Um Olhar Crônico Esportivo

Um espaço para textos e comentários sobre esportes.

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sexta-feira, fevereiro 08, 2008

Eppur si muove... Coisas da Dona FIFA


Tanto a Terra, na frase atribuída a Galileu Galilei, como a FIFA se movem. No caso dessa mastodôntica associação que cuida do futebol mundial, não é preciso ser um gênio como Galileu para observar seus movimentos, mais acelerados nos últimos 20 anos. O curioso é que os movimentos da FIFA passam a ilusão que ela está parada, mas é só ilusão.

Nessa semana tivemos a consolidação de alguns e o fortalecimento de outros.

Mais força e visibilidade para os clubes

Na seqüência dos eventos que levaram à criação da ECA, o Grupo de Trabalho criado naquela oportunidade e formado por representantes de 18 clubes de todo o mundo, se reuniu na Home of FIFA para discutir sobre a maior intervenção e participação dos clubes nos processos de tomadas de decisões da FIFA. Decidiu-se na reunião que será proposta a transformação desse grupo em uma Comissão Permanente da entidade, em busca desses objetivos. Essa medida foi motivada pelo fato de não haver condições objetivas para a criação de entidades como a ECA em outros continentes e porque a Federação considera importante a participação dos clubes nos processos decisórios em todos os aspectos referentes ao futebol. A proposta será apresentada ao Comitê Executivo da FIFA e depois submetida ao plenário do Congresso da FIFA em 29 e 30 de maio, em Sidney, para ser aprovada.

Joseph Blatter e o presidente desse Grupo de Trabalho, Ricardo Teixeira, “destacaram a importância da reunião e elogiaram a compreensão, flexibilidade e solidariedade demonstradas pelos clubes.” Entre outros assuntos apresentados para discussão, estiveram o calendário internacional e a liberação de jogadores para as seleções.

Vamos à relação dos clubes que fazem parte da Comissão Permanente:

Urawa Red Diamonds - Japão
Etoile Sportive du Sahel - Tunísia
ASEC Mimosas - Costa de Marfim
River Plate - Argentina
Palmeiras - Brasil
Bayern Munchen - Alemanha
DC United - USA
Waitakere United - Nova Zelândia
Olympique Lyon - França
Real Madrid - Espanha
FC Barcelona - Espanha
AC Milan - Italia
Olympiacos CFP - Grécia
Jomo Cosmos - África do Sul
Al Ahly - Egito

Club América - México
Atlético Nacional Medellín - Colômbia
Club Universitario de Deportes - Peru


Ausentes:


Mohan Bagan AC - India
Manchester United - Inglaterra
Chelsea FC – Inglaterra

Contrariando o que esse blog disse, acabou havendo um representante de clube brasileiro na reunião desse grupo de trabalho, identificado como sendo do Palmeiras. Terá sido o Mustafá Contursi, que esteve ligado ao R Teixeira por muitos anos? Nada há a respeito no site do próprio clube, curiosamente. Também nada consta no site da CBF, onde, em compensação, podemos ler a respeito da disputa de videogame entre Julio César e Renan.

De qualquer forma, tudo indica ter sido uma presença apenas protocolar, uma vez que nada foi discutido com os clubes por aqui, ao menos publicamente.

“6 + 5” – Blatter consegue aprovação da Comissão de Futebol

A Comissão de Futebol, presidida por Franz Beckenbauer, considerou que essa regra, menina dos olhos de Joseph Blatter, é “necessária e aconselhável desde um ponto de vista moral”, mas expressou algumas reservas a seu respeito.

O próprio presidente da entidade defendeu a proposta diante da Comissão. Basicamente, ela consiste que um clube deve iniciar uma partida com pelo menos 6 dos 11 jogadores em condições de defender a seleção nacional do país ao qual o clube está ligado.

Simplificando, 6 nativos + 5 estrangeiros.

A seguir, parte da defesa apresentada pelo presidente da FIFA:

Através dos anos e décadas, ao contratar mais e mais jogadores estrangeiros, os clubes vêm perdendo gradualmente sua identidade, primeiro localmente e regionalmente, e agora inclusive no âmbito nacional, pois em alguns casos todos os jogadores vieram de outros países e até de outros continentes. (...) Os jogadores jovens perdem a motivaçao, ao mesmo tempo que diminuem suas perspectivas de poder jogar algum dia no primeiro time de seu clube do favorito. As competições entre clubes poderosos com prêmios pecuniários exorbitantes para os clubes participantes têm marcado uma sociedade de dois estratos em muitos países, ao mesmo tempo que se tem ampliado a distância entre os que têm e os que não têm. Só duas ou três equipes disputam o título do campeonato, e todos os demais clubes lutam para não serem rebaixados.

Palavras fortes, sem dúvida, mas que dificilmente mudarão o rumo dos acontecimentos, não só na Europa, alvo principal dessa medida, como também na América do Sul, que no caso funciona como fornecedora da maioria dos jogadores e, futuramente, se aprovada, será a responsável pela maior parte dos “5”.

Muitos especialistas julgam ser muito difícil que a União Européia concorde com esse tipo de limitação, uma vez que ela iria de encontro à idéia e à prática de um continente sem fronteiras, com livre trânsito das pessoas e liberdade plena para trabalhar em qualquer parte. Blatter destacou, também, que não quer um confronto com a UE, mas pretende convencer seus membros da justiça dessa idéia em termos esportivos. Com esse propósito, o tema será apresentado no Congresso da FIFA, em Sidney, para votação.

Além das discussões sobre esse tema, a Comissão de Futebol discutiu os campos de grama artificial. No recente Mundial Sub 20 disputado no Canadá, em 29 partidas realizadas em gramados artificiais houve menor número de contusões que nas 23 disputadas nos campos com gramados naturais. Aparentemente, a tendência é esses gramados ganharem mais espaço, principalmente nos países mais frios.

Scudetto para o Campeão Mundial


Talvez tenha sido apenas coincidência, mas depois que um clube europeu venceu o Mundial pela primeira vez, já em sua quarta edição, a FIFA criou um distintivo – que esse blog toma a liberdade de chamar de scudetto – que será usado na camisa do campeão mundial de clubes durante a vigência de seu título.

A entidade já adiantou que os campeões anteriores – Corinthians, São Paulo e Internacional – receberão distintivos correspondentes, só que agora apenas para seus memoriais ou, se os departamentos de marketing agirem com rapidez, também para camisas comemorativas com scudetto.

Agrada-me esse scudetto, e vou além: chegou na melhor hora. Nacionalismos à parte, se ele tivesse sido criado em 2000, 2005 ou 2006, não teria o mesmo impacto e a mesma penetração que terá agora, entregue ao Milan. Durante toda a temporada os rossoneri desfilarão seu scudetto de Campeão Mundial – com muito orgulho, como disse Kaká – em todos os jogos e competições. Os outros times top da Europa, que sempre olham com mais ou menos desdém e narizes franzidos para o Mundial de Clubes, encararão a competição de forma diferente, ainda mais se o scudetto cair no imaginário do torcedor comum, o torcedor que compra camisas, chapéus, brindes de todo tipo, vai aos estádios e assina os pacotes de TV.

Com essa simples medida, foi agregado muito valor ao Campeonato Mundial de Clubes, e valor simbólico, que é o que mais conta no futebol e no imaginário de seus adeptos (em homenagem aos leitores portugueses desse Olhar Crônico Esportivo).

A meu ver, uma boa jogada da Dona FIFA, que está longe de estar enferrujada, concordando ou não com suas medidas.

É a FIFA se movendo.

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quinta-feira, fevereiro 07, 2008

Campeões de audiência



A região metropolitana da Grande São Paulo abriga 12% da população do país - alguma coisa como 22 milhões de pessoas. Em termos de mercado, sem dúvida, é o parâmetro principal - mas nunca o único - para tomadas de decisões. Não é diferente com as empresas que patrocinam o futebol, que valem-se desses números quando decidem quem patrocinar e por quanto. As empresas que têm interesse, ou seja, mercado, em outros pontos do país, analisam outros números e dão-lhes pesos de acordo com sua proporção em relação ao mercado.

A tabela a seguir é o IVF – Índice de Visualização do Futebol – correspondente à Grande São Paulo em 2007. Paradoxalmente, o rebaixamento fez do Corinthians o “vencedor” nesse índice, posição conquistada graças às transmissões dos últimos 4 jogos da equipe, todos com bons índices de audiência, não só entre corintianos: assistiram, também, os “secadores” e os simplesmente curiosos. Mesmo assim, o time alvinegro ficou apenas um ponto à frente do São Paulo, ou cerca de 0,2% no cômputo geral, portanto, empate técnico entre os dois clubes.


Esses números explicam o porque do valor dos patrocínios dos dois times serem os maiores do Brasil, ao lado do Flamengo. Explica, também, os valores pagos a outros clubes, sempre dentro de uma lógica ditada pelo mercado.


É interessante destacar, também, que mesmo tendo maior número de partidas exibidas, as duas equipes têm maior audiência média que as demais com menor número de jogos. A presença do Grêmio com excelente índice de audiência, é devido aos embates contra São Paulo e Santos pela Libertadores, principalmente. Já o Cruzeiro foi beneficiado por jogos que ganharam muita importância na reta final, ao passo que o São Caetano foi finalista no Paulistão.

Audiência média por partida:

Corinthians 8,0

São Paulo 8,4

Santos 8,2

Palmeiras 5,4

Grêmio 12,3

São Caetano 8,0

Cruzeiro 4,6

Reparem no índice de audiência do Santos. É esse número que explica o valor do patrocínio santista ser maior que o do Palmeiras.


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Amontoados de jogadores...




... ou mais do mesmo de sempre.


O grande Marcos, que voltou ao time do Palmeiras ontem, em decisão equivocada de Vanderlei Luxemburgo, na minha opinião, disse no final do jogo:

“O Palmeiras ainda é um amontoado de jogadores que o Vanderlei ainda vai ter que transformar em um time.”

Não só o Palmeiras, Marcos, como outros times também, como o Santos, o Corinthians e o próprio São Paulo. Muitos jogadores já estão com bom preparo físico nesse momento, ainda não o ideal, mas próximo. É natural, pois é mais rápido o retorno à boa forma física que à boa forma técnica. Essa, ainda está longe para a maioria dos atletas. Outra coisa distante, perdida no horizonte, é a boa formação coletiva, é o time. Tarefa mais difícil e muito mais demorada, mesmo para elencos que já se conhecem.

Falando dos times paulistas, cujo desempenho tenho acompanhado mais de perto, todos os quatro grandes voltaram com muitas modificações. Isso já foi escrito aqui nesse blog, há poucos dias. Hoje, no 30º dia depois de voltar das férias, os jogadores do São Paulo disputam sua sétima partida oficial. O Santos joga a sua sétima hoje, o que já fizeram ontem Palmeiras e Corinthians. Na Europa, os grandes clubes nesse momento já teriam disputado dois, talvez três jogos amistosos, e agora encarariam mais alguns, talvez três, talvez até quatro, para só então entrarem em campo para disputar os torneios oficiais. Nos amistosos, mesmo que torneios, não há pressão, os jogos são menos disputados, os organismos são menos exigidos, o entrosamento e a forma técnica vêm num processo natural, obtido mais facilmente dada a ausência de cobranças de torcedores e imprensa.

E por aí vamos.

A imprensa passa batida por isso, talvez porque seja uma abordagem monótona, sem emoção, logo, sem apelo de leitura. Bem sei que é chato abrir esse site e dar de cara com mais um texto nessa linha, mas, fazer o que?

É isso que eu acredito, não posso escrever diferente, criticar jogadores e treinadores só por criticar.


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Bairrismo, o mal de nossos clubes


Rio de Janeiro x São Paulo?

Bobagem, não é a esse bairrismo (*) tolo e senil que vou me referir, mesmo porque nem vale a pena perder tempo com esse tipo de coisa. Vou falar do bairrismo como sinônimo dos limites dos times brasileiros.

Nossos times, todos, não passam de times de bairro.

- Ah, mas o meu time é campeão mundial!

Bobagem.

- Pô, se liga, meu, o meu time é três vezes campeão mundial!

Bobagem.

Para provar como títulos, história, tradição, tamanho, número de torcedores, nada valem, transcrevo nota do Rodrigo Bueno na Folha de S.Paulo de hoje:


Novo mundo

Reunião hoje entre o Comitê Executivo da Fifa e dirigentes de clubes define novas regras na relação entre seleções e times, dando seqüência ao acordo que acabou com o G14. Será determinado um critério para remunerar equipes pelos jogadores na Copa do Mundo - o mais provável é um valor padrão por atleta. Ainda serão riscadas normas para amistosos das seleções. A CBF, por exemplo, espera a confirmação de que terá os atletas 15 dias antes da Olimpíada de 2008 e mais três datas de amistosos até junho.

Excluídos. No encontro, estarão presentes cartolas de grandes clubes da Argentina, Alemanha, França, Espanha, Itália, Inglaterra, Grécia, México e EUA. Mas não foi chamado nenhum dirigente de time brasileiro. Como membro da Fifa, o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, comanda o grupo de discussão do tema.


Essa, leitoras e leitores do Olhar Crônico Esportivo, é a triste realidade de nossos clubes. Os negritos são meus, apenas para destacar, entre outras coisas, que dirigentes de clubes argentinos e mexicanos estarão presentes, mas nenhum dirigente de clube brasileiro estará ao lado deles. Pelo Brasil, tão somente Ricardo Teixeira, que não é e nunca foi dirigente de clube, mas dirige a Confederação, entidade que ao mesmo tempo é a responsável pela seleção brasileira. Ou seja, parte das discussões, talvez a mais importante, será sobre a relação seleções x times, e Ricardo Teixeira estará representando os times brasileiros. Algo inédito na história dos contos de fadas e da ecologia: a raposa falando em nome das galinhas.

Isso, infelizmente, só vem comprovar o que esse blog diz há tempos: nossos times involuíram, regrediram no tempo e no espaço, além das ambições, e voltaram a ser o que foram em seus inícios distantes: times de bairros.

Times de paróquias.

Times locais, com ambições locais, onde o importante é ganhar o leitão gordo oferecido pelo “Seu” Chico da padaria, para o time campeão fazer um belo assado. Comprando, é claro, as bebidas para a festa na padaria do “Seu” Chico.

Ao falar sobre o desenvolvimento e a verdadeira explosão de crescimento dos clubes europeus, Ferran Soriano (**) disse que eles mudaram sua visão de mundo e sua prática. Antes, eram times que dependiam, basicamente, da receita da bilheteria, como um circo. Hoje, têm suas receitas divididas entre televisão, marketing e matchday, e vão auferi-las em todo o continente europeu e no resto do mundo. Deixaram de ser times locais, dependendo de uma bilheteria local, para serem times globais, com receita global. A contrapartida disso, naturalmente, é sua importância junto aos organismos que ditam os rumos do futebol europeu e mundial. Isso tudo, porém, não passa de delírio distante para os nossos pobres clubes de bairros.

Desculpem, é muito ruim começar mais um dia com esse tipo de coisa, mas é tão somente uma pílula a mais da nossa realidade.



* Para los lectores que tienen el español como idioma nativo, "bairrismo" es lo mismo que provinciano, o sea, persona o entidad de visión estrecha, limitada a su propio local de vida, el barrio.

** Clique na tag "Ferran Soriano" logo abaixo e você terá acesso aos posts a respeito de sua palestra.

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terça-feira, fevereiro 05, 2008

“Açambarca & Engole”...



“Açambarca & Engole”...

... em breve conhecida por Trafic Talentos, era o nome do estúdio monopolista contra o qual lutava o diretor Mel Christie, interpretado pelo saudoso Mel Brooks em “Silent Movie”, filme divertido e muito criativo, o que é meio redundante em se tratando desse diretor. “Açambarca & Engole” era como dizia seu nome: açambarcava tudo e tudo engolia, uma máquina, hoje melhor seria definida como “buraco negro”, mas, vá lá, nesse caso com um pouco de exagero.

Mas não há exagero em apontar a Trafic, e seu braço Trafic Talentos, como uma “A&E” do futebol tupiniquim. Hoje, ela tem nada menos que oito jogadores no Palmeiras, sendo detentora dos direitos econômicos plenos de quatro deles: Gustavo, Lenny, Henrique e Diego Souza. No caso desses quatro, ela vai além, e é dona, também, de seus direitos federativos, através do Deportivo Brasil, clube com sede aqui em Barueri, pertinho de casa, do qual J. Hawilla e sócios são os donos. Como a FIFA proíbe que agentes ou empresas detenham os direitos federativos e, se der certo a idéia de Blatter, também os direitos econômicos, o Deportivo Brasil em breve terá, mesmo, o melhor elenco do Brasil. Anotem essa previsão, fácil, desse Olhar Crônico Esportivo.

A TT também está presente no Corinthians, graças à parceria, ou sociedade, com Wagner Ribeiro e mais os empresários André Cury e Frederico Pena (André Cury, só por acaso e coincidência, seria parente de Nesi Cury, o ex-todo poderoso responsável pela base corintiana?). Nesse caso, são nada menos que quinze atletas, os mais conhecidos dos quais Lulinha e Dinelson. Ela também tem jogadores no Ituano, São Bento e Avaí, definidos como clubes-parceiros. E tem direitos econômicos de jogadores do Atlético e do Cruzeiro e, parece, também na Portuguesa.

Nessa semana que passou, a empresa entrou no São Paulo, mas apenas na beirada, ao comprar 15% dos direitos econômicos de Hernanes do próprio jogador ou de seu empresário. O clube detém 75% dos direitos econômicos e o atleta os outros 10%. Segundo Marco Aurélio Cunha, essa transação nada teve a ver com o São Paulo, que apenas acompanhou o negócio à distância e “não se interessa ou precisa desse tipo de parceria”, na palavra do dirigente.

O próximo alvo da A&E é o Santos, vivendo momento de fragilidade econômica, refletida na área técnica. Através, também, de Wagner Ribeiro, a empresa está conversando com a diretoria santista e já tinha tudo pronto para comprar parte dos direitos econômicos de Alemão, que foi levado para a sede da empresa, em São Paulo. Porém, nas palavras de Ribeiro, “o ignorante do Leão entendeu tudo errado. Ele achou que a gente queria tirar o garoto do Santos, coisa que nunca passou pela nossa cabeça, e o negócio não deu certo”. Segundo WR, a intenção da empresa era manter o jogador no Santos.

Ok, fica o registro.

Pelo que se ouve na Vila, o Santos deve essa ao treinador, integralmente.

O que e como ganha a Trafic?

Simples: ela compra por dez e vende por vinte, trinta, quarenta, cinqüenta...

O jogador negociado, como esses quatro do Palmeiras, é entregue a um clube, que será responsável pelo salário e encargos do atleta. O jogador se valoriza (quase com certeza, pois não dão ponto sem nó) e a Trafic negocia-o com outro clube, naturalmente da Europa, geralmente. E um grande lucro é realizado.

E o clube-valorizador?

(Uma nova categoria no mercado, ao lado de clube-ponte e clube-formador. Contribuição desse blog ao futebolês tupiniquim.)

Ganha, também, algo como 15, 20 ou até 30% do valor da negociação. Bom negócio para quem pensa, não digo pequeno, mas acomodadamente.

A Trafic Talentos atua como uma agência que administra carreiras, cuida da imagem, negocia contratos e salários, sem receber parcela de salário, como costuma acontecer, mas ganhando somente nas negociações, através da propriedade de parte dos direitos econômicos dos atletas. Tem o charme e o poder do dinheiro e dos contatos. Tem tudo para crescer no mercado tupiniquim, tal como a empresa-mãe cresceu assombrosamente.

Naturalmente, a empresa vai ganhar, também, com o giro dos atletas. Como em todo negócio, quanto mais rapidamente a venda for concretizada, mais depressa o dinheiro novo entra e o estoque é reposto para novas e futuras vendas. Por isso, causa estranheza a revelação feita por Gilberto Cipullo, diretor do Palmeiras, que o contrato de “parceria” com a Trafic Talentos ainda não foi assinado.

E assim vai se ajeitando e se acomodando aos novos tempos o futebol brasileiro.

Com dirigentes dos velhos tempos.



Ah, o futuro...

Pois é, o futuro é risonho para a TT e para outras que já estão surgindo. É mais uma modalidade de investimento e de negócios disponível no mercado.

Gostaria de dizer que é ruim, mas ainda é cedo para isso, pois a assessoria aos atletas é boa, em tese, e necessária.

Os problemas começam a surgir quando empresários e empresas passam da assessoria para a posse dos direitos econômicos. E fica muito, muito pior, quando um clube-laranja, como o Deportivo Brasil, entra em cena.

Nesse momento, os clubes, quase na totalidade, começam a ficar em nítida desvantagem.


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Carnavalices


Bobô e os bobos (*)

Bobô está fora do Brasil há três anos.

Foi lançado prematuramente no Corinthians, com 16 para 17 anos, assim como Jô.

No Brasil, disputou poucos jogos como titular, jogando, na maioria das vezes, por entrar no final do segundo tempo, geralmente em situações complicadas.

Como é normal no Brasil, foi lançado errado, foi cobrado de forma exagerada, foi xingado de forma estúpida.

E, para sua felicidade, foi negociado e foi embora para a Turquia.

Jogando na Europa – sim, pois a Turquia também é Europa, bem como é Ásia, amadureceu, não por estar lá, mas como decorrência de sua vivência.

Melhorou fisicamente, o que é de uma banalidade "doentia" para jogadores jovens.

Agora o diferencial europeu: melhorou taticamente e ganhou confiança, graças, sobretudo, ao fato de jogar mais vezes e não ter o fardo pesado a carregar nas costas que tinha por aqui.

Na Turquia, embora não jogue por um dos dois maiores times, o Besiktas, foi eleito o melhor atacante do país em 2007. Marcou 45 gols em 70 partidas, 39 dos quais em jogos oficiais. Nessa temporada já marcou 10 gols em 22 partidas.

Pelo Corinthians, em quase três anos, marcou 5 – cinco – gols.

Sua convocação, nessa cretinice que são as convocações para os times da CBF, é justa.

Azar dos bobos que o criticaram na hora errada pelos motivos errados, e continuam criticando agora, dessa vez por puro desconhecimento.

Bobos que adoram criticar, que adoram descer o cacete em jogadores, justificando as diatribes pelo desempenho de alguns minutos em campo, dissociando isso completamente do todo que envolve o jogador.

Criticar, realmente, é muito fácil, não requer prática e nem tampouco habilidade e qualquer um faz.

Ah, sim, há tempos o nome de Bobô vem sendo comentado por quem acompanha o futebol turco, cujo campeonato está muito longe de ser uma baba, como muitos imaginam.


(*) Alguns amigos não chegaram a criticar, mas também não elogiaram a convocação de Bobô. É justo. O "bobos" do título não se refere a essas pessoas, mas sim aos críticos do jogador por "ouvir dizer" ou pelo gesso permanente numa imagem de anos atrás, quando o garoto era mais garoto ainda.



Em Dublin, Irlanda Contra x Irlanda Pró

Nada mais brasileiro que a CBF – Confederação Brasileira de Futebol –, a entidade monárquica que rege os destinos de nosso principal esporte e componente básico, ao que dizem, da brasilidade.

Nada mais brasileiro, também, que o desleixo, improvisação e indigência com que um de nossos principais produtos de exportação, a carne bovina, tem sido tratado por esse governo e por outros mais. Na verdade, por todos.

A bem da verdade, porém, esse atual superou-se e superou os antigos, ao mandar uma lista-fantasma – creio ser esse o melhor nome – de fazendas em ordem para exportar carne para ninguém menos que a autoridade européia responsável pelo controle desse produto. O fato todo foi tão ridículo que os europeus perderam a fala, isso aqueles que gostam, conhecem e defendem esse imenso bananal.

Outros europeus, irlandeses principalmente, só faltaram sair às ruas fazendo um carnaval esquisito na neve e na lama gélida que recobre parte das cidades da Irlanda.

A mesma Irlanda que quarta-feira verá um jogo caça-níqueis do time da CBF – outrora conhecido como Seleção Brasileira – e para isso já esgotou todos os mais de 80.000 ingressos disponíveis para a partida.

Será um confronto interessante. Mais ainda seria se o time da CBF jogasse com alguma coisa do tipo “Brazilian meat – eat it!” estampado na camiseta, e o time irlandês o fizesse com “Don’t eat Brazilian meat” ou qualquer coisa parecida. O interessante desse confronto será somente isso, sua realização simultânea com essa crise na exportação de carne, pois, fora isso, como jogo, é tolo, dispensável, sem sentido, sem nexo, sem valor, sem, sem, sem...

Mas, com dólares.

Ao fim e ao cabo, é a única coisa que conta no reino da CBF.



Nenhuma nudez será castigada

Tão certo como os desabamentos e mortes de todo verão nas regiões serranas, numa repetição quase cronométrica e sem surpresas – talvez, por isso, desconcertando e deixando sem ação as autoridades (ir)responsáveis, abro o jornal e dou de cara com bela mulher nua. Totalmente. Ou quase, pois discretíssimo tapa-sexo cobre o desnecessário, nessa altura do campeonato.

Lamento,mas não vejo graça, nunca vi. Até porque na fase em que veria graça e babaria por isso, a nudez era algo muito privado, tão privado, naqueles tempos de censura, que nem nas revistas de “mulher pelada” ela aparecia.

Não entendam mal minhas palavras, por favor. Não vou alongar-me em explicações por serem desnecessárias, mas digo apenas uma coisa: a exposição absoluta da nudez tira todo o mistério, todo o encantamento, toda a imaginação, todo o erotismo que o corpo humano pode despertar. É coisa, dessa forma, sem graça.

Algumas imagens ligadas a açougues e animais vivos em seus habitats passaram por minha cabeça,mas não se preocupem, esse texto já está no fim, e vocês ficam poupados dessas cenas que minha cabeça visualizou.

Ok, sim, pode ser verdade, talvez eu seja um conservador chato e sem graça.



De volta à carne

De volta por que? – se nunca saímos dela nesse post depois do Bobô?

Hehehehehe... Um pouco de veneno.

Enquanto tudo isso acontece, na extensa, aconchegante e interessante fronteira com o Paraguai, bois, vacas e bezerros hermanos trafegam candidamente pelos dois lados da dita cuja. Não há placas, o que não faria efeito, já que bois, vacas e bezerros não sabem ler. Não há vigilância, não há controle, nada há, enfim, a separar os dois países. Tudo nos une, principalmente a aftosa, mal controlada do lado de lá e que ao entrar no bananal e contaminar nossas vacas, derruba nossas exportações em dois a três bilhões de dólares por vez.

No bananal, tudo como dantes no quartel de Abrantes.

Isso, sim, é o que se pode chamar de um país confiável.

Parodiando H L Mencken – “Nunca ninguém perdeu dinheiro por subestimar a inteligência do povo americano” – podemos dizer que nunca alguém perderá dinheiro por subestimar a inteligência dos políticos brasileiros.

É isso. Por enquanto.


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domingo, fevereiro 03, 2008

Comentários à toa

Sob o sol senegalês

Olhei para o celular: 11:11 da manhã, mas, na verdade, 10:11 pelo horário solar, que é o que conta na natureza. Apesar de horário tão matinal, o sol já estava quente, queimando, a um passo de gerar o popular calor senegalês, tão ao gosto dos velhos locutores de rádio.

Estava nos metros finais de uma caminhada de 9 quilômetros pelas alamedas da Fazendinha, um dos bairros da Granja Viana. As subidas, os trechos planos e, para mim, sobretudo as descidas, já estavam cobrando seu preço desse “corpinho”. O sol e o calor só aumentaram a cobrança.

Isso levou-me a pensar na rapaziada que entra em campo e começa a jogar, a correr atrás de bola, às três da tarde, horário solar. Sim, pois é esse, mais que nunca, o horário real, o que conta para os organismos. Três da tarde de verão tupiniquim é brabo. É quente pra burro. No sítio, as vacas simplesmente ficam na sombra, ruminando, descansando e pensando na vida vacum que levam. Inteligentes por natureza, não fazem esforço algum. Os bezerrinhos mais afoitos aprendem depressa que esse horário é para descanso e dormem profundamente. Nós outros, todavia, pensamos diferente, e reunimo-nos em grandes bandos, até de dezenas de milhares de indivíduos, e ficamos olhando 25 humanos correndo atrás ou por causa de bola em baixo da bola brilhante do Sol.

Isso só, porém, não basta: queremos que eles corram e se entreguem ao jogo como se estivessem em deliciosa partida noturna ao “som” de aprazíveis dezesseis graus centígrados. Tudo isso num momento em que a musculatura dos caras ainda está travada, despreparada para tão duras batalhas.

Pois é...

As vacas, como eu disse, são seres inteligentes.

Remédios e panacéias

Gosto de escrever sobre o marketing ligado ao futebol. Acho que já deu pra perceber um pouco, né? Tenho firme convicção que o bom futuro do futebol brasileiro passa pelo uso correto e cada vez maior das muitas ferramentas que o marketing coloca à disposição das equipes. Entretanto, o marketing sozinho não poderá dar conta dos graves problemas de nosso futebol. Pensar assim é transformá-lo em panacéia.

O mesmo ocorre com o Brasil. Muitos de nossos problemas poderiam ter uma abordagem mercadológica e, através dela e suas propostas, uma boa solução. Há, contudo, os muitos obstáculos para que isso não seja viável, os maiores dos quais de cunho político.

Não é diferente com o futebol. Muito do que deve ser mudado tem que ser através da política. Decisões políticas são responsáveis por muitas coisas ruins nesse e em todos os outros esportes. Algumas dessas decisões, ou ausência delas, nem são do mundo da bola, mas sim do mundo mais amplo da economia e da sociedade brasileiras.

A curto, e talvez a médio prazo, por mais que venhamos a investir e auferir ganhos com ações de marketing, não mudaremos um quadro básico que é a pobreza e a criminosa distribuição de renda existentes no Brasil. E o real crescimento do futebol e enriquecimento dos clubes a ponto de permitir-lhes competir com os europeus pelos melhores atletas (ou pelo menos por aqueles que não fazem parte da constelação de grandes craques), tem que passar, necessariamente, pelo crescimento do consumo do futebol no Brasil. Isso está fora da alçada dos clubes.

Pomo da discórdia

Tá no Painel da Folha de S.Paulo de hoje:

Foi mal. Cartolas santistas que estimularam Marcelo Teixeira a inflar o salário de Rodrigo Souto acham agora que o reajuste rachou o time.”

Esse filme é velho. É repetido. É chato. E a gente já conhece seu final, que raramente é feliz.

Dizem que para ter happy end, os coleguinhas todos teriam que ganhar igual ou próximo, e os que menos ganham teriam que ganhar bons aumentos percentuais, diminuindo a distância quilométrica entre os salários que costuma existir nessas situações.

Nesse caso, porém, quem não teria final feliz seria o clube.

Esse, por sinal, outro filme repetido.

Estrelas ascendentes e cadentes

Logo mais à tarde o Guaratinguetá entrará em campo atrás de sua quinta vitória consecutiva no Paulista. Se consegui-la, será líder isolado com dois pontos mais que a Ponte e três a mais que o São Paulo.

Fenômeno ou uma bolha de início de temporada?

Fenômeno não é, certamente, mas pode ser que seja mais que uma bolha típica dos começos de temporada no Brasil e em São Paulo em particular. Isso, o tempo e a administração do clube nos dirão. Por enquanto, sou apenas um observador sem direito a outro voto.

Do outro lado da moeda, o Palmeiras de Vanderlei Luxemburgo sofreu sua segunda derrota consecutiva. Para quem é, é muito, é até demais, até porque a primeira foi para o Ituano e a de ontem para o Noroeste.

Aqui não há o que falar em “ascendente” ou “cadente”, pois trata-se, nitidamente, de um time em fase de montagem pelo treinador, sofrendo derrotas absolutamente normais nessa situação. Ou melhor, seriam normais, não estivéssemos nós em plena disputa do Campeonato Paulista.

Por falar em plena disputa, mais dois jogadores do São Paulo baixaram para a enfermaria: Dagoberto e Júnior. É o preço da disputa prematura.

Ao mesmo tempo, Muricy não terá Richarlyson e Hernanes, convocados para mais um caça-níqueis da rica e poderosa CBF. Como de praxe, a CBF nada pagará por isso.

Também quero ser dono da CBF!

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