Um Olhar Crônico Esportivo

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sexta-feira, setembro 14, 2007

Nilmar – o fim está longe + Post Scriptum


(À guisa de atualização.)


Essa novela “Nilmar” lembra-me a famosa “Redenção”. Famosa para mim, claro, que já completei cinquentinha há quase três anos, e, mesmo assim, dela só peguei o final, pois quando começou, na finada Tv Excelsior, Canal 9, minha família ainda não tinha alcançado o nobilíssimo status de ter um televisor na sala de visitas, claro que no mais nobre local da dita cuja, pequena e acanhada. A novela-novela “Redenção” deve ter durado algo como três longos e torturantes anos.

“Nilmar – a história sem fim”, outro bom nome para esse blockbuster futebolístico, é capaz de chegar perto disso. Já não duvido.

Ontem foi um dia engraçado. Informações e contra-informações voaram de lado a lado, como naquelas fantásticas guerras de bolotas ou “mísseis” de papel, que a gente travava nas classes, alegre prolegômeno das guerras nada engraçadas travadas nas salas de aula de hoje. As bolotas iam e vinham, umas acertavam seus alvos, a maioria errava e se perdia pelo espaço. Outras, não poucas, acertavam quem nada tinha a ver com a história. Às vezes destrambelhava, às vezes as autoridades constituídas apareciam de sopetão e o final da guerra era marcado pela fila de soldados capturados, cabisbaixos e apavorados com seu destino, a caminho do temível campo de concentração montado na sala do diretor, ser mítico e todo-poderoso. Quanta diferença.

Esse dia de ontem mostrou alguém próximo dos diretores escolares da velha guarda: Vanderlei Luxemburgo. Em meio à guerra, Vanderlei foi visto almoçando em fino restaurante dos Jardins, com Nilmar. Outros dizem que foi com o empresário. Enfim, foi visto almoçando em fino restaurante (claro), com gente ligada ao astro do momento. O mais fantástico, para mim, é que ele também treinou o time do Santos, ao que tudo indica na parte da tarde, com a barriga cheia. Que disposição! Realmente, invejável. E, nesse treino, ele teria atendido a uma ligação no celular, que deixou-o de cara amarrada. Pior que isso: no dizer de uns arremessou o fone longe. No dizer de outros, tão dignos de crédito quanto uns, teria jogado e pisado no aparelhinho. E o pior: sem se dar ao ecológico trabalho de sacar antes a bateria do dito cujo, peça sabidamente dotada de altíssimo poder poluente e, ao que dizem, passível de explodir nas orelhas mais bem informadas daqui e do mundo.

Ora, ao saber disso eu fui claro e direto: obviamente, tal ligação teria a ver com o desfecho do destino de Nilmar. Se ele, Luxemburgo, tivesse apenas ficado com a cara feia e soltado meia dúzia de palavrões, o jogador teria fechado com o Internacional. Porém, com o arremesso, seguido ou não de pisoteio, parecia claro que Nilmar teria fechado com o São Paulo.

O mesmo São Paulo que disse, logo no começo do dia por meio de alguém da direção, que Nilmar já era, estava descartado, e naquele momento assinava com o Internacional e um grupo de empresários que anda se aventurando, digo, investindo no futebol, ou melhor, nos jogadores, já que no futebol ninguém investe, nem mesmo a CBF.

O dia de ontem foi pródigo em números.

Nilmar vai ganhar 125.000 no Inter.

Nilmar vai ganhar 100.000 no Inter.

Nilmar vai ganhar 125.000 do Inter e terá seu salário complementado pelos investidores.

Ora, ora, ora, a única coisa consistente no Caso Nilmar desde seu começo como caso – e os leitores desse blog puderam acompanhar – foi seu intenso amor, seu e do da Hora, pelo dinheiro. Desde o começo, da Hora e Nilmar e vice-versa, deixaram claro que jogar em terras tupiniquins só a troco de 350.000 mensais, valor que chegou a 390.000 e assim se manteve por um bom tempo, até cair dez por cento e ficar estabilizado em 350.000. Desinformados disseram, mais sonhando que acreditando, que ele fecharia por 250.000.

Sem chance. O próprio pai do jogador – moderno equivalente da antiga “mãe de miss” – disse mais de uma vez que seu filho só jogaria por aqui por um bom dinheiro. E, para ele, 250.000 não é bom dinheiro.

É...

Pois é...

Mais números: o Inter teria comprado 50% dos direitos federativos do jogador.

Não, o Inter comprou 50% de 50% dos direitos, ou seja, 25%.

O restante, seria do jogador, exceto na segunda opção, quando outro quarto seria dos empresários.

Empresários que, dizem hoje, teriam comprado 60% dos direitos.

Não, não, compraram 65% dos direitos federativos de Nilmar.

De concreto, ou de gelatina, o valor dos 50% ou dos 25% + 25% seria de oito milhões de reais, algo como 3 milhões de euros. Sabendo-se que a MSI comprou, mas não pagou, dez milhões, e que ao Corinthians competirá pagar em data incerta e não sabida oito milhões por nada, 3 milhões pela metade é algo razoável, ainda mais lembrando que Kia e seus investidores pagaram dois milhões de euros pelo privilégio de vê-lo jogar pelo Corinthians o que jogou.

E assim amanhece essa sexta-feira, 14 de setembro, último dia para inscrição de jogadores no Campeonato Brasileiro de 2007. Portanto, é hoje ou só em 2008 que Nilmar saberá se volta ou não a jogar bola. Hoje, até as 19:00 horas, também conhecida como sete da noite, ou como diz o infeliz naquele programeco oficial tenebroso: “Em Brasília, dezenove horas...”

Atenção: a sexta-feira não amanhece pacífica.

Breno Tannure, advogado do jogador, disse que ainda hoje o Corinthians deve dar entrada com pedido de recurso suspensivo na 2ª Instância da Justiça do Trabalho. Ou seja, o comprador dos direitos federativos de Nilmar poderá fazer tudo, menos “federá-lo”, ou seja parte II, pagará para ter o jogador sem jogar.

Enquanto isso, dizia-se ontem em Porto Alegre que o Inter teria enviado o Super FC, seu ex-presidente Fernando Carvalho, a São Paulo para acertar tudo com Nilmar. E FC teria dito que voltaria com ele para Porto Alegre ainda ontem, ou na manhã de hoje, nem se fosse a tapa. Mas Piffero, presidente do Internacional, dava irritada entrevista a uma emissora de rádio, negando qualquer acerto e dizendo que havia, ainda, muita diferença entre o possível do Inter e o desejável do jogador.

Enquanto isso, Juvenal Juvêncio remoía no Morumbi seu desejo frustrado de entregar a Muricy a dupla de ataque de seus mais dourados sonhos: Nilmar e Dagoberto. Deve ter pensado muito no poder de sedução do dinheiro.

Enquanto isso, Luxemburgo deve estar remoendo a raiva profunda que provocou a aparente impossibilidade de fechar o negócio e ter Nilmar a bordo do Peixe 2008 e, quem sabe, do Peixe 2007, ainda.

Enquanto isso tudo se “não” desenrola, Nilmar corre o risco de ver o efeito suspensivo atendido e deparar-se com a realidade nua e crua: ficar sem jogar até janeiro de 2008, na melhor das hipóteses, sem nada ganhar do dinheiro pelo qual tanto amor tem, ou voltar a jogar no Corinthians com tudo que essa decisão acarretaria. Possibilidade tenebrosa para ele, embora muito improvável. Menos difícil ficar sem jogar, mesmo.

Saberemos de tudo, por cima, superficialmente, como sempre, até as dezenove horas de Brasília. Como agora o relógio marca nove horas, restam apenas dez curtas ou longas horas para o desfecho.

Post Scriptum

Finalmente, um destino para Nilmar, o Internacional.

É o retorno ao lar, a volta do filho pródigo, talvez.

Os irmãos Sonda e o Inter pagaram 3 milhões de euros por 60% (ou 50%?) dos direitos federativos do jogador. O restante é dele mesmo e, talvez, do da Hora.

O contrato, embora de 4 anos, só dá garantia de permanência até julho, como queriam o jogador e o empresário e, com certeza, os irmãos Sonda. Os salários, segundo a nota do Inter, serão de 170.000 mensais. Quase a metade exata do que falaram durante meses Nilmar e da Hora. Apesar do que foi dito, eu não acredito que esse valor seja o real. Creio que os agentes pagarão um complemento.

O dia terminou e não se soube que o Corinthians tenha dado entrada em pedido de suspensão na 2a. instância da JT. O jeito é esperar para ver se isso, de fato, acontecerá. Enquanto isso, Nilmar deixa o Clube Pinheiros e segue para Porto Alegre. Enfim, poderá treinar e jogar de verdade. Boa sorte a ele.


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quarta-feira, setembro 12, 2007

O SENADO MORREU...


O senado estava vivo, mas podre.

Agora acabou de morrer.

Como não será sepultado, esse blog recomenda cuidado com o mau-cheiro.

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terça-feira, setembro 11, 2007

Uma nova Libertadores de America



O que vocês lerão a seguir é apenas um exercício de imaginação de minha parte. Há bases reais para ele, sem dúvida, mas algumas coisas, algumas projeções são frutos do trabalho dos meus neurônios (os dois habituais foram reforçados pela meia dúzia que vive em férias permanentes; eventuais deslizes podem ser creditados a esses malandros, desacostumados com o trabalho).

Há uns dez anos, o Santander deixou o mercado americano, vendendo a parte que lhe cabia num banco local em troca de polpudo lucro. Depois disso, o banco espanhol – cada vez mais do mundo e menos espanhol – expandiu suas operações por todo o mundo, mas com um foco todo especial na América Latina – aquela parte do triplo continente que começa ao sul do Rio Grande (não o nosso “do Sul”, mas aquele, que aprendemos a ver nos faroestes, cruzado por onze em cada dez bandidos que queriam escapar das garras da lei) e termina nas águas geladas de Ushuaia. Ou melhor, começava ao sul do Rio Grande. Hoje, bem, hoje podemos dizer que parte substancial da velha LatinoAmerica mudou-se com armas e bagagem, legal e ilegalmente, para a terra de Tio Sam, que a qualquer hora pode virar do Tio Pepe. Logo mais volto a essa América Latina expandida.

O banco fez o que fazem os grandes bancos para crescer: comprou outros bancos. No Brasil, por exemplo, comprou nada menos que o Banespa, e hoje é um dos dez maiores bancos brasileiros, numa lista em que entram os dois grandes bancos oficiais, também. A operação brasileira do Santander é a terceira do mundo, perdendo apenas para a Espanha e para a Inglaterra. Comprou o Abbey, na Inglaterra, e já começa a colher os frutos. Fez o mesmo na Argentina, Chile, México e outros países latino-americanos, com excelentes resultados, a ponto de ser considerado, hoje, o maior banco latino-americano. Com um problema, porém: a marca Santander não é tão visível quanto o tamanho do negócio. No Brasil, muitos clientes ainda são “Banespa”, e o mesmo, com diferentes nomes, ocorre em outros países.

O ano de 2007 é especial para o Santander, pois é o ano em que haverá a convergência das várias marcas herdadas pelo banco para uma só: Santander.

A importância dessa ação pode ser melhor entendida ao vermos o tamanho da verba destinada para as campanhas de publicidade, construção de imagem corporativa e institucional, ações promocionais e remodelação de agencias somente nesse ano: 290 milhões de dólares. E o ponto alto dessas campanhas, o mesmo ponto presente na maioria dos países e, mais importante, presente nos países-chave, é o contrato de patrocínio da Copa Libertadores de América, que deixará de ser Toyota para ser Copa Santander Libertadores de América.

A partir de 2008, a Copa Santander Libertadores de América será a maior e mais importante ação de comunicação institucional e de marketing do maior banco latino-americano. Não é pouca coisa, e o banco vai querer o máximo de visibilidade para a competição, que já é a mais importante em toda a região, inclusive no México, onde mais e mais cai no gosto dos torcedores.

Bom, e o que tem a ver o futebol com tudo isso?

Calma, já chego lá. Tem mais um pouco de banco antes. Prometo, porém, que é coisa interessante.

Como disse no começo desse texto, há muito tempo e muitas linhas lá para cima, temos hoje o que se pode chamar de América Latina Expandida. Eu, pelo menos, chamo assim ao novo desenho demográfico dos Estados Unidos, onde o espanhol está a ponto de se tornar uma segunda língua oficial, para espanto, talvez, dos fundadores da América.

E esse mercado é essencial para os planos e ambições do Santander, até porque seu concorrente espanhol, o BBVA, já domina parte dos corações, mentes e, principalmente, bolsos e contas correntes de uma parcela da comunidade latina nos Estados Unidos. Há um ano, sinalizando claramente suas intenções, o banco espanhol comprou parte de um banco tradicional e bem estabelecido na costa leste americana, mas sem perder de vista os grandes contingentes latinos, presentes no Sul e Oeste.

Um dos especialistas da área financeira chegou a dizer que não será de estranhar se, em alguns anos, o Santander vender ou comprar a totalidade do banco que é sua ponta-de-lança hoje, e tentar algo mais ambicioso, como colocar sob sua bandeira o Bank of América.

Os caminhos da globalização são muitos e implacáveis.

Ah, sim, o futebol, voltemos a ele. Ou, vamos a ele, finalmente.

Os leitores habituais desse blog já sabem que a MLS tem crescido bastante. Beckham e Vitória foram contratados... ops, ato falho, ela não, só ele. Os times têm procurado se reforçar e Denílson, o nosso Denílson caçado pelos turcos em 2002, foi recém-contratado pelo Dallas. Os times mexicanos têm jogado bastante nos Estados Unidos, onde a Copa Libertadores e a Copa Sudamericana têm boa audiência, a ponto do patrocínio da Sudamericana, recém-renovado por mais três anos, ser da Nissan USA. Provavelmente, a matriz deve redirecionar parte das verbas de publicidade de outros países da região, mas a decisão e o grosso do investimento foram da operação americana da Nissan. Duvido que a empresa e suas agências de publicidade e marketing jogassem tanto dinheiro fora se não tivesse a certeza de retorno.

Isso posto, chego onde queria desde o começo: creio que uma nova Copa Libertadores está em gestação.

Ampliada, é claro. Talvez com 4 clubes americanos, ou com 3 americanos e o outro um centro-americano, hipótese mais remota a meu ver. Mas, ampliada, de qualquer modo.

Confesso que essa perspectiva é tremendamente excitante (no sentido americano, por favor). A nossa Libertadores ganharia ainda mais foros e cara de uma Champions League.

Ou não.

Não?

Não.

Não com esse calendário.

Não com a Sudamericana em seu formato e época atuais.

Até deve dar para sobreviver com essa Sudamericana, mas não dá para conviver de forma decente com esse calendário existente no Brasil. E, praticamente, só no Brasil, já que a Argentina moldou seu calendário ao europeu há um bom tempo.

Independentemente, porém, dessas elocubrações, uma coisa é certa: já teremos em 2008 uma nova Libertadores.

Provavelmente mais atrativa, mais interessante, mais charmosa.

E cada vez mais importante.

Ou, como poderia ser dito, também, cada vez mais “imperdível”.

Bem-vindo, Santander.

E sucesso para todos nós que amamos o futebol.

E todas as Américas.


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