Um Olhar Crônico Esportivo

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quinta-feira, dezembro 27, 2007

Campeonato Paulista 2008 - Números misteriosos...


Podem criticar o Clube dos 13 por ações e omissões, sem dúvida, mas no quesito “transparência” é difícil fazer uma crítica. Sempre que solicitou informações, esse Olhar Crônico Esportivo foi atendido, e não só no tocante à distribuição da verba referente ao Campeonato Brasileiro. Infelizmente, o mesmo já não pode ser dito da Federação Paulista de Futebol e seus associados da 1ª Divisão.

Há muito diz-que-diz sobre o valor do contrato com a Globo para 2008 e sobre a distribuição dessa verba entre os clubes, mas nenhuma declaração oficial a respeito. Diante disso, por diversas vezes foi solicitado à Federação que liberasse essa informação para esse blog. Depois de muito esperar por uma resposta da assessoria de imprensa do órgão que cuida do futebol paulista, o mesmo pedido foi feito diretamente ao próprio presidente da entidade, Dr. Marco Polo del Nero, que, com rapidez e educação, respondeu ao pedido de informações que lhe foi formulado. Transcrevo, na seqüência, parte da resposta do Presidente da FPF:

Nosso contrato de TV tem cláusula de confidencialidade assinado por todos os participantes. Assim não me assiste a possibilidade de divulgá-la. Boa sorte.

Marco Polo

Diante disso, tudo que nos resta são os números não oficiais, é bom deixar claro desde o início, e será com eles que esse post será escrito.

Antes, um pouco de história

A calma relação Globo/FPF/Clubes foi abalada nesse ano de 2007 com a entrada em cena, mais uma vez, da Record. Dessa vez, porém, a rede ligada à IURD veio com força total, disposta a quebrar a sólida blindagem implantada pela Globo não só no Campeonato Brasileiro como, também, nos mais importantes torneios estaduais. Para isso, a Record apresentou uma proposta que julgava irrecusável: 60 milhões de reais e mais 10 milhões em publicidade, para ter os direitos de transmissão do Paulista 2008. Agora, a partir desse ponto, tudo que temos são conjeturas, informações não oficiais e comentários de dirigentes de clubes, passando uma idéia da guerra surda que foi travada nos bastidores.

Em entrevista dada ao programa “Juca Entrevista”, do jornalista Juca Kfouri, transmitido pela ESPN, Juvenal Juvêncio, presidente do São Paulo, contou um pouco sobre como foi a reunião do Conselho Arbitral da FPF, que seria a final, aparentemente já terminada a guerra surda dos bastidores. Segundo o Dr. Juvêncio – e nenhum dirigente de clube ou da Federação veio a público desmenti-lo –, ele foi à reunião pois era importante discutir a proposta alternativa. O tempo foi passando, os pontos da pauta levantados e discutidos e nada da proposta da Record ser considerada. Como essa proposta tinha sido encaminhada e defendida pelo próprio São Paulo, Juvenal Juvêncio preferiu aguardar pela intervenção de algum outro dirigente a respeito. A reunião, entretanto, já se aproximava do final e nada, pouco faltava para ser aceita, uma vez mais, a proposta da Rede Globo, mera repetição com pequeno aumento da verba paga em 2007. O valor em questão proposto para 2008 era de 36 milhões de reais. Na iminência da presidência da mesa bater o martelo, encerrando a reunião e aceitando esse valor, JJ pediu a palavra e disse que não acreditava que ninguém quisesse ao menos discutir uma outra proposta que era, simplesmente, o dobro da que estava na mesa prestes a ser aprovada. Se ele mesmo não se manifestasse, seria duramente cobrado por seus pares de diretoria, além do Conselho do clube, pois não estaria defendendo os interesses maiores do São Paulo F.C. Num resumo rápido, esse foi o teor de sua intervenção, revelado ao Juca e seus telespectadores.

Houve um momento de silêncio na sala, enquanto neurônios (e, diria eu, uma outra parte do corpo também) processavam as palavras do presidente do São Paulo e decidiam o que fazer. Durante esse tempo, alguns de seus colegas presidentes de outros (grandes) clubes, na surdina, cochichavam um “muito bem” para ele. Realmente, algo de causar espantoso. Findo esse pequeno suspense, foi aprovado que os clubes ouviriam a proposta da Record, e batalhariam junto à Globo por uma melhoria nas condições apresentadas. Pressionada seriamente, a emissora do Jardim Botânico cedeu e aumentou sua proposta de 36 para 60 milhões de reais e mais uma parte referente a publicidade. A Record ainda tentou uma contra-ofensiva, aumentando o valor em dinheiro para 70 milhões, mas sem êxito. Dessa forma, o Paulista de 2008 teve seus direitos negociados por 60 milhões de reais e mais 10 milhões em publicidade. Ou 12, como corre no mercado. Discrepâncias à parte, o valor de 60 milhões de reais parece unânime entre todas as fontes não citadas, o que deixa no ar outros 10 ou 12 milhões em publicidade, também sem especificação de como os clubes usariam ou teriam acesso a esse valor.

Essa negociação foi um autêntico marco, um divisor de águas no mercado brasileiro de futebol, e apresentou um imediato “efeito cascata ou dominó”, com renegociações envolvendo os campeonatos do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Paraná e Minas Gerais, entre outros. Em todos, aumentos significativos nos valores pagos.

Divisão do bolo

Fechado o acordo e o valor básico a ser pago pela TV, vieram as discussões entre clubes e Federação Paulista sobre a divisão do bolo. Os números mais aceitos, comentados e não confirmados por diversas fontes, dão conta que os quatro grandes – Corinthians, Palmeiras, Santos e São Paulo – receberão 7 milhões de reais cada um, valor que, com descontos não especificados cai para 5,5 milhões de reais líquidos.

Os outros dezesseis clubes receberão 1,3 milhão de reais brutos, cada um, caindo para 1 milhão de reais líquidos.

Ora, uma simples conta mostra que esses valores somados perfazem apenas 48,823,2 milhões de reais. Além de saber o que será feito com esse dinheirinho – uma parte, e quanto, vai para a segunda e terceira divisão? – seria também muito interessante conhecer os descontos sobre os valores entregues aos clubes e quanto a Federação reserva para as premiações ao final do campeonato. milhões de reais, deixando sem explicação para os torcedores o destino de outros presumidos

E não seria justo que clubes como o São Caetano, o Guarani, a Ponte e a Portuguesa, além do Noroeste e do Marília, recebessem valores diferenciados? Afinal, eles têm história e tradição, ou vêm apresentando de forma continuada boas performances no Paulista e no Brasileiro da Série B.

E então, Senhores do Futebol de São Paulo, não seria bom dar a conhecer aos torcedores todos esses números?

Que coisa mais chata

Domingo, em sua coluna no Estadão, o cineasta e colunista dominical Ugo Giorgetti deu a tônica do que pensam torcedores e jornalistas de esportes quando o assunto é marketing e finanças dos clubes: “resolvi mudar de página e ler o Celso Ming, isto é, economia propriamente dita”...

Não há paciência ou vontade – e muito menos prazer – de conhecer o que se passa nos bastidores. Ao torcedor e à maioria dos jornalistas, interessa tão somente falar de desempenhos de jogadores, contratações, escalações, projetar conquistas, chorar perdas, criando um mundo em que o dinheiro é referência distante, assim como leis e direitos (quando protegem os jogadores e são “contra” os clubes). A ler sobre marketing e finanças ligadas aos clubes é melhor ler direto o caderno de economia.

De fato, deve ser mesmo chato ler sobre essas coisas. Escrever já deu para perceber que é difícil, pois as informações não circulam. Ora, se é chato para ler e difícil para escrever, por que, então, insistir com essa temática?

Porque os títulos são conquistados primeiro nos escritórios.

Porque os times são montados primeiro nos gabinetes dos diretores e empresários.

Porque sem passar pelos bastidores ligados às finanças e ao marketing, não há time vencedor, não há título de nenhum tipo, exceto por obra e graça do acaso.

Há times de grande tradição no Brasil que não conseguem contratar jogadores por absoluta falta de dinheiro. Salários são pagos por patrocinadores, diretamente, evitando que seus valores engordem a conta bancária desses clubes por um dia que seja. Pois qualquer valor que aparece nas contas é logo arrestado por alguma autoridade judicial, a mando do Estado ou de credores diversos ou de ex-funcionários com causas ganhas na Justiça do Trabalho. Desconhecendo coisas tão simples quanto óbvias a um olhar mais atento, torcedores reclamam, choram, xingam, ofendem, brigam, revoltam-se principalmente contra seus diretores e treinadores, chamando-os de incompetentes e coisas piores, quando são, na verdade, heróis que lutam um dia de cada vez para manter esses clubes vivos e na superfície. Há os que não são heróis, muito antes pelo contrário, são apenas os perpetradores das barbaridades que levaram os clubes à bancarrota virtual, e que, mesmo assim, permanecem à frente das entidades.

Sem conhecer os bastidores, sem saber um pouco das finanças dos clubes, os torcedores nada têm de verdadeiro para sequer sonhar. Sim, pois até o sonho carece de um pouco de realidade.

Como esse tema é chato, já escrevi demais. Paro por aqui antes que até os mais pacientes leitores dessas páginas migrem para os blogs de economia.

Em tempo: ficarei muito satisfeito se em algum momento futuro tiver que retificar tudo isso que escrevi. Para tanto, basta ter acesso às informações.


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