Esportivo

Um espaço para textos e comentários sobre esportes.

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sábado, outubro 13, 2007

Hoje, trinta anos atrás


A noite de 13 de outubro de 1977 foi diferente.

Havia um clima diferente na cidade, uma ânsia percebida com facilidade, uma tensão emanando da maioria das pessoas, talvez de todas, até mesmo das mulheres que nada sabiam do futebol, mas tinham maridos, pais, filhos, irmãos que sabiam e viviam a mesma expectativa, compartilhavam a mesma ansiedade. Mesmo quem não era corintiano estava contagiado por esse clima. Acho, mesmo, que a maioria até torcia pelo fim dos 23 anos de fila, sem um título de expressão. As exceções ficavam por conta dos radicais, que hoje, infelizmente, são muito mais presentes e muito mais radicais que outrora.

Vou contar uma história sobre aquele jogo. Para mim, é verdadeira até o menor dos detalhes. Alguns poderão achar que não, como acontece com todas as histórias. O que vou contar eu ouvi de alguém que presenciou parte dos fatos que se seguem e conheceu Dulcídio muito bem.

Três personagens marcaram a decisão: Basílio, autor do gol do título; Rui Rei, centro-avante da Ponte Preta, expulso no começo do jogo; Dulcídio Wanderley Boschillia, árbitro da partida. Essa história envolve o atacante e o juiz.

Rui Rei era ótimo atacante, mas briguento e irritadiço ao extremo. Era, também, muito “reclamão” e talvez, escondido, fizesse curso de teatro. Burlesco, claro.

Dulcídio era uma figura, mesmo para quem não o conhecia. Bom árbitro, conhecia as manhas e a linguagem dos boleiros e falava muito com eles durante todo o jogo. Brincava, dava risada, divertia e se divertia. Mas sabia ser duro e enérgico, ainda mais por se tratar de um profissional que abraçara a carreira militar desde cedo.

Dulcídio, e esse é um ponto importante, era honesto.

No jogo anterior, vencido pela Ponte, os jogadores – Rui Rei principalmente – deram muito trabalho ao árbitro Romualdo Arpi Filho e isso gerou uma preocupação para o terceiro e decisivo jogo. Diz Dicá, meio-campista ponte-pretano, que antes do começo da partida Dulcídio advertiu Rui Rei:

“Se você começar com frescurinhas, te mando pra fora.”

Logo aos 16 minutos de jogo, Rui Rei dividiu uma bola com um zagueiro, caiu, levantou e começou a reclamar, bem ao seu estilo espalhafatoso. Recebeu um cartão amarelo. Ao invés de ficar quieto e se afastar, Rui Rei continuou reclamando e gesticulando. Ora, desafiar Dulcídio era a última coisa que ele poderia fazer e fez, tendo a expulsão como resultado.

Dessa expulsão nasceram dois mitos: Rui Rei se vendera para o Corinthians e Dulcídio fora comprado.

O primeiro mito é falso: Rui Rei não se vendeu, fato admitido e aceito por seus companheiros de clube, como o próprio Dicá. O segundo, porém, é verdadeiro.

Como assim, “Bial”?

Pois é, foi assim mesmo: Dulcídio foi “vendido”.

Essa, por sinal, era prática relativamente comum há 30, 40 anos. Vendia-se um produto que raramente era entregue. Ou seja, bandidos travestidos em dirigentes, vendiam arbitragens para otários travestidos em cartolas.

No dia seguinte ao jogo decisivo, Dulcídio saía da Federação, na Av. Brig. Luiz Antonio, quando, no elevador, deparou com Vicente Mateus, o folclórico, mas esperto presidente corintiano. Ao seu jeito normal, foi curto e grosso com o presidente corintiano:

“Aí, velho otário, você pagou por uma coisa que eu nunca recebi. Pegaram teu dinheiro e te fizeram de bobo.”

Quem contou essa história presenciou esse encontro.

Muita gente sabe disso.

Teve carinha que apareceu bonito no pedaço, com carrão zero e o escambau.

Dulcidio pegou o elevador e foi embora, íntegro como sempre foi.

Morreu em 1998.

Como diz a pessoa (torcedor da Ponte Preta e do São Paulo, é bom que se diga) que presenciou o encontro e contou-me essa história, é importante sempre lembrar de Dulcídio e sempre, sempre, deixar bem claro que ele nunca foi desonesto, nunca vendeu jogo.

Assim como Rui Rei, mas essa é outra história.

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quinta-feira, outubro 11, 2007

Pingos nos “i” e dinheiro nos cofres...

... do governo.


“São Paulo esclarece ação judicial

SPFC - 11/10/2007

Tendo em vista notícias veiculadas pela imprensa de que a Justiça determinou a penhora de 20% da renda do faturamento da bilheteria dos jogos do São Paulo como mandante até o final do Campeonato Brasileiro, por suposto descumprimento de programa de parcelamento de dívidas previdenciárias, realizado em 1997 pela Diretoria da época, o São Paulo tem a informar que cumpriu com o pagamento da dívida religiosamente em dia, como, aliás, é de costume no clube.

Há um ano, em função de novo programa de parcelamento com o INSS, o São Paulo consolidou ambos os parcelamentos em um só e continua cumprindo com suas obrigações igualmente em dia.

Deste modo, em vista do posicionamento equivocado daquela decisão, o Departamento Jurídico do Clube apresentou em Juízo os documentos comprobatórios dos pagamentos efetuados àquela época, aguardando, portanto, o despacho final para arquivamento do processo.


Departamento Jurídico – São Paulo F.C.”

Sou admirador e leitor habitual do Juca Kfouri, não só atualmente, mas desde muitos e muitos anos. Mais de 15, provavelmente. Tempo de monte. Hoje, porém, o Juca deu uma pisadinha na bola, como atesta a nota do São Paulo transcrita acima. Sem problemas, até serviu para se constatar, uma vez mais, que o São Paulo cumpre seus compromissos em dia. Serviu também, espero, para que o procurador que fez a denúncia aprenda que é melhor investigar primeiro antes de encaminhar uma denúncia contra uma pessoa, empresa ou instituição e, pior, encaminhar ou permitir que alguém encaminhe isso para a imprensa.

É bom que se esclareça que esse valor e outros que o INSS contestou, referem-se a transações envolvendo venda de passes ou, depois da Lei Pelé, transferência de direitos federativos. São valores sobre os quais não há legislação clara e, nesse caso, é dever de todo administrador procurar a via judicial para esclarecer se deve ou não pagar.

Esse, por sinal, foi um dos motivos que provocaram muita discussão na criação da Timemania, recentemente. A posição defendida pelo São Paulo, tanto que era até conhecida no Congresso como a “Emenda São Paulo”, é a de que os valores pendentes de sentenças judiciais não deveriam integrar o rol de dívidas reconhecidas, condição essencial para a filiação à Timemania. Pressionado pela Receita, o presidente sancionou a criação da loteria sem essa restrição, e os clubes aceitaram-na, por ora, mas tão logo consigam sentenças judiciais favoráveis voltarão à luta.




Post scriptum - 15/10/2007


Tá no blog do
Juca (por preguiça, só transcrevo, até porque a transcrição fala por si):



"São Paulo ganha na Justiça

O desembargador federal Luiz Stefanini aceitou, nesta segunda-feira, toda a argumentação do São Paulo e suspendeu a decisão anterior que penhorava 20% das rendas do São Paulo como mandante.

Até mesmo, ao contrário do que pleiteava o INSS, a renda já penhorada, no último dia 7 de outubro, deverá ser devolvida aos cofres do clube."


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terça-feira, outubro 09, 2007

Direitos de TV – Hoje, 2008 e 2009


Justamente hoje, em São Paulo, o Clube dos Treze (C13) está reunido e discutindo os direitos de televisão para 2009. Antes de tocar nesse ponto, vamos a uma atualização desses direitos hoje.

O Campeonato Brasileiro é constituído por 20 clubes, que foram divididos em 4 grandes grupos: I, II, III e IV. A divisão foi feita a partir de critérios de marketing, estritamente técnicos, apoiados por pesquisas quantitativas e pelas medições de audiência em todo o Brasil, tanto nas transmissões abertas como nas fechadas.

Grupo I

Flamengo, Corinthians, São Paulo, Palmeiras, Vasco da Gama

Cada um recebe 21 milhões de reais por ano

Grupo II

Santos

Recebe 18 milhões de reais por ano

Grupo III

Grêmio, Internacional, Botafogo, Fluminense, Cruzeiro, Atlético Mineiro

Cada um recebe 15 milhões de reais por ano

Grupo IV

Atlético Paranaense, Paraná, Figueirense, Juventude, Goiás, Sport, Náutico, América

Cada um recebe 11 milhões de reais por ano



Houve muita discussão para se chegar a esses números que são fixos, e não mais percentuais como anteriormente, o que dá uma boa segurança aos clubes, que passam a saber quanto vão receber mês a mês.

Esse é outro ponto importante: as cotas são pagas mensalmente, em doze parcelas, fundamental para os clubes que, mesmo assim, têm treze “meses” no ano, graças ao 13º salário. Essa distribuição vem permitindo, com certeza, uma relativa tranqüilidade para muitas equipes.

Sobre cada pagamento feito pelo C13, há três descontos:

- 5% para o INSS

- 5% para direito de arena

- 1,75% de taxa de administração para o C13

Portanto, vamos aos valores líquidos (já descontadas as taxas) recebidos pelos participantes de cada grupo, por ano e por mês:

Grupo I

R$ 18.637.500,00 R$ 1.553.125,00

Grupo II

R$ 15.975.000,00 R$ 1.331.250,00

Grupo III

R$ 13.312.500,00 R$ 1.109.375,00

Grupo IV

R$ 9.762.500,00 R$ 813.542,00

Dessa forma, os clubes que têm menor participação no bolo, recebem 52% do valor recebido pelos que têm maior participação.

O C13 recebe um valor fixo pela transmissão em sinal aberto e pela transmissão em sinal fechado. Já a participação no PPV é variável, pois é representada por metade de cada pacote negociado (informação de Marcelo de Campos Pinto). Em 2006 o valor do PPV ficou abaixo do estimado e o C13 teve dificuldade para cobrir o valor fixo dos clubes, mas conseguiu e fechou o ano. Nesse exercício, com o grande aumento nas vendas de PPV (de 25 a 30%, segundo o diretor da Globo Esporte), as contas estão tranqüilas.

As premiações ao final do Campeonato Brasileiro saem, também, dos recursos do PPV.

Como os leitores do Um Olhar Crônico Esportivo já sabem, mas não custa repetir, essa é a previsão feita para 2008:



Milhões Reais

% s/ total






Sinal aberto

180


58






Sinal fechado

40


13






PPV


90


29

Lembrando que o valor do PPV é variável e está estimado em 90 milhões, com chances de ser um pouco menos, mas com boas possibilidades de vir a ser maior, até porque o Campeonato Brasileiro vem crescendo em média de público, principalmente nesse ano, e esse interesse terá efeitos positivos nas vendas dos pacotes de transmissão.

Negociações para 2009

De oficial e concreto nada existe, exceto uma carta da TV Record dizendo-se interessada em apresentar proposta para o campeonato de 2009 e seguintes. Fora isso, tudo o mais é boato, entre eles:

- a Record pagaria 500 milhões de reais pelo campeonato; boato, mas com boa base de realidade; é o que se pode chamar de “balão de ensaio oficial”;

- a Record pagaria um bilhão de reais pelo campeonato; boato, simplesmente, de origem incerta e não sabida;

- a Globo pagaria 600 milhões de reais pelo campeonato; boato e, tal como o anterior, de origem incerta e não sabida.

Como já foi dito nesse blog mais de uma vez, a Globo – ou a Record – não paga nada: ela apenas transfere, embora com recursos de seu caixa, o que recebe dos patrocinadores e anunciantes do produto “Campeonato Brasileiro”. Um aumento relativamente significativo no valor pago atualmente é factível, embora vá encontrar fortes resistências no Jardim Botânico. Mas ele só ocorrerá se os anunciantes estiverem dispostos a bancar o produto Futebol em seus planos de comunicação por valores maiores do que os negociados nesse ano e já para 2008.

Nessa área, a Record teria mais dificuldades que a Globo para repassar ao mercado custos muito altos. Contudo, a Record tem uma fonte de renda segura e garantida através da compra de horários “mortos” pela IURD, a custos elevadíssimos quando comparados ao mercado publicitário. Dependendo do apetite ou do grau de, digamos, ousadia, de sua direção, tudo é possível.

Ou seja, a decisão para 2009 será complicada, nem um pouco fácil e as conversas já estão acontecendo.

Vendas internacionais

Até esse momento não foi fechado nenhum contrato para transmissão dos jogos do Brasileiro para o exterior. Segundo o C13 há várias negociações bem adiantadas e a expectativa é muito boa. O Um Olhar Crônico Esportivo não conseguiu a informação de quais seriam esses países, mas é provável, pelas viagens de dirigentes e informações oficiosas ouvidas aqui e ali, que Japão e Coréia estejam entre os compradores, mesmo porque o Japão tem um grande número de brasileiros residentes.

Já na Europa é mais difícil, mas não seriam descabidas apostas em Portugal e Espanha e, talvez, Itália e Alemanha.

Atualmente, a Globo Internacional apresenta alguns jogos do Brasileiro, no esquema da TV aberta, em 135 países.

Esse, portanto, é o panorama e esses são os valores desse ano e do próximo, com alguns chutes sobre 2009. O grau de acerto desses chutes só saberemos bem mais adiante.

(Para a realização desse post, o Um Olhar Crônico Esportivo ouviu o Clube dos 13, em Porto Alegre – via telefônica – e trabalhou, também, com informações e comentários de outras fontes, além de projeções próprias a partir das informações recebidas ou divulgadas normalmente por outros meios.)


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Futebol periférico


Era uma vez, muito tempo atrás, em que o futebol brasileiro era conhecido não só por sua mágica seleção, mas também por vários de seus times, um em particular, que abrigava um rei e uma constelação de craques. Um dia o Rei parou, mas os clubes continuaram conhecidos em terras d’Europa. Todo ano, no verão, lá estavam eles em campos de Espanha, França, Itália, Portugal, Alemanha... Jogavam, ora mais, ora menos bonito, ganhavam, perdiam, mas diziam presente à hipotética chamada de presença dos clubes importantes.

Esse tempo se foi, há muito.

Há poucos dias, um amigo blogueiro, o Cristiano, lá das Geraes, voltou de viagem por terras asiáticas, mais precisamente Índia e China. Apaixonado por futebol, andou pelas cidades, entrou em lojas de esportes, todas com belas camisas dos clubes importantes: Barcelona, Manchester United, Real Madrid, Milan, Arsenal, Liverpool, Juventus, Bayern Munchen, Boca Juniors, River Plate, Ajax, Olympique Lyon, ...

- Epa!

- Volte a fita, por favor.

- Aí, nesse ponto... Play, por favor.

- ... Bayern Munchen, Boca Juniors, River Plate, Ajax

- Ok, pode parar.

- Boca e River? Isso está certo?

- Sim, está certo.

- E o São Paulo e o Internacional? E o Flamengo, o Corinthians, o Grêmio, o Palmeiras, o Vasco, o Cruzeiro, o Galo? E o Santos de Pelé, mesmo sem ele?

Nada. Nadica de nada.

Pois é, assim foi a visita do Cristiano em lojas indianas e chinesas. Dois países que estão, hoje, na dianteira dos desejos de todos os negócios, de todas as expansões. Dois países onde o futebol começa a despontar e a despertar paixões. Onde qualquer um reconhece a camisa amarela de uma certa seleção, sabe falar Ronaldo, Kaká e Ronaldinho nos mais insólitos idiomas e dialetos, desde os altos do Himalaia até o asfalto de Shangai e as margens do Ganges, mas onde ninguém conhece e compra uma camisa de um de nossos grandes times.

Outro amigo blogueiro, o Ricardo, estava em Buenos Aires. Em conversa com o taxista, ouviu desse que o River só passara adiante na Sudamericana porque enfrentara um time pequeno do Brasil. Um time pequeno... Assim ele referiu-se a nada menos que o time de Garrincha e Nilton Santos, para dizer só dois de uma constelação. O taxista amante do Boca e do futebol, do Brasil só conhece São Paulo, Internacional, Grêmio, Flamengo... Times com passagens mais constantes ou recentes pela Libertadores. O “resto”, tão poderoso e cheio de glórias e histórias, ele desconhece.

Enquanto isso, simultaneamente também, pois o Cristiano e o Ricardo estavam viajando ao mesmo tempo, outro amigo, também Ricardo, mas esse um português do Porto, e portista fanático (ele preferirá ser chamado de racional), claro, chegava em Madrid para morar e estudar por algum tempo. Surpreso, viu seus novos colegas de escola disputando um desses jogos de futebol em computador, e o jogo era um FlaFlu em plena cidade de... São Paulo. Então ele constatou que seus colegas, madridistas ou blaugranos fanáticos, nada sabiam do futebol da terra que gerou Dinho, Robinho, Ronaldo, Roberto Carlos, e tantos outros que povoaram e povoam o futebol d’Espanha. Todavia, conheciam e bem, o futebol de nossos hermanos argentinos. Do futebol brasileiro, conheciam apenas a seleção e os jogadores, os muitos jogadores brasileiros que atuam por toda a Europa.

Ainda simultaneamente a tudo isso, a lista de inscrições para a atual UEFA Champions League, mostrava nada menos que 102 – cento e dois, para não haver confusão – jogadores brasileiros (dos quais uma meia dúzia naturalizada em diversos países) inscritos na competição. Sem contar, portanto, alguns outros não inscritos por problemas diversos. O país com maior número de jogaodores na competição, era apenas e tão somente o atual campeão do mundo, a Itália, com 64 atletas.

Assim estamos hoje. Apesar de termos um excelente campeonato, com vinte clubes, há cinco anos já disputado em pontos corridos, com os compromissos sendo cumpridos rigorosamente (bom, teve o Pan, mas não é todo ano, nem mesmo toda década) e jogadores aparecendo em profusão, quase ninguém vê nossos jogos, nem mesmo na hermana Argentina. No hotel em que o Ricardo ficou tinha 4 canais de esportes disponíveis e nenhum mostrava o Campeonato Brasileiro. Na Europa, um ou outro canal ainda passa nossos jogos para os insones das altas madrugadas.

Também, por que passariam em outros horários mais nobres? Para quem? Afinal, a geração que conheceu e apreciou nossos clubes já morreu ou já não mais domina o controle remoto da televisão.

O futebol brasileiro, entretanto, não liga para isso. Nossos times, pelo visto, preferem as emocionantes disputas contra o São Bento de Sorocaba, contra o Americano de Campos, contra o Tupi de Juiz de Fora, contra o XV de Campo Bom... Sem falar, é claro, da paixão alucinante pelos portentosos clássicos municipais, mesmo que repetidos sete, oito, nove vezes por ano, e na incompetência ou inapetência dos dirigentes do Clube dos 13 em vender nosso campeonato mundo afora. Talvez falte tempo a eles, pois a disputa interna pelo poder é mais importante.

Além disso tudo, gostamos de ceder nossos jogadores ao mercado mundial em agosto. Isso é excelente, uma grande jogada de marketing para apimentar e dar mais emoções ao nosso principal campeonato, onde mal e mal se sabe como começa um time e nem se desconfia de como ele terminará.


Muito emocionante. Os tolos europeus, se descobrissem nossa fórmula de sucesso... Fariam questão, com certeza, de nos mandar seus melhores jogadores todo agosto, todo janeiro. Ainda bem que não são capazes de enxergar alto tão inteligente.
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E assim ficamos, na periferia.
Porque Brasil e Argentina são países periféricos, mas, como no futebol os argentinos nos passam a perna nas "estranjas", somos, portanto, periferia da Argentina.
Periferia da periferia.

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Enfim, o fim de uma era


Alberto Dualib foi tão redundante em tantas coisas ruins, maléficas ao Sport Club Corinthians Paulista e ao futebol, que nada melhor que um título redundante e feio para falar de sua saída, ao menos aparentemente, do mundo do futebol.

Demorou, afinal, 14 anos é tempo demais para uma mesma pessoa dirigir o que quer que seja, principalmente se for o caso de um clube popular, de massa, com muitos milhões de torcedores. Um país, uma cidade, uma grande empresa, um clube de futebol, assim como muitas outras organizações sociais, precisam de democracia e alternância de nomes no poder. Mesmo que os nomes pertençam a um mesmo grupo político, a mudança sempre implicará, por mínimo que seja, num certo grau de arejamento na direção.

Gostando ou não, a velocidade das transformações por que passa o mundo é espantosa de tão alta. Para quem cresceu num outro tempo, essa velocidade assusta, além de espantar. Mudanças tão rápidas não combinam com pasmaceira ou imobilismo em nenhuma direção. Pensando bem, sequer em minúsculas empresas que funcionam na base do “eu sozinho”.

Dos males da Era Dualib, o menor, a meu ver, foi sua permanência à frente do Corinthians. O pior foi a parceria feita com a obscura, até hoje, MSI. Desnecessário falar sobre isso, pois os jornais e revistas, sites e emissoras de rádio e TV cobriram essa associação e seu trágico final – ainda inconcluso – de forma ampla e ao alcance de quem quer que queira mais informações sobre tudo que aconteceu e deve ter acontecido.

Tudo isso foi fruto não só da vontade desprovida de visão de Dualib, mas também da conivência da maioria de seus diretores e, sobretudo, do Conselho Deliberativo do clube, que votou a favor apesar dos muitos indícios, no mínimo preocupante, levantados já no final de 2004 pelos opositores do acordo. Não só opositores, mas também autoridades judiciárias e policiais viam com suspeitas essa empresa de composição societária misteriosa, sede em paraíso fiscal, etc.

Agora, depois do trabalho do Ministério Público e da polícia de São Paulo, secundado pelo da Polícia Federal mais recentemente, Dualib renunciou. Com ele, sai Nesi Curi, tido e havido através de muitas histórias e depoimentos, como o virtual dono das categorias de base da equipe. A renúncia permitiu a realização de nova eleição na noite de hoje. Uma chance de ouro para que o clube se aprume, se arrume, reencontre o caminho de uma direção sadia e o time volte a se posicionar, no campo esportivo, entre os melhores do país.

Dizem, porém, que o favorito de hoje é um candidato com ligações estreitas com Dualib e sua turma.

Será que...


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domingo, outubro 07, 2007

Cooperativa de Árbitros e Aula de Arbitragem



Cooperativa dos Árbitros

No último dia 4, quinta-feira, foi lançada na sede da Federação Paulista de Futebol a COAFESP – Cooperativa de Árbitros de Futebol do Estado de São Paulo.

A entidade é presidida por Silas Santana e congrega todos os 534 árbitros filiados à FPF.

Para os árbitros, a Cooperativa será importante em vários aspectos, entre os mais importantes eles próprios destacam:

- seguro de vida;

- plano de saúde, extensivo aos familiares;

- plano de previdência;

- convênio com universidade.

Além desses pontos, todos relacionados com a segurança do árbitro e respaldo para sua família, a COAFESP também irá encarregar-se de receber as taxas de arbitragem e repassá-las, de imediato, para os destinatários.

“...para os árbitros, o primeiro resultado real será na hora de receber as taxas de arbitragem. Atualmente, demoram cerca de um mês para receber a quantia que é de direito após cada partida. Com a intermediação da Coafesp, o repasse será imediato. “É um sonho nosso e só depende da gente para dar tudo certo”, afirmou a tesoureira do órgão e árbitra assistente Aline Lopes Lambert.”

A primeira assembléia contou com a presença de 55 dos 534 árbitros filiados.

(Fonte: matéria no site do Sindicato dos Árbitros do Estado de São Paulo e conversa pessoal do editor do Um Olhar Crônico Esportivo com Roberto Perassi, diretor da Escola de Arbitragem Flávio Iazetti, da Federação Paulista de Futebol.)

Comentário rápido sobre uma aula de arbitragem

Tive o prazer de assistir uma palestra-aula sobre arbitragem do Perassi. Fiquei impressionado e tomei a decisão de fazer um curso mais profundo sobre arbitragem. Não o da Federação, claro, que demora muitos meses e é destinado a quem vai, de fato, arbitrar jogos. Por isso, tem restrições físicas e etárias, naturalmente. Mas farei um curso mais simples, com o objetivo de entender mais e melhor o que se passa num campo de jogo.

Ao final de sua palestra, o Perassi mostrou um teste da FIFA com 24 situações de jogo,todas das Copas 2006 e 2002. Bom, vendo as imagens gravadas em plano aberto, e depois em plano fechado – o luxuoso auxílio de uma poderosa lente com não menos poderoso zoom – e ainda tendo o fantástico tempo de cinco a seis segundos para decidir e depois escrever (o árbitro, num jogo, tem que decidir em menos de um segundo, ou seja, a decisão tem que ser quase instantânea, coisa que a quase totalidade dos críticos não leva em consideração), errei uma interpretação (foi falta penal e não achei falta) e 3 interpretações entre tiro livre direto e indireto. Se no aspecto técnico fui bem, para um leigo, e já sabendo de antemão que a maioria dos lances seriam mesmo faltosos, bastando prestar atenção às duas imagens, no aspecto disciplinar fui muito mal: de vinte e duas situações passiveis de penalização com cartões, acertei exatamente a metade: onze. Dei vermelho onde era amarelo e amarelo onde era vermelho, além de não dar cartão amarelo onde era pra dar e dar um amarelo onde não era necessário.

Olhem, a coisa é braba, e isso porque eu estava tranqüilo, sem pressões, sem desconforto, sem correr no sol ou na chuva ou no frio, vendo a imagem e depois sua repetição “de pertinho” e em slow motion, ainda por cima. Claro, nunca estudei arbitragem, nunca fui treinado, nunca fui árbitro, mas, assim mesmo, deu para sentir que o negócio é complicado demais, muito difícil.

Tudo, praticamente, depende de interpretação.

Voltarei ao assunto mais pra frente.

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“Extract more value from your stadium”


Esse é o título de um trabalho da revista Sports Business, que apresenta inúmeras propostas e possibilidades para incrementar os ganhos dos clubes ou empresas detentores de estádios e arenas esportivas. É um estudo caro, não é para o bico de nenhum blogueiro, a menos que seja dono de uma praça de esportes. É despesa para pessoa jurídica.

Pelo material de divulgação enviado pela Sport Business, o Emirates Stadium, do Arsenal, é tomado como exemplo de grande fonte de receitas, sempre medidas por milhões de euros.

Enquanto isso, por aqui, a Sport Business poderia preparar um estudo com um título como “A importância de banheiros limpos e abundantes numa praça esportiva”. Não sei se tal estudo seria comprado, mas, verdade seja dita, não há como pensar em aumento de receita com as praças esportivas tupiniquins sem antes resolver problema tão grave, além de desagradável e mal-cheiroso, como esse.

Isso ajuda a explicar o fenomenal índice de ocupação média de 26%, que será citado em meu próximo post.


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Democracia é bom demais




Vou postar um e-mail que recebi do Rocha - Gibran da Rocha Bento - cujo comentário citei e respondi no post anterior. Ele enviou por e-mail por não conseguir postar como comentário (é, às vezes esse sistema é meio chatinho, outras pessoas já reclamaram) e liberou-me para publicá-lo, o que agradeço.

Aproveito para desculpar-me pela resposta um tantinho agressiva e irônica. Mas, faz parte do debate. Tenho como norma escrever o que penso (embora não escreva tudo que penso... hehehe) e, ao fazer isso, estou ciente que posso ler o que não quero e não gosto como resposta. O cerne da democracia é a livre manifestação de idéias e, felizmente, vivemos numa plenitude democrática.
Coisa linda, para quem viveu os anos de chumbo da censura.

É tarde, estou cansado e não vou comentar o e-mail do Rocha, com pontos muito interessantes e dos quais, como estão colocados, não discordo e até apoio vários deles. Farei isso oportunamente.


"
Emerson, antes de mais nada devo deixar claro que não tenho preferência partidária nenhuma. Diria até que não tenho ideologia política definida.
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Logo, não pretendo defender as políticas (muito menos os políticos) do PT.
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A única coisa que eu quis deixar claro é que o governo Lula está em harmonia com o atual sistema comercial de radiofusão. Só isso.
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É claro que dentro do espectro político nacional, da extrema esquerda à extrema direita, você sempre encontrará pessoas mais exaltadas e com tendências totalitárias. E isso só atrapalha aqueles que pretendem discutir comunicação a sério, pois vicia o debate com ideologias deturpadas pela prática política rasteira ou por interesses comerciais de grandes conglomerados de comunicação.
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Mas enfim, minha posição pessoal: 1)sou contra tv estatal; 2)sou a favor de tv's públicas, sem dinheiro governamental direto; 3)sou a favor do estímulo à comunicação comunitária; 4)sou a favor do estímulo às tv’s regionais, fora do esquema de rede, que restringe a produção e o mercado regional; 5)sou a favor de políticas de incentivo à produção independente.
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Lembrando que existe regulação forte em países capitalistas como o Canadá, que restringe ao mínimo a exibição de conteúdos estrangeiros e os EUA, onde a legislação obriga que boa parte do conteúdo das emissoras seja produzida por produtores independentes. E é claro que eles não fazem isso por populismo barato. É, por uma lado, defesa cultural e de mercado (Canadá), e por outro, pluralização na produção de conteúdo (EUA). Concentração de mídia existe em todo lugar do mundo capitalista, mas isso não inviabiliza o estimulo à pequena produção.
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Acho justo sua preocupação com os anseios de certos “aloprados” que andam por aí, mas o meu maior medo sempre é a desqualificação dos debates sobre comunicação por gente que apenas quer manter privilégios políticos e/ou comerciais.
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O projeto de lei que você citou em outro post, que pretende liberar gratuitamente para redes públicas a transmissão de eventos particulares, é um dos exemplos de populismo barato e estúpido que só servem para arranhar a imagem de quem tenta discutir comunicação a sério no Brasil.
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Abraço."


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