Um Olhar Crônico Esportivo

Um espaço para textos e comentários sobre esportes.

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quinta-feira, junho 22, 2006

Brasil x Japão - Em evolução


O Japão jogou bem até, escorou-se em boas defesas de seu goleiro na primeira metade do 1º tempo e equilibrou o jogo. Numa jogada de bola recuperada frente à defesa do Brasil, fez o primeiro gol do jogo. Foi seu grande momento na partida e durou sete, oito, talvez dez minutos. No mais, foi dominado pelo Brasil e não chegou a oferecer perigo. É um time que está de parabéns por ter jogado de forma limpa, sem faltas em excesso e, principalmente, sem faltas duras ou entradas perigosas.

O Japão perdeu sua vaga no primeiro jogo. Mais: perdeu-a quando o árbitro não marcou um pênalti claríssimo no final do jogo, com o placar em 1x1. Curiosamente, justamente esse é o único lance que a Comissão de Arbitragem da FIFA considerou como um erro de arbitragem de fato, na primeira e segunda rodadas. Uma pena.


O Brasil jogou bem. Nada espetacular, mas bem, o que era, de certa forma, já esperado. O jogo de hoje valeu pelas entradas de Cicinho na lateral- direita e Juninho no meio. Ambos influíram positivamente sobre o ataque brasileiro e também sobre o meio-campo, onde melhorou o controle sobre as ações e, principalmente, melhorou a qualidade do jogo.

Com Cicinho e com Juninho, Kaká teve com quem “dialogar” e o lado direito do ataque brasileiro foi ressuscitado. Gosto do Cafu, defendi sua convocação, mas depois dos dois primeiros jogos e do jogo de hoje, fica claro que essa posição deve ser ocupada por Cicinho. O problema, nesse caso, é o buraco que fica aberto na defesa, pois não há cobertura para as descidas de Cicinho. Portanto, o Brasil precisaria de dois volantes para poder manter a defesa protegida.

Ah, mas Lucio e Juan vêm jogando bem. É verdade, mas contra ataques de baixa qualidade e não muito velozes. O ataque de Gana, por exemplo, é veloz, é habilidoso e é muito forte. Será o primeiro grande teste da defesa brasileira.

A cobertura do Cicinho... Não esqueci dela. A entrada de Juninho no meio, em lugar de Adriano, voltando Robinho para o banco, poderia, na minha visão, resolver esse problema, pois Ronaldinho poderia ficar livre mais à frente, sem preocupação com marcação e mais próximo de Ronaldo. Com isso, Juninho jogaria no meio, equilibrando o setor com Kaká. Emerson e Zé Roberto ficariam encarregados do combate mais pesado no meio e da proteção à defesa. Dessa forma, poderíamos contar com dois laterais velozes, ocupando espaços e abrindo caminhos pelas pontas.

Me pergunto se Emerson e Zé Roberto farão isso. Talvez fosse melhor entrar com Gilberto Silva em lugar de Emerson, que tenho achado um pouco lento e deixando espaço na marcação. No fundo, creio que Mineiro seria a melhor opção de volante pela direita, por ser o mais veloz deles, por jogar por aquele setor no São Paulo e por ter jogado muito tempo ao lado de Cicinho. Além disso, é um marcador implacável e duro, sem ser faltoso ou violento.

Chega, começo a delirar e sou apenas um torcedor e observador, não sou o técnico da seleção.

Mas Ronaldo é titular sempre em meu time, pois ele resolve. Mesmo fora de sua melhor forma.


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quarta-feira, junho 21, 2006

0x0


Muito já se escreveu sobre o esporte, sua prática, as competições, os benefícios para quem pratica, os riscos, os prazeres para quem assiste.

Também muito já foi escrito sobre os sonhos e ilusões que o esporte cria, alimenta, mata. Grandes conquistas, grandes derrotas, extremos dependentes, para que um exista, o outro tem que existir, também, porém com o sinal trocado.

Os louros da vitória, os choros da derrota.

O esporte é uma representação simbólica da guerra, com regras definidas, com fiscalização, com limites claros de espaço e tempo. Um jogo é uma batalha e dessa forma é descrito. Nos mais diferentes esportes, até mesmo nos individuais, onde um homem duela contra outro ou outros, sendo ele sua própria equipe.

E ao final do jogo, o vencedor. E o derrotado.

Muito já se escreveu, também, sobre o valor da vitória e a importância da derrota. Como uma derrota tempera a alma, educa o espírito para as provações da vida, assim como uma vitória deve ter o dom de educar para reconhecer que ela é transitória e que o verdadeiro vitorioso é modesto, equilibrado e moderado.

Paradoxalmente, o mundo dos esportes é um mundo de certezas, pois tudo converge para um momento final em que os contendores serão separados em vitoriosos e derrotados. E, assim como eles, seus apoiadores, seus fãs, seus torcedores.

Essa certeza, todavia, cai por terra quando falamos do futebol. O mais popular e o mais democrático de todos os esportes, joga por terra a divisão simplória e falsa entre vencidos e vencedores, pois o futebol permite e contempla o empate. O resultado que não produz nem um, nem outro. O resultado filosoficamente puro, pois ao término da disputa todos estarão igualados, as forças se equivaleram, uma não sobrepujou a outra, o equilíbrio foi mantido.

Há muito disso na vida, seja por acidente, seja como fruto de uma busca nossa por uma solução onde ninguém perca, mas tampouco ganhe. Como isso pode ser importante para a vida! Ou poderia...

Dentro do empate há uma categoria ainda mais fascinante, um resultado que pode ser dramático por sua aparente nulidade: é o 0x0. Não só ninguém venceu, como sequer alguém conseguiu marcar um tento, conseguiu vencer a defesa adversária e ser o senhor da disputa por uma parte do tempo.

Um 0x0 pode ser um jogo dramático. Lá estão 22 atletas correndo, suando, disputando arduamente a posse da bola e a possibilidade de fazê-la ultrapassar a meta adversária. Afinal, é para isso que o futebol existe, o gol. Mas nada acontece. Na platéia, à medida que o tempo se aproxima do final, cresce a angústia, cresce o desejo profundo pelo gol, sentimento tão forte, apesar de aparentemente banal, que está entre os maiores que conhecemos, iguala-se aos sentimentos que nutrimos por pessoas que amamos.

Um clímax se faz necessário, todos desejam explodir, dar vazão ao sentimento angustiante, à vontade exasperante de ver a bola balançar a rede do gol adversário. Uma só ou milhares de pessoas têm o mesmo grito preso na garganta, pronto a sair potente, arrasador e ao mesmo tempo pacificador.

Contudo, mesmo com tantas vontades, com tanto vigor no sentimento, nada acontece, o grito fica preso, pior que isso, reflui. As expressões murcham, perdem o viço de minutos e se acinzentam. É o preço do desejo não realizado. Não vivemos a dor do gol sofrido, mas também não gozamos o prazer do gol marcado. Todas as muitas possibilidades, tudo que era possível, girou, esteve próximo, e não aconteceu.

E o mais estranho é que, em muitas das vezes, quando o fim se aproxima outro sentimento aflora, se impõe, até, todo poderoso: o medo da derrota, que conduz à vontade de deixar tudo como está, transferir a vitória para outro dia. Nesse momento, começa a ficar importante evitar a derrota ao invés de tentar a vitória. Finda a peleja, não se comemora, mas lambe-se as feridas e começa o planejamento para a próxima vitória. Sim, porque ao fim e ao cabo nós corremos atrás da vitória, e o empate é um tropeço no meio do caminho, feito de propósito pela própria vida para nos ensinar.

Mas já nem sei o que, só consigo pensar nas formas e métodos para vencer a próxima peleja. Afinal, tenho um grande e forte grito preso em minha alma e ele precisa sair, precisa vir à luz, precisa viver.


P.s.: fui ao Google e pesquisei winners e loosers; para uns, há nada menos que 332.000.000 de citações; para outros, tão somente 9.510.000 citações.


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Entrevista com Spike Lee


Essa entrevista, assim como a anterior, do Parreira, foi publicada na edição de hoje do jornal O Estado de S. Paulo


'Preferia que o Brasil entrasse com o Robinho'
Fanático por esportes, diretor americano vai à Alemanha acompanhar a fase final e torcer pela seleção brasileira


O esporte e o cinema são as paixões do cineasta americano Spike Lee. Torcedor fanático do Arsenal e amigo do capitão do time Thierry Henry, ele geralmente entra nos sets de filmagem exibindo a camisa de seu time predileto. E, ultimamente, sua preferência tem recaído para a verde e amarela brasileira, seleção para qual vem torcendo na Copa do Mundo. Já se tornou rotineiro vê-lo com a camisa da seleção brasileira. Um fanatismo tamanho que ele embarca, neste fim de semana, para acompanhar a fase final na Alemanha. Diretor de filmes como O Plano Perfeito, Spike Lee deu a seguinte entrevista ao site oficial da Fifa.


- Qual é o seu time do coração?

Brasil. Não sou antipatriótico, mas eu gosto da maneira como os brasileiros jogam. Eles têm estilo. Se for para comparar, os brasileiros jogam futebol como os norte-americanos jogam basquete. É de encher os olhos.

- Você assiste muito futebol?

Aqui nos EUA eu raramente vou, mas quando estou em Londres sempre compareço ao estádio. Sou torcedor do Arsenal e Thierry Henry é meu favorito. Somos grandes amigos. Gosto muito dele. Mesmo antes de conhecê-lo, já admirava o jogo dele. Ele é muito elegante em campo.

- É o que você espera de um jogador?

Bom, não quero ver todo mundo jogando igual porque precisamos de qualidades diferentes em cada posição.

- Você vai para a Alemanha?

Claro! Vou levar meu filho às duas partidas das semifinais. Jackson tem nove anos de idade e joga num torneio pré-mirim de futebol. Ele está super ansioso. Ele já foi à Europa, mas dessa vez está mais animado. Vai ser uma viagem de pai e filho. Só ele e o paizão. Vamos sair do aeroporto internacional de Nova Iorque direto para Munique antes de ir para Dortmund.

- E o seu filho também torce pelo Brasil?Claro que sim! Ele tem a camisa do Ronaldinho!

- Que tipo de torcedor você é?

Eu sou um torcedor fanático por esportes: basquete, beisebol, os Yankees de Nova Iorque... Eu gosto de todos os esportes, sabe, só para ficar gritando e torcendo. E vou fazer o mesmo quando chegar à Alemanha!

- E qual seleção lhe surpreendeu ou lhe preocupou até agora?

A República Checa parece ser bem forte, igual à Itália. Mas uma pessoa me preocupa: o Ronaldo! Quando assisti a Brasil x Croácia, notei que ele não estava nem correndo! Bom, não sei se ele está machucado... Ou se está mesmo fora de forma. Parecia que ele não estava nem interessado no jogo. Preferia que o Brasil entrasse com o Robinho.

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Entrevista com Parreira - II


'Brasil não pode se defender só com cinco'

Para o treinador, Brasil "volta rapidinho para casa" se jogar assim, em uma Copa onde todos se defendem com oito, nove

Daniel Piza

Nesta segunda parte da entrevista, Parreira fala da preparação da seleção, de Ronaldo e sua atual forma, do jogo contra o Japão e da pressão sobre ele e o time.

- É por isso também que você pede para marcar só no nosso campo?

Nosso time não tem característica de marcar sob pressão. Pode até acontecer numa situação de jogo, pois treinamos isso, mas não é característica. No Barcelona, por exemplo, você tem jogadores como Eto'o e Giuly que vão e voltam o tempo todo. Isso também nós não teríamos nem com Robinho e Fred. Nossa marcação tem dado certo, tanto que não tomamos gol há cinco, seis jogos.

- Retrospectivamente, agora, você considera que foi bom não ter feito amistosos com grandes seleções?

Você gasta um dia antes do jogo, um dia para o jogo e outro depois, viajando e tudo. Se você faz quatro amistosos, perde 12 dias. Com amistosos mais fáceis, não desgastamos. O trabalho foi bem feito porque contra a Croácia o time estava bem fisicamente. Eles se cansaram antes da gente.

- Seu primeiro degrau era o preparo físico? E depois?

Era. Era dar ritmo ao time, uma base física. Dar saúde ao time para agüentar. Nosso planejamento não pode ser outro a não ser pensar na final. Temos que planejar em cima de 7 jogos, não só da primeira fase. O segundo degrau era começar com vitórias, ganhar coletividade. Nesse último jogo já juntamos mais o time, com Kaká e Ronaldinho mais pelo meio, para ficar mais tempo com a bola. Agora é ir melhorando o time.

- Existe o risco de cadenciar demais?

Nesse tipo de jogo não tem como acelerar muito. Eles (os adversários) ficam concentrados com dez jogadores entre a intermediária e a grande área. Tentamos algumas bolas esticadas nas costas do zagueiro, mas o que aconteceu? Foi na mão do goleiro ou o zagueiro cabeceou. Não tem espaço. Ninguém joga veloz sem espaço. O jogo contra a Austrália ficou melhor depois que eles botaram três na frente. Aí nos últimos dez minutos nós manda mos no jogo. Porque surgiu espaço. Tem que ter paciência, não tem jeito. Mas não teve sufoco. É sufoco classificar no segundo jogo? Conseguimos um respiro de dez dias, para recuperar, sair da pressão. O que a gente deve é circular a bola mais rápido. Tocar a bola com mais velocidade até encontrar a hora da jogada aguda.

- Há muitas críticas à dupla "de peso" lá no ataque.

O Ronaldo está precisando ganhar ritmo mesmo. Chegou aqui sem jogar durante dois meses. Ele não chegou em forma porque, por mais que o jogador treine, não é a mesma coisa. Tem que jogar. Ele é motivo de preocupação para o adversário. Mas o pessoal não percebe. Vale a pena investir no Ronaldo por tudo que ele representa e pela diferença que ele pode fazer numa partida. No primeiro jogo, ele travou um pouco.

- Por quê?

Não tem explicação. Talvez seja psicológico, mas não tem como explicar. Não sei o que deu nele. Agora ele já foi bem melhor. O importante é que ele jogue mais uns 70 minutos contra o Japão para pegar mais ritmo ainda. Queremos que ele chegue bem às fases eliminatórias, porque aí é que é a hora da verdade. Ele não está gordo, o corpo dele é que mudou por causa das lesões; só precisa de mais condicionamento. A experiência que ele tem e o respeito que os adversários têm por ele ninguém substitui.

- Qual a importância de ele fazer um gol?

É toda a motivação que ele precisa. Acredito que ele possa pensar em bater o recorde de Gerd Müller (14 gols em Copas, dois a mais que Ronaldo), mas o foco maior dele é ser campeão do mundo e jogar bem. O gol ajuda a soltar, a ganhar ânimo.

- Qual o limite?

É a coerência. São os interesses da seleção brasileira. Enquanto ele estiver melhorando, como está, confiamos nele. As coisas caem nele porque ele é celebridade desde os 17 anos. A personalidade dele provoca notícia. O Ronaldinho Gaúcho é mais quieto. É igual ao Roberto Carlos, o cantor, que quase nunca dá entrevistas. Mas a culpa não é do Ronaldo por atrair tanto a mídia. Se ele sair e o Brasil for mal, tudo reverte: "Ah, por que tirou o Ronaldo?" Pode ter certeza.

- O jogo contra o Japão tem valor como aprimoramento?

Muito. Vai ser o mais difícil da primeira fase. Eles têm uma característica que incomoda o adversário: a velocidade. Muita mobilidade, muita aplicação tática. É um time que não se entrega. A Austrália ganhou do Japão em lances fortuitos, teve uma sorte enorme; o placar não traduziu o que foi o jogo. Os gols foram no final, e no primeiro houve uma falha de goleiro. Não foi cansaço nem nada. Este grupo não vai ter goleadas, não. Se o Brasil não estivesse preparado, teria sofrido bem mais. Em nenhum dos dois jogos chegamos realmente a tomar sufoco.

- Mas o esquema, em suma, está funcionando?

O esquema está funcionando. Houve evolução tática, técnica e física do primeiro jogo para o segundo e espero que continue assim. Ronaldinho e Kaká não têm que marcar tanto em seus times. Mas a gente conseguiu vir trabalhando isso desde o jogo contra Hong Kong no ano passado e aqueles jogos contra o Peru e o Uruguai. Não é uma ciência exata, mas estamos trabalhando para isso. Até porque, se a gente quiser ganhar a Copa do Mundo, vai ter que melhorar. Faltam cinco jogos, é muita coisa. É uma competição ingrata; bobeou, está fora.

- Por que o Ronaldinho ainda não rendeu o que pode? Por motivos táticos, psicológicos ou circunstanciais?

Não tem nada a ver com tática. Vai botar o Ronaldinho onde? No meio dos zagueiros adversários? Ele tem liberdade total, não está preso; está muito marcado, sempre tem um colado nele. Ninguém joga contra o Brasil como joga contra o Barcelona. Contra o Brasil, todo mundo se defende mais. Se perder a bola - o Ronaldinho, o Kaká -, não vai cruzar os braços e ficar olhando para o céu, né, mano? O Brasil não pode defender com cinco, numa Copa em que todo mundo defende com oito, nove, dez. Vai voltar rapidinho para casa.

- A falta de movimentação dos dois da frente o atrapalha?Não. O Adriano se movimenta bastante, o Ronaldo está se movimentando mais. Mas o zagueiro fica em cima. Há sempre uma cortina de oito atrás. Toda vez que o adversário se fecha atrás, o jogo fica cadenciado. Em qualquer lugar do mundo. Não tem espaço, então não tem velocidade. A sintonia de acertar o momento certo da penetração, o time vai adquirindo a cada jogo. Mas não pode perder a bola no nosso campo ou no meio. Acho que só há três equipes que não mudam a forma de jogar quando enfrentam o Brasil: a Alemanha, a Argentina e a Holanda. Eles marcam por pressão e tentam impor seu padrão de jogo.

- Como você lida pessoalmente com a pressão? Lê os jornais?

Leio alguma coisa só, mas tem muita incoerência; o cara não faz a leitura do jogo e não leva em conta o adversário. O treinador da Austrália veio nos cumprimentar quando acabou a partida, feliz da vida porque perdeu só de 2 a 0. No Brasil, é o contrário. E por quê? Porque ficaram com esse negócio de show. Não tem show, não. Copa do Mundo na Alemanha tem que ganhar. Show é ganhar. Não vai ter jogo fácil nenhum.

- O que mais tem lhe chamado a atenção nesta Copa?

A dimensão que o futebol brasileiro ganhou. A melhor coisa que eu vi foi a capa do Olé, que dizia, de gozação, "Eles são humanos". Adorei isso. E usei na minha palestra. Eu disse aos jogadores: "Vocês são humanos". Somos humanos, não somos galáticos. Só vamos vencer se nos esforçarmos. A gente quer jogar bonito, não tem limitações. Mas o torneio é curto e deixa tudo mais difícil. Não se pode perder.


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Entrevista com Parreira - I


'É hora de ajustar, não de mudar'

Em entrevista ao Estado, treinador deixa claro que não abre mão do esquema atual. Só troca jogadores da mesma posição

Daniel Piza, ENVIADO ESPECIAL, BERGISCH GLADBACH

O treinador Carlos Alberto Parreira recebeu o Estado no Castelo de Lerbach, onde está a seleção brasileira. Na varanda, de frente para o lago com patos, cercado de muitas árvores e ao som dos passarinhos, ele comenta: “Precisamos disso aqui. Os jogadores estão lá dentro, tocando cavaquinho, relaxando, longe de toda essa loucura ao redor da seleção brasileira.” Parreira, com toda sua experiência, diz que nunca viu nada igual. E quer preservar seus jogadores da pressão para que dêem show. “Numa Copa na Alemanha, show é ganhar.” Na entrevista, disse ainda que o esquema com o quarteto de ataque está funcionando e que o time só precisa de ajustes, como acelerar a circulação de bola na saída e se posicionar melhor na hora de defender. Em sua opinião, é a marcação e a movimentação intensa a razão para que o Brasil tenha de jogar mais cadenciado, com paciência. Quanto a Ronaldo, acha que sua experiência pode fazer a diferença na "hora da verdade" - a fase do mata-mata, a partir da próxima semana.

- Como o Robinho e o Fred entraram bem no domingo, o torcedor já quer que essa seja a formação titular do ataque. O que você acha?

Não se podem analisar os 20 minutos finais como se fossem o jogo inteiro. É covardia. O adversário já estava perdendo o jogo, colocou mais um atacante, depois cansou. Deu sorte, tem dia que não dá certo. Não dá para comparar situações diferentes. Ótimo que temos um Robinho para entrar, um Fred, jogadores que podem melhorar o time naquele contexto. Mas nada garante que começar o jogo com eles daria o mesmo resultado. Não existe bola de cristal.

- Como você decidiu as mudanças?

A história do jogo é que realmente determina. O Gilberto Silva, por exemplo, entrou no lugar do Emerson porque tem mais noção de jogo aéreo. E entrou bem, tirou algumas bolas. Acho que as mexidas foram perfeitas no domingo. Substituição não adianta você planejar antes, porque sempre dá errado. Quem poderia imaginar que o Fred entraria e marcaria um gol? De repente, achei que seria bom. Tenho acompanhado o trabalho dele, ele tem treinado muito bem. E o Adriano também sentiu. Ele tem mais de 90 quilos e correu bastante, é natural que tenha cansado. Ajuda a defesa, vai para cima e para baixo, não se poupa no jogo. Mas foi uma sorte, poderia não ter acontecido nada.

- Você chegou a cogitar da entrada do Juninho, para melhorar o passe em profundidade?

Acho que é uma decisão muito subjetiva. Nosso time chegou a um ponto em que as mexidas são muito complicadas. É hora de ajustar, não de mudar. Estamos no limite máximo da ousadia tática. O Zé Roberto marca muito bem. Como é que a gente mexe ofensivamente nesse time? Tirar um dos volantes é impossível. O que temos a fazer é colocar um jogador descansado na mesma função, com gás para ajudar a empurrar o time. O contrário pode acontecer: tirar um atacante para pôr um meia, um homem mais de contenção.

- Mas e a ligação no contra-ataque? Zé Roberto começou a sair mais no segundo tempo por orientação sua?

Dos dois homens de contenção, na hora de sair é o Zé Roberto, até por ter mais facilidade para isso, que fica mais à frente, para fazer a ligação com o meio e o ataque. O Zé é que vai municiar o Roberto, o Cafu, o Ronaldinho, o Kaká. E quando eles estiverem muito marcados, se ele tiver condição, passa direto para os atacantes. Mas no primeiro tempo não tinha espaço. Eles corriam muito, o jogador deles acompanhava o Cafu até a linha de fundo. Essa transição entre defesa e ataque, essa ocupação dos espaços, está cada vez mais intensa no futebol. Os jogadores têm que estar muito bem preparados para impor nosso estilo.

- E tirar um dos atacantes para avançar o Ronaldinho?

Posso, mas não sei se vai ficar mais ofensivo. O Ronaldinho gosta de buscar a bola no meio. Do jeito que o time está formado, dentro de sua lógica, fica difícil para o treinador mudar o esquema. Por isso acho que as mexidas têm sido corretas. Você vai acabar trocando um lateral por um lateral para dar mais força, ou um meia por um meia. Em Copa do Mundo não convém ficar mudando a estrutura tática, porque são poucos jogos. O treinador da Austrália [GUS HIDDINK]muda o time a cada jogo, fica embolado. Isso no Brasil nunca deu certo. Começar com 4-4-2 e depois ir para 3-5-2. Não dá. Em todas as Copas o Brasil foi o mesmo até o final. Em 2002 o Felipão trocou o Juninho pelo Kleberson, para dar mais consistência ao meio-campo. Mas começou com três zagueiros e três atacantes e não mexeu nisso. Eram sete para defender e três para decidir. Agora são seis para quatro.

- Dava para ter evitado aqueles dez minutos de sufoco?

Não tem jeito. Essa bola alçada na área, com três atacantes fortes, altíssimos, isso vai causar sempre dificuldade para qualquer defesa. O negócio é aproveitar o espaço que eles estão dando, e foi o que fizemos. Pode ver que têm saído muitos gols no cruzamento de bola parada no primeiro pau. Essa é sempre uma jogada complicada para a defesa. Por mais que você treine e oriente, a defesa se enrola, porque o atacante vem de frente e o zagueiro é obrigado a girar o corpo. Só não pode recuar para defender dentro da grande área, que às vezes é um defeito do jogador brasileiro. A gente chama muita atenção para isso, mas na hora do jogo nem sempre sai como a gente pretende. Precisamos ficar fora da grande área o máximo que puder, deixar os caras em impedimento.


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terça-feira, junho 20, 2006

Pitacos da Copa II


1 – Salve, Lito. Quando falamos de São Caetano, ou Botafogo, ou São Paulo, sou a favor dentro de circunstâncias determinadas. O Calazans, injustamente, massacrou o Chamusca ao tirar a frase de seu contexto. O “mano” Parreira – a frase dele, literalmente é: “Na Copa, show é ganhar, mano” – na minha opinião, não tem esse direito. A seleção brasileira de futebol não tem esse direito. Ou melhor, até tem, mas contra uma Alemanha, Itália, Inglaterra e Argentina. Fora esses, mano, tem que ganhar e jogar, se não bonito, pelo menos bem. Um treinador que tem à disposição alguns dos melhores jogadores do mundo não pode permitir que o time jogue o futebolzinho chocho, xexelento, medíocre que jogou contra a Austrália. Vamos falar em português claro: o Brasil tem obrigação de ganhar da Austrália, Croácia e Japão. E ganhar bem. E não tem o direito, sequer, de passar sustos. É isso como regra, mas aceito exceções. Nosso problema é que jogar bem virou exceção.



2 – Quanto a vencer de qualquer jeito, sei lá... Não me agrada. O título de 94 não me encanta, nunca cito aquela seleção, exceto para falar mal. Ganhar um título porque um italiano cobrou mal um pênalti é um pouco demais pro meu gosto. Ao contrário dessa, a seleção de 82 me encanta até hoje. Não só a mim, mas a milhões pelo mundo afora. Adoro ganhar, sou louco por ganhar, ganhar é tudo! Mas há formas e formas de ganhar. A mim, encanta ganhar com um que de beleza e arte. Não precisa ser muito, mas um pouco tem que haver.



3 - Dias atrás eu escrevi, mas nem lembro se apareceu aqui ou não, que a mágica vitória da Argentina foi um momento maravilhoso. Um grande momento, difícil de se repetir. Os hermanos estavam todos muito bem, e a Sérvia Montenegro... Nem dá pra comentar. Isso também conta, mas não importa, o que importa é o grande jogo dos hermanos. Pronto! Como fotografia, tá registrado pra posteridade. A questão não é dar espetáculo, mas sim jogar do jeito brasileiro de jogar. O que me incomoda é que nós temos jogadores para isso. A seleção não é um clube, com elenco limitado, com carências aqui e ali. Pô, estamos falando da Seleção Brasileira de Futebol! Que tem à disposição uma geração com Ronaldo, Ronaldinho, Kaká e vários outros. E aí, o que acontece? O treinador escala, mal escalado, um time há um ano ou mais e não muda. Se alguém quebrasse a perna jogaria de muleta, pombas!



4 - Incomoda-me ver o Brasil jogar sem alternativas, sem opções. Mesmo que mude contra o Japão, duvido que vá adiantar alguma coisa. Por que? Porque não treinou. Porque essa seleção não tem formações alternativas – de novo essa palavra, de novo esse conceito. Eu defendi Cafu e RC, mas se em dois jogos baba os caras nada renderam, vão render quando? Contra Gana? Contra a Fúria? Contra os hermanos? Contra o English Team? Mais: Cicinho e Gilberto nem “conhecem” seus possíveis parceiros, terão de ser apresentados. “Aí, manos, esse é o Cicinho, vai jogar com vocês no lugar do Cafu, e esse é o Gilberto, entra no lugar do RC, beleza?” “Ô, professor, e como eles jogam? Eles vão pra frente ou vão ficar? Se eles forem, alguém vai ter que cobrir? E lá na frente, a gente deixa o cara sozinho pra resolver ou vai ter que encostar? Professor, a gente vai fazer o um-dois com eles?” “E aí, mano, Cicinho, né? Prazer, eu sou o Kaká.”



5 – O período de treinamento foi gasto com treinos físicos e treininhos oba-oba. Nenhuma formação diferente da engessada foi tentada, nem mesmo “a nível de” treino! Juninho no lugar de Adriano? Nem pensar. Robinho? Vê lá! Fred? É para compor o grupo, temos o Ronaldo e o Adriano. Ah, tá. O Emerson está marcando à distância. Essa marcação permitiu que até mesmo os socceroos chutassem um monte de bolas contra o Dida. Felizmente, todas pra fora ou fracas e bem em cima do goleiro, que mesmo assim fez uma saída lá... E ainda tem gente que deu risada do goleiro e da defesa da Costa Rica e, se não me engano, da Costa do Marfim. Tá bom. Mesmo assim eu não duvido que chegaremos à final. Pois é, não duvido. E acho, também, que seremos campeões. Porque – e o lusitano Ricardo que não leia esse comentário... hehehe – a rapaziada, fora Argentina, treme contra o Brasil. E alguma coisa a gente acaba aprontando. Mas é pouco para quem somos. E para o que representamos.



6 - 1994... 1994... Pois bem, olhem, se for pra levar a coisa a ferro e fogo, a Copa de 94 terminou empatada. O jogo final foi 0x0, ninguém teve competência bastante para marcar um só gol, também não houve nenhum esforço fora do comum para marcar por parte de ninguém. É isso. Na minha visão de futebol a Copa terminou empatada. O mais correto seria o Armando Marques entrar em campo e decretar os dois times campeões. Oficialmente o Brasil é pentacampeão, ou melhor, ganhou a Copa 5 vezes. Ótimo, adoro isso, acho um barato. Mas não me fico babando e glorificando um time limitado e uma campanha medíocre. Em dois mil e sei lá quanto, se eu estiver vivo, não vou querer me lembrar de 2006 e dizer “Ah, jogamos mal, mas ganhamos a Copa, que é o que interessa.” Não mesmo, realmente não vou querer ter essa lembrança.


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