Um Olhar Crônico Esportivo

Um espaço para textos e comentários sobre esportes.

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sábado, maio 12, 2007

37º Campeonato Brasileiro


Começa hoje. Confesso que demorou para começar, já estava com saudades.

E começa batendo um saudável recorde, pois é a quinta edição seguida com o mesmo regulamento. E, por força de lei, a de 2008 será idêntica. Isso, talvez seja o melhor de tudo.

Sou de opinião, contestada por vários amigos, que a introdução a ferro e fogo do sistema de pontos corridos foi fundamental para ordenar e estabilizar o futebol brasileiro. Esse sistema em si nada tem de mágico ou misterioso. É simples e aberto à compreensão de qualquer mortal. E, talvez por isso, por essa simplicidade, ele seja transparente e praticamente avesso a maracutaias e viradas de mesa, difícil de ser manipulado como acontecia outrora. Afinal, quando não existe fórmula de disputa, qualquer uma é válida, principalmente se atender melhor aos interesses de um ou de outro. Além disso, por uma estranha correlação, as fórmulas malucas e diferentes ano a ano, pareciam favorecer e até estimular que cada clube se julgasse no direito de brigar na “justiça” por algum direito seu que considerava esbulhado. Isso, pelo menos, acabou. Ao menos aparentemente.

A Liga natimorta

Num certo momento os clubes resolveram tomar para si o controle de seus próprios destinos. Criaram o Clube dos Treze – C13 – e passaram a organizar o campeonato. Era o ano de 1987, o ano que tem, na prática, dois campeões: um oficial, o Sport, posto que reconhecido pela CBF, e outro, oficioso, ou real, o Flamengo, que venceu a disputa da qual participaram apenas os membros e convidados do C13.

No ano seguinte tudo voltou a ser como antes e a bagunça só aumentou. Vaidades, interesses clubísticos exacerbados, interesses ou vontades pessoais, entre outras coisas, enfraqueceram a “liga” e em 1990 a CBF voltou e enquadrou os pretensos rebeldes. Nada mais fácil, diga-se. Agora, há poucos anos, a confederação deu o golpe de morte no C13, ao passar a ignorar o Conselho Arbitral, que antes tinha o poder de determinar como seria o Brasileiro, e hoje sequer existe na prática.

A Liga já era. A Liga está morta. Resta saber até quando.

14 Campeões

Nada menos que 70% dos 20 participantes já foram campeões dessa competição. Creio que não há nada parecido em todo o mundo. Isso pode dizer muito e pode dizer nada. Olhando em retrospectiva, fica claro que muitos times foram campeões por força de acidentes de percurso de outros competidores mais fortes e regulares. Esse número, embora bonito e impressionante, não espelha a verdade dos fatos em parte das competições. As velhas fórmulas, criadas e alteradas ao sabor dos ventos, humores e circunstâncias diversas, muitas vezes facilitaram a chegada ao título de equipes que não eram, de fato, as mais fortes do Brasil.

Isso mudou e muito para melhor. O campeão, desde 2003, é, de fato e de direito, a melhor equipe do Brasil. A mais regular, a mais vencedora, a melhor estruturada (ou uma das...), a que melhor planejou a participação na competição, com 38 rodadas e quase oito meses de duração. Muito jogo e muito tempo, exigindo profissionalização em todos os níveis. A pena para quem deixa de cumprir coisas básicas é o rebaixamento puro e simples.

Há quem não goste e prefira os altos e baixos do passado. É um direito de cada um, naturalmente. Mas ao pensar no futuro e nas necessidades que o esporte de alta performance ou alto nível exige, não há maneira de se tratar o futebol praticado no Brasil sem o estabelecimento de uma sólida base de clubes bem estruturados, bem planejados e, sobretudo, bem administrados, coisa que implica em honestidade e transparência, artigos ainda hoje um pouco escassos nesse meio. A recente safra de balanços é um bom indicativo disso. Apesar da determinação legal, alguns grandes ainda não publicaram balanços e outros o fizeram com a ajuda luxuosa de maquiadores e efeitos contábeis. Moralizar é tarefa demorada.

Enfim, o Brasileirão, ou simplesmente BR, está aí.

Previsões impensadas

Muito bem, vamos ao esporte nacional do momento: chutar. Não bola, mas resultados, o popular chutômetro.

Consultados meus alfarrábios, almanaques, cartomantes, videntes e afins, cheguei à conclusão que o título será objeto de disputa de São Paulo e Internacional. Talvez entrem nessa briga Flamengo, Grêmio e Santos. Essa turma, e mais Atléticos de Minas Gerais e Paraná, Cruzeiro, Botafogo e talvez o Sport, disputarão as vagas para a Libertadores. É difícil, hoje, prognosticar o que quer que seja para 4 grandes: Corinthians, Palmeiras, Vasco e Fluminense. Com esses, quase tudo poderá acontecer, exceto rebaixamento (se bem que... bom, vai lá saber). Paraná, Figueirense, Juventude, Goiás, Náutico e América potiguar farão figurações com altos e baixos.

Felizmente, poucas coisas há na natureza, tirando os vírus do resfriado e da gripe, que sejam mais mutáveis que o futebol. Daí eu dizer que não passam de previsões impensadas. É bem isso mesmo.

Que comecem os jogos!


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sexta-feira, maio 11, 2007

Impropriedades midiáticas


O mundo segue desabando nos arredores e interiores do Morumbi e CCT da Barra Funda. Se não há crise, crie-se uma crise. Não há vida sem crise. Cave-se a queda de Muricy Ramalho, queimem-se jogadores, de preferência aos punhados. Se a realidade não é bem assim, bom, azar da realidade. Vamos transmutá-la, façamo-la real. Uma realidade real. Realidade real... Uma criação tupiniquim à qual deve a Europa, e o mundo, curvar-se.

Juvenal Juvêncio diz: - É hora de darmos todo nosso apoio ao Muricy.

E os profetas apocalípticos traduzem como: Diretoria intervém e Muricy está ameaçado. O fantasma de Autuori ameaça Muricy. Muricy com dias contados. Y otras tonterías más.

Leandro há tempos vem sofrendo com um problema grave em sua família. O período decisivo vivido nos últimos tempos impediu que ele se dedicasse à família num momento grave. Agora, a seu pedido, é liberado para acompanhar de perto o que se passa em casa, mas a tradução, a realidade real é descrita como: “Leandro é o primeiro barrado”. Ou “Muricy barra Leandro”. Pior ainda em um site: “Nem no banco de reservas”...

Júnior está insatisfeito há muito tempo. Desde antes da chegada de Jadilson. Quem acompanha a vida Tricolina sabe disso. Com Jadilson, tudo piorou. Foi pra reserva. Reclamou. Permaneceu na reserva. E agora pediu para sair. Atenção para o verbo: pediu. E para o sujeito oculto: ele (Junior). Mas, na realidade real divulgada, como uma versão tupino-esportiva de “2nd Life”, fica tudo como “Primeira dispensa” ou “Começa a limpeza” ou “Junior dispensado”.

E por aí vai. E olhem que ainda não entrei no solo fértil e super-adubado onde vicejam as mais malucas teorias da conspiração. Uma para cada gosto. Mas não tenho gosto e saco para tanto. Passo e voto nulo.

A releitura feita pelas mídias e endossadas e re-transformadas por torcedores, acaba sendo algo cansativo.

Se não há vida sem crise, tampouco há vida sem caça a uma bruxa ou mais de uma. Esse esporte praticado desde tempos imemoriais parece atingir seu ápice no futebol moderno, deixando para trás os puritanos nem tanto assim de Salem.

E assim seguimos em frente, fabricando crises até que, alvíssaras! – uma crise se instala e todos passam a ter razão, bater no peito e entonar em alto e bom som:

- Eu avisei!

Acendam as fogueiras!

Amém.


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A dor da derrota ou a vítima de sempre


- Essa conta de luz não vence só na próxima semana?

- Hum hum...

- Então, por que ela está na frente do teu monitor?

- É pra eu não esquecer.

- Mas se ela ficar na pasta você não vai esquecer dela.

- Não, não é isso. É pra eu não esquecer que eu tenho que pagar essa conta. Se eu – e você, claro, mas nesse exemplo deixa eu ficar na primeira pessoa – não for à luta e ganhar dinheiro, o meu São Paulo não vai pagar essa conta pra mim. E aí, adeus luz.

- Bom, não sei se entendi, mas acho bom mesmo você botar isso na cabeça e não tirar mais.

E assim decretando, lá se foi minha racional – às vezes – esposa para cuidar de afazeres outros. E eu fiquei aqui, a olhar a conta de luz que irá vencer em alguns dias e pensando na morte da bezerra. Ou melhor, na derrota do São Paulo.

Ah... A dor da derrota. Não há dor pior que a dor da derrota. A dor de não conseguir o que tanto era desejado, seja por incompetência, seja porque alguém foi mais competente e levou, seja sei lá porque. Perder dói. Eu odeio perder. Jogo de buraco, palitinho, dominó, disputa verbal sobre qualquer coisa, não importa, odeio perder. Quando moleque e depois adolescente e, portanto, quando ainda jogava bola, esportividade era algo um tanto quanto estranho ao meu vocabulário. Quando perdíamos um jogo eu queria sei lá o que, um misto de morrer com vingar a derrota imediatamente. O que não conseguiria se morresse, claro. Mas essa história de morrer era conversa pra boi dormir, ninguém tem vontade de morrer porque perdeu. Mas a vontade da vingança, ah, essa todo mundo tem. Duvido que alguém não tenha. Se for honesto, de fato, é melhor dar o nome logo pra ser canonizado em vida pelo Bento. O desejo de vingança, de dar a volta por cima – um nome meio metido para vingança -, de mostrar quem é quem e outros sinônimos, é o que mantém vivo um torcedor.

Sim, estimadas e estimados raros leitores, essa é a inegável verdade. Torcedor que se preza faz troça ou coisa pior do velho Coubertin. Ou faria, já que o Barão há mais de século repousa em sua tumba, se é que os bravos integrantes da fauna tumular deixaram alguma coisa em descanso. Do pó ao pó, etc e tal. Nesse caso, de ausência de restos para se revirarem na tumba, o espírito do nobre barão deve estar furioso com essas mal digitadas linhas. Sorry.

Todavia, nem só de vingança vive o bravo torcedor, ou torcedor bravo, acho que é mais claro e conveniente. O torcedor que se preza quer, também, uma, duas, três, onze, vinte e duas, quarenta vítimas para descarregar sua frustração, sua dor, sua raiva, seu ódio. Como mais de um geralmente complica, o irado torcedor escolhe uma e uma só vítima.

Sim, vocês acertaram, claro. São inteligentes, coisa que a leitura desse blog só confirma como se fosse cartório reconhecendo firma e existência. Falo da vítima usual, a vítima de sempre, a eterna vítima: o treinador.

Pobre coitado. O fato de ganhar bem, geralmente, não o torna merecedor de ser a vítima. O que ele de fato é, mas da injustiça com que é tratado. E não apenas os torcedores o elegem para bode expiatório, sobre o qual descarregar todos os pecados do mundo (já já começo a escrever discursos pro Bento... Se o Vaticano pagar bem, quem sabe?). Também muitos jornalistas fazem isso. Que pobreza e que covardia. Mas é a pura verdade. O mesmo escriba ou comentarista que prega a permanência dos treinadores, é o primeiro a apontar o dedo acusador para a vítima usual, a vítima fácil.

A vítima da vez chama-se Muricy Ramalho. Sua cabeça, supostamente, aplacará a dor de nossa derrota.

Supostamente, nunca realmente. Será que algum dia essa verdade banal será apreendida? Duvido.

Ah, sim, a conta de luz...

Pois é. Sua visão e a lembrança do muito que tenho de ralar para pagá-la, ajudam-me a colocar certas coisas em perspectiva. Entre elas que essa dor da derrota é meio besta e é bom que seja superada com rapidez. Que ver futebol e torcer é uma diversão, acima de tudo.

E que o treinador do meu time é o que menos culpa tem pela derrota.

Bom, agora tenho que ir, parece que os caras com a camisa-de-força já chegaram. Ou agora só injetam algo prozaquiano na gente?


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terça-feira, maio 08, 2007

Dinheiro da TV



Nos blogs e listas de discussão sobre futebol é difícil discutir alguma outra coisa que não seja desempenho presente, passado ou futuro de um jogador, ou, até mais comum, arbitragens. Ah, como o pessoal gosta de falar de arbitragem. Brasileiro não gosta de futebol, gosta mesmo é de arbitragem, de preferência com o apoio de 36 câmeras de televisão e mais o computador do tira-teima, contra o pobre árbitro dotado de dois olhos e duas pernas. Um massacre, bem ao gosto do torcedor.

Vez ou outra aparece algum louco deslocado no tempo e no espaço e discute esquemas táticos. Uma raridade.

Marketing e finanças, então, nem pensar. Bota raridade nisso.

Hoje mesmo, postei o que considero informação interessante ligada ao futuro dos clubes da 1ª Divisão e o retorno foi zero, tanto no blog do Ledio Carmona, como na lista de discussão da São Paulo Net. Falta de retorno por falta de retorno, postarei aqui também.

Na próxima terça-feira, dia 15, acontecerá uma reunião muito importante para os clubes da 1a Divisão: executivos da Tv Record vão reunir-se com Fábio Koff, presidente do Clube dos 13, para discutir a compra dos direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro.

Uma vez mais a Record não confirmou que tenha oferecido 500 milhões de reais pelo campeonato (182 milhões de euros). Diz a emissora que essa reunião com Koff é para começar a estudar valores. Apesar disso, é claro que esses 500 milhões não saíram do nada - lembrando que a Globo paga, atualmente, 300 milhões (109 milhões de euros) pelo campeonato e foram “jogados” no mercado como uma isca inicial. Eu não ficarei surpreso se a Record jogar na mesa de negociação algo como 600 milhões de reais (217 milhões de euros). É bom não esquecer que a partir do momento em que a Record for uma emissora forte no futebol brasileiro, ela estará mais cotada, diante da FIFA, para pleitear a transmissão da Copa do Mundo. Se 2010 já está fechada (aparentemente), 2014 ainda é um campo aberto. E o tempo que resta é curto, embora pareça longo.

O melhor cenário possível, porém, seria uma venda compartilhada entre as duas redes e mais a Band atrelada à Globo, elevando os valores para algo como 250 milhões de euros ou um pouco mais. Esse valor em reais é igual à nada desprezível fortuna de 690 milhões de reais.
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Impossível?

Veremos. Mas começo a acreditar que não é um valor impossível de ser alcançado. Mas não por uma única rede de televisão. Para se chegar ao faturamento necessário para pagar essa quantia, as emissoras precisariam dobrar o número atual de patrocinadores, além de um aumento nas vendas do pay-per-view. O mercado sinaliza com alguns negócios que me levaram a imaginar ser isso possível.

Um valor como 600 ou 690 milhões de reais implicaria numa renda média de 11 a 12 e meio milhões de euros por clube. Dinheiro de gente grande até mesmo na maioria dos países europeus.

E é aqui que o bicho pegará.

Por tudo que sei, olhando essas tratativas à distância, vai haver muita discussão em torno da distribuição desse dinheiro. Como já ocorre hoje, por sinal. Só que, com mais dinheiro na mesa, mais forte será a briga. A distribuição do bolo acirrará os ânimos que já andam bem exaltados. Os líderes de audiência – Flamengo, Corinthians e São Paulo – querem uma fatia maior no bolo existente. Tentam puxar para o grupo Vasco e Palmeiras, mas os desempenhos desses dois times não têm colaborado com a audiência. E a turma que fica de fora reclama muito.

Essa situação só reforça a possibilidade da emissora, ou emissoras, negociar diretamente com cada clube o valor de sua cota de tv. Pelo menos no caso do São Paulo e Flamengo essa perspectiva já está bem próxima. O mesmo ocorreria com o Corinthians, mas é difícil saber alguma coisa concreta e confiável do clube do Parque São Jorge, com seu atual caos administrativo e gerencial. Para começo de conversa, ninguém sabe hoje quem, de fato, manda no clube ou no futebol ou em ambos.
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Olhando de fora, repito, acredito que as negociações serão individuais com esses três citados, e, talvez, também com Vasco e Palmeiras. No caso de Internacional e Grêmio acredito numa negociação conjunta, apesar da rivalidade enorme entre os dois clubes. Mas na hora do dinheiro é bom pôr a cabeça à frente das decisões e não o coração.

Enquanto os torcedores não tiram os olhos do gramado, o jogo mais importante, a meu ver, já está acontecendo em cima de uma mesa de negociações, nos bastidores.


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