Um Olhar Crônico Esportivo

Um espaço para textos e comentários sobre esportes.

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sexta-feira, maio 02, 2008

Enchendo os olhos... e o cofre


Ontem acabou a safra 2007 de balanços das empresas brasileiras.

Entre os grandes clubes paulistas faltava vir a público o balanço do Santos, que foi publicado ontem no Diário Oficial do Estado. O Palmeiras antecipou-se e publicou seu balanço em 20 de março. Em meados de abril foi o Corinthians, que inovou e publicou também no Estado de S.Paulo e na Folha de S.Paulo, em seus cadernos de economia. Espaço caro e de alta visibilidade, mas coerente, apesar da despesa, com a política de transparência adotada por Andrés Sanches, dando a ela um pouco de publicidade.

A política de divulgação da Sociedade Esportiva Palmeiras é exatamente oposta, mas isso fica para outro post.

O São Paulo publicou seu balanço em 23 de abril, usando como veículo de massa o Diário de S.Paulo, mais exatamente seu Caderno de Esportes (o Diário Oficial é obrigatório e boa parte das empresas também publica no DCI).

Esse balanço era aguardado pelo mercado com alguma expectativa, não só por ver o desempenho do clube, mas para ver o impacto das vendas de Breno e Ilsinho sobre o resultado financeiro, juntamente com a adesão à Timemania. Desde sua publicação, algumas matérias a respeito foram publicadas em sites e jornais, entre as quais destaco artigo na Folha de S.Paulo em e post do Maurício Bardella no site Futebol & Negócio, cujo link está na lista de Favoritos ao lado. Em relação a essas duas matérias tinha algumas divergências, mas antes de expô-las preferi conversar com algum representante do São Paulo F.C. a respeito do balanço. Para isso, ninguém melhor que o responsável por sua execução, Sérgio A. F. Pimenta, Gerente de Orçamento e Controle do clube.

Antes de conversar com o Sergio Pimenta, contei, ainda, com a valiosa contribuição do Valério Teixeira, que trabalha na área de auditoria e consultoria tributária.



Considerações gerais sobre o balanço

Um balanço é uma peça contábil de relativa simplicidade, mas que pode ser, também, de extrema complexidade, dependendo das intenções e maneiras de alocar números de quem o faz. Para a maioria das pessoas, e eu estou incluído nessa maioria, o que interessa num balanço é saber quanto ganhou, quanto gastou, quanto sobrou ou faltou e, sofisticando um pouco mais, como e porquê. Por isso mesmo, a parte dos balanços mais vista por todos é o quadro chamado Demonstrações do Resultado, ou como nos últimos balanços do São Paulo, Demonstrações do Superávit. Aproveito para destacar que os clubes são entidades sem fins lucrativos, portanto não apresentam lucros e sim superávits, e estes, quando acontecem, devem ser investidos exclusivamente no próprio clube.

O que salta à vista numa primeira olhada é a magnitude dos números: o clube fechou 2007 com uma Receita Total no valor de R$ 190.079.000,00, aqui incluídas a Receita Financeira e, principalmente, o aporte de R$ 12.440.000,00 em Patrocínios referentes à Lei de Incentivo ao Desporto. Esses recursos serão utilizados em três projetos no Centro de Formação de Atletas Laudo Natel, em Cotia, que são:

- “REFFIS” próprio para a unidade, o Centro de Reabilitação Desportiva, Fisioterárapica e Fisiológica;

- Estádio com vestiários, arruamento e estacionamento;

- Alojamentos para atletas, ampliando a atual capacidade.

Desse valor total arrecadado, apurou-se um superávit excepcional, no valor de 33,7 milhões de reais. Com a adesão do clube à Timemania, entretanto, houve a obrigatoriedade legal de reconhecer dívidas fiscais e previdenciárias no valor de 29,9 milhões. Com essa medida, o superávit ficou reduzido a 3,8 milhões de reais, ainda assim um resultado excepcional, considerando as despesas e investimentos realizados pelo clube.



A adesão à Timemania

Os valores confessados como dívidas pelo São Paulo foram somados a mais 14 milhões de reais cujo pagamento já estava pactuado e sendo realizado normalmente, por meio de acordos com INSS e Receita, alcançando o montante de cerca de 43 milhões de reais. Esse valor será pago no decorrer de 240 meses, basicamente com a verba a que o clube terá direito mensalmente na arrecadação da nova loteria.

A expectativa da direção, com base na previsão da Caixa Econômica Federal, é que em pouco tempo a cota a que o clube terá direito será suficiente para gerar um saldo mensal, aproveitável para reduzir o tempo de duração dos pagamentos. Nesse início de operações, ainda longe de estar plenamente implantada, a Timemania vem rendendo ao São Paulo cerca de 130.000 reais mensais, restando ao clube o desembolso de pouco mais de 50.000 reais para cumprimento de seus objetivos.

Ao mesmo tempo, amparado por liminar concedida ao Sindicato dos Clubes Profissionais de Futebol, as dívidas confessadas no momento da adesão seguem como pendências jurídicas, parte delas com grandes possibilidades de vitória.

(Aproveito para esclarecer que os comentários e projeções desse bloco “A adesão à Timemania” são de autoria exclusiva desse blogueiro.)



Resultados Operacionais

Vamos ao que realmente importa e que são as Receitas Operacionais, obtidas em função das atividades-fim do clube.

(Daqui em diante os valores serão expressos em milhares de reais.)

A Receita Operacional total alcançou o valor de R$ 176.569, com um crescimento de 44,4% sobre 2006. Esse total provém de três diferentes unidades de negócio (ponto que vai merecer uma abordagem futura em outro post):

Unidade de Negócio

2007

2006

1 – Futebol Profissional e de Base

R$ 146.426

R$ 97.768

2 – Sociais e Esportes Amadores

R$ 15.940

R$ 14.072

3 – Estádio

R$ 14.203

R$ 10.462


Estádio

Os números da receita gerada pelo Estádio Cícero Pompeu de Toledo demonstram a importância de um clube ter sua própria casa, indubitavelmente. E também os riscos, pois a construção hoje é absurdamente cara e a manutenção tem um custo elevadíssimo – no caso do Morumbi nada menos que R$ 6.532, valor que não inclui, naturalmente, os gastos em reformas e ampliações, alocados em outra parte do balanço. O crescimento de 36% nas receitas do Morumbi foi fortemente alavancado pela locação dos camarotes, principalmente, colocados na mesma rubrica que as cadeiras cativas e que passaram de R$ 4.795 em 2006 para R$ 7.129 em 2007, um crescimento de 48,7%. Essa receita equivale, grosso modo, à renda bruta de duas finais de Libertadores com casa cheia. O clube optou por alocar ao Estádio – e não ao futebol – a parcela da verba de TV recebida do Clube dos 13 e FPF correspondente à publicidade estática – as placas colocadas no entorno do gramado. Esse ponto merece ser lembrado quando for abordado o faturamento do Futebol.

Outra receita importante é conseguida com a locação do estádio para jogos de outras equipes, principalmente o Corinthians, e shows diversos. A realização de shows, importante geradora de receita em 2005 e 2006, foi baixíssima ou mesmo nula nesse exercício, o que demonstra a importância das demais fontes geradoras de receitas do estádio (nota do Editor).



Sociais e Esportes Amadores

Essa é a área tenebrosa nos clubes brasileiros. Praticamente todos os balanços vêm fortemente carregados de despesas nessa área, gerando déficits que comprometem seriamente a estabilidade do próprio clube e prejudicam sua principal atividade, o futebol. No São Paulo, em 2007 e pela primeira vez (ao menos em muitos anos), essa área gerou receita para o negócio como um todo, com uma despesa total de R$ 14.456 contra uma receita de R$ 15.940, como vimos acima. Contribuiu para isso, principalmente, uma rigorosa política de contenção de custos que, ao mesmo tempo, não pode permitir que os equipamentos e instalações não atendam às necessidades e desejos dos associados, associada a um aumento nas contribuições dos associados.

Pelo que pode ser visto em balanços de outros clubes, atingir o ponto de equilíbrio entre receita e despesa nessa área já seria suficiente, por si só, para dar uma boa alavancada em suas contas.



Futebol Profissional e de Base – As Receitas

Essa é a razão de ser do São Paulo e a menina dos olhos do clube, melhor ainda no plural, as meninas dos olhos.

O número realmente espetacular de R$ 146.426 deve sua grandeza aos R$ 76.106 arrecadados com transferência de direitos federativos, principalmente as transferências de Breno e Ilsinho.

Item

2007

2006

Negociação de atestados liberatórios

76.106

21.789

Direitos de transmissão de TV (+ 2.142 em “Estádio”)

24.855

27.780

Publicidade e Patrocínio

19.628

18.249

Arrecadação de jogos

12.464

18.536

Licenciamento da marca

5.174

3.857

Prêmios, Sócio-Torcedor, Outras receitas

8.199

7.557

Totais

146.426

97.768

Se tirarmos os valores de negociação de atletas, as receitas de 2007 e 2006 caem, respectivamente, para R$ 70.320 e R$ 75.979, ou seja, em 2007, mesmo com o título brasileiro, o São Paulo teve uma queda de receita da ordem de 7,5% em relação ao ano anterior. Essa queda é devida ao menor faturamento com TV e, principalmente, à menor arrecadação com bilheteria. Nos dois casos, a razão principal é a mesma: a eliminação nas oitavas-de-final na Copa Libertadores.

Em 2006, somente a renda da final contra o Internacional atingiu um valor superior a três milhões de reais, sem contar as rendas dos jogos de quartas e semifinal. Some-se a isso a receita pelas transmissões e fica explicada a diferença (nota do Editor).

Em tese, Olhar Crônico Esportivo acredita que é com essas receitas básicas – TV, Bilheteria e Marketing (patrocínios, publicidade e licensing) que um clube deve sobreviver e crescer. É dessa forma que os clubes europeus trabalham e têm suas receitas auferidas. Ao vermos os rankings de receitas dos clubes europeus notamos duas coisas: eles não incluem os valores auferidos com transferências de atletas e não há “bilheteria”, e sim “matchday”, um complexo de receitas que vai além do ingresso para o jogo. Entretanto, estamos no Brasil, e para nossos clubes formar e negociar atletas é condição sine qua non para sobreviver, para manter o futebol operacional, para crescer, em suma. Apesar disso, o caminho para os clubes brasileiros se fortalecerem está justamente na ampliação das receitas oriundas dessas fontes “européias”. Elas são mais consistentes e previsíveis. Trabalhar em cima delas permite, também, que um clube não fique refém da necessidade de títulos. Afinal, campeão há somente um em cada competição, ao passo que boas campanhas são acessíveis a muitos clubes dentro do mesmo campeonato.

As receitas de TV e Patrocínio do São Paulo são semelhantes às obtidas pelos outros grandes clubes brasileiros, em especial Flamengo, Corinthians, Vasco e Palmeiras (com o São Paulo, são os clubes do Grupo I do Clube dos 13, que recebem as maiores cotas de TV, como o leitor pode ver em diversos posts a respeito nesse blog).

Esses valores terão substancial aumento em 2009, graças ao novo contrato de cessão de direitos de TV, em fase final de negociação entre o Clube dos 13 e a Globo, e graças, também, ao novo contrato de patrocínio de camisa, sobre o qual se especula muito, mas nada se sabe de concreto. Como já foi postado em mais de uma oportunidade, esse Olhar Crônico Esportivo acredita que a renovação com a LG ou a assinatura com um novo patrocinador, deverá ultrapassar o patamar de 20 milhões de reais, valor que poderá ser bem alavancado por uma temporada brilhante, em especial na Copa Santander Libertadores.

Outro bom caminho, praticado com crescente sucesso por Internacional e Grêmio, é o investimento na categoria “sócio-torcedor”. No São Paulo, embora já tenha alguns anos desde sua implantação, o número de sócios-torcedores ainda é pequeno diante do tamanho da torcida, como pode ser visto pelo valor lançado no balanço: R$ 3.534 – essa é uma área com forte potencial para crescer, mas, na visão desse blog, precisa ser melhor trabalhada.

Finalmente, o que deve ser a “menina-dos-olhos” do marketing dos grandes clubes brasileiros: o licensing, a renda auferida pelo licenciamento do uso da marca para os mais diferentes objetos, desde a tradicional camisa “número 1” até carrinhos-de-bebê e poltronas reclináveis para uso doméstico. Embora grande para os padrões brasileiros, o valor auferido pelo São Paulo com essa atividade, R$ 5.174 – equivalente, grosso modo, a dois milhões de euros – é minúsculo diante das possibilidades que o mercado brasileiro oferece e, muito, muito distante dos valores e do peso que essa receita tem para os clubes europeus. Apesar de pequeno em números absolutos, cabe destacar que houve um excelente crescimento de 2006 para 2007: nada menos que 34%, com a perspectiva de manter-se nesse patamar, ou mesmo crescer ainda mais.



As Despesas do Futebol Profissional e de Base

Faturamento alto, despesa alta. Tirando poucos e excepcionais negócios em fase inicial, com mercado consumidor explodindo e margens de lucro estratosféricas, essa é a regra no mundo real dos negócios: para faturar muito, tem que gastar muito, também. A diferença entre lucro e perda, entre os melhores e os piores ou simplesmente bons, está na otimização das despesas e em sua manutenção em níveis ótimos, nem para cima, comprometendo os ganhos, muito menos para baixo, comprometendo a qualidade dos produtos ou serviços.

As despesas do São Paulo são elevadas e estão concentradas no foco do negócio principal do clube, o futebol.

No item Pessoal houve um grande salto de 2006 para 2007, que foi apontado negativamente por vários analistas. O valor passou de R$ 23.028 para R$ 37.747, ou impressionantes 64% a mais. A uma primeira olhada, isso significaria um brutal crescimento na massa salarial. Todavia, uma olhada igualmente rápida aos itens Encargos Trabalhistas e Benefícios, e outra olhada aos Direitos de Uso de Imagem, mostrariam um módico e consistente crescimento de aproximadamente 20%. Diante disso, pode-se estimar que os gastos com Pessoal tenham passado de 23.028 em 2006 para algo como 27.000 em 2007.

Como explicar, então, a diferença para os 37.747 lançados no balanço?

A explicação é simples: o São Paulo recebeu valores cheios nas transferências de atletas, e assim contabilizou-os, repassando aos mesmos suas partes nos Direitos Econômicos. Os atletas que receberam como “pessoas físicas”, e aqui foi importante a explicação do executivo do clube para entender o quadro, foram pagos através da Folha de Pagamentos do clube, e os valores foram alocados na rubrica Pessoal, o que acabou gerando o valor superior a 37 milhões que tanta atenção chamou.

Outros atletas, receberam seus direitos como pessoas jurídicas, também repassados pelo clube, mas alocados em item próprio no balanço - Participação de Atletas em Direitos Econômicos – num total de R$ 11.684, que não existiram em 2006.

Como o São Paulo não abriu esses números, a conta simples considerando os itens descritos, permitiu-nos calcular o valor do item Pessoal em cerca de R$ 27.000, implicando num crescimento de aproximadamente 17%.

Como curiosidade, para chegar ao valor total da famosa “Folha Salarial” tão comentada nos programas de rádio e TV e nos sites e jornais, esse Olhar Crônico Esportivo somou os valores de Pessoal, Encargos, Benefícios, Prêmios, Direitos de Arena e Direitos de Uso de Imagem, e o valor obtido é apreciável: R$ 56.122. Futebol é um negócio caro, sem dúvida, mas esse total de custos com pessoal é plenamente compatível com a realidade e com as receitas do São Paulo F.C.



O custo das divisões de base

Outra despesa elevada e que justifica a negociação de atletas jovens, é justamente o seu custo de formação. Em 2005 o São Paulo inaugurou o Centro de Formação de Atletas Laudo Natel, em Cotia. Desde então, o item Custo de Formação de Atletas, consolidado à parte, mas com suas despesas divididas em diferentes itens no Futebol Profissional, vem crescendo de forma significativa:

2005

2006

2007

Custo de formação de atletas

R$ 4.939

R$ 7.505

R$ 9.236

Nesses três últimos anos, o custo total de formação de atletas atingiu R$ 21.680, ou seja, pouco mais que o valor líquido recebido pela transferência de Breno para o Bayern Munchen.

Em 31 de dezembro de 2007, o clube mantinha 128 jovens atletas no plantel das categorias de base – 128 centros de custos, podemos dizer, mas também 128 possíveis futuros geradores de receitas.

Na visão desse Olhar Crônico Esportivo é muito simples: seria ótimo manter Breno e Ilsinho no time tricolor, mas não seria justo para os atletas, uma vez que o São Paulo e nenhum outro clube brasileiro teria condições de pagar-lhes o que ganham na Europa. Ao mesmo tempo, sempre considerando as condições do mercado brasileiro, o clube tem necessidade de negociar atletas formados na base, mesmo porque, como podemos ver, o custo das divisões de base é muito elevado e precisa ser coberto.



Dividas e dúvidas

Um outro ponto que chamou a atenção foi a dívida com bancos, próxima de trinta milhões de reais, ou pouco menos de 25 milhões, pois parte já foi saldada. Dívidas levam a “despesas financeiras” e embora esse item assuste um pouco, ele é composto não só por juros, mas também por perdas cambiais. Quando um atleta é transferido, sua negociação em dólares ou euros é registrada pelo valor do câmbio no dia em que o contrato é assinado. Porém, tem sido freqüente que o valor recebido pelo clube algum tempo depois, apresente diferença negativa, em função de sucessivas valorizações do real ou desvalorizações do dólar, como queiram.

Outro ponto importante, é que boa parte do perfil dessa dívida foi alongado e toda ela foi negociada com taxas de juros razoáveis o bastante para não levar o clube a saldá-las com as disponibilidades de caixa. Em parte, isso foi explicado pelo gerente Tricolor, que disse, também, que é comum os clubes terem problemas com seu fluxo de caixa no início do ano, período em que a temporada ainda não “esquentou”, mas que costuma exigir desembolsos elevados, inclusive com novos atletas.

A esse respeito, Olhar Crônico Esportivo acrescenta o problema vivido na relação São Paulo/LG nos primeiros meses de 2007, que coincidiu com a eliminação precoce na Copa Libertadores, logo em seguida à saída da disputa do Campeonato Paulista.

Como a patrocinadora suspendeu seus pagamentos por dois ou três meses, e a isso somou-se a não realização de receitas nas duas competições, é natural que o clube tenha recorrido a bancos.

Por outro lado, apesar do que foi dito em matéria da Folha de S.Paulo em 25 de abril, o São Paulo não pegou adiantamento de cotas de TV com o Clube dos 13 – informação que esse blog já havia divulgado em 20 de março desse ano.



Conclusão e comentários

É inegável que a posição do São Paulo é excelente e quase única no cenário brasileiro. Dentro desse cenário e com esses resultados, principalmente para quem não vivencia intimamente o dia-a-dia do clube e a enorme quantidade de problemas e dores-de-cabeça que gera a administração de uma grande equipe de futebol, é até difícil fazer críticas. Críticas justas, claro, e que sejam plausíveis.

Considerando que vários aspectos já estão sendo conduzidos da melhor maneira possível, com total profissionalismo, eu, particularmente, gostaria de destacar três pontos que considero fundamentais, não só para o São Paulo, mas para todos os grandes clubes brasileiros:

- a importância de avançar na Copa Santander Libertadores o máximo possível; é algo óbvio, mas quando vemos o impacto negativo de uma eliminação precoce em forma de números não realizados, essa obviedade ganha muito mais força;

- alavancar as receitas de bilheteria, principalmente no Campeonato Brasileiro; mais que nunca os clubes, e o São Paulo em particular, devem buscar meios de incentivar seus torcedores a comparecerem aos estádios; essa receita faz muita diferença;

- reforçar o marketing, principalmente no licenciamento de produtos com a marca do clube; o licensing pode crescer quase sem limites, teoricamente; o mercado consumidor é enorme e está em crescimento, com a chegada a ele de novas levas de consumidores, e o produto futebol, que já está em alta, pode crescer ainda mais junto às pessoas.

Infelizmente, olhando e analisando esses números, fica clara, também, a necessidade de continuar negociando atletas agora e por mais um bom tempo.

Mesmo o São Paulo F.C., com seu balanço que encheu os olhos e – por que não? – também o cofre do Morumbi.


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Site ou sítio?


(Uma pausa no futebol nosso de cada dia.)

Sabem os leitores desse Olhar Crônico e desse Olhar Crônico Esportivo, ou deveriam saber, que sou um amante da língua portuguesa. Também o sou da língua portuguesa falada no Brasil. Não é difícil vocês encontrarem palavras e expressões que no dia-a-dia nosso estão em desuso ou já trancafiadas no arquivo morto.

Desuso e trancafiadas: duas palavras não muito comuns, né?

Para ajudar, esse “né”, que o Houaiss não só reconhece como classifica na mui digna e útil família dos advérbios.

Aliás, até mesmo esse “Houaiss” tem significado próprio, tendo sido empregado como sinônimo de e referência a um dicionário.

Marketing é palavra usual nos meus escritos, mormente no Olhar Crônico Esportivo e, confesso meio sem graça, já usei o vocábulo mercadologia, porém muito mais como uma curiosidade do que propriamente como sinônimo de marketing. Nem dá para comparar um e outro, não é mesmo? Claro que vocês, leitores cultos e bem informados, sabem que esse mormente empregado aí atrás e principalmente ou sobretudo são a mesma coisa, assim como maiormente, do qual mormente é uma contratura – não muscular, mas gramatical. Embora qualquer guri “analfabetizado” por nosso sistema de ensino saiba o que é uma contratura muscular, ele ignora, desconhece, não tem a menor idéia do que seja uma contratura gramatical. Se bem que, verdade seja dita, o comum e correto é dizer contração gramatical e não contratura gramatical. Contudo, contratura é sinônimo de contração, logo, é perfeitamente lógico usá-la para explicar o né e o mormente.

Contudo, contratura, contração... Com tudo isso a razão de ser desse texto perdeu-se em algum lugar lá pra (mais uma contração ou contratura) trás.

Graças ao meu GPS específico para textos, principalmente os metidos a besta, descobri onde foi que fiquei perdido: logo no início. Voltemos, portanto, a ele.

Sabem, também, os leitores, sobretudo os do Olhar Crônico, que sou o feliz, embora acabrunhado, proprietário do Sítio das Macaúbas. Sabem todos os brasileiros leitores desses blogs que sítio é um pedaço de terra usado para a prática agrícola ou para a criação de animais, vacuns na maior parte, os populares bovinos, mas também porcinos, caprinos, ovinos, eqüinos e outros, até mesmo girinos e alevinos, que depois crescem e, mudando de tamanho, mudam de nome, passando a serem chamados de rãs e peixes. Isso é um sítio, local costumeiramente contemplado com belas e desertas piscinas, sonho de onze em cada dez urbanícolas que sonham com uma vida mais doce, quieta, realizadora...

Dizem os dicionários, e somente eles, que sítio é o mesmo que local, lugar, e é, também, endereço.

Apegados a essa visão dicionaresca da cultura e da vida, muita gente boa e muita gente nem tanto, como certo deputado, prega o uso dessa palavra em lugar de site – sáite, em bom português tupiniquim – para designar endereços de internet, as populares romipeiges, ou homepages, como falamos no moderno português praticado nesse imenso bananal.

Que sandice! Coisa mais boba dizer para um amigo: “Acessa o sítio do Emerson, ele escreveu mais abobrinhas.”

“Acessa o sítio... mais abobrinhas.”

Tenebrosa combinação.

A sandice, todavia, não pára em site x sítio. Imaginem, estimadíssimos, que querem deletar de nossas vidas até mesmo o verbo deletar!

Absurdo!

Nada mais latino, nada mais puro, nada mais “última flor do Lácio” do que deletar, derivado do latim delere e deletum. Por sinal, o post anterior do Olhar Crônico foi, justamente, Delenda Itaipu. Sendo assim, não vou alongar-me nesse ponto, mas recomendo a leitura ou releitura de “Delenda Itaipu”. Caso queira, aproveite e printe esse texto na sua impressora, mas procure usar papel reciclado. Esse blog, ou site, ou homepage, é a favor do ambiente, de preferência por inteiro e não pelo meio. Portanto, olhos à obra na leitura ou releitura recomendada. Afinal, chove a cântaros nessa sexta-feira meio-feriado e nada melhor que perder tempo com um pouco de abobrinhas escritas por um blogueiro que gosta da língua viva e em constante crescimento, não necessariamente mutação.

Capisce?


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quarta-feira, abril 30, 2008

Tudo se repete


Ou, mais um capítulo da Guerra dos Estádios.

Nada disso é novo, exceto o motivo: final de Campeonato Paulista no Palestra Itália.

Antes dessa decisão, jogos importantes, decisivos, realizados no estádio palmeirense, agora também chamado de Pepper Arena pelos adversários, provocaram cenas e histórias similares às que foram vividas ontem.

A direção da Sociedade Esportiva Palmeiras colocou à venda para o distinto público, composto por seus torcedores apaixonados e entusiasmados, a bagatela de 17.000 ingressos para o jogo final do campeonato. Outros 3.000 foram destinados a sócios e convidados, 2.600 para a torcida visitante, da Ponte Preta, e 5.000 para o setor “Visa”, de preços salgados e comercialização à parte, num total de 27.600 ingressos.

Em apenas 2h50’ os ingressos esgotaram.

Como disseram vários torcedores frustrados, eles acabaram sem que as filas enormes se movessem um só milímetro. Milhares de pessoas, que começaram a chegar na noite anterior, ficaram a ver navios e ingressos nas mãos de cambistas. Com esses não havia escassez, somente abundância, tanto nos números de ingressos disponíveis como nos preços, que de 40 reais pulavam para 120 e até 200 reais por um só ingresso. Pura loucura.

O tempo de 2h50’ foi, também, o tempo necessário para que a tensão acumulada pelas muitas horas de espera, associada à enorme frustração, resultasse em atos de violência. Como é de praxe, as dependências do clube propriamente ditas ficaram a salvo de qualquer coisa, pois os prejuízos e o pavor espalharam-se pelos arredores do estádio, pelas ruas estreitas tomadas por residências e prédios, habitados por milhares de pessoas que nada tinham a ver com nada daquilo. O comércio fechou as portas, não sem antes abrigarem, querendo ou não, centenas de pessoas que correram para lojas e bares em busca de proteção. Os dois shoppings nas proximidades também fecharam suas portas e proibiram, com seguranças parrudos e mal-encarados, a entrada de pessoas com alguma identificação do clube.

No frigir dos ovos, domingo, ao entrar em campo, o time palmeirense será saudado por 24.000 de seus torcedores, que comprarão, não tenho a menor dúvida, todas as entradas em mãos dos cambistas.

Provavelmente vencerá a Ponte Preta, ou empatará, e dará a volta olímpica diante desses torcedores. Enquanto isso, outros 45.000 que poderiam também estar vendo, saudando e comemorando, estarão sentados em frente às telinhas, frustrados, sonhando com o jogo perdido ao vivo, enquanto os 72.000 lugares do Morumbi estarão desertos.

Uma boa imagem do profissionalismo de fachada que reina no futebol brasileiro.

Nem vou comentar as acusações novamente feitas da existência de esquemas para entregar ingressos somente aos cambistas. Pura bobagem, é assim há anos.

Dessa forma termina, dessa vez para valer, a série Guerra dos Estádios.

Vencedor? Acho que não há.

Perdedor? Com certeza há: o torcedor palmeirense.


Veja aqui a excelente matéria do Estadão a respeito.


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segunda-feira, abril 28, 2008

Já são duas e meia e nada

Atendo o telefone em meio a um roteiro meio complicadinho que deixa o tico e o teco meio perdidinhos.

- Emerson.

- Emerson, é você?

- Não, é meu espírito, desencarnei e voltei só pra atender telefonemas. Diga lá...

- Tá bom, mas você é chato, hein?

- Hum hum, eu sei. Diga lá.

- Pô, cara, já são quase duas e meia da tarde e nada!

- Nada? Ihhhh, rapaz, isso é grave. Olha, fica assim não, dá uma corrida à padaria mais próxima e coma pelo menos um mixto-quente e tome um suco de laranja. Melhor ainda: uma vitamina. Vai te dar mais sustança e substituir bem o almoço.

- Que almoço, cara? Tá louco?

- Eu não, você é que parece meio doidinho, mas deve ser pela fome, afinal, duas e meia da tarde e ainda sem almoçar é...

- Se liga, cara, tô falando da inscrição de novos jogadores pros mata-mata da Libertadores! Daqui a pouco fecha o negócio, lá, guichê, escritório, o que quer que seja da Conmebol e a gente não inscreveu ninguém. P****, você não falou que o São Paulo ia contratar o Rodrigo? Cadê ele?

- Ué, e eu vou lá saber? Pra mim ele está treinando no Flamengo.

- Mas você falou que ele vinha pro São Paulo...

- Não, nada disso, eu só comentei que ele poderia vir pro São Paulo se e somente se não resolvesse sua situação com o clube da Gávea e o Dínamo Kiev desse seu ok para a transferência. Você anda lendo colunas e notinhas sensacionalistas.

- Ah, mas assim não vai dar, a gente já perdeu o Paulista e agora só resta a Libertadores.

- Calma, garoto, não se precipite. Perder o Paulista não quer dizer muita coisa, já cansei de falar isso. Imagine o Flamengo que vai pro México, joga quarta-feira, volta, joga domingo e recebe o time mexicano na outra quarta. Seguir adiante no Estadual leva a isso: desgaste físico e o desgaste emocional provocado pelas pressões de todo mundo: torcedores, dirigentes, jornalistas, uma festa, em suma, a Festa da Pressão.
Sem direito a válvula. Se ficar muito forte estoura tudo. Pro São Paulo foi bom negócio ficar fora dessa final contra a Ponte Preta, apesar do dinheiro da renda e do prêmio pro campeão.

- Ah, mas pra você é fácil falar isso, fica aí metido a analista e coisa e tal. Coloque-se no lugar do torcedor pra ver o que é bom.

- Ué, e eu sou o que? O ET de Varginha? Fique tranqüilo, o São Paulo e os outros brasileiros têm bons elencos, vão encarar bem esses jogos que virão, pode apostar.

- Ah, tá bom, tá bom, até parece que vamos encarar o Riquelme e...

- Alto lá! Vamos parar com isso, que coisa chata e boba. O Juan Román é um grande...

- Quem?

- João Romão, para os íntimos, Juan Román para os xeneizes e Riquelme pra todo mundo, captou?

- É, captei, você é cheio de graça sem graça.

- Hehehehehehe... Tem quem goste.

- É, tem mesmo, os desmiolados.

- Vai baixar o nível agora?

- Não, é que você me irrita com essas palhaçadinhas.

- Hummmmmmmmmmm... Tá bom, vamos lá, então, sem palhaçadinha.
Olhe, o Riquelme é muito bom, provavelmente o melhor jogador em ação na América do Sul nessa temporada, mas ele é humano, sujeito a dores de barriga e de cabeça, sujeito a humores, sujeito a ter noites ruins, tanto quanto noites ótimas. Então, não é um semi-deus, entendeu? Pode ser bem marcado, ora pílulas!

- Ah, sei, quem é que vai marcar o cara? De repente ele faz uma jogada lá e resolve tudo. Aí eu quero ver.

- Aí não terá nada demais, será apenas um jogo perdido por causa de uma grande jogada de um grande jogador. Você acha que o Santos de Pelé & Cia. ganhava tudo? Não era bem assim. Perdia, também, tinha jogo que o Pelé não resolvia. Isso é esporte, e acima de tudo é futebol. Relaxa, com ou sem Rodrigo o São Paulo tem tudo para fazer boa campanha nessa Copa.

- Você acha mesmo?

- Sim, eu acho. Não só o São Paulo. Vamos ver como o Flamengo vai resolver esse abacaxi do América do México mais o Botafogo. Começou bem ontem, mas o jogo-chave é depois de amanhã e vai ser brabo, brabíssimo. O Cruzeiro ontem deu show, em parte porque o Atlético entrou em pane, deu curto-circuito. Não foi normal aquele placar. Vamos ver como eles vão se sair na frente do Boca e do Juan Román lá na Bombonera. Vai ser interessante.

- E o Flu e o Peixe?

- Acho que a LDU não anda muito bem, o time perdeu muito em relação ao de 2006 e 2007, deve passar o Fluminense. Já o Santos, bom, vai depender do jogo na Vila, que é o primeiro. Tem que fazer resultado. Se não conseguir, não será na Colômbia que vai fazer. Já disse quase tudo isso no post de outro dia, só estou repetindo.

- É, bom, tá certo... Mas eu é que não queria pegar o Boca pela frente.

- Ué, se você sonha em ser campeão não pode ficar com frescurite de enfrentar um ou outro. Tem que enfrentar e ponto. Peraí, deixa abrir um e-mail aqui...

...


- Chegou uma notícia agora: o vice-presidente de futebol do São Paulo disse que o Rodrigo poderá vir, mas não a tempo de ser inscrito para essa fase. Talvez para a próxima.

- Puta merda! Eu sabia, eu sabia, pô, a gente tá sem zaga, não quero nem ver.

- Calma, garoto, relaxa.

- Que calma o que, cara! Essa diretoria tá louca, só pode ser, nunca vi uma coisa dessa, onde já se viu! Fui!

É, taí um torcedor preocupado, e o pior é que nem tem tantos motivos para tanta preocupação com o que vem pela frente.




Post scriptum

Diretamente da CONMEBOL:

Los clubes San Lorenzo (ARG), Cruzeiro (BRA), Flamengo (BRA), São Paulo FC (BRA), y Atlas (MEX) realizaron modificaciones sus listas de jugadores inscriptos para la Copa Santander Libertadores 2008, previo a la disputa de los octavos de final.


Detalle de los reemplazos:


SAN LORENZO

Entra: 4 VOBORIL Germán Ariel (Defensor, 05/05/1987, ARG)

Sai:4 ORTIZ Jorge

CRUZEIRO

Entra: 22 FERRAZ DAS NEVES Bruno "BRUNO" (Lateral izquierdo, 11/06/1984, BRA)

Sai: 22 FERNANDINHO

FLAMENGO

Entra: 19 RIBEIRO SANTOS Airton "AIRTON" (Volante, 21/02/1990, BRA)

Sai: 19 LEO MEDEIROS

SÃO PAULO FC

Entra: 19 DE OLIVEIRA BARROS Jancarlos "JANCARLOS" (Lateral derecho, 15/08/1983, BRA)

Sai: 19 CARLOS ALBERTO

ATLAS

Entra: 7 GARCÍA DE LEÓN Eduardo (Delantero, 01/11/1988, MEX)

Sai:7 ACHUCARRO Jorge

Entra: 22 VERGNE Danilo (Volante, 15/10/1981, BRA)

Sai: 22 ALFÉREZ Hebert

Entra: 24 GUTIÉRREZ Carlos Alberto (Defensor, 03/02/1990, BRA)

Sai: 24 MARTÍNEZ Hugo


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