Um Olhar Crônico Esportivo

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terça-feira, novembro 21, 2006

Madrid e Nilmar

(nada a ver um com o outro)




O Real Madrid finalmente fechou seu acordo de venda dos direitos televisivos até 2013.

O valor atingiu a soma espantosa de um bilhão e cem milhões de euros, muito próximo, portanto, do acordo feito pelo Barcelona.

O contrato foi fechado com a Mediapro, empresa do Grupo WPP, um dos maiores conglomerados mundiais de comunicação e propaganda.

Ramón Calderón deu a informação após jantar com a direção do Lyon, que acompanhou o time na viagem a Madrid para o jogo de hoje no Santiago Bernabeu. O valor surpreendeu os franceses pela sua magnitude. Calderón disse, também, que o contrato só será assinado depois que a Mediapro apresentar garantia bancária cobrindo o contrato.

O técnico do Lyon descartou a ida de Nilmar para a equipe em 2007.

Pelo histórico dele no time e pelo futuro. Num caso, fracasso. No outro, uma volta de cirurgia delicada, no momento mesmo em que Fred deverá estar voltando, também.

A Nilmar resta procurar outro clube europeu, tarefa complicada e sem perspectiva de grande salário, ou aceitar a realidade brasileira e fechar acordo com São Paulo ou Santos, disputando a Libertadores por times em condições de chegar à final. Internacional e Flamengo também têm interesse, mas no caso do Internacional haveria a dificuldade salarial, pois o elenco do Inter é bem homogêneo nesse ponto, sem grandes números. E o Flamengo, aparentemente, contaria com a boa vontade da MSI, algo fora de cogitação na vida do jogador nesse momento.

Antes, porém, de qualquer decisão, precisa ser desfeito o imbróglio envolvendo seus direitos federativos, o Lyon e o Corinthians, via FIFA.

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Pobre campeonato... Pobre?


Diego Cavalieri, Marcelo (Corinthians), Renan, Andrey, Felipe, Bruno, Cleber (CAP);

Ilsinho, Ângelo, Vitor, Denis, Marcelo, Eltinho

William, Evaldo, Alex Silva

Lucas, Cícero, Leandro Lima, Renato Augusto,

Soares, Marcos Aurélio, Welliton (Goiás), Wagner.

Numa rápida pinçada, puxando pela memória, dá para mostrar 24 novos jogadores de qualidade boa para excelente. Alguns, inclusive, com toda a pinta de futuros titulares da seleção principal, como Ilisinho e Lucas. Outro, Marcelo, já negociado por valor alto com um dos principais times do mundo.

Que outro campeonato no mundo todo pode mostrar metade ou até mesmo um terço desse resultado?

Nenhum.

Além desses jogadores novos, podemos listar mais um bom número de jogadores de excelente nível disputando o BR. Alguns, sem dúvida, já na reta final de suas carreiras, mas uma grande quantidade na faixa de 25 a 30 anos.

Olho para tudo isso e depois leio e ouço críticas fortes à qualidade técnica do campeonato. O próprio técnico campeão aponta a mesma coisa. Portanto, quem sou eu para discordar?

Bom, sou apenas um chato teimoso. E reluto muito em acompanhar tão doutas considerações, mormente depois de assistir – ou tentar assistir – a jogos de campeonatos europeus, extremamente chatos e pobres tecnicamente, embora ricos em dinheiro, recursos, organização e etc e tal. Nos clássicos nacionais quase sempre temos bons jogos, mas fora deles é meio triste, o que explica a abundância de jogadores tupiniquins por tudo quanto é lugar.

O Campeonato Italiano, por exemplo. Basta ver um jogo do Milan e, mesmo com Kaká em campo, perde-se toda a vontade de ver um outro. É horrível.

O Campeonato Francês é o que tem a maior verba de televisão entre todos, mas o futebol apresentado é indigente, apesar do grande número de africanos e sul-americanos. Um time, bem montado e bem treinadinho, vence tudo e dispara. Mas não passa disso, pois na Champions League, invariavelmente, é eliminado antes da final. O Espanhol é, de todos, o melhorzinho, com dois grandes times e dois ou três coadjuvantes de peso. O Campeonato Inglês pode ser interessante, em especial para quem gosta de atletismo. Não cativa.

No BR, todavia, com todos seus problemas & mazelas, frequentemente assiste-se a bons jogos, que nos mantêm presos à poltrona. Claro, há muito jogo vagabundo, mas em quantidade que, sinceramente, me parece menor que a observada na Liga Espanhola.

Poderia ser melhor, poderíamos ter mais e melhores jogadores atuando por aqui, mas é difícil competir com a força do euro. A mesma força que traz diretores e olheiros dos times europeus ao Brasil e Argentina, onde vêm observar a carne exposta, como num açougue ou numa carniceria, em busca de boas peças para compor seus elencos por um custo financeiro baixo, gerando, quase sempre, excelentes custos-benefícios.

Perdemos jogadores até mesmo para campeonatos europeus de menor expressão, para onde vão em busca do efeito-vitrine, sonhando com algum destaque e a transferência para uma das grandes equipes. Em condições normais e se não existisse a mentalidade colonizada que impera também nessa Comissão Técnica atual da Seleção Brasileira (até prova em contrário), boa parte desses jogadores permaneceriam em seus clubes brasileiros por mais alguns anos.

Por “condições normais” citadas no parágrafo anterior, entenda-se pagamentos em dia e boas condições de trabalho, além de segurança.

Então, sim, o BR poderia ser melhor, tecnicamente, donde se infere que o atual campeonato não foi muito bom nesse quesito. Mas...

Não exageremos, senhoras e senhores, não exageremos.

Se não foi tão bom, longe esteve de ter sido tão ruim.

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Um time possível


Assim é o Campeão Brasileiro de 2006, um time possível.

Quando o São Paulo venceu a Libertadores de 2005 escrevi o óbvio: era a vitória de um time comum, porém não no sentido que iguala comum a baixa qualidade, e sim no sentido de ser um time que não dispunha de um ou dois jogadores aquinhoados com benesses extraordinárias pelos deuses do futebol.

E mais que isso, mais que comum, era um time possível. Essa era e é a grande verdade sobre o time do São Paulo desde 2003, ano em que o Campeonato Brasileiro, finalmente, passou a ser disputado em pontos corridos, permitindo, simplesmente, a vitória do melhor time.

O São Paulo de hoje, como o do ano passado, exceção feita sempre a Rogério Ceni, é um time que poderia ter sido montado por qualquer outra das grandes equipes do futebol brasileiro. Pouco se gastou para montar esse elenco, pois há vários anos, o São Paulo, ao lado do Cruzeiro, entendeu perfeitamente as novas regras do jogo introduzidas pela Lei Pelé. O passe acabou, foi relegado à lata de lixo da história do futebol. Pode-se dizer, sem medo de exagero, que foi a libertação do jogador do jugo escravista que o passe carregava. E foi o sinal verde para a modernização das relações de trabalho no mundo da bola.

Mas, apenas em teoria qualquer um dos outros grandes clubes brasileiros poderia ter montado esse elenco, e isso por um motivo básico: é um elenco de manutenção cara. E que precisa ser mantido satisfeito, o que só se consegue com uma boa administração, que possibilite ao jogador preocupar-se apenas com o futebol, sabendo, como disse o Souza num programa de televisão, que no dia 30 de cada mês o dinheiro do salário estará na conta e o cheque passado não será devolvido. Essa é uma condição sine qua non para que um profissional, em qualquer área, possa desenvolver seu trabalho com o máximo rendimento. E se esse trabalho estiver sujeito aos humores da criatividade, da inspiração, da vontade maior ou menor, maior ainda é a necessidade de concentração e ausência de preocupações que desviem o foco.

Ora, pagar em dia é obrigação mínima de qualquer empresa ou pessoa que contrate o trabalho ou serviço de outro ou compre alguma coisa. No Brasil, todavia, essa obrigação mínima que sequer deveria ser mencionada por sua obviedade, é ainda um fator de diferenciação entre os clubes de futebol (outros esportes também). Sorte, então, do São Paulo. E de mais meia dúzia de equipes que conseguem manter seus compromissos dentro de sua capacidade financeira e têm bons times, em parte como conseqüência direta disso.

O time sem estrelas e sem gênios do São Paulo já ganhou muito e continuará ganhando, porque gênios da bola ou craques reconhecidos sem contestação, não aparecem toda hora. E quando aparecem correm a ser negociados com o exterior. Não concordo com a visão simplista e negativa de que todos os bons jogadores estão fora do Brasil. Essa é uma meia verdade, ou uma verdade três quartos, digamos. O Brasil e a América do Sul oferecem amplas possibilidades para a montagem de boas equipes. Depois de algum tempo, mesmo essas sofrerão desmanches parciais, pois é parte das regras do jogo, e desde que o mundo é mundo e o bicho homem descobriu o comércio, ele pula de galho em galho em busca das melhores condições para ganhar seu sustento e conquistar as benesses que a vida oferece a quem por elas pode pagar. Brigar e lamentar por conta disso a nada conduz. Essa é a realidade e a melhor maneira de seguir vivendo e prosperando é pensar e trabalhar em harmonia com ela, evitando dentro do possível suas desvantagens e aproveitando ao máximo tudo que ela pode oferecer como vantagens.

Nos próximos anos o São Paulo continuará no centro das grandes disputas, vencendo umas, perdendo outras. Mas sempre no centro, simplesmente porque está pensado, montado e preparado para isso. Simples assim.

São Paulo – o time possível – Campeão Brasileiro de 2006


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