Um Olhar Crônico Esportivo

Um espaço para textos e comentários sobre esportes.

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terça-feira, setembro 26, 2006

Ainda sobre gols e goleadores

Por coincidência, o tema tratado no post de ontem é tratado hoje em boa matéria do Wilson Baldini Jr., no Estadão. Pelo visto, é mais do que coincidência, é sinal que o assunto vem despertando o interesse entre os profissionais do mundo da bola.

No jornal, o título da matéria é “Procura-se um artilheiro” e entre os artilheiros do passado que foram ouvidos, Pepe, que jogou na ponta-esquerda do Santos, time pelo qual marcou 405 gols em 750 jogos, aponta algumas causas para a falta de artilheiros:

“Em primeiro lugar, os jogadores saem muito cedo do País. Segundo, este esquema 3-6-1 adotado pela maioria dos times está matando os centroavantes',,, 'Fica-se à espera de jogadores que vêm de trás para ajudar o centroavante, que não chegam nunca.”

O ex-centroavante Careca caminha, basicamente, na mesma direção e chega a sugerir a criação do “treinador de artilheiro”, tal como existe o preparador de goleiros, visando aprimorar, desenvolver melhor a habilidade dos atacantes.

Bom, não serei eu que vou contestar Pepe e Careca, dois monstros sagrados do futebol do Brasil em todos os tempos. Mas, baseado nos números, essas entidades verdadeiras e mentirosas, dependendo de como as usamos, aponto novamente uma certa incoerência nas reclamações. Se a média de gols desse atual campeonato está parelha com a média histórica, e se os artilheiros individuais estão, aparentemente, com menos gols que em anos anteriores, isso significa que a marcação do gol está mais distribuída pelo time. O melhor exemplo disso é o Figueirense, que tem nada menos que 3 jogadores entre os maiores artilheiros da competição até o momento: Schwenck e Soares, com 10 gols cada um, e Cícero com 9.

O Grêmio, time com o melhor ataque do torneio, tem 2 jogadores com 8 gols cada um, outro com 6 gols e um com 4 gols, totalizando 28 tentos. Os demais 17 foram marcados por outros jogadores. No São Paulo, com 41 gols e um jogo a menos, a distribuição é parecida, sem concentração em um só jogador.

Essa maior distribuição de gols derruba a tese de Pepe de que outros jogadores não estão chegando para marcar. E permite, inclusive, olhar com alguma desconfiança a possível influência do 3-6-1 da Copa do Mundo como esquema que penaliza as artilharias.

Creio que as pessoas estão criticando um pouco depressa demais o campeonato desse ano. Não me parece um campeonato tão ruim como dizem, e se olharmos os números da artilharia, Souza, a manter sua média de gols, chegará a 21 gols no final da competição, um número bastante razoável (em 38 jogos, ao contrário de anos anteriores, quando o número de jogos foi maior que o desse ano).


De tudo isso, porém, uma coisa é certa: a maioria de nossos bons jogadores deixa o país muito cedo. Apesar de evoluírem na Europa, isso acontece de forma diferente do que ocorreria aqui. Evoluem mais taticamente, sem dúvida, mas parece-me que perdem um pouco da criatividade, da improvisação, da irreverência que nossos maiores e melhores artilheiros sempre tiveram.

Essas noites de inverno são bonitas. Ao olhar para o céu sem nuvens, enxergamos o brilho destacado de algumas estrelas e planetas. Mas vemos, também, o brilho difuso, leitoso, da Via Láctea e suas quase incontáveis estrelas.

Esse olhar noturno dá uma boa base para entendermos esse campeonato: falta-lhe o brilho solitário das estrelas, mas em seu lugar, temos o brilho difuso dos conjuntos.

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domingo, setembro 24, 2006

Poucos gols?



Para não dizer que dois terços do Campeonato Brasileiro de 2006 já foram cumpridos, teremos dois jogos no próximo sábado, transferidos em função do jogo final da Copa Libertadores, cuja data mudou devido à Copa do Mundo.

Tivemos até agora 258 jogos, com um total de 681 gols. Isso nos dá uma média de 2,64 gols por partida, um número 8% maior que a média histórica de gols nos campeonatos por pontos corridos.

Pouco? Muito? Na média?

Estou propenso a acreditar que é um número que está na média histórica. Poderá melhorar um pouco ou cair um pouco nesse terço final que terá início dia 4 de outubro.

Entretanto, há muitas reclamações com relação à qualidade desse torneio, e parte dessas queixas são alicerçadas pelos números dos artilheiros. Souza, centroavante do Goiás, um time que há tempos ronda a zona de rebaixamento, é o artilheiro com apenas 13 gols em 26 rodadas. Exatamente meio gol por jogo. É seguido por Schwenck, Soares e Tuta, com 10 gols cada um. O melhor ataque é do Grêmio com 45 gols em 26 jogos, e a média de 1,7 gol por jogo. Em seguida, vem o São Paulo, com 41 gols em 25 jogos, e a média de 1,64 gol por jogo.

Números interessantes, próximos da média de outros grandes campeonatos similares em duração e número de competidores, como o espanhol e o italiano (não tenho as médias desses torneios, mas a média brasileira, embora próxima, é superior).

Se a artilharia segue a média pela parte de cima, o que dá para depreender dos números é que o campeonato não é tão ruim assim, e que os gols estão sendo marcados por um maior número de jogadores que em anos anteriores.

Até podemos discutir se isso se deve a uma queda na qualidade dos atacantes, ou a uma evolução na concepção de jogo, tirando o papel de marcar gol de um jogador e repassando-o para todo o grupo – caso típico do São Paulo há vários anos – ou, ainda, a uma maior fragilidade das defesas e, finalmente, a uma combinação desses
fatores e outros mais.


O que temos de diferente, sem dúvida, é a ausência de um time-líder comandado por um jogador de grande destaque individual, como tivemos Alex, no Cruzeiro de 2003, Robinho, no Santos de 2004 e Carlitos Tevez, no Corinthians de 2005. O presente líder desde a 12ª rodada, o São Paulo, não apresenta um jogador com essas características tão marcantes e decisivas.

É um time de conjunto.

Talvez possamos dizer que seja um campeonato de conjunto.


Uma coisa, porém, me parece certa: não podemos dizer que o nível técnico do campeonato está baixo. Não com base nesses indicadores.

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Correndo atrás de bola

Já vai correr atrás de bola? Estudar que é bom, nada, né?

Quantas e quantas vezes todo brasileiro não ouviu essa frase na infância e adolescência? Incontáveis vezes, com certeza.

Mas correr atrás de bola não é prazer apenas de garotos, adolescentes e marmanjos de todas as idades.

Isso mesmo. A cachorrada adora correr atrás de uma bola.

Aqui em casa é uma bolinha de tênis, que um dia foi amarela.

Elas (4 fêmeas e um macho) ficam loucas pela brincadeira, esperam por ela e, se demora, pedem. Resmungam, fazem ar pidão, o terrível ar pidão que os cachorros são mestres em fazer. Resistir não há como.

E, no gramado, atiram-se atrás da bolinha com voracidade, como nenhum atleta por mais bem pago que seja consegue fazer.

Chocam-se, batem-se, rolam no chão, disputam duramente a posse do objeto tão cobiçado...

Tudo jogo limpo, todos os contatos são válidos, ninguém xinga, ninguém morde. Na disputa pela bola os cachorros são de uma civilidade que dá gosto de ver. E inveja.

A posse dela é transitória, como as taças valiosas. Dura o tempo necessário para correrem até o lançador, depositarem a bola aos seus pés e se colocarem de prontidão, à espera do novo arremesso.

São felizes assim.

Correndo atrás de bola.

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