Na semana passada, em Tel Aviv, José María del Nido, presidente do Sevilla, acompanhado por dois de seus diretores, assinou a renovação do contrato de patrocínio do clube com a 888.com por três temporadas, até 2011. A multinacional israelense, cuja principal atividade é a realização de jogos de pôquer e apostas diversas, inclusive futebol, é chamada por torcedores sevillanos de ‘cassino on line’ e patrocina o time desde a temporada 2006/2007.
Foi um patrocínio comemorado efusivamente pelo campeão da Copa da UEFA e, teoricamente, terceiro melhor time da Espanha, dona de uma das ‘ligas’ mais importantes e rentáveis do mundo, ao lado da inglesa, alemã e italiana. Embora os valores não tenham sido revelados oficialmente, fontes diversas asseguram que ele é de 4 a 5 milhões de euros, perdendo apenas para os 6 milhões de patrocínio do Valencia e os 15 milhões de euros que a Bwin, outro cassino on line, paga ao Real Madrid por temporada.
Vejam, agora, essa tabela abaixo:
Clube | Patrocinador | Valor M Euros | Valor M Reais |
Real Madrid | Bwin | 15 | 36,3 |
Sevilla | 888.com | 4 a 5 | 9,7 a 12 |
Valencia | | 6 | 14,5 |
Corinthians | Medial | 6,8 | 16,5 |
Flamengo | Petrobras | 6,7 | 16,2 |
São Paulo | LG | 6,6 | 16 |
Palmeiras | Fiat | 3,5 | 8,5 |
Os três maiores patrocínios brasileiros são superiores a dois dos três maiores patrocínios espanhóis – lembrando que o Barcelona não aceita patrocínio. Nesse momento, os bastidores do Morumbi abrigam as negociações envolvendo o patrocínio do São Paulo para 2009. Julio Casares, diretor de marketing, disse esperar pelo menos 32 milhões de reais, nada menos que pouco mais de 13 milhões de euros, um valor, se concretizado, pouca coisa inferior ao do Real Madrid. Este Olhar Crônico Esportivo, desde setembro de 2007, acredita em um número mais próximo dos 25 milhões de reais – pouco mais de 10 milhões de euros, mas diante das movimentações do mercado tampouco desacredita de um número mais próximo do valor desejado por Casares, digamos, 30 milhões de reais, ou pouco mais de um milhão de euros mensais para estampar o nome na camisa do São Paulo. Com a má campanha do time no Brasileiro, o mais provável é que o novo contrato, com a LG ou outra empresa, seja fechado mais perto do final do ano, quando ficar claro que o São Paulo, ao menos, terá vaga assegurada na próxima Libertadores.
O novo patrocínio tricolor vai agitar bastante o mercado e sinalizará novos valores para Flamengo e Corinthians, como já aconteceu com a renovação da Reebok.
Dessa forma, os três clubes com maiores torcidas no país passarão a ter patrocínios de camisa com valores próximos ou não muito distantes do que é pago ao Real Madrid.
E daí, deve estar se perguntando você, o que isso significa trocando em miúdos?
Eis uma boa questão.
Para que um patrocinador paga para pôr seu nome na camisa de um clube?
Para mostrar sua marca ou seu produto para milhões de torcedores daquele time e de outros.
Por que uma empresa pagaria tanto dinheiro por isso?
Porque esses clubes oferecem boa visibilidade e, geralmente, disputam títulos ou fazem boas campanhas, o que aumenta ainda mais sua visibilidade.
Por que isso acontece?
Porque, de maneira geral, são clubes que montam boas equipes, contratam bons jogadores e...
Epaaaaaaaaaaaa!
Você pirou? Releia o que você escreveu, Senhor Blogueiro!
Hummmmmmmmm...
É, prezado leitor, você está certo em estrilar, acho que dei ‘uma viajada’ nessa.
“...montam boas equipes, contratam bons jogadores..”
Nada disso, ou muito pouco, vemos nesses times e em outros mais, na verdade, em todos os outros.
Sistematicamente, janela após janela, os clubes perdem seus melhores e mais promissores jogadores. São desmontados e precisam ser remontados no decorrer das competições. Os atletas vão embora atraídos por salários e luvas muito acima do que podem sonhar receber no Brasil. Muita gente reclama, muitas das reclamações são dirigidas, velho hábito tupiniquim, ao governo, que deveria, no entender desses críticos, baixar uma lei proibindo a saída de jogadores e coisas parecidas, medievais, injustas, ultrapassadas, em rota de colisão fatal com a postura de liberdade nas relações de trabalho que vigoram na maior parte do mundo. Lei que nada resolveria, evidentemente, pois não há lei capaz de separar um homem da busca de maior salário e melhor trabalho.
Ué, se os caras vão embora por causa do dinheiro...
Não só o dinheiro, não só.
... tá certo, não só o dinheiro, mas principalmente o dinheiro, né? Por que, então, os clubes não pagam salários maiores e seguram todos os jogadores aqui mesmo? Por que os clubes não mantêm boas equipes, ganhando mais jogos, jogando mais bonito, atraindo mais públicos, novos públicos, ganhando, assim, mais dinheiro, num círculo virtuoso?
Eis uma boa pergunta com respostas diversas, a maioria das quais, infelizmente, só sabemos depois de muito tempo. A primeira e maior resposta, sem a menor dúvida, chama-se descalabro administrativo. É o que provocou, sendo generoso e não apontando os dedos para ninguém, as grandes dívidas dos clubes brasileiros. Puro descalabro administrativo, acompanhado por gestões fraudulentas, em alguns casos, talvez em todos.
Nossos clubes reclamam da falta permanente, eterna, de dinheiro.
Os balanços são de chorar, mesmo o melhor deles, o do São Paulo.
Por sinal, talvez seja justamente o do São Paulo o que mais dá um certo desânimo, pois se com os números que o clube apresenta ainda é obrigado a vender jogadores para fechar as contas, é sinal que a coisa é feia.
Em meio a esse quadro descobre-se que nossos patrocínios de camisa estão longe de ser ruins, pelo contrário, até.
O crescimento, enfim, da economia brasileira, a estabilidade cambial, a valorização do real, o aumento na massa de consumidores, traduzido pelo crescimento do que se convencionou chamar de classe média, tudo isso combinou para dar uma nova cara ao mercado, e que estará se consolidando em 2009, ano em que os direitos de TV entram de uma vez por todas na ‘maioridade’, com números de 1º Mundo, associados, em alguns clubes, a grandes valores de patrocínio.
Em tese, o melhor dos mundos. Todavia, alguém acredita que deixaremos de perder jogadores para Grécia, Turquia, Portugal, Espanha, Itália, Alemanha, Oriente Médio?
Um novo Diogo trocará a Portuguesa pelo Corinthians, Flamengo, São Paulo, Palmeiras ou Grêmio ou Internacional? Ou um novo Diogo também irá para a Grécia?
Por que ainda não conseguimos segurar nossos jogadores com salários de respeito, em padrão europeu? Já temos receitas européias, mas continuamos pagando salários tupiniquins.
Deixo aberta a conclusão, mas, de bate-pronto, enxergo duas áreas em que somos pequenos, somos 3º Mundo: rendas de jogos e licenciamento. Ou, como se pretende dizer no moderno português de Pindorama, matchday e licensing.
Receita de jogo ainda é bilheteria, como os velhos e pequenos circos que iam de cidade em cidade faturando uns trocados para sobreviver.
Licensing ainda é algo que é burlado pelo mercado informal de forma rápida e criativa.
Segue em outro bat-post nesse mesmo bat-blog em algum outro bat-dia, digo, bat-day.
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