Um Olhar Crônico Esportivo

Um espaço para textos e comentários sobre esportes.

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sábado, junho 28, 2008

Nem tudo serão flores

Parabéns ao Clube de Regatas Vasco da Gama e parabéns, sobretudo, aos torcedores vascaínos.

Durante muitos anos associei o Vasco à imagem de Eurico. Tinha, portanto, profunda antipatia pelo clube. Estava errado, é claro, pois por não gostar de fulano não gostava da multidão. Um erro fruto da ignorância, pois eu pouco ou nada conhecia do Vasco. Tampouco conhecia algum vascaíno, por mais incrível que isso possa parecer. Tenho um primo flamenguista, em Marilia, tão fanático que já contei a história maluca e divertida do nome de sua filha, Jávea. Em Minas Gerais, terra do meu pai, tenho primos tricolores cariocas em Barbacena e Juiz de Fora; um deles, por sinal, até jogou no Flu, depois de fazer sucesso no Tupi. Um dos primos da minha tia Anita, casada com um dos irmãos da minha mãe, foi jogador do Botafogo. Seu nome? Afonsinho.

No decorrer de minha vida essas foram as ligações iniciais, e por muito tempo únicas, que tive com os times do Rio de Janeiro. O Vasco era, para mim, ilustre desconhecido, exceto pelos embates, pelas matérias de jornais, coisas do tipo. Mesmo o Vasco de Sorato não atraiu sobremaneira minha atenção. Na época, meu conhecimento maior dos times fora de São Paulo era sobre o Internacional – resquício, ainda, de Minelli e Falcão –, o Flamengo, resquício,ainda, dos grandes times e grandes jogos contra o São Paulo – e o Cruzeiro, resquício, é claro, do time que me assombrou ao derrotar fragorosamente o Santos de Pelé uma década e meia quase antes do gol do Sorato. Creio que é bom dizer que não tínhamos internet, o Brasileiro já era legal e coisa e tal, mas o Paulista ainda era, em boa parte, nossa menina dos olhos.

Comecei a tomar consciência do Vasco da Gama via Eurico Miranda, portanto, da forma mais negativa possível. Assim foi a década de 90 e os primeiros anos desse século. Somente com a chegada dos blogs é que comecei a conhecer torcedores vascaínos. A amizade virtual e a descoberta que tinha gente muito legal entre eles, levou-me a conhecer, de fato e por vontade própria, a história do Clube de Regatas Vasco da Gama. Confesso que fiquei surpreso, positivamente surpreso. A partir do conhecimento, a partir da interação com outros torcedores, minha visão sobre o clube mudou, claro que para melhor.

Aprendi a separar Eurico de Vasco. O diabo é que isso era coisa difícil de fazer, pois “Eurico era o Vasco”. Difícil, mas não impossível, e assim venho acompanhando a vida do Vasco nos últimos 5 ou 6 anos. Poucas vezes comentei a respeito do clube, pois tinha sempre que tomar inúmeros cuidados para não ferir sentimentos. Era melhor ficar quieto e nada comentar, evitando discussões tão inúteis quanto bobas.

Agora, finalmente, a situação mudou, mesmo porque o que era “situação” deixou de ser, e o que era oposição agora é a “situação”. Uma nova direção assume o comando depois de muitos e muitos anos. Inevitavelmente, faço ligações mentais entre essa mudança e a redemocratização do Brasil. Quando ela, finalmente, aconteceu, veio o desencanto para muitos, pois enorme era a expectativa sobre a queda da ditadura, do regime militar, e a implantação de um governo democrático. Muitas cabeças, algumas até coroadas, eram habitadas pela ilusão de que a mudança de governo traria a felicidade e o progresso.

Não foi bem assim. Só começamos a melhorar, de fato, depois de um duro período de sacrifícios e ajustes.

Creio que os vascaínos passarão por período semelhante. É importante que a nova direção, sob a liderança de Roberto Dinamite, tenha tempo e condições para trabalhar e reestruturar o clube. Um pouco, embora com muitas diferenças formais, como o que está fazendo Andrés Sanches no Corinthians. Os próximos tempos serão duros, talvez mais duros do que sob o reinado euriquista, pois a vida real é como é e não como sonhamos que ela possa ser.

A vitória eleitoral de ontem foi apenas o primeiro passo numa longa caminhada.

De minha parte estarei torcendo pelo sucesso de Roberto e do Vasco. Já aprendi o bastante sobre o clube, sua história, sua importância, para desejar pleno sucesso à nova administração. Como disse no título, nem tudo serão flores, mas, sem dúvida, tenho certeza que os vascaínos de todo o país estão de alma nova e confiantes nessa empreitada. E isso é o que importa, pois, como diz Muricy Ramalho, no futebol confiança é tudo.

E na vida também.

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sexta-feira, junho 27, 2008

Comentando...


Briga por camisas...

Pedro Paulo: você estranha a questão ter ido parar à justiça quando, aparentemente, há cláusula contratual estabelecendo foro arbitral em Paris para dirimir pendências; e também relata não ter encontrado o processo Nike x Flamengo no site do TJ paulista.

E o Fabio P. acredita que a questão é simples, uma vez que uma parte fornece e outra parte usa, e que esses são fatos facilmente verificáveis.

Bom, desde o início das escaramuças – e lá vai tempo – venho manifestando minha estranheza diante dos fatos. Não tenho conhecimento íntimo do funcionamento da Nike, mas pelo que sei e ouço dizer, a empresa é eficiente, cumpridora de obrigações, etc. Tendo em conta seu faturamento, seria muito estranho que houvesse ineficiência em grau tão alto como foi apontado várias vezes pelo Flamengo e também, é bom que se diga, pelo Corinthians. Isso significa, portanto, que eu não acredito nas reclamações do Flamengo? Também não, mas isso significa que há mais coisas entre o céu e a terra do que supõe nosso vão conhecimento dos fatos ou pretensos fatos.

Estamos falando de um negócio que, mais que envolver milhões, envolve duas grandes instituições, e quando uma diz pedra e a outra diz pau, há algo mais em cena que um mero curto-circuito.

No mais, apesar de considerar o patrocínio Olympikus muito bom e extremamente interessante – e nem um pouco surpreendente, depois do acordo Reebok/São Paulo e do crescimento do mercado – ainda penso que o Flamengo precisaria manejar essa situação com luvas de pelica. Um novo fato foi criado e, ao que dizem, consumado via pagamento: o contrato com a Olympikus. O problema é que o fato antigo, o contrato com a Nike, não foi resolvido, seja por bem, seja por mal. É como o Zezinho casar com a Rosinha sem ter saído o papelório do divórcio, ou melhor, sem ainda ter a decisão sobre o divórcio. Na vida civil, em tese, implica em bigamia, processo e cadeia.

Cruzes...

Na vida real das corporações implica em longos e custosos, muito custosos processos judiciais. Os advogados adoram.



Imperador do Morumbi

Um comentarista anônimo disse ser ingenuidade acreditar em choro de jogador, pois os tempos são outros.

Concordo.

Ainda assim, entretanto, eu às vezes acredito.

No caso do Adriano eu acredito.

Nem tanto que um dia ele vá voltar, isso é só uma possibilidade, que tanto pode como não pode acontecer. É mais fácil, ou menos difícil, por exemplo, o retorno do Luiz Fabiano, daqui a 4 ou 5 anos.

Acreditei mais na sinceridade das lágrimas e na emoção contida na promessa, melhor dizendo, expressão de desejo.

Que é tão verdadeiro quanto uma promessa, mas sem o peso dessa.



Datafolha pesquisa crianças

No final desse post eu escrevi “Divirtam-se e costurem, o pano está na mesa.”

E a costura continua, como era de se esperar.

O respeitado e reputado DataKombi, através de sua newsletter DataKombi News, refuta os dados do Datafolha que dizem respeito ao clube da Estrela Solitária. Eu, como não bobo e não gosto de meter a mão em cumbucas que me são estranhas, vou deixar a pendenga para os analistas e advogados das partes.

:o)

O Rod ataca com o Roberto DaMatta, cujas crônicas muito interessantes sobre o Brasil e o jeito de ser brasileiro, acompanho via Estadão. Mas nem sempre, porém, concordo integralmente com o que ele diz. Nesse caso, mesmo, desconcordo.

“Nenhum brasileiro que se preza muda de time.”

Concordo, mas hoje em dia só a partir de uma certa idade, uma certa vivência, porque mudou o Brasil, porque mudaram as pessoas, porque o “jeito de ser” do brasileiro, que nunca foi estático, é claro, hoje é mais dinâmico do que costumava ser. Vivemos numa sociedade plenamente urbanizada e exposta a uma quantidade brutal de informações. As crianças que crescem hoje, de maneira geral, recebem muito mais informação e também formação por meio de agentes estranhos à família. Isso leva parte da gurizada a ter um comportamento vacilante no quesito “time do coração”.

O que era verdadeiro nos tempos d’eu menino – “Nenhum brasileiro que se preza muda de time” – hoje já não é 100% verdadeiro, precisa de um asterisco, uma nota, uma ressalva.

Portanto, volto a dizer o que escrevi no post: “nessa faixa etária a preferência clubística é muito sujeita a chuvas e trovoadas, e é comum as crianças mudarem sua opção mais de uma vez”, ao contrário de antigamente. Claro que isso também não é verdadeiro nas famílias em que o pai ou avô e outros parentes próximos são torcedores fervorosos de um time ou mais de um time. Novamente, porém, essa não é a tônica dos dias de hoje. Diria até que infelizmente.

Outro ponto discutível e que foi levantado por um comentarista anônimo é a questão da importância do ídolo na formação do torcedor. Ele é importante, sem dúvida, mas eu acredito, ainda, na força da camisa mais que no nome do ídolo, mesmo porque o ídolo passa e a camisa fica. Pensando dessa forma, sem dúvida eu valorizo a importância dos títulos para o crescimento da torcida.

Isso tudo, na verdade, é tão somente uma grande omelete: ao fim e ao cabo, todos os componentes se misturam e você passa a ter dificuldade para identificar o queijo, o champignon, o tomate, todos bem misturados com os ovos.

Esses, porém, estão sempre ali, claramente, dando forma, cor e consistência.

A camisa é o ovo da omelete.

Um outro comentarista anônimo, torcedor do Grêmio, contesta o post sobre a colocação do Grêmio. Conferi os dados e, pelo menos considerando os que tenho em mãos, os números nacionais são os que foram postados. Até o presente o instituto não colocou no ar mais informações a respeito.



Ronaldinho no BR 08?

Antes de mais nada: fonte desse Olhar Crônico Esportivo muito próxima de Fernando Carvalho, disse que, segundo o dirigente, nada há e nem houve entre Ronaldinho e Internacional. Isso já era mais ou menos claro, mas não custa reproduzir o que foi ouvido.

Segue o intenso falatório sobre o destino de Dinho, falam de Milan, falam de Manchester City, falam, novamente, do próprio Barça. Ou seja, fala-se muito e sabe-se pouco ou nada. Seu futuro é uma grande incógnita. Todo esse falatório desencontrado apenas acentua a possibilidade dele ficar por aqui algum tempo. Essa possibilidade, se ilusória ou não, continua sendo colocada em bocas com alguma chance de torná-la realidade.

O Fábio P. contesta a recuperação do Adriano e coloca-a, além de suposta, na conta de uma bem armada ação envolvendo o jogador, a Inter, seu empresário, a Nike, o São Paulo e a CBF. Embora tudo sob o Sol ou a Lua seja possível, não é assim que eu enxergo o que ocorreu. Quanto ao seu futebol, convém lembrar o que disse Muricy há cerca de 60 dias: ele vai atingir seu auge no segundo semestre. Palavras, por sinal, reproduzidas nesse blog.

Qualquer coisa fora do normal que envolva um jogador como Adriano ou Ronaldo ou Cristiano Ronaldo ou Henry e outros mais, é motivo para manchetes. Mas não é correto dizer que o que mais repercutiu de Adriano no exterior foram seus dois incidentes no São Paulo. Quem acompanhou o dia-a-dia da imprensa esportiva européia sabe que sua recuperação futebolística foi o que mais rendeu notícias. Aliás, os patrocinadores do São Paulo deram risadas de orelha a orelha por conta disso, e, acreditem, ninguém melhor que eles para avalizar isso que afirmei.

Ronaldinho voltar ao Brasil por 6 ou 12 meses é um retrocesso?

Não concordo. Na vida, na política, nas grandes ações de governo, recua-se um passo para avançar dois. É uma opção tática, falsamente confundida com atraso ou recuo que permita ao adversário ganhar terreno de fato. Retrocesso seria, sim, Ronaldinho transferir-se para um clube de terceira linha, como o Manchester City. Voltar para um time brasileiro de ponta e disputar o Campeonato Brasileiro e, dependendo do clube, também a Copa Sul Americana, e depois regressar para a Europa com o prestígio reconquistado, não é retrocesso.

Vale dizer que, nesse momento, já completa mais de ano que ele está fora da mídia via Nike, exceto pelo comercial dirigido pelo Guy Ritchie, em breve o ex-marido de Madonna (processo de divórcio em andamento, dizem), em que ele é mais sugerido do que visto. Tudo isso começa a pesar na balança, até mesmo de um atleta como ele.

E eu, particularmente, não acredito que seu retorno se dê num Man City da vida. Aproveito para responder ao Odair: por vinte milhões o Barça não irá dá-lo. Aparentemente, não há mercado para ele na faixa de cinqüenta milhões ou outro número igualmente sonoro e lucrativo. Voltamos, então, “Dois Córgo”, à questão do se ficar o bicho pega, se correr... Será que Guardiola vai ter que engoli-lo? E o elenco? E os novos contratados? Arshavin, o russo do Zenith, foi contratado.

Eis a questão.

Finalmente, o Paulo Machado levantou a questão “Globo e transmissão da final da Libertadores” em São Paulo. A princípio sou contrário a interferências de qualquer tipo nas emissoras. Tal como está, acredito que estamos muito bem atendidos. Meu alvará de tempo já se encerrou e não posso prolongar essa resposta, mas voltarei ao assunto.

Abraços e bom fim-de-semana a todos (mas o blog terá novos posts no decorrer do fim de semana).



Post Scriptum - um pouco mais sobre Ronaldinho

O jornal inglês The Sun publicou nota dizendo que Scolari já teria conversado com Ronaldinho e que nos próximos dias o Chelsea fará oferta de 19 milhões de euros para o Barcelona.

...Pode ser, pode não ser. Mas dá uma boa idéia de como anda o valor de mercado de Dinho nas oropas.

O Barça acaba de pagar 15 milhões por Arshavin. Um jogador que apareceu bem no Zenith e fez boa EuroCopa, sumindo na final. Se ele vale isso, quanto pode valer Ronaldinho? Só 19?

Aqui também entra em cena o amor-próprio do jogador: 19, 20, 25, 30 milhões por alguém como ele é, isso sim, um retrocesso real.

Hoje cedo, no CT da Barra Funda, Muricy Ramalho falou que gostaria de apresentar Ronaldinho ao REFFIS. Para os leitores deste OCE tal declaração não é surpresa, certo?

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quarta-feira, junho 25, 2008

Ronaldinho no BR 08?


Nas conversas nas tribunas, nos centros de treinamento, nos eventos noturnos, nos encontros casuais ou não, um assunto tem sido ventilado: a possibilidade de Ronaldinho jogar no Brasil por um ano ou pelo menos por seis meses.

Impensável?

Nem tanto.

Repercutiu muito e bem, em todo o mundo do futebol, a recuperação de Adriano, sua dedicação aos treinos e aos jogos, os gols marcados, o preparo físico excelente, dando arrancadas “imparáveis” aos 40’ do segundo tempo (Roger, do Fluminense, que o diga), uma evolução nítida que vai atingir seu auge ainda no segundo semestre, como lembrou Muricy.

Repercussão que atingiu, também, um de seus patrocinadores pessoais, a Nike. Há cerca de dois meses, a diretoria liberou Adriano de um dia de treino para gravar um comercial para a empresa, já veiculado em todo o mundo, um verdadeiro e literal anúncio de seu retorno ao mundo da bola.

Ronaldinho, Adriano e Nike têm algo em comum?

Sim, têm muito em comum. Vamos lá.

Nesse momento, Dinho é um jogador sem valor de mercado pelo que ele é, pelo que representa. Enquanto falam de cem milhões de euros por Cristiano Ronaldo, seu valor fica reduzido a meros vinte ou menos milhões de euros, como se fosse uma mera promessa, nada mais que isso. Daniel Alves, por exemplo, foi para o Barcelona por 32 milhões de euros, dinheiro de gente grande, mas muito longe de ser tão grande quanto Dinho, vamos falar a verdade.

Ao mesmo tempo que tem seu valor de mercado diminuído, ele deixou de ter espaço no próprio clube, fruto de uma temporada tão frustrante quanto ridícula, para alguém com seu potencial. Guardiola, o novo treinador do clube catalão, foi curto e grosso: Dinho não está em seus planos, está fora, assim como Eto’o e Deco. Pode ser uma decisão perene, pode não ser. Mas ele só voltaria a fazer parte do grupo blaugrano se demonstrasse vontade e recuperação. Aqui, nesse ponto, não podemos esquecer que Ronaldinho é atleta do Barça por mais dois ou quase três anos, ainda.

Mantê-lo na folha de pagamento custa ao clube quase nove milhões de euros por ano, uma grande fortuna. E mantê-lo sem jogar bola, sem ter chance de recuperar-se, significa jogar toda essa dinheirama no lixo, não ter para ela o mínimo retorno. Assim como passá-lo adiante para um Manchester City da vida, time de terceira linha na Europa, por alguma coisa ao redor de 20 milhões de euros é assumir um pesado prejuízo, é abrir mão de um atleta que, no mínimo, no mínimo, vale o triplo e representa, como imagem, muitas vezes mais que esse valor.

É uma situação idêntica à de Adriano e Internazionale, com diferenças de forma, é claro. Mas, na essência, são idênticas: ambos são ou foram grandes atletas e foram pegos pela vida em momentos de total desvalorização, como pessoas e como jogadores de futebol.

Atletas desse nível têm suas vidas profissionais em parte regidas por seus compromissos publicitários, e aqui entra a Nike, uma das maiores se não for a maior patrocinadora pessoal desses dois atletas. Ao patrocinar um atleta, a empresa está investindo nele sua imagem, além de dinheiro. Ver esse atleta recuperado e de novo jogando bola, é uma recuperação do investimento feito e uma proteção do investimento em andamento, pois os contratos são todos de longo prazo. Vir para um país fora do grande circuito do futebol hoje (Itália, Espanha, Inglaterra e Alemanha) e, pior ainda, fora do continente europeu, significava um retrocesso em todos os sentidos, mas hoje essa visão mudou. Riquelme joga no Boca e mantém seu prestígio na Europa, embora muito menor que o de Adriano e Ronaldinho. O Imperador veio, curou-se e voltou à seleção brasileira, que bem ou mal é ainda a seleção estrangeira mais admirada por torcedores de todos os países. Uma temporada brasileira de Ronaldinho, portanto, deixa de ser um período de férias, deixa de ser um atraso em sua vida e na do clube, para transformar-se em parte do investimento em sua recuperação, em parte de seu processo de retorno pleno ao mundo do futebol.

Olhando de longe, sem maiores informações que as ventiladas aqui e ali, parece-me claro que ele, tal como Adriano, terá que bancar uma parte desse custo, abrindo mão de algum percentual de seu salário pago pelo clube. Isso porque ficaria muito pesado para o Barcelona manter intocados seus 9 milhões de euros, e é simplesmente impossível para algum clube brasileiro pagar qualquer coisa acima de duzentos mil euros mensais para um jogador como ele – esse foi o valor, pelo câmbio de hoje, que o Santos pagou por mês para Zé Roberto.

Enxergo algumas dificuldades num salário desse porte, principalmente, se não houver uma negociação muito boa, com os jogadores “comuns” do elenco do clube que contratá-lo, isso, é claro, sem falar da dificuldade de pagar 2,5 milhões de euros em salário para um só jogador em um ano. Difícil, mas não impossível.

Voltando ao falatório de mercado: comenta-se que há três clubes interessados em Ronaldinho, sendo dois de São Paulo e o terceiro de Porto Alegre, Belo Horizonte ou Rio de Janeiro, como possibilidades. Os comentários vão além e falam que os interessados dariam ao Barcelona, como contrapartida, prioridade na negociação de seus atletas. Bom, sem dúvida, mas muito pouco para seduzir o Barça.

Novamente, vendo o panorama à distância, acredito que, desde que Ronaldinho compre a idéia e abrace-a de verdade, Joan Laporta e Ferran Soriano fariam negócio se Ronaldinho concordasse em abrir mão de parte de seu salário, e o clube brasileiro pagasse outra parte – no máximo 2,5 milhões de euros, como disse, tomando o Santos e Zé Roberto como exemplos.

Impossível?

Impensável?

¿Quién lo sabe?

Em tempo: Ronaldinho no Brasil significaria, na prática, sua inclusão no time olímpico em Pequim. Será que, pelo menos nesse caso, a CBF pagaria seu salário durante o período de convocação?



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segunda-feira, junho 23, 2008

Datafolha pesquisa crianças

No último sábado, o suplemento Folhinha do jornal Folha de S.Paulo, publicou matéria com os números de recente pesquisa feita pelo Instituto Datafolha.

Esse Olhar Crônico Esportivo conversou com analista do Instituto, mas antes de falar a respeito vamos à pesquisa propriamente dita, ou melhor, seu resumo, tal como publicado no jornal e transcrito ou comentado por outros órgãos de imprensa.

“Pesquisa entre crianças feita pelo Instituto Datafolha e publicada no jornal “Folha de São Paulo” apontou que o futuro do Flamengo é de crescimento e que o São Paulo pode ultrapassar o rival Corinthians nos próximos anos. O instituto entrevistou 852 crianças em 80 cidades brasileiras. Nada menos do que 23% das crianças disseram torcer para o Rubro-Negro carioca. O Tricolor paulista ficou em segundo lugar, com 11%, à frente do rival Corinthians, com 10%.

A pesquisa revelou ainda fortes presenças de Vasco (5%) e Palmeiras (5%). Em seguida vieram Cruzeiro (3%), Botafogo (2%) e Santos (2%). A Seleção Brasileira foi apontado como time de 4% das crianças entrevistadas.

O Flamengo só não apareceu como líder na região Sul, onde o Grêmio ficou na frente, seguido por Internacional e Corinthians. Nas regiões norte e centro-oeste, o São Paulo foi o segundo, com Vasco e Paysandu dividindo a terceira posição. No Nordeste deu Flamengo em primeiro, São Paulo em segundo e seleção brasileira em terceiro.”

Comentários do Olhar Crônico Esportivo

Primeiro, um quadro que facilite a apreensão dos dados:

Flamengo

23

São Paulo

11

Corinthians

10

Vasco da Gama

5

Palmeiras

5

Seleção Brasileira

4

Cruzeiro

3

Botafogo

2

Santos

2

O Instituto Datafolha ainda não liberou as tabelas completas, portanto só foi possível trabalharmos com os dados que foram fornecidos no release liberado para publicação.

A margem de erro para esse trabalho, com essa amostra de 852 entrevistas, é de 3%.

Embora pareça alta, é considerada pelos especialistas como uma margem de erro muito boa e capaz de refletir com exatidão a realidade. Isso é possível, segundo os analistas e pesquisadores, devido ao avanço dos estudos estatísticos, que permitem trabalhar com amostras que podem parecer pequenas quando se olha apenas para os números absolutos.

Como exemplo, uma pesquisa de caráter eleitoral com menor margem de erro, é feita com 2.500 entrevistas.

As entrevistas foram domiciliares, realizadas em 80 municípios brasileiros, cobrindo todas as regiões do país, todas as classes sociais, sem nenhum filtro, seguindo todas as normas e parâmetros do próprio instituto em outros trabalhos e de acordo com os dados do IBGE. Ou seja, sem diferenciação para esse trabalho em particular.

Segundo o Instituto, foi a primeira vez que essa faixa etária foi pesquisada a respeito de preferência clubística. Normalmente, todas as pesquisas têm por alvo o público a partir de 16 anos de idade. Não houve resposta à pergunta do Olhar Crônico Esportivo sobre o porquê não ter sido pesquisada a faixa etária dos 12 aos 16 anos.

A discrepância entre os números percentuais encontrados nessa pesquisa e nas outras que cobriram as faixas acima de 16 anos surpreendeu um pouco, mas é correta, segundo os analistas. Cabe agora aos especialistas fazer as interpretações desses números.

Para refrescar as memórias, vamos a um comparativo com a última pesquisa Datafolha acima dos 16 anos:

Clube

4 a 12

+ de 16

Flamengo

23

17

São Paulo

11

8

Corinthians

10

12

Vasco da Gama

5

6

Palmeiras

5

6

Seleção Brasileira

4

2

Cruzeiro

3

3

Botafogo

2

2

Santos

2

2

Essa tabela comparativa só contempla, infelizmente, os 8 clubes citados na pesquisa com as crianças. Tão logo as tabelas da pesquisa estejam disponíveis, tentarei completar esse comentário.

De maneira geral, olhando os números só vemos grandes diferenças nos que dizem respeito ao Flamengo, com mais 35% de preferência em relação à pesquisa com adultos, ao São Paulo, com mais 37% e ao Corinthians, onde a diferença de dois pontos percentuais corresponde a menos 17% na comparação com a preferência declarada na pesquisa entre adultos.

Sim, há a margem de erro, da ordem de 3%, que precisa ser considerada em qualquer análise. Por outro lado, as pesquisas nos últimos anos têm sido muito consistentes e raramente a margem de erro tem outra função que não a teórica.

O que salta à vista numa primeira análise, é que nessa faixa etária a preferência clubística é muito sujeita a chuvas e trovoadas, e é muito comum as crianças mudarem sua opção mais de uma vez. Ora porque a televisão mostrou o campeão, ora porque o tio deu uma camisa, ora porque o pai levou ao estádio, ora porque os amigos influenciaram.

Uma coisa, porém, é mais que certa: se o futebol dá pano pra manga, pesquisa, ainda mais de futebol, dá mais pano ainda, pras mangas e pra uma roupa inteira.

Divirtam-se e costurem, o pano está na mesa.

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