Um Olhar Crônico Esportivo

Um espaço para textos e comentários sobre esportes.

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segunda-feira, novembro 12, 2007

Menos um pouco...


Que alguns torcedores tenham exagerado na dose eu não vejo problema, mas quando o próprio site oficial do clube também exagera, aí complica.

"...o camisa um tricolor agora foi o grande vencedor de uma enquete da Fifa, que perguntou qual é o melhor goleiro do mundo" - essa frase está no começo da matéria do site do São Paulo F.C. sobre a suposta indicação de Rogério Ceni como o melhor goleiro do mundo.

Nem tanto ao mar, nem tanto à terra.
Não se tratou de uma enquete, em primeiro lugar.
Foi somente um artigo da seção "Have your say", comentando quais goleiros poderiam disputar o título de melhor goleiro do mundo e, no final, indagando se Rogério Ceni não mereceria estar entre os melhores, ou mesmo ser o melhor.

Eu mesmo fui lá e deixei meu comentário, assim como mais de quinhentos torcedores são-paulinos. Sim, para mim, por motivos vários e cobrar faltas e pênaltis não é um deles, Rogério Ceni é o melhor goleiro do mundo.


Até a sexta-feira, o artigo tinha cerca de 600 comentários, dos quais mais de quinhentos diziam ser RC não um dos melhores, mas o melhor do mundo. O mais importante nem foi essa avalanche de comentários, e sim o fato da matéria ter, na mesma data, mais de 60.000 visualizações.

Não se trata, portanto, de uma "pesquisa" consultando os internautas, coisa, aliás, à qual eu não dou valor. Basta vermos dois exemplos de distorções: em uma, Maradona ganhou longe de Pelé, graças à mobilização nacional em torno da "votação" realizada pelos argentinos. Ora, quem viu Pelé jogar e viu também Maradona, sabe que Sua Majestade está acima de qualquer comparação possível como jogador, mas numa pesquisa via internet, vota uma maioria esmagadora de jovens, em primeiro lugar, e interesses diversos podem levar a uma concentração de participação maior num país que em outros. Mais recentemente, Zico foi apontado como o maior jogador brasileiro na Italia, vencendo, simplesmente, Kaká e Falcão, o Rei de Roma. Claro, a torcida do Flamengo mobilizou-se e votou, do Brasil, numa enquete italiana. Mas a atuação de Zico na Itália, jogando pela Udinese, foi pouca coisa mais que discreta, longe da importância de Falcão e de Kaká, bem longe. Venceu, aqui também, a paixão exacerbada da torcida.

Essas matérias e "pesquisas" são divertidas, acho interessantes, inclusive, mas não têm valor.

Não acredito que Rogério seja indicado o melhor goleiro da temporada na eleição da France Football, mas a simples presença de seu nome entre os cinqüenta que disputam a Bola de Ouro já foi um grande prêmio.

No caso da eleição FIFA, essa sim, mais séria e conseqüente apesar de limitada geograficamente aos jogadores que atuam na Europa (apesar da indicação de Riquelme nesse ano, muito mais por acidente do que por metodologia), compete à organização abrir os olhos e criar mecanismos que permitam as indicações de jogadores que atuam fora da Europa, que não disputam a UEFA Champions League e não tem, portanto, alto grau de visibilidade. Isso é importante porque, apesar da crença preconceituosa e tola de que todos os bons jogadores estão na Europa, a verdade é que na América do Sul, principalmente, há sempre bons, excelentes jogadores, e não seria nenhum despropósito um ou mais aparecerem nessas listas.

Na visão FIFA e France Football, Rogério é um dos melhores goleiros do mundo.

Na minha visão, particular, ele é o melhor.

Não precisamos de exageros ou distorções para enfatizar esse ponto.


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domingo, novembro 11, 2007

Esperando Dom Sebastião




(Vai parecer história e vai, mesmo, ter um pouco de história; prometo, porém, que haverá futebol nesse texto; não desanime, leia.)


Em 4 de agosto de 1578, próximo à cidade de Tanger, ocorreu a batalha de Alcácer Quibir. Comandando as forças portuguesas contra os mouros, Dom Sebastião, jovem rei de Portugal, encontrou a morte na luta. Ele mesmo herdeiro de um clã que definhava, não deixou um sucessor de seu sangue. Com sua morte, e por força de velho acordo matrimonial, a Espanha assenhoreou-se de Portugal e dominou o país por 40 anos.

O povo português demorou a aceitar a morte de seu monarca, e uma parte dele jamais aceitou-a como verdadeira, passando a acreditar que um dia ele retornaria das terras d’África, retomaria o trono e levaria o povo a uma era de felicidade. Isso acabou gerando uma seita, cujos seguidores eram chamados de sebastianistas. O sebastianismo contaminou todo o tecido social do reino e, por extensão, de sua maior colônia. Muitos historiadores e sociólogos vêem sinais dessa crença nos sertanejos que seguiram Antonio Conselheiro e em Canudos resistiram às forças republicanas. A eterna espera por um “salvador da pátria”, por sinal bem retratada por Dias Gomes, é também uma herança do sebastianismo.

E o futebol com isso?

Bom, o futebol...
Embora não tenha o ferramental e nem o estudo necessário para tal, atrevo-me aqui, no meu cantinho, a dizer que o sebastianismo impregna nosso mundo da bola. Estamos sempre a esperar pelo Técnico ou pelo Artilheiro, aquele ser que, sozinho, irá levar nosso time aos píncaros da glória, dar-nos-á conquistas e mais conquistas, títulos e mais títulos, independentemente de termos ou não uma administração séria, honesta, competente, de termos ou não uma boa estrutura para a prática do futebol em alto nível. Bobagens, tudo se resume a encontrar o Artilheiro, a encontrar o Técnico, o cara que vai marcar todos os gols, o cara que vai acertar todas as escalações, vai motivar, vai incendiar, os caras, enfim, que irão redimir todos nossos pecados e levar-nos ao mundo maravilhoso da felicidade fácil.

O mesmo sentimento, a mesma esperança ingênua embala nossos sonhos quando vemos a maquininha de votar no abrigo da caixa de papelão da Justiça Eleitoral. Ignoramos o parlamento, ignoramos os assessores, ignoramos tudo para acreditar no candidato-Artilheiro, no candidato-Técnico.

Esse negócio de se esforçar para melhorar, de construir uma boa base, sólida e confiável, e crescer a partir dela...

Ah, pára com isso, que papo mais chato.

Ok, vou parar, afinal, nada disso é o que todos querem ouvir ou ler, nada disso irá reforçar a crença e o sonho fácil que embalam tantos torcedores Brasil afora. Enquanto isso, continuemos procurando o Artilheiro ou o Técnico.


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