Um Olhar Crônico Esportivo

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terça-feira, junho 20, 2006

Pitacos da Copa II


1 – Salve, Lito. Quando falamos de São Caetano, ou Botafogo, ou São Paulo, sou a favor dentro de circunstâncias determinadas. O Calazans, injustamente, massacrou o Chamusca ao tirar a frase de seu contexto. O “mano” Parreira – a frase dele, literalmente é: “Na Copa, show é ganhar, mano” – na minha opinião, não tem esse direito. A seleção brasileira de futebol não tem esse direito. Ou melhor, até tem, mas contra uma Alemanha, Itália, Inglaterra e Argentina. Fora esses, mano, tem que ganhar e jogar, se não bonito, pelo menos bem. Um treinador que tem à disposição alguns dos melhores jogadores do mundo não pode permitir que o time jogue o futebolzinho chocho, xexelento, medíocre que jogou contra a Austrália. Vamos falar em português claro: o Brasil tem obrigação de ganhar da Austrália, Croácia e Japão. E ganhar bem. E não tem o direito, sequer, de passar sustos. É isso como regra, mas aceito exceções. Nosso problema é que jogar bem virou exceção.



2 – Quanto a vencer de qualquer jeito, sei lá... Não me agrada. O título de 94 não me encanta, nunca cito aquela seleção, exceto para falar mal. Ganhar um título porque um italiano cobrou mal um pênalti é um pouco demais pro meu gosto. Ao contrário dessa, a seleção de 82 me encanta até hoje. Não só a mim, mas a milhões pelo mundo afora. Adoro ganhar, sou louco por ganhar, ganhar é tudo! Mas há formas e formas de ganhar. A mim, encanta ganhar com um que de beleza e arte. Não precisa ser muito, mas um pouco tem que haver.



3 - Dias atrás eu escrevi, mas nem lembro se apareceu aqui ou não, que a mágica vitória da Argentina foi um momento maravilhoso. Um grande momento, difícil de se repetir. Os hermanos estavam todos muito bem, e a Sérvia Montenegro... Nem dá pra comentar. Isso também conta, mas não importa, o que importa é o grande jogo dos hermanos. Pronto! Como fotografia, tá registrado pra posteridade. A questão não é dar espetáculo, mas sim jogar do jeito brasileiro de jogar. O que me incomoda é que nós temos jogadores para isso. A seleção não é um clube, com elenco limitado, com carências aqui e ali. Pô, estamos falando da Seleção Brasileira de Futebol! Que tem à disposição uma geração com Ronaldo, Ronaldinho, Kaká e vários outros. E aí, o que acontece? O treinador escala, mal escalado, um time há um ano ou mais e não muda. Se alguém quebrasse a perna jogaria de muleta, pombas!



4 - Incomoda-me ver o Brasil jogar sem alternativas, sem opções. Mesmo que mude contra o Japão, duvido que vá adiantar alguma coisa. Por que? Porque não treinou. Porque essa seleção não tem formações alternativas – de novo essa palavra, de novo esse conceito. Eu defendi Cafu e RC, mas se em dois jogos baba os caras nada renderam, vão render quando? Contra Gana? Contra a Fúria? Contra os hermanos? Contra o English Team? Mais: Cicinho e Gilberto nem “conhecem” seus possíveis parceiros, terão de ser apresentados. “Aí, manos, esse é o Cicinho, vai jogar com vocês no lugar do Cafu, e esse é o Gilberto, entra no lugar do RC, beleza?” “Ô, professor, e como eles jogam? Eles vão pra frente ou vão ficar? Se eles forem, alguém vai ter que cobrir? E lá na frente, a gente deixa o cara sozinho pra resolver ou vai ter que encostar? Professor, a gente vai fazer o um-dois com eles?” “E aí, mano, Cicinho, né? Prazer, eu sou o Kaká.”



5 – O período de treinamento foi gasto com treinos físicos e treininhos oba-oba. Nenhuma formação diferente da engessada foi tentada, nem mesmo “a nível de” treino! Juninho no lugar de Adriano? Nem pensar. Robinho? Vê lá! Fred? É para compor o grupo, temos o Ronaldo e o Adriano. Ah, tá. O Emerson está marcando à distância. Essa marcação permitiu que até mesmo os socceroos chutassem um monte de bolas contra o Dida. Felizmente, todas pra fora ou fracas e bem em cima do goleiro, que mesmo assim fez uma saída lá... E ainda tem gente que deu risada do goleiro e da defesa da Costa Rica e, se não me engano, da Costa do Marfim. Tá bom. Mesmo assim eu não duvido que chegaremos à final. Pois é, não duvido. E acho, também, que seremos campeões. Porque – e o lusitano Ricardo que não leia esse comentário... hehehe – a rapaziada, fora Argentina, treme contra o Brasil. E alguma coisa a gente acaba aprontando. Mas é pouco para quem somos. E para o que representamos.



6 - 1994... 1994... Pois bem, olhem, se for pra levar a coisa a ferro e fogo, a Copa de 94 terminou empatada. O jogo final foi 0x0, ninguém teve competência bastante para marcar um só gol, também não houve nenhum esforço fora do comum para marcar por parte de ninguém. É isso. Na minha visão de futebol a Copa terminou empatada. O mais correto seria o Armando Marques entrar em campo e decretar os dois times campeões. Oficialmente o Brasil é pentacampeão, ou melhor, ganhou a Copa 5 vezes. Ótimo, adoro isso, acho um barato. Mas não me fico babando e glorificando um time limitado e uma campanha medíocre. Em dois mil e sei lá quanto, se eu estiver vivo, não vou querer me lembrar de 2006 e dizer “Ah, jogamos mal, mas ganhamos a Copa, que é o que interessa.” Não mesmo, realmente não vou querer ter essa lembrança.


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