Um Olhar Crônico Esportivo

Um espaço para textos e comentários sobre esportes.

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sexta-feira, novembro 23, 2007

Ouvindo Ferran Soriano - Parte I


Estádio vazio, audiência baixa?



- Ferran, em sua opinião como amante do futebol e como dirigente esportivo, você acredita que há chance das transmissões do Campeonato Brasileiro atraírem boa audiência na Europa?

A palestra já tinha terminado, assim como a sessão de perguntas & respostas para a imprensa, da qual participou esse humilde editor do Olhar Crônico Esportivo, quando fiz essa pergunta a Ferran Soriano, Vice-Presidente Financeiro do FC Barcelona.

Em sua resposta ele disse achar difícil, pois o campeonato é desconhecido dos europeus. Emendei perguntando se esse desconhecimento era devido à ausência de grandes nomes, e ele disse que não, o campeonato é pouco conhecido porque é pouco divulgado mesmo. E então, na seqüência, ele disse o que foi, para mim, o mais importante que ouvi dele na manhã de hoje, em termos de futebol brasileiro:

- É muito estranho e incomoda ver jogos do Brasil e os estádios estão sempre vazios. Se ninguém vai ao campo para ver o jogo, será que ele é bom? Será que vale a pena eu perder meu tempo e assistir? Mas, por que eu irei assistir se quem está lá não vai?

- Ou seja, Ferran, com isso você está dizendo que a presença da torcida no estádio estimula e aumenta a audiência na televisão?

- Sim! Futebol é espetáculo (não é à toa que ele é dirigente do Barca...) e espetáculo bom tem público. Se eu ligo a televisão e vejo o estádio vazio, desconfio da qualidade do espetáculo que vai acontecer.

...

Depois disso falamos mais um pouco, agora sobre a questão “estádios” e eu fui embora com essa conversa final em minha cabeça. Caminhando até o estacionamento e depois no carro, em meio ao trânsito incivilizado dessa metrópole, não consegui pensar em outra coisa: futebol é espetáculo e precisa de público no estádio para ter maior público ainda nas telinhas. Assim pensando, fui rememorando as visões de nossos estádios, os jogos com portões fechados, os jogos para meia dúzia de milhares de pessoas e, mais que lembrando, sentindo novamente o desconforto que a visão das arquibancadas proporciona.

Naturalmente há exceções, jogos com casa cheia, mas são exceções, nada mais que isso. A tônica de nossos campeonatos é jogar para pouca gente ao vivo no estádio.

Pensei, também, nos números impressionantes que os “matchday” representam nas finanças dos grandes clubes europeus, números que tem como centro bons estádios, onde o público tem à disposição cachorro-quente suspeito e pipoca fria, mas serviços de cathering para variados gostos e bolsos, usando o mesmo termo empregado pelo diretor blaugrano.

Bom, isso é assunto para o próximo texto, já como parte da palestra propriamente dita.
Comecei pelo final por mera adequação ao final de semana, quando teremos estádios cheios e estádios vazios.

...

Nesse momento o Clube dos 13 está negociando a transmissão do Campeonato Brasileiro para vários países da Ásia, com ênfase, naturalmente, para China e Japão, além de alguns países árabes. Consta que todo domingo teremos um jogo às 11:00 horas, com transmissão direta para esses países, onde será assistido no horário nobre da noite dominical (semana que vem o Olhar Crônico Esportivo trará mais sobre tudo isso, a partir de conversa ao vivo com o pessoal do Clube dos 13).

Mas... Teremos público bom às 11:00?

Teremos jogadores acordados nesse horário?

Saberemos em breve.

Segundo o C 13, é a própria Globo que comercializa os jogos do BR para a Europa, nesse caso, porém, transmitindo poucos jogos em seu canal internacional.

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terça-feira, novembro 20, 2007

Bem-vindo e boa sorte...


... Adriano.

Quem o conhece diz que é bom rapaz, correto, gentil e tudo o mais.

Padeceu e padece do mesmo mal que aflige a algumas dezenas de milhões de brasileiros: pobreza extremada e uma formação deficiente, apesar de ter crescido com sua própria família, o que, no Brasil do final do XX e começo do século XXI pode ser considerado como uma “vantagem competitiva”.

Pois é...

Buenas, problemas menores ou “de menores” à parte, e recomendo que a primeira palavra “menores” seja lida assim também, entre aspas, Adriano se perdeu na Itália. Uma separação traumática da mulher, a morte do pai, o assédio de interessados em seu dinheiro e fama, de todos os sexos, a fuga fácil da tristeza na iluminação feérica das casas noturnas milanesas, devidamente embalada por espumantes e outros álcoois enobrecidos por longos anos de preparo, uma depressão mais que anunciada, e pronto, um grande jogador, no auge e na flor da idade, como diria vovó, vê sua carreira e sua vida mergulharem num buraco negro, fácil de entrar, difícil de sair.

De maneira geral não gosto muito da cobertura que a imprensa vem dando ao caso. Há um limite difícil de ser definido e seguido entre o direito à privacidade e o respeito a problemas pessoais, e a notícia pura e simples. Nesse momento, por exemplo, a partir do momento em que Adriano reconheceu ter um problema e precisar de ajuda para superá-lo, creio que o trabalho da imprensa deve pautar-se por uma forma não escandalosa, mais discreta ou até ausente em parte do tempo. Diferente, por exemplo, da festa à qual compareceram jogadores brasileiros depois do jogo contra o Equador, no Rio de Janeiro.

A partir de agora, mais sossego para o atleta e discrição nas referências feitas a ele.

Ele ficará?

Dizem que ele quer ficar por aqui, pelo menos meia temporada. Eu, particularmente, acredito que seria muito bom para todos os envolvidos, e mais ainda para o futebol brasileiro, que teria uma de suas estrelas de volta, ainda que por pouco tempo. Comenta-se no Morumbi que a possibilidade existe, de fato, mas, por enquanto, não passa disso: uma possibilidade. O São Paulo ficaria muito interessante com Adriano no comando do ataque, sem a menor dúvida. Interessante, também, seria para a Internazionale e para o próprio Adriano, pois apesar da agitação em torno dos jogadores do São Paulo nos últimos tempos, em função da conquista do Bi-campeonato, a badalação é bem menor e o elenco, de maneira geral, é mais maduro e concentrado nas atividades profissionais.

Dia 1º de janeiro Adriano tem reapresentação marcada em Milão.

Espero que seja apenas para cumprir formalidades e volte para São Paulo, além, é claro, de voltar ao futebol em alto nível, no clube e na seleção.


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Vaias? Provavelmente...

Amanhã a Seleção Brasileira jogará em São Paulo, coisa que não acontece há vários anos. Esse é um time que, hoje, joga apenas para consumo externo, do Casaquistão à Cochinchina, passando pelo Circuito Elizabeth Arden (Paris, Roma, Londres). Mais que possível, é bem provável que os jogadores ouçam vaias clamorosas, as mesmas que começavam a pipocar no Maracanã, quando Kaká marcou um gol. Depois disso, os equatorianos abriram a defesa, perderam a consistência tática que possuíam e o jogo virou festa, consagrando Robinho, tanto dentro como fora de campo, o que só se veio a saber nos dias seguintes. O jogo contra o Equador é lembrado pelos vinte minutos finais e no resto foi parecido com outros jogos da seleção treinada por Dunga, como o jogo de domingo, contra o Peru. Por motivos diversos, o time brasileiro não vem jogando bem (na minha opinião desde 1982...), não se encontra em campo, não apresenta boa consistência tática e, sobretudo, não se impõe diante de adversários em que o domínio do jogo e a fácil vitória seriam absolutamente normais. Falam em falta de motivação (bobagem, todo jogador quer ganhar tudo, até jogo de palitinho) e mais isso e aquilo. Creio que esse time joga para o gasto, joga num ritmo menos desgastante e menos competitivo que os demais, a começar pela Argentina – que tem muitos motivos para entrar mordendo em todos os jogos. Portanto, amanhã à noite não espero um time muito diferente do que já se viu até agora nessa Classificatória para 2010.

O Uruguai não é o Equador, longe, muito longe disso. E Brasil x Uruguai é um clássico sul-americano e mundial – nada menos que sete Copas do Mundo estarão em campo, quase o mesmo total de Copas que tem toda a Europa. Não é pouca coisa. Embora novo e em processo de formação, o time uruguaio pode ser perigoso na frente e sólido atrás. O capitão do selecionado, Diego Lugano, estará de volta ao seu grande palco, o Morumbi. Do outro lado, quase o mesmo ocorrerá com Kaká, que tem no San Siro seu maior palco, já que foi escorraçado do Morumbi muito cedo.

A platéia estará atenta e impaciente. Uma boa parte da torcida verá em campo seu ídolo Lugano, não com a camisa do clube do coração, mas de uma seleção de outro país. No time nacional estarão em campo jogadores que não agradam aos torcedores, enquanto outros, preferidos por muitos, sequer convocados estão. A menos que o time brasileiro jogue bem e bonito desde o começo, as vaias não tardarão e poderão ser cruéis. Provavelmente darão o ar de sua falta de graça ainda no primeiro tempo. O público paulistano tem um longo histórico de queixas e desavenças com a seleção nacional. Nas Eliminatórias para 2002, o time treinado por Emerson Leão, técnico paulista, presenciou milhares de pequenas bandeiras brasileiras serem atiradas do alto das arquibancadas para o campo, ao som de estrepitosa vaia. Não é impossível que tal cena se repita, mesmo porque as bandeirinhas serão, uma vez mais, distribuídas na entrada dos torcedores.

Estarei ausente da arquibancada, presente no conforto do sofá.

Mas... Há muitos anos, trinta, para ser mais exato, no longínquo 1977, fui ao Morumbi com mais de cem mil outros torcedores. O objetivo de quase todos era um só: torcer pela seleção de São Paulo e vaiar a seleção do Brasil.

Os dois objetivos foram atingidos com perfeição. O jogo terminou em 1x1, a vaia foi monstruosa o tempo todo, praticamente, mudanças foram feitas na seleção brasileira em boa parte como decorrência dessa partida e a CBF fez desse o último jogo de uma seleção brasileira contra uma seleção estadual.

A velha tradição foi sepultada e não deve ter deixado saudades na confederação, pelo contrário.

Como será amanhã?

Confesso-me curioso.


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