Um Olhar Crônico Esportivo

Um espaço para textos e comentários sobre esportes.

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quarta-feira, outubro 25, 2006

Antídoto ou Vacina?


Pediria à meia-dúzia de três ou quatro leitores desse blog que pensassem a respeito de uma perguntinha simples: o que vocês preferem? Um antídoto ou uma vacina?

Antídoto: adj.s.m. – que ou o que combate os efeitos de uma toxina ou veneno.

Vacina: s.f. – substância introduzida num organismo com a finalidade de criar anticorpos contra determinado agente infectante; programa destinado a impedir a contaminação de computadores por vírus.

Antídoto e vacina num blog que se pretende futebolístico? O que tem a ver?

Tudo. Ou nada. Uma ou outra será verdadeira, dependendo do clube.

Um texto do Lédio no Jogo Aberto sobre “treinadores-bumerangue” chamou minha atenção hoje e lembrei-me desse texto “engavetado” sobre quase a mesma coisa.

Por que um clube troca de técnico uma, duas, três até quatro ou mais vezes no mesmo campeonato? Porque está perdendo, porque sua posição na tabela é ruim, tendendo a piorar mais e mais. Porque está num viés de baixa e quer mudar para um viés de alta, pegando emprestado o jargão do mercado financeiro. As derrotas seguidas, quebradas por um ou outro empate, jogadores apáticos em campo, embora palradores fora dele, torcida há muito já passada da fase “descontente” para a fase “agressiva”, conselheiros, diretores e corneteiros diversos em alto grau de paroxismo, tudo isso é um veneno, uma infecção que acomete o organismo que deveria ser sadio, brilhante e vencedor, fazendo dele um pobre trapo, gato e sapato de outros organismos, esses, sim, sadios, brilhantes (ou nem tanto) e vencedores.

E como reage a diretoria diante de quadro clinico tão grave? Procura por um antídoto, a substância que, ingerida, vai reforçar a defesa do organismo contra os ataques inimigos, vai estabilizar seu meio-campo, suas operações vitais, e vai, aleluia, dar força e munição para seus atacantes, os anticorpos, detonarem as defesas inimigas. Pelo que se vê nos filmes, um antídoto é uma coisa mágica, rápida, eficiente, perfeita, que funciona às mil maravilhas na base do zás-trás, ou do vapt-vupt. É administrar e correr pro abraço e o happy end que alegra corações sofredores.

Um dos antídotos mais populares do mercado, usado para combater quase tudo, de unha encravada a úlcera perfurada, atende pelo nome de Joel Santana. No momento, indisponível, está fora do mercado. Há muitos outros. Há, inclusive, grandes treinadores que nunca foram antídoto, ou o foram há muito tempo atrás, e que de repente voltam a fazer esse papel em grandes organismos, tidos como livres do risco de adoecerem ao ponto de precisar de um antídoto. É o caso do popular Leão.

Antídotos costumam funcionar. Mas há importantes pré-requisitos que precisam ser obedecidos, tais como:

- administrar no tempo certo; se for aplicado muito tarde não tem efeito;

- escolher e usar o antídoto certo; como são muitos e variados, esse item se reveste de especial importância; certos organismos dão-se melhor com um ou outro antídoto, e podem rejeitar severamente outros;

- dose do antídoto: o ideal é que ele funcione com dose baixa; se excessiva, vicia o organismo; ou envenena de vez, um risco muito grande; comenta-se no mercado que o antídoto Helio dos Anjos está se tornando venenoso mesmo em dose baixa;

- potência: parece a mesma coisa que dose, mas é diferente; o antídoto Leão, por exemplo, é muito potente, tanto que, mesmo em pequenas doses, costuma provocar fortes reações alérgicas e, pior, rejeições; o antídoto 00 – ou Osvaldo Oliveira – é muito fraco; usado em alta ou baixa dosagem tem se mostrado inócuo;

- freqüência de uso: na medicina, inclusive a veterinária, o ideal é nunca precisar tratar a mesma doença mais de uma vez; nunca, portanto, recorrer aos antídotos a cada estação ou várias vezes numa mesma estação; é mortífero; já são muitos os casos registrados de organismos viciados, alguns já em fase terminal;

- resistência: tem a ver um pouco com tudo que foi mostrado antes; tal como os antibióticos que, quando ingeridos em excesso acabam provocando a criação de cepas microbianas resistentes aos seus princípios ativos; o mesmo ocorre com os antídotos, contra os quais alguns organismos começam a mostrar uma resistência orgânica.

Portanto, antídoto é bom e salva a vida e a pátria, mas deve ser usado em último caso e com muita moderação.

Muito melhor é usar a vacina. Organismos vacinados são mais resistentes, mais saudáveis, mais produtivos e eficientes. Diante de situações complexas, costumam apresentar melhor comportamento e resultado que os não vacinados.

Vacinas muito raramente, quase nunca, apresentam contra-indicações, até porque são bem testadas antes, sob as mais diferentes condições de pressão e temperatura, assim como de geografia, finanças e outros quesitos igualmente importantes.

E o que é vacina no futebol?

É uma vacina tríplice, na verdade, que contém os seguintes princípios ativos:

- administração séria e transparente, sem imobilismo;

- planejamento;

- estrutura.

Vacina tem, na aparência, um custo alto, mas é mera aparência.

Vacina, mesmo essa tríplice, aliás, tem que ser essa tríplice, pois ou é tríplice ou não é vacina para o futebol, custa barato. Muito mais barato que o emprego de antídotos.

Vale lembrar, sem querer influenciar demais, que um antídoto é e sempre será um remédio. E é um produto que funciona bem, quando funciona, por um prazo curto. É da natureza do antídoto ter vida curta, afinal, ele foi criado e pensado pela natureza para uma finalidade única, exclusiva. Satisfeita sua necessidade de uso, torna-se inútil, até nocivo. Ao contrário da vacina, que não é um remédio e funciona por prazos longos, geralmente por toda a vida, mas pode, em alguns casos, precisar de uma dose de reforço. Nada demais, só ajuda.

A vacina incorpora-se ao organismo, passa a fazer parte dele de tal forma que a partir de um certo momento não se consegue mais separar um do outro.

Mas, agora, deixo com vocês a ruminação, se assim quiserem, dessa vacina.

Ou alguém prefere a emoção inigualável do uso do antídoto?

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terça-feira, outubro 24, 2006

Um país "pontos corridos"


Sabem o que acho interessante nessa história dos pontos corridos?

Que ele é um flash de seriedade e, vá lá, de moralidade, nesse país de tantas maracutaias, jeitinhos, armações, arrumações...

Acho até que muitos defensores do formato se apegam a ele por se apegarem, também e inconscientemente, a um ideal de país.

“Puxa, como seria bom se o Brasil fosse um país “pontos corridos”, mesmo que chato e sem graça, mas ganhando o melhor e com as regras do jogo sendo cumpridas.”

Isso me veio de estalo nesse final de semana, no sítio, enquanto pegava um pouco de bosta de vaca de um canto e jogava em outro, para adubar uns pés de laranja meio deslocados. Aliás, excelente exercício pra gente com veleidades intelectuais e traseiro conformado pela cadeira do computador.

Com certeza deve ter algum significado profundo e ainda oculto, para mim, ao menos, nesse negócio de pegar toneladas de bosta (desculpe, aqui não há como usar esterco ou estrume) de um lugar, suar, deixar costas e braços doloridos levando para outro e, depois de alguns meses colher umas laranjas deliciosas, descascar e chupar ali mesmo. E enquanto as laranjas não chegam (seletas, as mais gostosas, embora o clima do sítio seja um pouco frio para elas, que se dão às mil maravilhas no calorão brabo de Rio Bonito e Itaboraí), um pouco de exercício vai bem.

Fazendo esse nobre serviço desviei meu pensamento das vacas, das laranjas e do peso da bosta na pá, uma atrás da outra atrás da outra atrás da outra, e pensei no futebol e nessa coisa de um país pontos corridos.

Eu não duvido nem um pouco que em algum momento futuro muitos dos atuais defensores desse formato vão pedir uma fórmula mais emocionante, talvez até mesmo eu mude de idéia. Por enquanto, porém, a manutenção do formato atual pode ser didática e também pode ser uma comprovação de que podemos fazer campeonatos com seriedade. As muitas mudanças do passado, a bagunça brutal de um formato a cada ano, um mais estrambótico que o outro, desacreditaram essa possibilidade. Posso estar exagerando, mas acho que o sistema de pontos corridos devolve credibilidade ao mundo da bola. Ou dá a credibilidade que esse mundo nunca teve e, se teve, perdeu há décadas.

Essa fórmula simples – ganha quem ganha mais pontos e perde quem perde mais pontos – e banal, sem mistério, tem funcionado. As pessoas, finalmente, acostumaram-se com ela e começam a aceita-la, hipótese que parecia improvável há apenas dois ou três anos. Ao menos em teoria, os clubes se planejam, se preparam para a temporada seguinte, negociam seus contratos com horizontes claros e nítidos, sem o receio de, ter que parar todas as atividades de repente, porque o campeonato acabou e só continuará para 8 ou 4 privilegiados. E, enquanto isso, as despesas correntes... correm, como soem fazer desde sempre e se acumulam, como é, igualmente, seu hábito mais que ancestral.

Bom, é claro que nada é assim tão simples e cristalino. É claro, também, que o Brasil é muito mais e precisa muito mais do que implantar pontos corridos. Mas não deixa de ser um alento esquecer Brasília e acompanhar o desenrolar desse campeonato, onde cada jogo é um drama, cada partida é decisiva para uma coisa ou outra, decisão que se repete no jogo seguinte e no outro...

Sim, o futebol é mesmo uma bênção. Ainda bem.

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segunda-feira, outubro 23, 2006

812 / 300 = 2,7


Aula de matemática?

Não, apenas um cálculo simples para aferir a qualidade do Campeonato Brasileiro.

Finda a 30ª rodada, temos já 300 jogos e 812 gols marcados, o que resulta nessa boa média de 2.7 gols por jogo. Nada mau.

Isso significa que o campeonato é bom? É ótimo? Ou só mais ou menos? Ou, para os muito exigentes, nem isso?

De minha parte fico com a primeira opção: é um bom campeonato. Tirando os óbvios jogos ruins, que existem em toda parte e, principalmente, nas ligas européias e na Copa do Mundo (só para provocar...), a maioria do que temos assistido são partidas movimentadas, com alternâncias e variações, boas jogadas, novos valores aparecendo ou, se não tão novos, se firmando em outros clubes, mais amadurecidos.

Com a parada de Souza, do Goiás, em 15 gols, sua média caiu para 0,5 gol por jogo, abaixo da média histórica dos artilheiros. Sinceramente, continuo não dando maior importância contra isso. O São Paulo tem o ataque mais positivo do campeonato e seu maior artilheiro tem apenas 8 gols e é reserva.

O Figueirense tem 42 gols no campeonato. Soares, Cícero e Schwenck marcaram 34 desses gols. Ou seja, a artilharia está dividida. Eu acho melhor assim, em muitos aspectos.

O nível da arbitragem está bom nas últimas rodadas, assim como o comportamento dos treinadores à beira do campo, tópico menor que tanto chama a atenção e irrita parte da imprensa esportiva. A massa torcedora pouco liga para isso e, no estádio, sequer enxerga o treinador. Seja como for, os “professores” têm se comportado melhor. Claro que quando falo em "bom" para o nível da arbitragem, estou desconsiderando as imagens captadas por 16, 20, até 24 câmeras num estádio.


Vai bem o BR 2006, a oito rodadas do final.

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