Um Olhar Crônico Esportivo

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sexta-feira, agosto 03, 2007

Golpe de morte no anti-doping


A absolvição pura e simples do jogador Dodô pelo STJD, depois de uma condenação unânime por 5 votos a 0 e sem nenhum fato novo que viesse a público e justificasse tal medida, parece-me um golpe duro demais no controle de dopagem esportiva no Brasil.

É uma medida que vai contra toda a prática internacional, onde a tendência, na verdade, é pela maior penalização, inclusive na esfera criminal, como já ocorre na Itália e alguns outros países europeus.

Essa medida é, também, uma prova da desmoralização e montagem casuística desse tribunal, no qual, dos nove auditores, nada menos que quatro são da mesma cidade, o Rio de Janeiro, e torcem para o mesmo time, o Botafogo. Mais: os mesmos quatro são considerados “homens” do presidente da CBF, o Sr. Ricardo Teixeira, do qual, por sinal, dois deles são advogados particulares.

Ao que tudo indica o atleta é inocente, e a substância proibida apareceu em seu organismo por meio da ingestão de produtos fornecidos pelo próprio clube, não só a ele como a todos os demais atletas. Isso, porém, aos olhos da legislação anti-doping não é relevante, fato que talvez venha a ser mudado, segundo o Dr. Eduardo de Rose em entrevista ao Estado de S.Paulo em 15 de julho desse ano, para penalidades mais brandas. Mas nada ainda foi mudado, portanto, a decisão do STJD fere toda a filosofia e legislação anti-dopante.

Nesse momento, tudo indica que o caso morrerá dessa forma. O problema, porém, é que um jogador atuou dopado num jogo do Campeonato Brasileiro. Pior: pelos depoimentos tomados e não contestados, o doping estava em produto farmacêutico fornecido pelo próprio clube, como já foi dito. Mesmo assim, todavia, tudo caminha para o arquivamento puro e simples, como se nada houvesse ocorrido.

Com isso, tudo ficará no ar, sem resposta.

Os outros jogadores também atuaram dopados?

Foi um acidente de manipulação?

Foi um fato isolado?

A farmácia de manipulação é a culpada?

O clube nunca se preocupou em analisar o que fornecia aos seus atletas?

Quem foi, afinal, o responsável pelo doping do atleta?

E como é possível que ninguém venha a pagar por isso?

Nem que seja por negligência?

Essas e muitas outras perguntas permanecerão sem resposta.


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Bom dia? Como assim?

(Uma crônica meio OT... Afinal, nem só de futebol se vive... Como? Sim, há controvérsias, é verdade.)

Bom dia.

Bom dia. Ué, que que houve? Tá com cara de quem comeu e não gostou.

Quase isso. É que o café-da-manhã foi triste, meio chato, e isso apesar do meu time ter jogado e vencido ontem à noite, o que bastaria para tornar o desjejum de hoje delicioso, independentemente do que estiver à mesa.

Ora, mas por que, então, essa tristeza?

Porque hoje, por um desses insondáveis mistérios da vida, a gigantesca máquina que monta meu jornalão esqueceu de pôr o caderno de esportes no meu exemplar. Tive que fazer minha primeira e mais importante refeição do dia sem a minha leitura predileta. Foi traumático.

Ah, mas que exagero! O jornalão é grande, pega qualquer outra parte e leia!

É, isso é fácil de falar para quem não liga, para quem não presta atenção ao que lê ou simplesmente não lê. Não é o meu caso.

Você está exagerando, tá over reacting, como se costuma dizer.

Não, não estou over não-sei-o-que coisíssima nenhuma!

Claro que está, cara! Imagina só se todos os problemas do mundo se resumissem a isso!

Pois é, imagine que mundo quase perfeito não seria. Você é que não está entendendo a importância do caderno de esportes no desjejum do brasileiro médio amante de futebol e leitor de jornais.

Ah, é? Eu que não estou entendendo?

Exatamente. Você enxerga o detalhe e perde o todo, fica cego para tudo o mais que cerca o detalhe, que, como se sabe, é apenas uma pequena parte de algo muito maior.

Ah, sei, sei... Como o gol, né? Um mero detalhe ou, como você diz, uma mera pequena parte de algo maior que é uma partida de futebol. Sei, eu só queria entender mesmo.

Ora, essa ironia barata não pega bem, esse lance do gol ser detalhe não é bem assim, é uma deturpação, e além disso você atropelou meu pensamento e não me deixou terminar.

Tá bom, embora meu time não tenha vencido ontem à noite eu estou bem humorado hoje. Go ahead.

Gol de quem?

Larga a mão de ser palhaço, você fala inglês melhor que eu. Desembucha logo isso aí.

Ah, é verdade, go ahead é sinônimo de desembucha logo. Aliás, desembucha e logo são meio sinônimos, não são? Afinal, quando a gente solta um “desembucha”, já tá implícito que tem que ser já, agora, imediatamente, logo, no sentido de já. Portanto, desembucha logo é uma redundância. Você precisa aprender a ser mais econômico com as palavras. Fala demais.

Minha nossa, ninguém merece. Eu preciso ser mais econômico e você gasta meia hora com essa baboseira... Fala logo aí do... Do que mesmo? Tá vendo? Você fala tanto e desvia tanto que eu já esqueci o assunto. Ah, lembrei, o negócio do jornal.

Ok, vamos lá. Tempos atrás o Sulzberger disse que não estava preocupado com o próximo, na opinião dele, fim do jornal impresso, tal como o conhecemos hoje. O importante, segundo ele, era que o NYT continuasse vivo e informando as pessoas, não importando sua forma.

Sim, é verdade, acho que ele falou isso em Davos, no inverno.

Exato. Bom, embora eu viva em frente ao computador, opinião reforçada e aumentada por algumas línguas familiares, simplesmente não gosto muito de ler meu jornal numa tela. Gosto das folhas, gosto de abrir uma a uma e deparar com notícias as mais diversas possível. Isso é parte do encantamento de ler jornal, a surpresa no virar de cada página.

Descambou pra poesia... Isso vai longe.

Não, já tô acabando. Então, essa coisa do jornal logo cedo tem todo um ritual, sabe? Geralmente escuto quando o motoqueiro chega e joga o jornal. Se está chovendo, levanto correndo e, mesmo sob chuva e no escuro, corro até a frente de casa e pego o jornal. E você conhece minha casa, portanto sabe que tenho que vencer uns bons “par” de metros até o portão, abrir o dito cujo e andar mais alguns metros até chegar à zona de pouso do jornal, quase sempre no gramado embaixo do ipê-amarelo, quase sempre meio alto, o que me deixa com pés e barra da calça molhados. Veja só a que sacrifícios me submeto, sem tugir, nem mugir.

É verdade, estou impressionado. Tua mulher, com certeza, adoraria que você se sacrificasse a metade disto e fosse ao teatro com ela.

Ehhhhh, pode parar, estou falando do jornal ao café-da-manhã e lá vem você com teatro. Agora fui eu que perdi o fio da meada. Ah, encontrei, o ritual. Pois é, tem um ritual e ele começa com essa caminhada matinal...

Hahahahahahahahaha... Cara, fala sério, você chama de “caminhada” ir até o gramado da frente pegar o jornal? Mais um pouco você nem vai precisar caminhar pra isso, basta ir rolando! Hahahahahahahahahahahaha...

Realmente, uma mente não privilegiada como a sua não é capaz de entender as sutilezas da vida. Bom, sorte tua que estou quase bem humorado também, apesar dessa tristeza difusa. Como dizia, começa com essa caminhada e aí vem todo aquele lance do café, sabe? Todo o processo: pão com manteiga, leite com nescafé, uma fatia de pão com requeijão, um copo de suco, coisas assim, simples, singelas. E o jornal ali, sobre a mesa, o caderno de esportes dobrado e encostado em algum apoio, facilitando a leitura, deixando a comida ainda mais gostosa do que já é, e, isto é muito importante, deixando-me pronto para começar bem o dia. E com isso, eu também colaboro para a preservação do jornal em seu formato atual. Vai ser muito chato botar o computador em cima da mesa com o café-da-manhã.

(Virou delírio, mas, vá lá.) Certo, e daí? Hoje não veio o caderno de esportes, mas o resto do jornal estava lá. Então, qual o problema?

O problema, meu amigo, é que apesar de bem humorado, graças à vitória do meu time, estou com um terrível processo de indigestão e fortes cólicas. Por culpa da maledetta máquina que não me mandou o caderno de esportes!

Mas, como assim?

Como assim? Pô, eu tive que ler o jornal propriamente dito e fui obrigado a começar o dia lendo as patacoadas desse presidente e os desmandos e inações da camarilha que o rodeia! Pombas, foi isso. E isso acaba com o dia de qualquer vivente!

Mas, poxa, você sempre lê tudo isso todo dia.

Sim, leio tudo isso, todo santo dia, infelizmente, mas leio já amortecido, preparado, vacinado, digamos, pela leitura das coisas do futebol, por mais torpes que sejam. A verdade, meu amigo, é que não estou preparado para ler sobre o Brasil de hoje sem antes ter o preventivo esportivo. É ele que me protege disso tudo que está aí.

É, é verdade... De repente, perdi meu bom humor.


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