Um Olhar Crônico Esportivo

Um espaço para textos e comentários sobre esportes.

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sexta-feira, novembro 07, 2008

Treinando contra “bomba suja”





O post sobre as Olimpíadas 2016 provocou alguns comentários interessantes, inclusive por e-mail (é melhor postar aqui mesmo no blog como “anônimo”; basta colocar a identificação no próprio texto). Ia responder aos comentários, em especial do M Pena, mas creio que é mais prático transformar a resposta, ampliada, num novo post, que é o que segue.


Tóquio: mais de mil componentes do Exército, Marinha, Guarda-Costeira, unidades de salvamento e policiais, foram envolvidos num exercício anti-terrorista.

O cenário indicava um atentado com uma bomba nuclear “suja” num centro de conferências da metrópole japonesa.

O que é uma bomba “suja”?

É o grande temor de todas as forças anti-terroristas do mundo, em especial americanas e japonesas. Trata-se de um artefato de produção relativamente fácil, pois, em síntese, é uma bomba convencional de alto poder explosivo rodeada por material radiativo de fácil e rápida dispersão. O césio-237 abandonado de aparelhos de raios-x, por exemplo, que contaminou terrenos e pessoas em Goiânia, se estivesse numa bomba poderia contaminar milhares de pessoas de uma só vez, com efeitos catastróficos. Há materiais radiativos muito mais poderosos que o césio, de aquisição relativamente fácil.

Esse exercício japonês está inserido no programa de capacitação de Tóquio para sediar os Jogos Olímpicos de Verão de 2016.
Tóquio, uma cidade extremamente segura para qualquer pessoa, simplesmente quer ser considerada a cidade mais segura do mundo e considera isso como um ponto importante na definição da sede olímpica de 2016.



Obama por Chicago...
Segurança por Tóquio...



E pelo Rio de Janeiro?

O exemplo do Pan, infelizmente, não é boa referência para nada.

A mim agradaria muito ver uma Olimpíada no Brasil. Seria algo esplêndido, sem a menor dúvida. Recentemente, membros do Comitê RJ estiveram no Morumbi e o São Paulo F.C. integrou-se ao esforço olímpico, pois o estádio foi colocado como sede de um dos grupos do futebol masculino e feminino, até porque, muito provavelmente, já teria sido o estádio de abertura da Copa 2014. Entretanto, por mais que me esforce, é difícil imaginar um trabalho realmente sério e que traga benefícios à cidade do Rio de Janeiro e ao país, ainda mais tendo em vista o recente exemplo dos Jogos Pan Americanos e seus equipamentos não utilizados ou, alguns, de maior sorte, subutilizados.


Acompanhando o que fazem as confederações de esportes olímpicos, fica difícil acreditar que essas entidades venham a formar atletas de bom nível em grande quantidade, só porque teremos uma Olimpíada entre nós. Hoje, depois do que se andou sabendo, não acredito nem na CBDA – Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos.


Os custos estimados para Londres 2012 tem crescido, em especial depois do Crash 2008, mas não há gritaria na Inglaterra por conta de aumentos absurdos como tivemos no Brasil. Um estádio pular de 80 para 380 e o custo dos jogos como um todo pular de 650 para 3,7 bilhões, é o tipo de coisa que soa como impensável em qualquer país.


Enfim, não acredito em Jogos Olímpicos entre nós tão cedo.
Gostaria de acreditar, mas não consigo.
Independentemente de ser Rio de Janeiro, São Paulo ou Brasília, não importa, é tudo Brasil e é difícil acreditar, basicamente por causa das pessoas que deveriam fazer isso acontecer e acontecer bem.

Quando, recém-terminados os jogos de Pequim, vemos a eleição do COB, falar mais o que?




Copa do Mundo pode?

A realização de uma Copa do Mundo de Futebol, por outro lado, é mais simples e muito mais factível. Claro, custará caro, já sabemos, mas ainda assim bem menos que uma Olimpíada.

Não custa lembrar que, em 1972, com relativamente poucos problemas, realizamos uma quase Copa do Mundo, com sedes em diferentes pontos do país. Na época, montanhas de dinheiro foram gastas em estádios super-dimensionados, ao gosto do Brasil Grande e do milagre econômico.

Para 2014, apesar dos inevitáveis gastos que ocorrerão, sou (relativamente) otimista e acredito que o custo será bastante interessante para o país, pois boa parte da estrutura esportiva será privada, como os estádios de São Paulo, Porto Alegre e Curitiba, caso essas venham a ser escolhidas como cidades-sede.
Estádios públicos, como os do Rio de Janeiro e Belo Horizonte, irão consumir recursos, mas serão, como já são hoje, intensamente utilizados e retornarão seus custos aos cofres públicos. Uma Copa está mais perto de já estar pronta, essa é a diferença, e provavelmente, tirando alguns estádios, os investimentos serão melhor aproveitados por toda a população.




Pensando nos Jogos Olímpicos, na Copa do Mundo, nas hidrelétricas, nas pontes, nos viadutos, nos “palácios” das Justiças – lembrem do Lalau – não deveríamos treinar desde já contra o “dinheiro sujo”, nossa versão nativa aterrorizante das “bombas sujas”?


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quinta-feira, novembro 06, 2008

Momentos...



Momento olímpico I - Chicago comemora...


... e Tóquio se preocupa



Chicago comemora a eleição de Barack Obama, senador pelo estado de Illinois e morador da cidade. Seus vizinhos comemoram, também, o virtual fortalecimento da candidatura de Chicago na disputa para sediar os Jogos Olímpicos de 2016.

A maior prova desse fortalecimento vem de Tóquio, tida por muitos como a favorita, ao lado da própria Chicago. De acordo com o SportBusiness, citando a Reuters, Tsunekazu Takeda, presidente do Comitê Olímpico japonês disse que “... gostaria de saber qual será a reação dos membros do Comitê Olímpico Internacional quando Mr. Obama aparecer na apresentação de Chicago.”

“Mr. Obama é um excelente orador e muito popular e poderá ser um problema para nossa candidatura”, disse Tomiaki Fukuda, outro membro do Comitê de Tóquio.

As duas cidades concorrem com Madrid e Rio de Janeiro para sediarem os Jogos Olímpicos de Verão de 2016, e a decisão será tomada em reunião do COI em outubro do próximo ano, em Copenhague.


Na opinião deste Olhar Crônico Esportivo a preocupação dos Senhores Takeda e Fukuda é muito pertinente. A eleição de Barack Obama foi muito além da simples escolha entre dois candidatos.

Obama é americano, mas é preto, ou afro-americano. Mais que isso, vem de uma família em parte muçulmana, seu pai é africano, sua mãe casou-se depois com um asiático, com o qual teve a meia-irmã de Barack, que foi criado pelos avós maternos, americanos da mais pura estirpe e conviccções tradicionais. Se há alguém nesse momento que pode ser chamado de cidadão do mundo do século XXI, esse alguém é Barack Obama e o sentimento de apoio que ele tem em todo o planeta é muito grande. Apoio e esperança, ainda que meio difusa, de mudanças e por novos tempos menos duros que os atuais.

Se ele efetivamente permanecer engajado no apoio por Chigago 2016, como já declarou anteriormente, será muito difícil para qualquer uma das outras três candidatas sediar as Olimpíadas.




Momento olímpico II - Enquanto isso, ao sul do Equador...


... a Folha de S.Paulo de ontem denunciou que o Comitê Rio 2016 gastou 46 milhões com empresas de consultoria no suporte à candidatura da cidade aos Jogos Olímpicos de 2016.

Com o Crash de 2008, os 42 milhões de dólares orçados previamente, deram um pulo significativo com as alterações do câmbio. Em julho eles correspondiam a 67 milhões de reais. Hoje, esse valor já pulou para mais de 80 milhões, na verdade quase 90 milhões de reais.

Essa, entretanto, era a previsão inicial, mas os números hoje são diferentes, e prevêem despesas de 131 milhões de reais, equivalentes a cerca de 65 milhões de dólares.

Nesses momentos lembramos que o Estádio Olímpico, o Engenhão, fora orçado em 80 milhões de reais e teve um custo final de 380 milhões.
E que os Jogos Pan-Americanos custariam ao país 650 milhões de reais, valor que, sabe-se hoje, atingiu 3,7 bilhões.

Quantos bilhões serão contabilizados na conta Rio 2016?




Momento de mudança - Substituição no Cruzeiro: sai Perrella...

... e entra Perrella




Zezé Perrella foi reeleito presidente do Cruzeiro.
Nada de novo.

Ops, um erro aqui: Zezé Perrella foi eleito, e não reeleito.

Este Olhar Crônico Esportivo fez confusão porque ele sucederá Alvimar Perrella, que foi eleito em 2002 para suceder a Zezé Perrella.

Zezé presidiu o clube de 1995 a 2002, e Alvimar de 2003 a 2008.
Zezé e Alvimar são irmãos.
Somando esse mandato, a família Perrella completará 16 anos de domínio sobre o clube.




Momento de prazer


O comercial do novo Ford Focus é sensacional!

A maravilhosa
So Happy Together, do The Turtles, cantada pelos participantes do comercial, fazendo o papel de funcionários da Ford, em casamento perfeito com as imagens e efeitos de computação do filme.

Com a ajuda de amigos da lista SPNet, que corrigiram minha ignorância musical, fui pro youtube e descobri isso:

http://www.youtube.com/watch?v=mploADKBihc



Quer um momento de puro deleite?

Copie e cole o endereço aí de trás, ou clique aqui: videoclip.

Como publicitário, como produtor de vídeo, como roteirista, esse é um dos comerciais que eu amaria - esse é o verbo adequado - ter feito, ter produzido, ter criado, ter participado de qualquer forma, até mesmo servindo o cafezinho pra quem criou.
Simplesmente perfeito do começo ao fim, usando uma música que já é bonita, tocante, pra cima, tão bonita quanto as idéias que transmite, e, publicitariamente associando tudo ao carro.

CARACA!

Eu queria muito ter criado esse comercial!
Porque ele, mais que vender um produto, gratifica quem o assiste, traz consigo uma pausa, e não importa o que estejamos fazendo ou assistindo, quando ele termina a gente se sente, não vou dizer feliz, mas pelo menos satisfeito em ter visto algo tão bacana.
Bem bacana, palavra velha, fora de moda, mas bacana, ela também.


Quem foi no youtube viu outra criação em cima dessa música, dessa vez sem a visão comercial por trás, mas muito bonita.
Um clip simples, comunicativo, acima da linguagem fonética, imagens limpas, gráficas, mas singelas, puras, um grafismo de extrema sofisticação em sua simplicidade, resgatando o traço infantil e puro das crianças, comunicando tudo que a música também comunica.

Detalhe:
So Happy Together é de 1967.


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quarta-feira, novembro 05, 2008

Rolando pelo mundo




"Obama Elected President as
Racial Barrier Fall
s"


Esta é a manchete do New York Times dessa quarta-feira, 5 de novembro de 2008.
Uma manchete histórica, no mais importante jornal do mundo, que merece ser estampada sem tradução – até porque ela não precisa de tradução.

Como cidadão desse planeta cada dia mais complicado, desejo a ele um governo sábio, voltado não só para seu país, mas também para o mundo, em boa parte ainda dependente do que fazem os Estados Unidos da América.

Sonho com ações positivas e marcantes em dois pontos:

- Restabelecimento pleno das liberdades e direitos civis nos Estados Unidos;

- Uma política efetiva de redução do absurdo consumo de energia, em todas as suas formas, em todo o território americano.

Ok, não sou miss, mas também desejo a paz no mundo.

Que venha, pois, 2009 e uma nova era, muito melhor, para todos nós.



E daí?


Pois é, e daí que o Obama foi eleito?

O Flamengo vai conseguir um grande atacante?

O São Paulo conseguirá, enfim, o seu tão ansiado meia?

A Arena Palestra Itália será construída?

O Corinthians conseguirá voltar à Libertadores?

O Cruzeiro trará alguém bom de bola e de liderança?

O Internacional conseguirá formar um time de fato?

O Bahia terá salvação?

E, por último, mas não menos importante, conseguirá o Marília seu tão sonhado acesso à Série A?

Perguntas pertinentes e impertinentes, questões sérias e graves, todas elas, sem a menor sombra de dúvida. A eleição de Barack Obama não significa, por si só, tempos de bonança, não é Obama um Messias redivivo, um Dom Sebastião da vida que vai nos trazer paz e prosperidade. Tenho a impressão, inclusive, que nenhuma dessas questões ocupa um só de seus neurônios. Bom, quem sabe a última delas, quem sabe...

O que sei é que 2009 será um ano para lá de interessante, que começará com o planeta mergulhado em sua maior crise econômica desde o Crash de 1929. Teremos todos muita sorte se tudo que se desenrolar nos próximos dois a três anos seja tão somente uma recessão e não a temida depressão econômica.

O ano começará, também, com o maior e mais poderoso país do mundo sob nova administração. Com certeza ela não será muito diferente do que foi a administração Clinton, até porque Obama e revolução são idéias antagônicas. Porém, mesmo sem revolucionar, o novo presidente já significa mudança em muitos aspectos. A política belicista e a visão voltada unicamente para o próprio umbigo que tanto caracterizaram a gestão George W, têm, esperamos todos, seus dias contados.

Se o novo presidente conseguir injetar boas doses de otimismo entre o povo e de confiança no sistema econômico-financeiro, rapidamente sairemos desse buraco negro que a cada dia engole mais recursos, empresas e empregos.

É o que espero.

Enquanto isso, fecho com o mesmo fecho de
Tostão para sua coluna de hoje, na Folha de S.Paulo:



"Nada para dizer"

"Na semana passada, vi entrevistas de Luxemburgo e Muricy no programa "Arena Sportv". Os dois disseram coisas importantes sobre a parte técnica e tática.
Discordo de algumas opiniões e aprendo com outras.
Já as entrevistas de Dunga, como a desta semana no mesmo programa, são repetição de chavões e de frases óbvias.
Não sei se ele não sabe dizer, se não quer dizer ou se não tem nada para dizer."


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terça-feira, novembro 04, 2008

Ecos de Interlagos




Em 2007 o GP Brasil foi o segundo evento esportivo mais visto em todo o mundo, perdendo apenas para o Super Bowl, quando o Indianapolis Colts derrotou o Chicago Bears. Em terceiro lugar ficou a final da UEFA Champions League, entre Milan e Liverpool.

Na manhã de hoje começaram a ser divulgados os primeiros números de audiência da fantástica corrida desse domingo. As chamadas do SportBusiness já anunciam:

Brazilian F1 GP breaks viewing records

The Formula One Grand Prix final in Brazil registered record TV audiences worldwide.”



Segundo a matéria, no Reino Unido 13,1 milhões de lares, representando 42% dos televisores, estiveram ligados na transmissão da vitória de Massa e conquista do título por Lewis.
Segundo Michael Grade, diretor da rede ITV, o único evento esportivo que teve números da mesma grandeza foi a final da UEFA Champions League, entre Manchester United e Chelsea.
Na ocasião, disse Grade, 14, 6 milhões de lares britânicos acompanharam o jogo.

Na França, a TF1 disse que a transmissão do GP bateu o recorde de audiência do ano, com 5 milhões de lares ligados, representando um percentual de 25% do total. E na Alemanha, a RTL teve a audiência média de 8,8 milhões de unidades familiares, com pico de 9,5 milhões de lares, com 31,5% médio sobre o total de lares.

No Brasil, a audiência média da Globo também alcançou índices muito elevados.
Os números da Grande São Paulo mostram uma audiência média de 32,7 pontos percentuais, ou 5,2 a mais em relação à corrida de 2007, com média de 27,5 pontos também na Grande São Paulo.

(Os números de audiência da Grande São Paulo saem em tempo real, em função do sistema implantado de medição há vários anos. Até o momento, devido a problemas com a rede telefônica, o IBOPE não conseguiu implantar sistema semelhante no Rio de Janeiro. A aferição que efetivamente vale e demora mais um pouco, inclui onze agrupamentos regionais, que são as principais regiões metropolitanas do país: São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Campinas, Curitiba, Recife, Fortaleza, Porto Alegre, Distrito Federal, Belo Horizonte e Florianópolis. Além dessas regiões, a audiência também é monitorada em regiões como Campos dos Goitacazes, Governador Valadares, Juiz de Fora, Petrópolis, Uberaba, Uberlândia, Volta Redonda e outras cidades como Belém e Goiânia.)

Somente por esse fato já ficariam plenamente justificados os investimentos e despesas da cidade com seu principal evento esportivo. Imagem, no mundo de hoje, é fundamental. Justamente por isso, meu primo e outros amigos que foram a Interlagos, ficaram impressionados, por exemplo, com a quantidade de policiais presentes em todo o entorno do autódromo.

Com a chuva indo e vindo e as arquibancadas lotadas, Interlagos e São Paulo realizaram uma prova absolutamente tranqüila, sem nenhum problema.



Entrou ou não entrou?

Entraram, meu primo e seu amigo entraram.
Depois de peripécias mil em busca de ingressos, acabaram comprando para o setor F, pagando 400 reais cada um. Esse mesmo ingresso, válido apenas para o domingo, custava R$ 810,00 cada um.

Como se explica isso?

Simples: muitas empresas compram pacotes enormes e dão a funcionários, clientes, fornecedores e amigos como brinde. Uma parte significativa desses ingressos vai para o mercado, e são disputados por cambistas, que revendem-nos em seguida por valores bem maiores.

O Circo da Formula 1 acontece dentro e fora do autódromo. É bom que se diga que isso acontece, também, nas melhores provas em todo o mundo.

Muita gente que veio de fora para ver a corrida ficou em São Paulo para visitar o Salão do Automóvel, aberto ontem e já super-lotado. É o programa de hoje do meu primo.
Eu estou fora. Já tive o que bastou de Salões, quer como visitante, quer como expositor, em cinco ou seis edições.

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domingo, novembro 02, 2008

Lembranças de Interlagos




“Não fica aí parado pensando muito, não, porque de pensar morreu um burro.”

Minha avó, minha mãe, minhas tias, minha família toda, enfim, não eram nada politicamente corretas. Vai falar isso para um moleque dos tempos modernos...
Nem por isso deixei de pensar bastante, geralmente com parcos proveitos, mas pensei e não morri, sinal que burro não sou. Quem sabe um jumento, mas burro não.

E de tanto pensar, resolvi: não vou a Interlagos hoje.

O leitor mais atento já disparou a pergunta: Vai como, tem ingresso? Se tem, como é que não vai?

Não, não tenho ingresso, mas isso não chega a ser um grande problema. Vou ao GP Brasil desde o primeiro, ainda sem contar pontos para o campeonato, em 1972.
De lá para cá perdi a conta – mas ele é capaz de saber – de quantas vezes fui ver essa corrida, inclusive no Rio de Janeiro por duas vezes, uma delas a serviço, já que um cliente era um dos patrocinadores da equipe Williams, do insuportável Piquet e do simpático Keke. Durante muitos anos, eu e meu primo íamos a Interlagos com ingressos comprados antecipadamente, tudo bonitinho e tudo muito caro, afinal, vendem para 3 dias, mas quem consegue ir em todos eles? Até que num GP de um ano qualquer perdido no tempo, meu primo chegou de supetão, vindo de Marília, e intimou: vamos ver a corrida.

E os ingressos?
Ah, lá a gente se vira.

De fato, nos viramos e compramos de quem estava vendendo. Detalhe: chegamos meio tarde, quase dez da manhã, ao invés das oito da matina a que estávamos acostumados das outras vezes. Não só compramos o ingresso, como nada a mais pagamos por ele.

A história repetiu-se outras vezes, exceto nos anos em que ganhei entradas para setores tidos como privilegiados. Passamos a comprar ingressos na manhã de domingo. Que me lembre, uma única vez pagamos uns caraminguás a mais, pouca coisa. Por outro lado, outra descoberta assaz interessante: um dia chegamos às onze da manhã no autódromo, apavorados, certos que nada compraríamos.

Pois bem, não só compramos como pagamos mais barato.

Interlagos tem lá suas manhas, mas há, também, o risco de ficar a ver navios. Nunca tivemos problemas com ingressos falsos, mas já soube de gente que perdeu o dinheiro, não viu a corrida e ainda teve que gastar saliva explicando aos policiais de quem tinha comprado, onde, quando, essas coisas todas.

Voltando ao exercício de pensar, decidi-me: não irei ver esse GP Brasil, apesar do Felipe. Torcerei por ele do meu sofazão e tão logo termine a corrida vou pro Morumbi.



Até 2014


São 11:43 e fui interrompido pelo telefone.

- Ô f.d.p! V., b. (e outros adjetivos e nomes impublicáveis), como vai você, seu isso, seu aquilo?
- Beto?! Caraca, ondé que cê tá, seu f.d.p., seu isso, seu aquilo?
- Ué, onde que eu to? Adivinha!
- Putz, tá em Interlagos, claro!
- Eu tô, seu isso e seu aquilo, e você taí, seu bundão!
- Hahahahahahahahahaha

(Explicação: as carinhosas trocas de palavras entre nós dois só são possíveis entre pessoas que se gostam muito. Hehehehehehehe...)

- E aí, já comprou ingresso?
- Comprei nada, isso aqui tá uma putaria hoje.
- É mesmo? Como assim? Não tem ninguém vendendo ingresso?
- Ter tem, claro, mas os caras tão pedindo 600 paus pro “nosso” setor (G e H) que custa 370. Tão malucos. Mas eu consegui no setor E, que custa 1.990, por 800 reais. Se não abaixarem o preço do G eu vou comprar esse mesmo, eu e um amigo de Marília.
- Pô, tá bem de grana, hein?
- Bem nada, eu tô é f., mas você acha que eu venho todo ano e justo este eu ia perder?
- É, tá certo. Por que não ligou antes?
- Porque eu sabia que você não viria, seu...

(Começa a chover aqui na Granja Viana.)

Conversamos mais alguns minutos.

- Vai no Morumbi ver aquele time de frescos hoje?
- Claro que vou. Pena que o teu time não participa da 1ª Divisão, né?
- Qual dos dois, v.?
- Os dois, mano, os dois.
- Então eu vou no Morumbi com você, o meu amigo que veio comigo de Marília é bambi também.
- Ah, ótimo, assim você vai poder assistir um jogo de um time da 1ª divisão. Muito bom.
- Hahahahahahahahahaha...
- Vê se usa tua influência lá, Beto, o MAC não pode cair.
- Vai cair não, sossega.

Falamos mais um pouco e combinamos nos encontrarmos num bar perto do Morumbi.

O Muricy pediu, eu vou. E levarei junto mais dois, embora um deles torça pro time errado. Paciência, carrego essa cruz desde meus 4 anos de idade.

Hehehehehehehe...




Voltando a 2014


Desculpem a pausa, mas, sinceramente, não tinha como não colocá-la aqui.

Sobre 2014: ontem, Bernie Ecclestone e Gilberto Kassab assinaram o novo contrato para o GP Brasil dos próximos anos.

Interlagos será sua casa até 2014, o ano da Copa.

O GP é hoje, tomado como evento isolado, o mais importante de São Paulo. Acoplado como nesse ano à abertura do Salão do Automóvel, agita ainda mais a cidade. O Beto, por exemplo, veio pro GP e ficará pro Salão, voltando somente amanhã à noite para Marília. Conhecendo a figura, vai voltar na terça de madrugada.

A prefeitura investiu 30 milhões em obras para esse ano, inclusive um novo hospital, atendendo a pedido da FIA.
Mas é compensador. Não tenho os números exatos, agora, perdidos por algum canto da minha bagunça eterna, mas a cidade fatura mais de 200 milhões de reais com a realização do GP. O número de turistas que vem para assistir à prova é estimado em 60.000, gerando um grande movimento financeiro.

Além disso tudo, outro ponto importante: em 2007, ano sem Copa do Mundo, o GP Brasil foi o segundo evento ao vivo mais assistido em todo o mundo, perdendo apenas para o SuperBowl americano, também transmitido para todo o planeta. O terceiro maior evento em termos de audiência foi a final da Champions League.

Esse é outro ponto muito importante para a cidade, e sempre resulta em boa imagem, apesar das emissoras européias não abrirem mão da tradicional pauta da pobreza em meio à riqueza, etc, etc.

Então, é isso, até 2014.
Até lá, prometo, voltarei a Interlagos.

Quem sabe em 2009, para ver o Bi do são-paulino Felipe Massa?

Boa sorte, Felipe!


(Outra hora falarei sobre corridas, em particular meus ídolos Senna e Mansell.)


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