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sexta-feira, outubro 24, 2008
Marketeando e chutando
A previsão de receita do Flamengo
Liguei o chutômetro.
Não somente eu, o mais correto é dizer que a temporada de chutes está aberta, se é que algum dia esteve fechada.
O Maurício Pena abasteceu-me com uma informação muito interessante, pelo que agradeço, com a previsão de receitas do Flamengo, publicada no site Globo Esporte:
1 - Direitos de televisão – R$ 40 milhões
2 - Fornecedor de material esportivo (Olympikus): R$ 20,6 milhões
3 - Patrocinador (Petrobras): R$ 21 milhões
4 - Bilheteria (renda líquida): R$ 22 milhões
5 - Receitas com quadro social: R$ 8 milhões
6 - Royalties: R$ 10 milhões
7 - Venda de direitos econômicos de atletas: R$ 31 milhões
8 - Outros (incluindo a FlaTV): R$ 7,4 milhões
Total: R$ 160 milhões
Comentando:
1 – O CRF já recebeu uma parte razoável dos direitos de TV sobre o Brasileiro de 2009; não tenho informações sobre os direitos de TV referentes ao Carioca 2009; esse adiantamento (ou adiantamentos), já derruba a previsão de 40 milhões; vale dizer que essa previsão compreende 6 milhões pelo Carioca e 34 milhões pelo Brasileiro – o número é ligeiramente otimista; isto porque compreende de três a quatro milhões de reais como receita do pay-per-view; sobre essa receita futura ainda não temos uma base sólida para afirmar que os números de 2008 serão mantidos ou ampliados, em virtude do Crash de 2008, cujos efeitos começam a se fazer sentir ainda lentamente.
2 – O Flamengo tem contrato com a Nike até junho/2009; se fechar com a Olimpykus pelo valor divulgado (e não confirmado), o certo é contabilizar metade e não a quantia integral; esse valor é referencial, pois compreende a cessão de materiais para o clube.
3 – O contrato com a Petrobrás está em discussão; a princípio a companhia não aceitou o pedido do Flamengo – 21 milhões – e contrapropôs a correção do valor atual com a correção da inflação, o que dará algo como 17 milhões de reais por ano; o ano para o patrocínio, todavia, terá onze meses, pois janeiro já está incluído no acordo atual; dessa forma, o valor correto para 2009 seria algo ao redor de 15,5 milhões de reais.
4 – Bilheteria: o valor de 22 milhões de reais líquido é plenamente factível para o Flamengo, pois a força e a presença de sua torcida são uma realidade; entretanto, é um valor muito elevado, que implicaria em renda bruta superior a 25 milhões de reais; de concreto, o clube terá os jogos pelo Carioca, cujo número dependerá de passar ou não para as fases mata-mata, e os 19 jogos como mandante pelo Brasileiro; o Flamengo ainda não tem assegurada a vaga na Copa Libertadores, privilégio que somente o Sport possui até esse momento; caso não se classifique, disputará a Copa do Brasil, com rendas significativamente menores; caso o clube dispute a Libertadores e chegue à final, a receita líquida de 22 milhões deverá até mesmo ser ultrapassada.
5 – Quadro social: não conheço, portanto creio que o número seja correto.
6 – Royalties: a receita de 10 milhões de reais parece-me possível, mas também dependerá da performance do time.
7 – Transferência de direitos: 31 milhões; infelizmente,
prever algo assim nesse momento é quase como prever que alguém vai ganhar na loteria; os mercados compradores mais fortes – Europa Ocidental e Oriental – estão começando a sofrer os efeitos do Crash de 2008; seus efeitos e, sobretudo, seu alcance, ainda são desconhecidos, mas as perspectivas são muito pouco animadoras; de qualquer forma, essa é uma fonte de receita que, pelo certo, não deveria ser computada pelos clubes, tal como fazem os clubes europeus.
8 – Outras receitas: 7,4 milhões; não tenho base para analisar, mas não confiaria muito na FlaTv, que pelas informações disponíveis está com desempenho muito abaixo do esperado; pode-se dizer, diante das expectativas iniciais, que o desempenho é nulo; para conseguir uma receita digna de registro, teria que ser fortemente alavancada.
A previsão cheia do Flamengo é de 160 milhões de reais, ou de 129 milhões sem as transferências de atletas.
Numa avaliação preliminar, feita com o auxílio poderoso e luxuoso do chutômetro, eu creio que a receita efetiva do clube em 2009 deverá girar entre 90 e 100 milhões de reais, sem as transferências de atletas, e dependendo de variáveis como participação na Libertadores e performance geral da equipe.
De acordo com as fontes deste blog, o Corinthians sacou praticamente toda sua receita de TV de 2009 no Brasileiro, mas sobre o Flamengo a informação confiável diz que o clube antecipou cerca de um terço dos direitos básicos, fora o variável do pay-per-view, ou seja, entre dez e doze milhões de reais.
É bom recordar que, em 2009, os descontos de 5% para INSS e 5% para direito de arenareferentes a esse valor adiantado, serão retirados da cota restante. E sobre o valor recebido o clube que antecipa pagou uma taxa de juros, além de despesas e impostos, resultando, ao fim e ao cabo, num líquido bem inferior ao valor nominal.
Espero que ninguém encare esse post como algo anti-rubro-negro, pois não é, mas não é correto que os dirigentes passem informações distorcidas para seus torcedores.
Hoje, por exemplo, o corintiano, feliz com o acesso antecipado praticamente garantido, sonha com títulos e contratações em 2009. Poder ser, nada é impossível, mas o próximo ano será extremamente duro para o Corinthians em função das dívidas que foram roladas e dos adiantamentos que já corroeram boa parte das receitas do ano.
Novo patrocínio do São Paulo e o mercado
Dá-se como certo que a LG não fará valer seu direito de preferência na renovação do contrato de patrocínio para o triênio 2009/2011. A empresa coreana paga hoje 15 milhões por ano pelo direito de pôr seu nome na camisa do São Paulo e agregou sua revenda Fast Shop ao patrocínio, colocando-a nas mangas.
O São Paulo, como se sabe, abriu negociações pedindo 32 milhões de reais pelo patrocínio apenas da camisa na área central – o peito. As mangas ficaram de fora.
No decorrer de 2007, este Olhar Crônico Esportivo previu que esse patrocínio para 2009 giraria em torno de 20 milhões, com boas possibilidades, dependendo da performance da equipe, de chegar a 26 milhões de reais por ano. Julio Casares, com base em números de pesquisas, pediu aos interessados 32 milhões de reais. Antes do Crash de 2008, considerava possível chegar aos 30 milhões, mas agora, com os efeitos aparecendo, conseguir 25 ou 26 milhões será uma grande
vitória.
Segundo o Estado de S.Paulo de hoje, o novo patrocínio já está acertado com a holandesa Philips, que pagaria 25 milhões de reais por ano.
Desse valor, cerca de 20 milhões iriam para os cofres do clube, e os outros 5 seriam referentes a bônus e ações de marketing.
Um acordo excelente, principalmente em função do cenário internacional projetado para os próximos dois a três anos, pelo menos (cenário ainda incerto, mas, seguramente, nada bom).
Outro ponto importante: esse patrocínio estaria apenas no peito da camisa, o que permitiria ao São Paulo negociar as mangas por outros 5 milhões de reais, atingindo, assim, os 30 milhões projetados pelo marketing tricolor.
Diz o jornal que o acordo com a Philips já foi apresentado à LG, que teria respondido não ter interesse em igualar a oferta; de acordo, ainda, com a matéria, o novo contrato deverá ser assinado em duas semanas.
Fechado esse acordo, o mercado terá, uma vez mais, um novo patamar de negociação, pelo qual Luiz Paulo Rosemberg, vice-presidente de marketing do Corinthians, espera ansiosamente, e pelo qual Márcio Braga, presidente do Flamengo, não quis esperar, ao abrir a negociação formal com a Petrobrás prematuramente.
O Corinthians recebe hoje, da Medial, 16,5 milhões de reais por ano, incluindo a camisa toda. Para 2009, aprendida a dura lição desse ano – o clube conseguiu um patrocinador para as mangas, mas foi impedido de fechar o acordo pelo contrato com a Medial – o Corinthians buscará os mesmos 25 milhões obtidos pelo São Paulo, e negociará as mangas à parte, dessa vez sem nenhum obstáculo contratual.
O contrato do Flamengo com a Petrobrás, salvo mudanças não anunciadas ou em negociação, não somente dá exclusividade na camisa, como também cobre os esportes amadores do clube.
Depois de Vanderlei Luxemburgo, na segunda-feira, terça-feira Muricy Ramalho foi ao Arena Sportv. Tal como na véspera, uma entrevista, melhor dizendo, uma conversa excelente sobre futebol. Dá gosto ouvir os dois treinadores. Ambos conhecem profundamente e, mais importante, gostam de futebol e gostam do futebol bem jogado.
Ainda há pessoas que falam, erroneamente, que Muricy é retranqueiro, que gosta de jogar com três zagueiros e outras bobagens. Mesmo jogando com três zagueiros e três volantes, por exemplo, e mesmo não dispondo de um plantel com as mesmas opções ofensivas dos concorrentes, em especial Palmeiras, Cruzeiro e Flamengo, é do São Paulo o melhor ataque do Brasileiro 2008 e o maior número de finalizações.
Retranqueiro?
Pois sim. Muricy trabalha com os jogadores que têm à disposição e, como ele mesmo diz, monta seu esquema de jogo a partir de seus jogadores, ou seja, a partir da realidade e não do sonho.
Vou transcrever parte do que falou Muricy. Infelizmente, ou felizmente, uma semana atribulada não me permitiu sequer concluir essa transcrição. Ainda hoje postarei sobre algumas notícias ligadas aos patrocínios, inclusive a Phillips que, segundo o Estadão, será a nova patrocinadora do São Paulo.
Vamos à transcrição da primeira meia hora de papo. Procurei passar integralmente, até para dar o tom da conversa. Poderia ter editado algumas passagens, mas acho preferível assim. O que vocês lerão serão palavras proferidas e não raciocínios interpretados.
Os comentários e opiniões deixarei por conta de vocês.
Cleber Machado (CM) – Em 2007, aqui no Arena, o São Paulo estava tão à frente dos adversários que eu perguntei para você o que o São Paulo deveria fazer para não deixar de ser campeão. Sua resposta foi tão boa que o Armando Nogueira usou-a em sua coluna: “O São Paulo não pode achar que já é campeão.” E o São Paulo foi campeão. Hoje, nós temos uma diferença mínima entre os times, como fazer esse ano para ser campeão? Não só o São Paulo, mas os cinco times?
Muricy Ramalho (MR) – Conversamos com os jogadores antes do jogo contra o Atlético Mineiro, quando a diferença estava em onze ou doze pontos. Desde aquele dia, com um tom um pouco mais alto, a coisa um pouco mais pegada, nós encontramos o caminho e nos deram chance também. O time não está jogando um grande futebol, mas é um time competitivo. Nosso time não é um grande time desde o ano passado, é um time que depende muito do conjunto, depende muito do treinamento. Eu insisto nisso, sou repetitivo, é importante frisar, tem uma coisa que é importante no futebol que é o treinamento. Nós começamos a melhorar quando passamos a jogar uma vez por semana, porque nosso time depende do conjunto, depende do treinamento. Começamos a pontuar, a não perder para ninguém, e deixaram a gente chegar. O time está com muita confiança, a gente tem condições de chegar.
CM – Os cinco que estão brigando, todos eles têm essa mesma característica? São todos times mais coletivos que individuais, ou tem algum desses cinco que você fala “esse aqui tem um ou outro jogador que pode decidir o jogo?”
MR – Tem, tem time sim, tem o Palmeiras tem jogadores diferenciados, foi feito pra isso, que teve dinheiro e contratou bem, o Grêmio depende muito do conjunto, depende da bola parada, o Flamengo mais na base do entusiasmo, da torcida, oscila bastante, às vezes é a favor, às vezes é contra, né, o lado emocional conta muito; o Cruzeiro pra mim é o time que joga melhor, mais bonito, eu acho, toma gols, toma muito gols, mas também faz gols, porque agride o adversário, é muito difícil marcar esse time; quem não marca o Cruzeiro não tem jeito de ganhar. E o nosso é competitivo, depende demais da marcação, depende demais de informações, tem que informar demais o meu time, saber quem é o adversário, onde vai ser o drible, onde eles vão querer informar mais, então esse tipo de informação, o nosso time depende muito disso.
A tela mostra um clip com lances do fim de semana e termina com o goleiro Bruno, do Flamengo, dizendo “É um engolindo o outro”, antecedida pelo início da frase: “Se não der pra ganhar na técnica, tem que ganhar na porrada”.
CM – É isso, é um engolindo o outro?
MR – Você não pode levar em consideração o que o goleiro falou, tem que ganhar na marra, na porrada, isso é coisa só do falar, do linguajar do futebol, o que ele quer dizer é que precisa ganhar, é time grande, é time de ponta, você não pode pensar outra coisa, ou você ganha ou ganha.
CM – Você achou que tinha ganho já o clássico?
MR – Eu achei que estava muito forte o nosso time, tinha que tomar cuidado com o Palmeiras, o jogo estava morno, por incrível que pareça o Palmeiras jogou melhor o primeiro tempo. No segundo tempo o Rogério fez poucas defesas, o Palmeiras tinha a bola o tempo todo, só que não entrava lá, a marcação estava muito forte e a gente a qualquer momento ia dar o nocaute, a gente ia fazer o terceiro gol. Teve uma hora que a gente estava 4 contra 2, aí faltou um pouco mais de tranqüilidade, nosso time não é um time muito pensador, nosso time joga muito direto ao gol adversário, a característica do nosso time é assim, não tem um pensador.
CM – Não é assim que você gosta de jogar, Muricy, e tem muita gente que critica o São Paulo, critica o futebol como um todo, porque falta um jogador que pense. Falta porque? Porque o futebol não tem mais espaço para pensar? Por que não tem mais pensador? Por que os treinadores não querem mais pensadores, por que falta? Se todo mundo diz que falta, por que não tem?
MR – Acho que, primeiro, os grandes jogadores desse setor vão pra fora toda hora, não ficam aqui. Outra coisa que é importante: no São Paulo quando eu cheguei tinha esse problema na categoria de base, o infantil nosso – eu fui ver um jogo, porque eu gosto de ver – jogava no 3-5-2. Aí eu fiz uma palestra lá e a primeira coisa que eu disse pro treinador da base foi “isso não existe”. Porque aí chega em cima e você não tem mais um meia, não tem laterais, aí tem que inventar as coisas.
CM – Você acha que a base tem que criar pra você um lateral, um meia...
MR – Tem que jogar o tradicional
CM – 4-3-3, 4-4-2...
MR – ... e tem que dar muito pouco valor pro troféu. Porque esse é o grande problema da base, entra um diretor que é jovem, quer ganhar título, pra mostrar, quer subir, e aí força o técnico e o técnico começa a dar muita prioridade à parte tática...
CM – Física?
MR – Física não sei quanto, mas a parte tática é muito. Então o que acontece é que não tem mais meia. Por que a Argentina tem meias até hoje, volantes bons até hoje? Porque eles jogam o tradicional, jogam os meias...
CM – E o pessoal da base acatou...
MR – Há três anos que não jogam mais assim...
CM – Esse é o caminho que você acha para ter um meia-direita, um meia-esquerda... E chegar lá em cima e você escolher...
MR - Mas é claro, pô, obriga o cara a criar, não tem jeito, se você escalar um 10 e um 8, era como a gente chamava, vai ter que sair um 10 e um 8.
Vagner Villaron (VV) – E na base, Muricy, esse 10 e o 8, quando surge um garoto mais habilidoso, ele vira atacante, não é assim?
MR – Às vezes sim, nós temos uma esperança muito grande num 8, que é um 8 pro futuro, que é o Oscar, mas é 8. Mas por que...
CM – Tem 17 anos de idade, não?
MR – Tem 16 para 17 anos, levamos ele pro CT, tem um cara cuidando dele, cuidando da alimentação, tá ganhando peso, que é o que ele precisa, é um cara diferenciado.
Só que ele é um 8, e ele não joga assim. Se o time dele jogasse no 3-5-2, com dois volantes e ele, ele não ia ser um 8, ia ser um cara de ligação direta, entendeu?
CM – Agora, Muricy, você está falando isso e o teu time joga com 3 zagueiros.
MR – Claro.
CM – Às vezes mexe um pouco no jeito, mas é com 3 zagueiros.
MR – Claro.
CM – Se esse Oscar chega pra você, como é que você faz para usar um 8 e um 10, se no futebol hoje tem poucos 8 e 10. Talvez vocês também não escalem o time, que é a história do ovo e da galinha. Você não tem 8 e 10 no teu time porque não tem nenhum ou não tem nenhum porque não usa? Se chega o Oscar, como é que ele joga no teu time?
MR – Não uso porque nós não temos mesmo. Tivemos chance de contratar um este ano, mas não deu certo, e o nosso meio-campo, setor de criação, precisa de gente.
CM – Quem era o cara?
MR – Você fala, mas o ano passado, jogamos uma forma meio disfarçada de 4-4-2, mas jogamos. O Breno era lateral, como os times europeus, um dos laterais é zagueiro.
CM – Fica mais.
MR – Fica mais. Aí os volantes têm que jogar. Porque o que mudou no futebol mundial e aqui no país são os volantes que jogam. Meu time domingo: quem que foi lá cavar o pênalti? Foi o Jean. Quem é que tava lá no ataque? O Hernanes, são os volantes, são os que jogam.
Marco Antonio Rodrigues (MAR) – Mas Muricy, você perdeu dois jogadores que não eram de seleção, nem muito badalados, o Souza e o Leandro, eles não deixavam o São Paulo um time muito mais versátil, mais técnico, a perda desses dois jogadores mudou o jeito do São Paulo jogar? Você não conseguiu substituí-los?
MR – Nós perdemos mais, perdemos o Breno, perdemos o Alex Silva, o Aloísio, perdemos a frente nossa, que marcava mais adiantado, a gente perdeu. Por isso que o Richarlyson jogava, por isso que outro volante jogava.
CM – Mas eles não eram um 8 e um 10, nem o Leandro e nem o Souza.
MR – Mas era o que nós tínhamos. Eu uso o que eu tenho. Eu não tenho isso de “esse esquema é bom para mim, aquele não”, é conforme o jogador que eu tenho.
CM – Para quem for mais velho, pegando o time que você jogou, o meio-campo era Chicão, Pedro Rocha e Muricy...
MR – É isso aí.
CM - ... Terto, Serginho e Zé Carlos. Aí o Poy fazia o Zé Carlos virar meio-campo. Você era 8, o Rocha era 10 e tinha um volante só. Mudou isso.
MR – Mudou.
CM – O Zé Carlos de hoje é um volante, o Rocha de hoje é um volante. Quem é o meia que você... Vamos imaginar assim: Muricy, você tem todo o dinheiro do mundo e pode contratar o 8, o 10 do teu time. Quem que você queria?
MR – Como eu não tenho todo o dinheiro do mundo... Eu, por exemplo, a minha indicação no começo do ano, que era possível – porque não adianta chegar no seu Juvenal e dizer que eu quero o Kaká, esquece, é difícil, no São Paulo é difícil. Por que que eu indiquei o Conca?
CM – Você acha que esse é um 10?
MR – É um 10, pra jogar com outro armador...
MAR – O Alex também?
MR – O Alex também, o Alex do Inter, o Alex lá de fora, do Fenerbahce, são meias.
CM – É um meia diferente do Rocha, do Rivelino...
MR – Bem diferente. Hoje é mais dinâmico, não dá para pensar tanto como eles pensavam, mas com certeza são jogadores que dão o tempo do jogo, esses que eu falei que jogam hoje. Eles mudam o ritmo do jogo. Os dois Alex mudam o ritmo, o Conca muda no Fluminense toda hora...
CM – Thiago Neves é um cara assim?
MR – Não, o Thiago Neves é mais agressivo, esse é um ponta-de-lança, tem que jogar mais na frente, porque esse tem uma coisa diferente nele, ele bate muito duro na bola de fora da área. E no futebol de hoje é importante, porque é tudo fechado. Ele bate muito duro na bola. É um 10, mas é um 10 diferenciado. É um 10 que você tem que ser um time mais dinâmico, não vai cadenciar, porque a bola vai cair no pé dele e ele vai acelerar também. Então, depende do 10. Nosso time não tem um cara que a bola chega e pára. Nosso time vai agredir o adversário mesmo, não tem jeito.
CM – Quer dizer, o cara hoje precisa tanto parar quanto manter o mesmo ritmo...
MR – Mais ainda é da cabeça do jogador, é o cara que sabe fazer isso, é o pensador.
É o 10 que sabe que tem que acelerar e que tem hora que tem que acalmar, o jogo que você tá ganhando e tem que acalmar o adversário, fazer o time andar, fazer o time se posicionar, fazer o time se ajuntar...
Sidney Garambone (SG) – Quando o Carlos Alberto surgiu no Fluminense com 18 anos, ele era esse meia, era um garoto que lançava, praticamente não chutava a bola, servia muito ao Romário, de repente parece que ele mudou.
MR – Ele mudou, hoje é um carregador de bola. Ele não cadencia nada, ele pega e tem que ter algum obstáculo pra driblar, ele não passa, ele tem que ter alguma coisa pra driblar, esse é o forte dele, ir pra cima de alguém. Se você deixar ele solto para armar ele não consegue.
VV – Ele renderia mais como segundo atacante...
MR – ... como segundo atacante...
... – Ou como um terceiro...
MR - ... como no Botafogo, o Botafogo se expõe demais, porque tem os seus meias, principalmente ele, ele agride demais o adversário.
Parte II
CM – Você acha que falta qualidade no nosso futebol hoje? O nosso elenco, inclui aí os que estão aqui, os que estão fora, o nosso elenco hoje, brasileiro, é bom? Melhor que os outros? Igual os outros?
MR – Eu posso falar uma coisa, vou fazer aqui uma comparação. Eu vejo muito o campeonato Italiano, mas o que eu mais gosto é o Inglês, se bem que não tem nenhum inglês jogando (risos...), mas pega o Italiano, a gente não deve nada ao jogo deles. É o futebol de hoje que estamos praticando. É que estamos com a onda de que o futebol brasileiro é feio, que o Campeonato Brasileiro é ruim, tá bom demais o Campeonato Brasileiro. É que é jogo pegado, meu filho, é jogo disputado...
... – como em qualquer lugar do Mundo...
MR – Claro, como em qualquer lugar do mundo. Como o Campeonato Francês, não tem espaço, não tem um metro pra se pensar, o Italiano é igual, entendeu? Porque as pessoas têm que entender é isso, que não tem mais os Rivelinos, os Zicos da vida, acabou.
CM – Então você acha que a qualidade está menor?
MR – Não, não é que tá menor, é o futebol de hoje.
CM – Então o Rivelino teria que jogar dentro das características do futebol de hoje.
... – (vários falando)... os melhores jogadores mudaram...
MR – O Kaká é o melhor do mundo, mas é o melhor do mundo à maneira dele. O que que ele é? Força, potência, inteligência... Você vê o Kaká treinar, é diferente.
MAR – No seu tempo ele não seria o melhor do mundo com esse futebol, os jogadores eram diferentes.
MR – É, é claro, era diferente, mas não é que acabou. Os craques de hoje em dia são diferentes.
CM – O treinador tem culpa nisso? Ou o preparador físico?
MR – Não, não é que é culpa, o futebol tá evoluindo, a preparação física taí, cada dia tá melhor. Os treinadores estudam mais, lêem mais, vêem jogos muito mais. Então, hoje mudou e a gente tem que entender isso.
MAR – Esse achatamento entre o topo da tabela e os últimos, nunca tivemos um campeonato na pontuação tão próximo, a qualidade caiu, tá todo mundo mais forte, há equilíbrio... Você não vê como queda da qualidade.
MR – O campeonato tá muito parelho.
MAR – A Portuguesa ganhar do Grêmio...
MR – Por que? Por que? Bom, primeiro que a Portuguesa não é que não tem um time bom, contrataram muito esse ano, tem um bom treinador, que estuda demais o adversário, que eu conheço, que é o Estevam, e isso faz a diferença, pô. Não adianta dizer, treinador faz sim a diferença. A gente tem mania de falar que treinador não ganha jogo, mas ele perde jogo? Isso não existe.
MAR – Se não ganha, não perde.
MR – É claro.
VV – Mas ele ganha e perde?
MR – É claro.
... – Ele ganha e perde.
MR – Ele ajuda a ganhar e ajuda a perder.
MAR – Então o treinador ficou mais importante, por causa do equilíbrio?
MR – É claro, pô. O que precisa é do conjunto, conjunto é importante, por que os treinadores hoje gostam de treinar a semana toda, a semana cheia, como a gente fala? Porque dá tempo de preparar o time. Dá tempo de fazer a parte física, depois vem a parte técnica, depois vem a parte tática, você trabalha, e hoje você precisa fazer movimentos, precisa conhecer o adversário. O Palmeiras, por exemplo, nós sabemos que os dois volantes são dois jogadores pra frente, pra trás têm dificuldades, tanto é que os dois volantes agrediram eles, nós levamos o Leo Lima lá pro campo deles, ele teve dificuldade pra marcar o jogador nosso. Se eu coloco alguém só pra marcar ele, ele ia arrebentar com a gente, porque ele sabe jogar, mas tem dificuldade pra marcar. Então, são informações que tem que passar para os jogadores. Isso faz diferença.
O Hernanes voltou a jogar bem domingo com essas informações, ele agrediu demais o Palmeiras. Então isso é importante, pô.
CM – Então, Muricy, você tem toda a razão. Mas ao mesmo tempo você fala assim, o Rivelino hoje seria o melhor do mundo. Você tem toda a evolução tática, física, a informação, tudo isso perfeito, o que se discute é que você não tem pra fazer tudo isso que você passa, pra aproveitar o físico, o jogador diferente. Essa é a minha dúvida.
MR – Ah, claro...
CM – ...eu não concordo 100%, acho que o Messi é diferente à beça...
MR – Tem, mas não tem muito, né?
CM – ... e os melhores não estão aqui, né, os brasileiros...
...
CM – ... então, a minha pergunta é assim: o quanto o técnico, com a necessidade de ganhar o jogo, aqui muito mais do que lá – lá também tem que ganhar, mas tem mais garantia de poder trabalhar a temporada ...
MR – ... é, tudo isso influi...
CM - ... Você pega um, dois, cinco times, e são bons, time que é bom é bom, mas você não vê um jogador do brilho, quando vê, ele ganha uma importância... o Cristiano Ronaldo, o Messi, o Kaká...
MR – Mas será também que no nosso país... No meu tempo, a única diversão que nós tínhamos era jogar futebol e nós tínhamos lugar pra jogar. Hoje, muita gente que sabe jogar futebol, larga o futebol por outras coisas. ... Eu acho que tem muito menos gente jogando futebol que antigamente.
CM – Menos gente?
MR – Muito menos. E num país como o nosso, que faz jogador toda hora, a quantidade é super-importante.
CM – E continua fazendo mais que os outros.
MR – É, continua, mas porque? Porque é natural o Brasil fazer jogador bom. Então tem muita coisa que acontece e o jogador desiste. Ele desiste, vai pra outro lugar. Não tem mais campo pra treinar, tem escolinha pra treinar.
... – Tem que ter dinheiro pra pagar escolinha.
CM – Mas você acha que no mundo tem jogadores bons? Tem caras que decidem jogo?
MR – Ah, tem, se você pega o Messi é brincadeira. Esse decide jogo. Se o jogo tá ruim, dá pra ele. Ele tira dois da frente e faz o gol. Outro dia contra o time do Ilsinho lá, o Shaktar Donetski, tava 1x0, ele entrou e virou o jogo. Ele ganhou o jogo. Ainda tem. O Kaká voltou à Seleção Brasileira outro dia e fez a diferença contra a Venezuela.
SG – Mas o Messi, ele falou outro dia numa entrevista, que quando ele era garoto jogava contra caras maiores e a solução dele foi ficar mais ágil e driblar. ... Mas quando você vê um jogo do futebol brasileiro, a gente não vê, eu não sei se é culpa lá da base, os lançamentos, a inversão de jogada de um lateral pro outro, os passes de 40 metros. Você dá a bola prum jogador de meio-campo ele pára, vira e dá, você não tem mais aquela jogada de primeira, abrasileirada, dá a impressão que foi tanto fundamentozinho aprendido, pára-olha, pára-olha, tanta coisinha tática, que chega lá em cima ele fica um pouco engessado.
MR – Pode ser. Por isso que no Brasil temos uma coisa que é muito errada. O país que é pentacampeão do mundo, tem o melhor futebol do mundo, só que nesse futebol se fala muito pouco de futebol.
CM – Você acha mesmo?
MR – Eu acho.
CM – Eu tenho a impressão que tem tanto programa...
MR – Não, não é programa...
CM – É entre vocês?
MR – É, tem que reunir, falar, só tem um congresso por ano, que é o Parreira quem faz...
CM – É útil?
MR – Claro que é útil.
CM – Você gosta?
MR – Eu gosto, eu adoro falar de futebol, é difícil eu ir nos lugares... Eu acho importante, a gente se fala muito pouco. Falta um pouco eu não sei se é união, ou alguém tomar a iniciativa, os técnicos ficarem mais juntos... Outro dia nós fomos num lugar, eu, o Mano e o Vanderlei, e foi muito legal, foi um papo de futebol, não foi uma palestra onde só um falava, foi uma troca de informações, você vai falando... A gente não se encontra aqui e fala de futebol e não tira alguma coisa de bom?
CM – Claro que tira.
MAR – Treinador de seleção brasileira já te procurou pra conversar alguma vez?
MR – Uma vez aqui no Arena, um tempo atrás, eu falei que, não sei se por iniciativa da CBF, devia marcar um encontro, um almoço lá no Rio de Janeiro, traz os técnicos aí que vocês acham, e saber o que acham da seleção brasileira, ou o técnico da seleção brasileira ir aos clubes conversar um pouco.
MAR – Nunca aconteceu nada...
MR – Nunca aconteceu nada.
CM – Você iria se fosse técnico da seleção?
MR – Eu iria. Não tenho nenhum sentimento de melindre, de vergonha, esse tipo de coisa, não tenho esse negócio. Eu posso ir lá conversar com o treinador, saber como é que está seu jogador. Qual é o problema de ir visitar o cara? Nenhum, pelo contrário, você vai crescer conversando com o cara, não pode ter essa coisa de melindre.
CM – Mas há uma resistência?
MR – Não, não é que há uma resistência, não existe isso.
Vários – O Parreira pensava nisso... O Dunga chegou a ir num treino do Internacional...
VV – Mas não há o esquema, o cara se programar pra isso na agenda de trabalho dele.
MR – ...fazendo parte da programação dele, ver no clube os jogadores que ele acha que têm chance, tá certo. E perguntar pro treinador, não custa nada perguntar pro treinador, o treinador pode dar a opinião dele.
VV – Mas isso não é reflexo dessa mentalidade que existe no mercado de treinadores, de um olhar pro outro...
MR – Com certeza.
VV – ...que estão me secando, que querem o meu lugar...
MR – Mas às vezes querem mesmo, entendeu?
VV – Mas é possível identificar quem é quem?
MR – Ah, sabe, no futebol a gente sabe tudo, no futebol a gente sabe quem é quem.
Os treinadores são assim mesmo, estão desempregados, manda o auxiliar num jogo, forçar uma barra, manda o empresário ligar, eu sei como funciona isso.
VV – Então, mas quem em tese organizaria um encontro assim, estaria correndo o risco de ter ao seu lado pessoas que não estão com a mesma disposição, com a mesma boa intenção...
MR – Tem um negócio, eu acho que quando você vai direto na pessoa, você quebra aí a pessoa. ... O cara pode ser esperto e coisa... Mas na frente do cara, o cara muda. Pode ser que isso seja importante também, você faz essa aproximação...
Muricy diz que tem treinador que não gosta de receber outro técnico para conversar, fazer estágio e fala que isso ocorre por insegurança. Diz que no São Paulo ex-jogador entra a hora que quiser, que não tem problema em receber ninguém para fazer estágio.
VV – Você acha que secam muito o Dunga?
MR – Ah, secam! Se eu falar que não, estou mentindo. Secam sim e ele sabe.
CM – Mas é uma secação por vontade de estar lá, ou por não gostar do que está vendo.
MR – Por vontade de querer o lugar.
MAR – Você está vendo os jogos da Seleção no Brasil. Eu não estou gostando nem um pouco, nem você pode estar gostando.
MR – É claro, nem o Dunga está gostando. Dentro do Brasil não está jogando como tem de jogar, não sei o que está acontecendo, mas é difícil de falar, é importante o dia-a-dia e a gente não sabe o que está acontecendo lá. Agora, o que a gente pode fazer é torcer... Sei lá, porque fora tá jogando bem. Eu não sei se esse time tem que mudar as características quando joga em casa, porque fora já acertou.
CM – O Muricy falava sobre a seleção brasileira, que vem jogando bem fora e tem problemas em casa, e o Marco Antonio Rodrigues botou o São Paulo na parada. Então eu vou aproveitar e perguntar: muitas vezes você joga no Morumbi e sua para ganhar...
MR – Demais.
CM – ... o time do Cruzeiro joga no Mineirão e sua... O único que me parece que tá deitando e rolando em casa mais que os outros é o Grêmio. E também o Palmeiras. Ao mesmo tempo, Muricy, se é mais fácil jogar hoje como visitante do que em casa, porque tem menos de 20% de vitórias dos visitantes?
MR – É melhor jogar em casa, como não?
CM – É melhor?
MR – Mas a gente encontra dificuldade. Eu tenho dificuldade hoje com meu elenco, não é tão assim como era.
CM – Você mudaria o teu time para jogar em casa?
MR – Ou mudaria durante o jogo, também.
Durante a conversa falou-se que também lá fora os grandes times têm dificuldades, mas Muricy fala que eles têm elenco que nós não temos no Brasil, é diferente, e mais fácil mudar, e que ainda fica jogador até fora do banco de reservas que “é brincadeira”. Aqui não tem como.
CM – Qual é a diferença de jogar em casa e jogar fora para você montar teu time?
MR – A diferença é que você tem que apertar um pouco mais em casa, porque o outro time vai ficar atrás. Quer dizer, alguns times. O Cruzeiro não veio no Morumbi pra ficar atrás, o Vitória não vem no Morumbi pra ficar atrás, o time não tem essa característica de ficar atrás, o técnico deles não é assim, os jogadores não são assim, porque é um time jovem, um time meio irresponsável, pega a bola e vai mesmo pra cima. O Cruzeiro é igual. O Cruzeiro nós jogamos com eles aqui quase no contra-ataque. Por que? Porque nós sabíamos que eles vinham agredir o São Paulo aqui no Morumbi e agrediram mesmo. E agredir o São Paulo é ruim. Porque é o que a gente gosta.
CM – E quando você pega um time fechado...
MAR – É um festival de chuveirinho...
MR – Aí eu tenho que fazer o que? O Marco Antonio falou, é um festival de chuveirinho. Acontece, meu filho, que se não vai por terra, é que nem futebol americano, vai pelo ar, eu tenho que ganhar o jogo, tenho que apertar os caras até sair. O Náutico outro dia jogou atrás 89 minutos. Uma hora eles iam tomar uma porrada e perder o jogo. Porque não tinha como, a gente bateu neles o tempo todo. Então se não vai por baixo vai por cima, não tem como. Agora, você tem que ter essa característica. Nós tínhamos o Adriano esse ano, o Aloísio, agora nós estamos com dificuldade, nós estamos com o Borges que não é um grande cabeceador, e estamos com o Dagoberto e André Lima, que é nossa opção.
CM – Quando você pega um time fechado você tem que dar a bola pra ele, pra pegar e ir lá...
MR – Nós pensamos muito o adversário...
MAR – Aí faz falta o habilidoso no meio campo, o criativo...
MR – O que falta é o que tira alguém da frente. Quando você tem um time fechado pela frente, você tem que ter o drible. Nós não temos um grande driblador no nosso time. Nós temos um time que depende de jogadas. Nós não temos um cara que tira alguém, é difícil.
SG – Agora com toda a tua humildade, Muricy, quem olha, quem ouve você falar do São Paulo, acha que é um time que só vai ganhar de 1x0 e tal, e eu estive vendo uns números do São Paulo...
CM – Melhor ataque do campeonato.
SG – ... vocês são os primeiros em finalizações, com 383, né, e ao mesmo tempo vocês não têm o artilheiro. O que mais marcou, o Hugo, tem dez gols, que é a metade do artilheiro do campeonato.
CM – Faz tempo isso, que o São Paulo não tem um artilheiro.
SG – ... é... de uma forma geral, o São Paulo tem jogadores que sabem fazer gols.
MR – Eu acho simples, falam um pouco demais do futebol, mas tem duas coisas que o treinador tem que focar muito em duas coisas, e fora isso eu acho que é um pouco de fantasia. Que, é: Ó aqui, moçada, a gente sem a bola vai fazer o que, nós vamos marcar quem? Quem são os caras? Como é que a gente vai fazer? Vai marcar pressão, meia-pressão, na frente, onde eu vou marcar, atrás da bola, onde nós vamos marcar? Aí, tomamos a bola, quem é que vai agredir os caras? Você, você, você, você e você; eu tenho toda a liberdade pra chegar lá no gol dos caras. Então nosso time é muito definido nesse sentido, é muito definido. Não tem artilheiro, não tem um grande pensador, mas é um time que quando toma a bola vai agredir o adversário. Tanto é que é o que mais finaliza e o que mais fez gols, mas já foi assim no ano passado também.
Então, por isso que eu quebro muito essa resistência aos três zagueiros. O que que tem os três zagueiros? O que importa os três zagueiros? Isso não importa mais em futebol, o que importa é o que você faz com a bola e sem a bola. Quem é que vai ser liberado pra atacar? Quem é que vai dar cobertura pra esse cara atacar? Isso é a confiança que você tem que ter. Então você não tem o maior artilheiro, não tem um grande time, mas tem o melhor ataque. Como é que você faz isso?
Para quem não sabe, coisa difícil no mundo da F1, Rohonyi é o responsável pela organização do GP Brasil de Formula 1 desde o final dos anos setenta. Organizou, inclusive, todas as corridas que aconteceram no Autódromo de Jacarepaguá e continuou organizando depois do retorno do GP para Interlagos.
Segundo a jornalista Sonia Racy, geralmente muito bem informada e responsável pela coluna Direto da Fonte, do Estadão, Tamas é um dos nomes tidos como favoritos para a sucessão do Max “me veste de nazista” Mosley à frente da FIA. Ele próprio não desmentiu essa possibilidade, embora tenha aberto o leque de possibilidades, mas disse, também, que a F1 de hoje, e a FIA por extensão, é fortemente influenciada pelas posições dos países asiáticos e latino-americanos, o que, de certa forma, dá peso e consistência à informação divulgada pela jornalista.
Publicitário, Rohonyi é húngaro de nascimento, mas naturalizado brasileiro. Além de organizar o GP Brasil, foi, também, o responsável pelos três primeiros GPs da Hungria, uma iniciativa inédita e que marcou época no Circo da F1, pois a Hungria era, à época, um país socialista.
Curiosidade: Sonia perguntou-lhe se a F1 fazia mal à saúde e ele confirmou: “... se você olhar atentamente, verá que as pessoas mais antigas, como dirigentes e chefes de equipes, usam aparelho de surdez”.
Mais uma: falando da necessidade do piloto de hoje ser antes de tudo um atleta, com um preparo físico e mental muito bons para responder à brutal necessidade de concentração que os carros atuais exigem, disse que Schumacher está pesando 6 quilos do que quando parou de correr. Pois é, olhando para o “Alemão” ninguém diria tal coisa, pois parece estar em forma permanente.
Este blog torce por Tamas Rohonyi para presidente da FIA, desde, porém, que fique alguém tão competente quanto ele na organização e direção de nosso GP.
Fofocas & Ciúmes
Nunca gostei do futebol de salão, hoje chamado futsal, embora, para mim, ficasse melhor “fut sem sal”. Dizem que a bola atual é melhor e mais fácil de bater. Pode ser, a bola antiga era uma coisa horrorosa. É um esporte típica e nitidamente brasileiro que, se não nasceu, cresceu e desenvolveu-se nas quadras de nossas escolas. Brasileiro é assim, adora bater uma bolinha em qualquer lugar disponível e, é claro, ninguém deixaria as quadras escolares apenas para o basquete, antiga grande coqueluche e esporte número 2, ou para o vôlei, no começo mais praticado pelas meninas. Aliás, curiosamente, o handebol era mais jogado que o vôlei e isso há não muito tempo, coisa aí duns 30 anos. Um ponto a mais para o bom trabalho dos dirigentes da modalidade, embora, também eles, não sejam assim tão exemplares, digamos.
Introdução feita, dias atrás li um e-mail interessante numa lista de discussão, onde um participante dizia que Falcão, o ídolo do futsal, era um “mala” e não tinha ambiente na seleção. Ele sabia disso porque seu cunhado é jogador da seleção e comenta a respeito em família. Choveram as perguntas sobre quem era esse cunhado, coisa que até o momento não sabemos, e eu fiquei com essa informação como curiosidade.
Ontem cedo, acabei vendo pela primeira vez na vida um jogo completo de futsal, justamente a decisão do título. De fato, Falcão é um estranho no ninho, a julgar pelas imagens da TV. Contundido, afundou o rosto na toalha e não ficou na clássica postura do jogador machucado à beira da quadra, berrando e incentivando os companheiros. Jogo terminado, comemorou sozinho o tempo todo. Os abraços com os companheiros, com Schumacher, principalmente, meramente protocolares.
Um estranho no ninho.
Os “espanhóis” também não gostam dele. No intervalo, já contundido, passavam pelo banco brasileiro e perguntavam, jocosamente, se ele não ia voltar. “Está com medo, ‘maricón’?” No final do jogo, o vitorioso Falcão respondeu às provocações, quase levando os “espanhóis” e espanhóis a chegarem às famosas “vias de fato” das crônicas policiais. A não menos famosa turma do ‘deixa-disso’ conseguiu impedir a abertura de um ‘bê ó’.
Segundo os experts, os brasileiros que jogam na Europa e mantêm seus passaportes tupiniquins e os brasileiros que jogam e viajam com outros passaportes, se conhecem intimamente, se relacionam bastante e se respeitam.
Falcão é o único convocado que joga no Brasil.
Um estranho no ninho.
Quartas & Domingos
Ontem, uma vez mais, Muricy reclamou dos jogos às quartas e domingos, deixando as equipes sem tempo para treinar e os jogadores num ritmo de jogar e dormir, jogar e dormir... Quando isso não acontece e há tempo para treinar da forma correta, os jogos são melhores, segundo ele.
Essa declaração do Muricy tem sido criticada por vários jornalistas da área de esportes, inclusive meu amigo Lédio Carmona que, por sinal, gosta muito do Muricy e considera-o um dos melhores treinadores brasileiros. Em tese, eu concordo com o Lédio, principalmente quando ele lembra que os europeus estão jogando às quartas e domingos e, nesse ano, principalmente, até mais que os clubes brasileiros. É bem verdade, como o próprio Lédio lembrou, que os europeus têm maiores e melhores elencos (melhores, principalmente, no sentido de oferecerem boas opções aos treinadores). Há outras diferenças, como a que foi citada pelo J R Wright: os times europeus jogam a maior parte do ano com temperaturas de amenas para frias, com menor desgaste físico dos atletas.
O problema a que Muricy se refere, porém, tem toda a razão de ser: entre 6 de julho e 24 de agosto, da 9ª à 22ª rodada do campeonato, tivemos dois jogos por semana em todas as semanas, exceto entre as 19ª e 20ª rodadas. Essa maratona, que foi previamente destacada por Luxemburgo e Muricy como decisiva para a definição do campeonato, foi muito desgastante. Ela é agravada pelo fato de que no Brasileiro, todo jogo vale 3 pontos de ‘verdade’, principalmente nessa fase.
Isso significa que não há como poupar jogadores, entrar com time reserva. Durante a Libertadores, por exemplo, também temos jogos às quartas e domingos, mas, como a Copa é o torneio mais importante para todos os participantes, os treinadores poupam jogadores nos jogos do BR, como fez, com exagero extremado, o Fluminense, e como faz habitualmente o São Paulo. Para o treinador não é uma opção muito confortável, principalmente porque nossos clubes não conseguem ter dois elencos com boa qualidade, mas ele sabe que derrotas e empates nessa fase são perdoáveis, em nome da conquista maior e mais importante.
A Libertadores, porém, faz parte do passado e o presente é tão somente o Brasileiro e a necessidade vital de conquistar ao menos uma vaga para a próxima Copa. Disputar 14 jogos importantes, todos decisivos, pois, lembrem-se, o campeonato é por pontos corridos, em apenas 55 dias, é um ritmo puxado demais. Não por acaso, nessa fase temos muitas contusões, o cansaço leva a um maior número de faltas, tendo por conseqüência maior quantidade de suspensões, coisas que prejudicam sobremaneira o entrosamento das equipes.
A média de jogos é de um a cada 4 dias, na verdade um pouco menos até. Outro ponto agravante e muito diferente da Europa, em especial das ligas européias, são as viagens. Os maiores países europeus em área territorial, fora Rússia e Ucrânia, tem o tamanho de Minas Gerais, pouco mais, pouco menos. Para disputar a liga alemã, por exemplo, um time viaja, no máximo, o que viaja um time que disputa o Mineiro, com uma diferença: pelas melhores estradas do mundo ou vôos no horário e de curtíssima duração. Sem falar nos trens, porque aí já é exagero.
No Brasileiro 2008 o deslocamento maior é Recife/Porto Alegre. Mas, por exemplo, São Paulo/Recife tampouco é curto, ou São Paulo/Porto Alegre. São distâncias de Champions League, na verdade até maiores que a média dos deslocamentos pela CL. Complicando um pouco mais, temos o quadro de atrasos crônicos que afetam o transporte aéreo brasileiro. Cada viagem toma um dia inteiro, entre a saída do centro de treinamento do clube, deslocamento para o aeroporto, espera pelo vôo, a viagem propriamente dita e, finalmente, deslocamento até o hotel. No retorno, a mesma coisa. Resultado: o time viaja, joga, viaja, descansa um dia e joga, descansa um dia, reúne, ouve uma preleção, um treininho leve ou nem isso, viaja, joga, viaja...
Essa é a razão das críticas do Muricy ao calendário, no que concordo plenamente com ele. Talvez na próxima entrevista ele deva deixar claro que sua crítica mais pesada refere-se a esse período citado.
A crise já tem nome... e efeitos
Finalmente, começa a pegar um nome para essa crise que já vivemos:
O Crash de 2008
Até estou gostando, pois habituara-me a referir a ela como “O crash de Wall Street”. Esse novo nome diz melhor, pois 2008 é algo maior que Wall Street e nem precisa de algo como mundial.
Abobrinha à parte, os sinais da crise aparecem por toda parte. Já temos claros sinais de forte redução na atividade econômica em muitos países. Na Espanha, o número de desempregados vem crescendo na base de 3.000 por dia. Na China, que muitos acreditam irá passar pelo Crash sem grandes estragos, duas fábricas de brinquedos que tinham os Estados Unidos como mercado único, fecharam as portas. Pequenos sintomas de uma grande doença em fase de instalação, infelizmente.
O preço do petróleo caiu a menos da metade do preço de um ano atrás. Péssima notícia para xeiques, biliardários russos e pequenos títeres latinoamericanos. Na verdade, um só, que precisa do barril a 95 dólares para manter seu país no status presente, já bastante ruim. Com o barril a 65 dólares e em viés de baixa, o horizonte que se descortina para Hugo Chávez é tétrico.
No Brasil, os agricultores do Centro-Oeste, principalmente, não têm adubo, sementes e defensivos para comprar, pois os bancos estão com as carteiras de crédito virtualmente fechadas, impedindo, assim, que as empresas comprem os insumos que serão vendidos aos agricultores.
Menos dramática é a situação dos clubes de futebol. O Corinthians, por exemplo, iria sacar sua última parcela dos direitos de TV de 2009 através de operação bancária (já descrita por este blog), mas não pôde fazê-lo pelo fechamento das carteiras de crédito. Isso ajuda a entender o porque da compra a prazo e venda à vista para um empresário, de parte dos direitos de André Santos. Essa operação tem recebido inúmeras críticas no Parque São Jorge e na imprensa, com levantamento de suspeitas, inclusive, sobre a lisura da operação ou sobre os donos da empresa que comprou os direitos do clube.
Bobagem.
Sanches, acredito que muito a contragosto, fez o que tinha de fazer.
No São Paulo, um jogador cotado para ir para a Europa e que só queria um clube de ponta, disse ao presidente Juvenal Juvêncio que está preocupado e o negócio é aceitar o que vier, mesmo que seja Rússia ou Ucrânia, países que ele não considerava de forma alguma. O presidente não disse o nome do jogador, mas eu digo: Hernanes.
Pequeno produtor de vídeo na cidade grande, produtor de leite ainda menor na cidade pequena.
Produtor de escritos diversos, também, não posso esquecer.
Sou um produtor.
Num blog, falo de tudo que me vem à cabeça e à câmera; falo da roça, seus prazeres, suas agruras. Perco meu tempo e o teu falando de política; fazer o que?
No outro blog falo de futebol. Pouco analiso jogo, tem gente melhor para isso. Gosto de falar do marketing ligado ao mundo da bola, do futebol como business nos dias de hoje, mas também das paixões infinitas que o futebol gera e por elas é gerado.
Mundo tão vasto que talvez eu não consiga olhar e sim vislumbrar.
Ao fim e ao cabo, escrevo sobre o que me dá na telha, tanto num como noutro.
Não há vida inteligente sem liberdade plena.
Não sei em qual dos dois blogs você está, mas espero que se divirta e, quem sabe, encontre alguma coisa para pensar.
Não que você não tenha sobre o que pensar, afinal, quem pensa vai aos blogs.