Um Olhar Crônico Esportivo

Um espaço para textos e comentários sobre esportes.

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sexta-feira, setembro 22, 2006

Atualizando “Nilmar”

Na verdade não se trata de atualização, pelo menos para mim e para quem andou lendo o que escrevi aqui e nos comentários do “Jogo Aberto”.

Saiu na Folha de hoje:

Surpresa. No imbróglio em torno de Nilmar, os cartolas corintianos surpreenderam-se com a cobrança de mais de R$ 1 milhão, referente a luvas que deveriam ser pagas no final de agosto. Não lembravam do compromisso. Agora temem que o débito seja uma brecha para que o atacante tente a liberação na Justiça.”

Não vejo o porque da surpresa. Eu mesmo, mero leitor, já sabia desse atraso nas luvas e relatei-o aqui e no JA.

Enquanto isso, Marcelo Djian, representante do Lyon n a Terra de Vera Cruz declara que o time francês não recebeu nenhuma proposta para a compra de Nilmar.

Então:

- Nilmar está sem contrato, quer com o Corinthians, quer com o Lyon;

- Nilmar não recebe salário de ninguém;

- Nilmar tem luvas atrasadas, muito atrasadas, para receber;

- cartolas corintianos disseram que há um contrato assinado com ele até 2011; é, pode ser, mas talvez para venda de cachorro-quente no Parque São Jorge, porque para jogar bola pelo Corinthians é que não pode ser; até porque não teria validade.

Para sossego dos corintianos, o próprio Juvenal Juvêncio, presidente do São Paulo, declarou que o clube não está negociando com ele, e que o São Paulo respeita o momento atual vivido entre jogador, Lyon e Corinthians. Mas, se a vaca for pro brejo, acho que o JJ já tem um trator de prontidão...

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quinta-feira, setembro 21, 2006

Pelo bronze agora




Penny Taylor e Lauren Jackson e mais todo o banco australiano fizeram a diferença.

Mas essa diferença não nasceu hoje, no último quarto desse jogo. Ela nasceu há alguns anos, ou há muitos anos, com administrações incompetentes na CBB, com brigas tão ridículas quanto divertidas – sim, tão ridículas que viraram diversão, comédia classe B ou menos.

Ao contrário do tênis, o basquete tem toda uma estrutura pronta e acabada por todo o país, e principalmente em São Paulo, com o dobro de habitantes que tem a Austrália. E teve toda a fantástica motivação criada por seleções memoráveis com Hortência e Paula e depois Janeth. Assim mesmo, essa confederação não soube conduzir o basquete brasileiro.

Enterrou o basquete masculino bem enterrado.

E está conseguindo assassinar o único basquete campeão do mundo fora dos Estados Unidos e da extinta União Soviética. Isso, sem dúvida, é um crime.

Nossos treinadores não se renovam.

Nossas seleções são acometidas, sempre, do mesmo descontrole emocional em momentos críticos, que levam ao descontrole técnico.

Foi o que aconteceu no fatídico quarto final de hoje. E do qual já tivéramos um vislumbre ainda no primeiro quarto, quando nada menos que 6 ataques seguidos foram perdidos. Doze pontos, ou seis, que poderiam ter feito muita diferença.

A Seleção Brasileira foi derrotada e vai disputar a medalha de bronze desse Mundial. É um grande time, jogadoras maravilhosas, esforçadas, entusiasmadas, que honraram seu uniforme e lutaram o tempo todo.

Foram derrotadas pelo melhor basquete feminino do mundo, hoje, depois do americano. As jogadoras australianas, com Penny e Lauren à frente, jogaram o tempo todo sem descontrole, mesmo quando o Brasil ameaçava abrir uma boa frente. Controlavam e seguravam a diferença. O banco é homogêneo, como disse, creio, a Hortência. Venceram com méritos exatamente no momento em que precisavam vencer.

Quem perdeu foi a confederação e seus dirigentes arcaicos, egoístas e ultrapassados.

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quarta-feira, setembro 20, 2006

No peito!

A cabeçada de Zidane em Materazzi rendeu.

E continua rendendo, agora também liras.

Materazzi é a estrela do novo comercial da Nike, divertido, inteligente e, por que não, criativo.

Vejam o "Materazzi Training"

Por aqui, e provavelmente em outros países também, já pipocam críticas ao aproveitamento do fato pela propaganda. Críticas moralistas ou falso-moralistas. A meu ver, falsas.

O que mais impera por toda parte é a falsa moral.


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terça-feira, setembro 19, 2006

O caso Nilmar

Nilmar é o jogador brasileiro reconhecidamente bom de bola que vai para a Europa, talvez prematuramente, e não dá certo. Não se adapta, não entende o novo sistema de jogo, estranha os métodos de treinamento, rejeita a comida, sente a solidão e o choque cultural. Enfim, são muitas possibilidades para um jogador ter problemas num novo país. Passou um período meio apagado no Lyon, apesar da presença de outros jogadores brasileiros. E, dos paises europeus, a França é um dos mais amigáveis para os brasileiros, ainda mais num time com outros brasileiros.

Há uma semana apenas o Corinthians pagou dois meses de direitos de imagem atrasados.

Nilmar não recebeu. Não tem como e nem porque receber.

Por que?

Porque não tem contrato com o Corinthians. Seu contrato acabou no final de julho. E seu empresário, sabiamente, não quer receber nada de ninguém, muito menos da MSI, sem o amparo legal de um contrato.

O Lyon vendeu Nilmar para o Corinthians por 10 milhões de euros. No que diz respeito à FIFA, a MSI não existe, tudo é com o Corinthians, não custa lembrar. Desse valor negociado, foram pagos apenas 2 milhões de euros. Mesmo assim, com atraso enorme, depois de muitas cobranças e ameaças.

Vale dizer que Nilmar veio para o Corinthians há mais de um ano.

Faltam, ainda, 8 milhões de euros. O Corinthians quer pagar 3 milhões agora e o restante em janeiro de 2007. O Lyon não quer isso. Quer receber tudo de uma vez, até porque o Corinthians perdeu sua credibilidade junto ao clube francês.

A cirurgia de Nilmar foi outro complicador na história. Complicador sério, tanto quanto foi a cirurgia. Se ela foi bem feita – e deve ter sido – menos mal. Mas a cirurgia é a primeira metade da cura. A segunda metade é a fisioterapia. Nilmar queria faze-la no São Paulo, no REFFIS. Claro que essa hipótese sequer foi discutida. Sua recuperação é uma incógnita. Deverá ser boa, ninguém duvida, mas...

Hoje, é bem provável que Nilmar simplesmente já esteja livre de vínculos, ou muito perto disso. Se acontecer, o Lyon perderá seus 8 milhões de euros, e vai processar o Corinthians para recebe-los, com total apoio da FIFA. E não é nada difícil que o clube tenha que pagar tudo isso e ainda por cima fique sem o jogador.

O desfecho está próximo e pode surpreender muita gente. E nem aparenta vir a ser um caso muito difícil. A Dra. Gislaine já cuidou, e bem, de situações mais complicadas.

Eu nunca acreditei que a MSI fosse pagar tal quantia por um jogador fracassado na Europa. Porque dinheiro é dinheiro, e 10 milhões de euros é um montão de dinheiro, nada menos que 13 milhões de dólares. Jogando no Brasil, depois de uma experiência mal-sucedida na França, país considerado mais amigável para latino-americanos, que valor conseguiria a MSI por Nilmar? Para empatar, ficar 0x0, no mínimo 18 milhões de dólares. Isso muito por baixo. Creio que o valor mais correto para empatar, seria ao redor de 20 a 22 milhões de dólares.

Nem sonhando.

Ou, sonhando, se Nilmar fosse titular do Brasil na Copa, artilheiro da Copa. Não foi. Nem convocado para a seleção ele foi.

Esse valor de 20 a 22 milhões de dólares não é aleatório. Ao pagar 13 milhões pelo jogador, ou melhor, se pagar, sobre esse valor haverá incidência de taxas, impostos e comissões. E mais salários já pagos e luvas a pagar. Por sinal, consta que Nilmar tem dinheiro a receber, e bem atrasado já.

Portanto, qualquer observador atento teria deduzido tudo o que veio a acontecer. No começo era só uma hipótese, mas a cada atraso, a cada empurrada com a barriga, o quadro ficava mais e mais claro. Extremamente nítido.

Não conheço Nilmar, não conheço seu empresário, não conheço ninguém ligado a ele. E nada ouvi sobre tudo isso de pessoa misteriosa. Simplesmente o desenrolar dos fatos e uma análise do mercado levaram-me a essa conclusão.

Disse outro dia, e repito: a compra de Nilmar tornou-se um grande mico. Impagável. Assim como mico está se tornando a aventura da MSI no Brasil. Os valores pagos por Tevez, Mascherano, Sebá, Marcelo Mattos, Carlos Alberto, Gustavo Nery e Roger foram gigantescos para o mercado brasileiro e sul-americano. A esses valores devem ser somados os gastos com o Corinthians na área social, a quitação de dívidas antigas, os salários e luvas dos jogadores. As entradas de dinheiro via patrocínios, tv e bilheterias (nesse caso, quase nada), cobriram apenas uma pequena parte dos valores investidos. Não dá para fazer milagre, nem mesmo lavando dinheiro, como muita gente insinua, embora absolutamente nada tenha sido provado a esse respeito, apesar da vigilância das autoridades financeiras de vários países.

Creio que não esqueci nenhum ponto relevante. Se esqueci, voltarei ao tema.

Ah, sim, o futuro. Nesse momento, em recuperação de uma cirurgia delicada, sem contrato, futuro confuso, precisando de intensos cuidados fisioterápicos, o melhor para Nilmar seria resolver suas pendências e buscar paz de espírito e cuidados fisioterápicos intensos. Para voltar bem e rápido.


Uma curta atualização

Nilmar não tem vínculo contratual com o Corinthians, pois seu contrato expirou em 31 de julho, como já foi dito acima. E seu empresário, Orlando da Hora, declarou enfaticamente, que o Lyon considera a negociação com o Corinthians encerrada. Essa informação foi confirmada por Marcelo Djian, representante oficial do Lyon no Brasil.

Da Hora admite que o jogador poderá aparecer em qualquer outro clube, já tendo, inclusive, recebido sondagens a respeito.

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domingo, setembro 17, 2006

Muita água vai rolar...

... sob a ponte TimeMania nos próximos 60 dias. Nem é improvável que esse prazo seja esticado para regulamentar a nova loteria.

Acredito que os maiores imbróglios terão como foco a divisão do bolo arrecadado, de um lado, e as contrapartidas que o governo vai querer do outro lado.

A divisão do bolo tem um problema mais sério: na série C a entrada e saída de times é grande, não há muita estabilidade, o que complica num programa de pagamento de dívidas. Se esse é um problema sério para os administradores do programa, a divisão do bolo é ainda pior nas três séries. Os clubes de massa farão pressão por maiores fatias, farão pressão por maior fatia para o “clube do coração” e irão espernear bastante caso não sejam atendidos. Uma corrente prega a mesma divisão que já existe para a verba da televisão, o que é razoável, sob um ponto de vista, mas não muito por outro. Na tevê, a divisão foi ditada pelas pesquisas sobre os tamanhos das torcidas e índices de audiência. Uma loteria, porém, extrapola esse universo, em tese. Possivelmente, uma divisão mais justa do bolo só será possível depois de um ano, ou até dois, de funcionamento da TimeMania.

O governo vai exigir que o dinheiro recebido pelos clubes, uma vez livres das dívidas, seja destinado a usos específicos, que tenham o chamado caráter de “cunho social”. Isso, na prática, não diz muita coisa, mas é bom em termos oficiais, aparece bem nos documentos e na propaganda. Os clubes vão chiar a esse respeito desde já. As brigas prometem.

E vai resolver?

Sinceramente? Não acredito. Já acreditei que sim, até muito recentemente, por sinal, que a chegada da TimeMania seria um divisor de águas para os clubes necessitados. Hoje, contudo, com as novas informações divulgadas recentemente, começo a acreditar que a TimeMania, provavelmente, será apenas uma fonte extra de recursos para os clubes em ordem, melhor administrados e, os principais alvos de sua criação, os grandes devedores, não conseguirão aproveita-la.

Flamengo, Fluminense, Botafogo, Portuguesa e Atlético Mineiro eram os principais alvos da criação da loteria. Considerando o tamanho e peso da Lusa e do Galo, sempre foi claro que o grande alvo da TimeMania era criar condições que permitissem a sobrevivência dos três clubes do Rio de Janeiro, que, juntos, acumulam uma dívida superior a 600 milhões de reais apenas com os órgãos públicos: Receita, FGTS e INSS. Nos últimos dois anos, toda a sinalização emitida por esses clubes dava a entender que eles, agora, estavam em ordem, pagando os impostos novos religiosamente. Descobriu-se que não. O Fluminense não paga imposto algum há muitos anos, e o Flamengo também não vem pagando seus impostos, motivo que impediu o clube de receber o sonhado dinheiro do patrocínio da Petrobrás. Ao que tudo indica, a situação é a mesma no Botafogo. Essas informações foram a famosa ducha de água gelada, pior que a fria, extremamente desanimadoras, para todos que acreditavam no sucesso da TimeMania não como loteria, mas como um instrumento que permitiria a reestruturação desses clubes.

A TimeMania não é a chave mágica que vai abrir a porta do tesouro para os desesperados. Trata-se apenas de um programa, suportado pelo povo através dos apostadores, que se destina a arrecadar dinheiro para o governo, tanto velho e atrasado como o novo, e que vai, sim, permitir aos clubes acertarem suas situações fiscais. Porém, elas já deveriam estar em ordem hoje. Ou seja, esses clubes já deveriam estar enquadrados aos ditames da lei, pelo menos pagando em dia os impostos correntes.

O que a gente vê é que esses três clubes (a Lusa é caso perdido e do Galo não tenho informações) passam por dificuldades de porte hoje, e não estão recolhendo os impostos, como sempre. É a mesma coisa que aconteceu com milhares de empresas que entraram no REFIS, mas não conseguiram faturar o bastante para continuar operando e, ao mesmo tempo, pagar os impostos correntes. Como resultado, foram excluídas do programa de recuperação fiscal e seus débitos voltaram para a dívida ativa da União, entrando em fase de execução.

Infelizmente, diante de tudo isso, a conclusão é uma só: a TimeMania não irá ajudar esses clubes, que até hoje não se ajudaram de fato, se reestruturando e equilibrando suas contas.

E, depois disso, qual será o próximo passo para salvar esses clubes?

Ou conseguirão mais uma forma de continuarem ativos, às custas do conjunto de pagadores de impostos?

O tempo dirá. Um tempo curto.

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