A Guerra da Camiseta
Ou como dois aliados de longa data transformam-se em adversários irredutíveis.
Há anos São Paulo e Flamengo vêm protagonizando uma oposição aos mandos e desmandos da CBF. Em função de dificuldades internas, de vez em quando o Flamengo cede e vota a favor da CBF. Ou chega, muito convenientemente, atrasado às votações, o que facilita a obtenção de auxílios financeiros de emergência. De qualquer forma, porém, o discurso oficial é sempre mais moderno e independente que a prática. Mais recentemente, com os olhos postos em 2014 e a Copa no Brasil, o São Paulo deixou de fazer oposição declarada à CBF e deu seu voto para a reeleição de Ricardo Teixeira. Tal como o Flamengo, porém, a postura e o discurso continuam independentes e modernos.
No âmbito do Clube dos Treze, os dois clubes protagonizam ferrenha oposição à atual direção, para a qual trouxeram Cruzeiro, Atlético Mineiro e Botafogo. Mesmo assim, foram derrotados pelo conjunto dos outros 13 clubes associados, que contaram, posteriormente, com o apoio de Corinthians e Portuguesa. Essa ação de oposição acabou resultando na criação, ainda informal, do G5, e que não passará dessa informalidade, com certeza, dado o que será comentado adiante.
Movido pela rivalidade entre São Paulo e Corinthians, pela necessidade de mostrar serviço visando à eleição que será feita em pouco mais de um ano, pela oportunidade de desviar um pouco o foco da péssima campanha do time no BR, e por uma visão (a meu ver) equivocada do que seja o melhor para seu clube e o futebol, o novo presidente corintiano, Andrés Sanchez, vem trabalhando nos bastidores em busca de uma associação Corinthians/Flamengo, que teria como foco a negociação das cotas de TV, seguida por acordos de transferência de jogadores, estabelecimento de tetos salariais únicos, etc.
Ao mesmo tempo, Sanches negocia a permanência no C13 com Koff e Carvalho, pleiteando uma vice-presidência que só será possível se algum outro clube desistir do cargo prometido.
Enquanto tudo isso acontece, Fabio Koff e Fernando Carvalho conversam, segundo se comenta, com os irmãos Perrela, eternos dirigentes do Cruzeiro, e Ziza Guimarães, presidente do Atlético Mineiro, dizendo a eles que seus interesses não só não coincidem, como são opostos aos interesses de São Paulo e Flamengo. O objetivo é claro: isolar os dois clubes e mais o Botafogo, caso Bebeto de Freitas não ceda aos argumentos do Clube e permaneça na oposição.
Ora, dizem os manuais de política, dizia Maquiavel e Sun Tzu, que deve-se enfrentar uma batalha unido. A desunião é meio caminho andado para a derrota. Algo por sinal tão óbvio e de bom senso, que não precisaria ser explicitado por grandes mestres nas artes e manhas da guerra. Todavia, é dessa forma, desunidos, que Flamengo e São Paulo encontram-se nesse momento.
O pomo da discórdia é uma camiseta. Uma simples e até feia camiseta, que ostenta uma frase que incomoda profundamente a alma rubronegra: “Penta Único”.
A meu ver , uma ação de marketing inoportuna e nada criativa.
Todo o foco deveria ser voltado para a camiseta "5-3-3", dando sequência à de 2006 e antecipando futuras conquistas.
Essa, por sinal, uma camiseta muito mais bonita e significativa do que essa.
O pomo real da disputa, porém, é a entrega da taça criada pela CBF há mais de 30 anos, para o primeiro clube que fosse tricampeão consecutivamente, ou que vencesse 5 campeonatos em anos não consecutivos.
Esse feito foi alcançado pelo Flamengo em 1992, porém não foi reconhecido pela CBF devido ao título de 1987. Nesse ano, a CBF a princípio desistiu de organizar o campeonato e entregou a incumbência ao recém-criado Clube dos Treze. No meio do caminho, porém, quis voltar atrás e não conseguiu, pois os clubes não concordaram. Dessa forma, a confederação organizou às pressas o Campeonato Brasileiro de 1987, e os grandes clubes, com alguns convidados, disputaram a Copa União, vencida pelo Flamengo. O BR foi vencido pelo Sport. Desde então, na prática o país passou a ter dois campeões em 87, um reconhecido pelos grandes clubes, outro reconhecido pela CBF.
Isso tudo dito de forma reduzida, sem entrar no mérito de quem estava certo ou errado e passando batido pela recusa do Flamengo, em decisão do C13, de não jogar contra o Sport para que o país tivesse um só campeão, como pretendia a CBF.
Tantos anos passados e a mesma velha e inútil discussão, que nunca terá um final, vem à tona novamente.
O Flamengo pleitea, oficialmente, que o São Paulo recuse a taça ou entregue-a a ele, Flamengo.
A direção do São Paulo reconhece os 5 títulos do clube da Gávea, mas não abre mão da taça, pois essa pertence à CBF que entrega-a a quem reconhecer como seu campeão por cinco vezes.
Enquanto dois dos maiores clubes do país lutam encarniçadamente por causa de uma camiseta e meia dúzia de bolinhas espetadas em fios de arame, seus adversários se divertem e assistem de camarote.
Os dois grandes clubes perdem de goleada:
3x0 para o Atraso F.C.
Eis aí o grande vencedor da Guerra da Camiseta.
Ou, em outra leitura, enquanto os galos brigam, o gavião detona o galinheiro.
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