Um Olhar Crônico Esportivo

Um espaço para textos e comentários sobre esportes.

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sábado, dezembro 16, 2006

Nasce uma novela: Nilmar, o pretendido

(ou uma comédia pastelão?)

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Não era para ser uma novela. Os elementos eram simples, claros, cristalinos, sem nenhum drama extra, fora a contusão ao vivo de Nilmar e o calote iraque-corintiano nos olímpicos de Lyon.

Mas onde o bicho-homem mete o nariz, confusão há de sair. É certo, é líquido e certo. E foi o que aconteceu.

A direção alvinegra passou meses e meses em berço esplêndido deitada, achando-se no melhor dos mundos, tudo dando certo, dinheiro entrando como enxurrada no Tietê. Todavia, além do Rio dos Bandeirantes, o velho Anhembi, havia outro rio no caminho do Corinthians, o River.

(Vale notar que o “horrível” e “o river” tem tudo a ver, né? Aliás, ô textinho mais orríver!)

Depois do jogo contra o River as coisas degringolaram no Parque São Jorge e em alta velocidade, tal como a implosão da União Soviética e da Cortina de Ferro. Tal como era o medo americano do “efeito dominó”: se o Vietnam caísse, cairia todo o Sudeste Asiático. O Sudeste Asiático segue firme e forte como capitalista, agora com a participação entusiasmada do Vietnam. Ho Chi Min deve estar amaldiçoando e se virando na tumba. Ou aplaudindo.

Voltando à nossa vaca fria, o efeito dominó funcionou bem no Corinthians, tão bem que do velho time só resta, mesmo, Marcelo Mattos, já que Roger e Gustavo Nery...

Restava Nilmar, preciosa jóia da coroa, mas o garoto contundiu-se gravemente.

Restava Nilmar, preciosa jóia da coroa, mas ninguém pagou por ele.

Restava Nilmar, preciosa, etc, e por ele nem o Corinthians pagou mais.

Um belo dia, por sinal que bem depois desse blog, todos acordam e todos dão-se conta que a preciosa jóia da coroa esfumaçara-se. Era uma coroa sem dono, perdida no mundo e, pior, em manutenção.

Ora, quem haveria de querer uma coroa quebrada?

Os dirigentes do time do Parque São Jorge foram tomados pelo medo, pelo pavor, pelo terror de serem acusados, não da perda de Nilmar, mas sim de incompetência, ignorância, desconhecimento das mais elementares coisas do mundo da bola.

O medo do ridículo faz com que o homem mova montanhas.

Estimule um homem com a glória e somente os bons motivar-se-ão.

Ameace um homem com o ridículo e todos, bons e maus, moverão céus e terras para que não recebam essa alcunha.

Nos bastidores do clube à beira do Anhembi plantado, uma conspiração foi tramada e levada a efeito.

Em meados de dezembro, subitamente, sem mais nem porque, uma reunião secreta com Nilmar, realizada no longínquo agosto, é tirada da cartola. Tão secreta foi que ninguém sabia dela: a direção corintiana ignorava-a. O advogado de Nilmar, que ainda na véspera botara a boca no trombone, alardeando aos quatro ventos que Nilmar era livre, não sabia, também, dessa reunião. E o empresário de Nilmar tampouco sabia. Aliás, não foi convidado à reunião por não ser do agrado de alguns diretores do time.

Numa reviravolta digna das produções B- de Hollywood, uma juíza ou juiz trabalhista determina que o jogador tem contrato com o Corinthians até dezembro de 2007. E caso alguém queira o jogador, terá de pagar módica multa de 172 milhões de reais.

Grande show!

Põe Mr. M, Mandrake e esse mágico novo que brilha em Las Veja, no chinelo. Fácil, fácil.

E a FIFA vai manifestar-se a respeito disso tudo nessa próxima semana.

Eu disse que nascia uma novela?

Tá mais com cara de pastelão classe B-.

Em tempo: como esse povo vai explicar tudo que foi dito pelo jogador e seu empresário nos últimos meses?

Como o Corinthians pode ter algum direito sobre alguém cujos direitos federativos não foram pagos?

E nem vou falar do resto. É cansativo, é repetitivo e não vale a pena.

Pobre Nilmar.

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quinta-feira, dezembro 14, 2006

Nilmar, pra variar




O horizonte clareia e exatamente do jeito que esse blog previu há alguns meses já.

Ontem, o advogado de Nilmar declarou o que já era velho em agosto: Nilmar não tem vínculo com nenhum clube. Sim, porque o Lyon, tão logo negociou com a MSI/Corinthians, correu a rescindir seu contrato. Com o Corinthians, Nilmar tinha um contrato que expirou em 31 de julho. Portanto, desde 1º de agosto o jogador está livre no mercado. Isso é fato, o resto é versão.

Hoje, o grupo de pretendentes ao seu futebol é bem grande.

Corinthians, Santos, Internacional, Flamengo, Cruzeiro, São Paulo (que ainda não desistiu e acompanha à distância) e agora o Palmeiras. Comenta-se que o Íbis fará uma proposta hoje ou amanhã, como ironizou o Renato Maurício Prado. Tem a ver...

Dessa turma aí de cima, Cruzeiro e Internacional já desistiram, o Cruzeiro oficialmente. Mas dificilmente Nilmar optaria pelo time mineiro, pois ele está fora da grande vitrine, a Libertadores. Esse é, também, o problema do Palmeiras, restrito às competições domésticas em 2007. O Corinthians está fora da Libertadores, mas é uma possibilidade, diante do suposto novo dinheiro que Berezovsky talvez enterre no Parque São Jorge.

Os times com reais possibilidades são o Flamengo e o Santos, talvez mais que o São Paulo. Ambos parecem dispostos a gastar bastante e têm históricos de contratações fora da realidade do futebol brasileiro, como é o caso de Zé Roberto no Santos atual. O Flamengo, depois de um período de moderação e pés no chão, parece entusiasmado com a TimeMania e seus ganhos apenas supostos, ainda longe da realidade. Quanto ao São Paulo, o pai do jogador já disse o que pensa: o time paga mal, só paga menos de duzentos mil, exceto para Rogério Ceni. Inteligente e observador o pai do Nilmar, mas equivocado, ao dizer que pagar menos de duzentos mil é pagar mal.

Nilmar quer ganhar 500.000 reais por mês, entre salário e luvas. Pelo menos.

Isso equivale à bagatela de 6 milhões por ano, nada menos que quase três milhões de dólares! E o que muito dirigente ainda não sabe é que ele vai engrossar o caldo, pois não quer contrato maior que um ano.

Nilmar vale tudo isso?

Não.

É um jogador que fracassou na Europa no mais brasileiro dos times europeus.

É um jogador que vem de cirurgia séria e precisará de alguns meses para voltar à plena forma.

Gastar três milhões de dólares com ele em um ano é um risco muito grande de, simplesmente, jogar essa fortuna fora, sem retorno.

O jeito, portanto, é esperar e ver no que vai dar esse imbróglio, até porque a palavra da FIFA a respeito será conhecida nos próximos dias.

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Que viva Mexico!



Finalmente, demorou um pouco mas um time mexicano vence um torneio da CONMEBOL.

O Pachuca derrotou o Colo-Colo por 2x1, depois de sofrer 1x0, em Santiago do Chile. É uma vitória há muito anunciada, pois o nível de qualidade, organização e experiência do futebol mexicano só tem subido, impulsionado, sem dúvida, pela presença de 4 equipes mexicanas na Copa Libertadores da América desde os últimos anos da década de 90.

Outro sintoma dessa evolução é a própria seleção mexicana, com excelentes desempenhos em diversos torneios, como a Copa América e a Copa das Confederações. O próximo passo será chegar mais longe na Copa do Mundo de forma consistente e não acidental.

As equipes mexicanas primam por um excelente preparo físico e toque de bola, com um índice de erros de passe relativamente baixo, mesmo se comparado aos índices de times brasileiros. Provavelmente, devido à influência dos treinadores argentinos que dirigiram vários times e a seleção.

Essa vitória vai reacender uma discussão que teima em grassar no Brasil e diz respeito à participação dos mexicanos no Mundial de Clubes caso vençam a Libertadores. Mas essa é uma discussão sem base de apoio, exceto o fato de um time vencer um torneio.

A lógica do sistema é clara e cristalina: o Mundial de Clubes da FIFA é disputado pelos campeões de cada continente, ou seja, de cada Confederação. Indicar o campeão é uma convenção, pois nada impede que uma Confederação indique outro time. Abrindo a Libertadores à disputa por times mexicanos, a pedido destes, a CONMEBOL colabora com o desenvolvimento do futebol em outro país e mercado, mas nem por isso pode ou deve abrir mão de indicar seu próprio campeão para a disputa do Mundial, mesmo que esse não seja o campeão do torneio que aponta o participante. Sem esquecer que dois times mexicanos disputam a Copa dos Campeões da CONCACAF, cujo vencedor disputa o Mundial de Clubes.

Sinceramente, não consigo enxergar justiça e nem mesmo lógica nos repetidos pleitos de jornalistas e torcedores brasileiros no sentido de que um time mexicano, caso vença a Libertadores, dispute o Mundial de Clubes em lugar de uma equipe sul-americana.

Bienvenido, México!

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terça-feira, dezembro 12, 2006

Há algo de novo no ar...



... além dos aviões de carreira. E não é o balão da Goodyear; tampouco as seis ou sete centenas de helicópteros que congestionam o céu da megalópole.

A novidade está no futebol, ausente por motivo de férias da rapaziada, e trata-se do conversório que sai dos clubes, passa pelas torcidas e impregna os programas e textos sobre futebol em toda a imprensa.

O assunto em pauta é... Seriedade.

E todos estão falando sério a respeito.

Que eu me lembre, é a primeira vez que respira-se um clima geral de fazer as coisas dentro das possibilidades que cada clube possui, e não de acordo com as idéias mirabolantes de dirigentes mais preocupados com a própria sobrevivência imediata do que com a sobrevivência e saúde de sua agremiação. Todavia, como não poderia deixar de ser diferente, há um pequeno desvio ao padrão no Flamengo. Não chega a ser de estranhar para quem conhece a história do clube, mas, apesar disso, esse desvio dá-se numa proporção, numa magnitude muito inferior ao que ocorria até poucos anos atrás. É a exceção confirmando a regra.

De maneira geral, o que vemos é, em primeiro lugar, o básico: a manutenção dos treinadores. O Palmeiras demitiu seu treinador atual, Jair Picerni, ao que dizem pelo nada elegante telefone, e contratou o promissor Caio Jr. Bom, verdade seja dita, acho que ninguém esperava que Picerni ficasse à frente do time em 2007. E, há poucos dias ainda, uma declaração do jovem goleiro Diego criticando a ida do time para um hotel-fazenda serviu para dar uma amostra do clima interno. Em Florianópolis, o Figueirense também mandou embora Waldemar Lemos, que fez um bom trabalho, mas que nunca foi aceito pela comunidade.

Inevitavelmente, os bons jogadores têm sido negociados e outros mais ainda o serão, tão logo abra a janela de inverno na Europa. Os valores oferecidos são muito maiores e hoje, antes de qualquer outra coisa, o sonho de todo garoto é aparecer e ter a chance de ir pra Europa.

Errado?

Não, ninguém pode afirmar isso. Primeiro, por se tratar de direito de cada um trabalhar onde achar melhor. Segundo, porque as diferenças de valores são muito grandes. E para quem, na esmagadora maioria, vem dos estratos sociais mais pobres e miseráveis, esse tipo de oportunidade precisa ser agarrada e defendida com unhas e dentes. E há um terceiro ponto: ficar num clube por amor ou lealdade não traz nenhum benefício adicional a nenhum atleta. Uma contusão mais grave e adeus à carreira.

Com tudo isto, só no primeiro dia de fevereiro é que teremos a cara definitiva dos times que vão disputar as competições do primeiro semestre, que são os campeonatos estaduais e, para meia dúzia, a Copa Libertadores da América.

Até lá, tudo é conjetura.

Isso fora, os primeiros movimentos de compra e venda mostram as equipes mais responsáveis e preocupadas com a montagem de elencos possíveis para seus orçamentos. Se manter o treinador é importante, os clubes descobriram que manter os salários em dia é mais ainda. Sem receber, o jogador perde a concentração. Depois perde a motivação. Por último, perde a forma e a paciência, principalmente quando ouve as críticas da torcida e não pode responder.

Esse é, pela visão desse momento, o novo cenário do futebol brasileiro. Ninguém se destaca, pois ninguém está flutuando em sonhadoras e irreais nuvens, dando saltos maiores que as pernas e sem nada sólido em que se apoiar.


Com tudo isso, 2007 será um ano interessante.


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