Um Olhar Crônico Esportivo

Um espaço para textos e comentários sobre esportes.

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sábado, setembro 02, 2006

Estelionato Olímpico

O COB – Comitê Olímpico Brasileiro – aprovou ontem, em sua Assembléia Geral, a indicação da cidade do Rio de Janeiro como candidata a sediar os Jogos Olímpicos de 2016.

Não houve um processo seletivo.

Não foram realizadas consultas.

Simplesmente, o COB decidiu.

Ah, sim, contrataram uma empresa de consultoria que fez um estudo a respeito, concluindo ser a cidade do Rio de Janeiro a única em condições, no Brasil, de organizar grandes eventos esportivos.

Já por ocasião da escolha da cidade-candidata aos jogos de 2012, houve muita contestação aos critérios e mesmo aos eleitores. A maioria das federações esportivas mantém sede no Rio de Janeiro. A maioria dessas federações tem baixíssima representatividade, isso quando tem alguma. No item transparência o único resultado que se encontra é o nulo. Ela inexiste desde o COB até a mais pobre das filiadas, passando pela poderosa Confederação Brasileira de Vôlei, da qual é egresso o presidente do COB.

Qualquer cidade brasileira – Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Recife, Curitiba, Xiririca do Norte, Xiririca do Sul – e seus habitantes, brasileiros pagadores de impostos e iguais em direitos, tem todo o direito de pleitear a indicação para ser sede de uma Olimpíada. A candidatura é livre, a escolha deve ser feita a partir da avaliação da capacidade e das condições da cidade e do estado (que deve estar junto no pleito) em abrigarem, organizarem, realizarem os Jogos Olímpicos.

Do jeito como foi feito, eu me sinto esbulhado em meu sonho.

A cidade de São Paulo foi esbulhada.

O povo de São Paulo foi esbulhado.

Isso nada mais foi que um estelionato olímpico.

Mais um.

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Salários... Bons salários


Pego carona e cópia no blog do Milton Pazzi, do Estadão, e acrescento alguns privilegiados mensalistas que não constaram em sua lista, passando, também, o valor correspondente em euros pelo câmbio de ontem:

- Zé Roberto - R$ 500 mil – 182.000 Euros

- Tevez - R$ 400 mil – 145.000 Euros

- Sávio - R$ 210 mil – 76.000 Euros

- Fábio Costa - R$ 200 mil – 73.000 Euros

- Maldonado - R$ 200 mil – 73.000 Euros

- Kléber - R$ 200 mil – 73.000 Euros

- Roger - R$ 180 mil – 65.000 Euros

- Marcos - R$ 170 mil – 62.000 Euros

- Carlos Alberto - R$ 160 mil – 58.000 Euros

A essa lista acrescento:

- Rogério Ceni – R$ 380.000 – 138.000 Euros

- Petkovic – R$ 300.000 – 109.000 Euros

Zé Roberto, Maldonado, Fábio Costa e Kleber jogam no Santos. Ao que tudo indica, vão muito bem as finanças do Santos. Sem falar que Vanderlei Luxemburgo ganha entra 350 e 500 mil reais por mês. Estou mais propenso a acreditar em 500 mil...

O salário propriamente dito de Rogério Ceni deve girar, hoje, em torno de 180.000 reais, e a esse valor é acrescida a parcela correspondente às luvas pelo novo contrato, que vai até 2008.

Em euros ou em reais ou em dólares, essa elite de jogadores é muito bem remunerada. Alguns, como Rogério, Marcos e Fábio Costa, dificilmente ganhariam muito mais na Europa, não em valores líquidos, pelo menos, já que as alíquotas de imposto de renda por lá chegam a 40% (e até mais), ao passo que aqui param em 30%. Naturalmente, dadas as condições e os serviços públicos, 40% lá é razoável e 30% ou qualquer outra coisa por aqui é um roubo. Todavia, por conta do direito de imagem recebido por meio de empresa em nome do jogador, o desconto total de IR é, na média, de mais ou menos 20% do total de ganhos. Também na Europa temos mecanismos parecidos, que reduzem em alguns pontos o desconto médio sobre os ganhos.

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sexta-feira, setembro 01, 2006

Albérico, o personagem

No futebol, o meu time me encanta. Claro, óbvio.

Mas não só.

No futebol e em outros esportes, alguns personagens também me deixam como encantado. Às vezes pela tragédia, coisa que não é de meu particular agrado. Quase sempre pela superação, pela volta por cima, pelo grande retorno.

Felizmente, são muitas as histórias assim.

Nenhuma, talvez, como a de Ronaldo, tido como acabado para o futebol, que por quase dois anos travou uma luta terrível para poder voltar a um campo de futebol. Voltou, em plena Copa do Mundo. Foi o artilheiro, foi o melhor jogador da Copa, marcou dois gols na grande final. Uma história tão improvável que produtor nenhum de Hollywood aprová-la-ia em forma de roteiro. Afinal, cinema é fantasia, é certo, mas há que guardar um resquício de realidade, há que ter alguma verossimilhança.

Mas Ronaldo, a essa altura, já me parece passado, já me parece história. Talvez ele retorne e atinja o topo novamente, mas me parece difícil. Tenho a impressão, cá comigo, que ele cansou.

Vou ficar com um personagem mais próximo do nosso dia-a-dia.

Seu nome é Albérico e já tem 35 anos de idade. Já rodou o mundo do futebol brasileiro, o grande mundo dos pequenos times, a maioria desconhecidos da massa torcedora. Há algum tempo está no Fortaleza e disputando a 1ª divisão do futebol brasileiro.

Ontem à noite o Fortaleza, 19º e penúltimo colocado no Campeonato Brasileiro, entrou em campo, no Morumbi, para enfrentar o São Paulo, atual campeão mundial de clubes, vice-campeão da Libertadores recém-concluída, líder isolado do Brasileiro por umas dez rodadas seguidas, já. O jogo de ontem era um jogo de resultado anunciado. Eu mesmo, frequentemente temeroso em relação a esses jogos muito fáceis e óbvios, dava como certa uma vitória por três ou quatro gols.

E tudo parecia indicar que assim seria.

Durante todo o primeiro tempo o São Paulo parecia treinar ataque contra defesa. Em apenas dois momentos fugazes o Fortaleza ameaçou. Em inúmeros momentos o São Paulo massacrou. E, já no final, Rogério cobrou uma falta na trave. Já tinha feito outra excelente cobrança para uma das muitas grandes defesas de Albérico, que só no primeiro tempo foram cinco ou seis. Tantas grandes defesas e mais a trave começavam a deixar um gosto estranho na boca, começavam a trazer aos corações e mentes da torcida do São Paulo o velho adágio futebolístico: quem não faz, toma.

Veio o segundo tempo. O time de Albérico voltou modificado em um jogador, na disposição, na atitude. O jogo mudou, não radicalmente, não em cento e oitenta graus, mas ficou mais difícil para o São Paulo chegar. Mesmo assim, chegava. Um chute forte do zagueiro Fabão travestido em atacante resvalou na trave e saiu. Um outro chute bateu na trave e as grandes defesas de Albérico continuaram, uma depois da outra.

Já nos minutos finais, depois do São Paulo ter trocado três jogadores, entrou Rinaldo, no Fortaleza. Um jogador perseguido por sua torcida nos últimos tempos por não fazer o que todo artilheiro deve fazer: gols.

E a menos de cinco minutos do final do tempo regulamentar, um contra-ataque, um cruzamento sem muitas pretensões, uma falha da zaga e Rinaldo, de peixinho, marca.

O inacreditável acontecia.

Inacreditável, sim, pela teoria, mas possível, e, pela anti-lógica futebolística, mais que provável.

Em menos de dois minutos, contudo, o São Paulo empatou.

E em mais dois minutos, já nos acréscimos, lançamento longo para a área do Fortaleza. Mineiro recebe, mata no peito e sofre carga por trás. Pênalti.

É a virada.

Quem vai cobrar o pênalti é o herói Rogério Ceni, o maior goleiro-artilheiro da história do futebol e recente autor de memoráveis gols, tanto cobrando faltas como pênaltis.

Rogério afasta-se apenas os três passos de sempre. Suas ultimas cobranças foram no lado direito do goleiro e no alto. Indefensáveis.

Três passos para a frente e o chute. Rasteiro, procurando o canto direito de Albérico. Encontrando as mãos de Albérico.

Pênalti defendido, Albérico vibra, comemora, é cumprimentado.

E o juiz encerra o jogo.

O jogo de Albérico.

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P.s.: passei o dia inteiro de ontem tentando postar esse texto e não consegui; o blogger mudou configurações e coisa e tal, e na minha tentativa de postar com uma foto do Albérico, dancei; portanto, vai o texto, não vai a foto; e vai atrasado, mas antes tarde do que nunca, tal e qual a justiça.

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quinta-feira, agosto 31, 2006

Paixão à distância



Seara tem cerca de 23.000 habitantes, a maior parte dos quais morando na zona urbana. Tem uma grande indústria, com o mesmo nome, que emprega em seus diferentes turnos mais de 3.500 pessoas.

É uma região de colonização gaúcho-italiana. Muitos dos primeiros moradores vieram da Serra Gaúcha.

O futebol faz parte do lazer do searense (e o word diz que a palavra está errada, ele só reconhece cearense, não conhece Seara). Muitos de seus moradores, porém, quase todos na verdade, têm em seus corações times de lugares distantes. O mais próximo é Porto Alegre. Por aqui, a maioria, tanto pela origem como pela proximidade geográfica, torce para o Internacional ou para o Grêmio. São colorados ou gremistas. Mas nem só esses dois times dividem a torcida. Para mim, foi uma grande surpresa descobrir em Seara torcidas organizadas de times de São Paulo e Rio de Janeiro.

Logo na entrada da cidade, para quem vem de Chapecó, uma grande placa na beira da estrada comunica a todos que ali existe a Inter-Seara, uma torcida organizada colorada com quase 50 membros. Nos últimos tempos, com a Libertadores e a ascensão do Inter, o pessoal acabou indo para Porto Alegre em ônibus fretados, para assistir a jogos no Beira-Rio.

Os gremistas estão presentes e divididos em duas torcidas organizadas. Numa casa próxima à avenida, ergue-se um mastro de altura respeitável e, no topo, não menos respeitável bandeira do Grêmio diz presente.

Outra torcida é a Flaseara. Isso mesmo, torcedores do Flamengo do Rio de Janeiro, em pouco mais de 20, reunidos em Seara para torcer pelo time do coração. Na traseira do carro do Odair, meu cicerone pela indústria e pela região, o escudo do time e o nome da torcida. E, por e-mail, o Odair completa: a Flaseara tem oito anos de vida já, e site proprio, basta clicar no nome aí atrás.

Antes que eu fique frustrado, ele fala das torcidas organizadas do São Paulo e do Palmeiras, as duas, também, com cerca de 20 membros.

Impressionante, realmente.

A rapaziada se reúne periodicamente, não só para ver os jogos pela tevê. Mas também para bailes e festas. Agora vai começar um torneio de futebol entre as torcidas, promovido e organizado pelos torcedores do São Paulo. E membros de todas as torcidas vão desfilar no dia 7 de setembro, comemorando a Independência.

É, não há distância que impeça a paixão!


P.s.: correndo entre uma gravação e outra, fui deixando para fazer depois as fotos da placa na estrada e o escudo no carro do Odair; premido pelo tempo, esse artigo escasso e luxuoso, nao fiz nenhuma, claro; sorry.


P.s. 2: Meu amigo Odair, da Flaseara, fez algumas correções que já incorporei; e passou o endereço da torcida, já linkado mais acima; visitem, vale a pena, é um belo site; e prometeu mandar as fotos que eu não fiz. :o)

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Paixão pelo futebol, criancices adultas

Xanxerê, interior de Santa Catarina. O papo rola gostoso na curta pausa para o almoço.

Futebol...

À mesa, estamos em 6 pessoas, 6 homens adultos.

Um baiano vascaíno, um paulista corintiano, um catarinense colorado, outro catarinense flamenguista, e mais um que é são-paulino, tal como eu.

Estou entregando meu cartão para os catarinenses, e neles vou escrevendo o endereço desse blog. Súbito, lembro um detalhe: pego o porta-cartões e mostro a todos o distintivo e o nome do São Paulo gravados na tampa. Aproveito e mostro a caneta, bonita, mais bonita ainda com o distintivo e o nome do time.

O rubro-negro ao meu lado olha e, sem falar nada, saca o celular, abre o flip e mostra-me o escudo do Flamengo no visor.

Hummmmmm...

Na minha bolsa de viagem, entre as canetas, pego e mostro a todos um chaveiro metálico com o distintivo do São Paulo, em um círculo que gira sobre seu eixo. Muito bonito.

Toca o celular rubro-negro. Ao invés de atender, o dono encosta-o ao meu ouvido, e ouço o hino do Flamengo.

Ok, você venceu.

E os seis adultos com idades,. origens e experiências de vida diferentes, continuam a almoçar, papear e dar risadas.

Nada como o futebol.

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Fora do mundo... esportivo

Já escrevi no Um Olhar Crônico sobre o estar fora do mundo. Coisa que, inegavelmente, tem lá suas vantagens. Mormente num mundo povoado por lullas da Silva em profusão, pcc, governo israelense, economia chinesa, governo George Walker et caterva.

Não cheguei a ficar fora do mundo esportivo. É impossível e sobre isso escreverei logo mais, infelizmente sem fotografias, pois o futebol é paixão forte e dominante em toda parte, tal como os genes que transmitem o castanho básico de nossos olhos. Genética elementar, alguém recorda?

Esse final de agosto foi, está sendo ainda, pois vai terminar em algumas horas, meio maluco. Transferências e boatos se sucedendo em velocidade vertiginosa, tanto cá como além-mar. Mais lá do que cá, verdade seja dita.

Não gosto de dar murro em ponta de faca. Já gostei. Aprendi, entretanto, que muito machuca e nada resolve. Convém envolver a faca com grossas luvas de couro, ou mancheias de panos e trapos, e com jeito e arte, mais arte do que jeito, tirar a faca de onde está, descansa-la o mais longe possível e, só então, esmurrar a ponta que não mais existe. Pode não surtir efeito, o que é outra história, mas, ao menos, não ferirá a mão que esmurra. E que, infelizmente, calha de ser a nossa.

A ponta de faca que ora incomoda gregos e troianos tupiniquins é o futebol europeu. O rico futebol europeu. O “eurotizado” futebol europeu versus o “realtizado” futebol tupiniquim.

Já que como cronista pobre caí nessa tolice de “eurotizado”, permanecerei nela. Essa “palavra” é muito próxima de “erotizado”, o que vem a ter suas vantagens para esse pretensioso texto. Entre o real e o erotizado, a preferência humana se volta toda pelo erotizado, com suas promessas de sonhos e prazeres indizíveis. É normal que assim seja, é humano. Qualquer humano que nunca participou da produção de uma super-playmate, é um iludido. Quem participou continua sendo iludido, porque nada melhor que acreditar na promessa falsa, sempre muito mais atraente que a realidade pobre.

O “eurotizado” futebol europeu não chega a ser uma promessa falsa. Ele, na verdade, atrai por sua realidade movida a bons ganhos financeiros, capazes de permitir uma boa realidade nessa terra do real. Mesmo que seja a Europa turca ou grega ou ucraniana ou russa. Ou a Europa da 2ª divisão portuguesa, por exemplo. Os magos da economia – todos mágicos, pois conseguem ganhar dinheiro com o ininteligível – podem explicar melhor o porque dessas coisas, eu não.

A promessa de dinheiro & fama, os grandes motores do mundo (o sexo vem a reboque de um ou outro ou, ainda melhor, de ambos combinados), atrai as pessoas como o mel atrai as moscas. Entre jogar num time brasileiro, com salário tupiniquim e um mês mais tupiniquim ainda, que costuma durar 60, 90 e até mais dias, a boleirada quer mesmo é se mandar pras terras d’Europa e algumas d’Ásia. É um movimento impossível de ser parado e que só permite um relativo aproveitamento de sua energia, algo como o judoca que se utiliza da energia do adversário e a reverte, vencendo a luta. Nesse caso, não venceremos, mas poderemos tirar nossas casquinhas. Quem souber tirar casquinhas, quem, para isso, tiver suficiente engenho e arte.

Edílson foi para o Nagoya Grampus.

Diego Tardelli vai para o PSV.

Alecssandro, que ia para o Bétis, acabou indo para o Benfica, pois o Bétis preferiu pegar Rafael Sóbis que já tinha suas malas ancoradas em Santander, que fica, por sua vez, a chupar o dedo.

Jogadores menores, sem maior expressão, que nenhuma falta farão, um por ser velho e ultrapassado, em final de carreira que nunca primou pela regularidade. Os outros dois por serem fracos, um tecnicamente, o outro de cabeça.

No Rio de Janeiro chiadeira intensa e ruidosa, pois duas possíveis jóias de alguma coroa deixam terras e águas cariocas e embarcam para a Rússia. Deixam, em seu lugar, a sobrevivência de um clube, de um time. A torcida acha pouco ou não entende o tamanho do buraco e reclama, protesta, picha, xinga. Bobagem, há que se tentar tirar algum proveito disso. Em tese, jogadores vêm e vão, enquanto a instituição fica. Muitos torcedores parecem preferir que os jogadores fiquem e a instituição desapareça. Se não fosse trágico e nada cômico, diria ser isso uma questão de gosto. Gosto estragado. Gosto mal acostumado.

Vivemos num país em que para tudo se dá um jeito. Esse jeito que a tudo se dá tem preço, detalhe de somenos importância que não interessa aos participantes da busca do jeito, do jeitinho. Temos, no momento, um bom exemplo disso. A poderosa Petrobrás, orgulho de milhões de tupinambás e tupiniquins, tem um rombo gigante em seu generoso e maravilhoso fundo de pensão. O rombo será coberto pela empresa, mais que generosamente, sem a participação de seus beneficiários, é claro, pois a estes só o benefício interessa. Contribuir para ele, jamais. Portanto, em breve o povo tupiniquim estará pagando nas bombas de gasolina, álcool e diesel, e também GNV, pelas benesses do petrobrasileiro, uma categoria à parte do povo tupiniquim, mais igual que os iguais. É o jeitinho, sempre pago pelo povo sem jeito e sem futuro que habita essa Terra de Vera Cruz.

É esse jeitinho que muitas torcidas estão esperando. É esse jeitinho que tudo quanto é torcedor almeja. Uma penada que elimine as dívidas. Outra penada que injete dinheiro. E vida que segue, todos felizes.

Lamento informar, mas esse tempo acabou ou está em vias de.

Salvo acidente de percurso, e espero que não haja, não teremos mais jeitos e jeitinhos.

Cada clube, cada time, terá que buscar em si próprio (instituição + estrutura + torcida) as chaves para sua sobrevivência e prosperidade. Fora disso não há, não haverá e não pode e tampouco poderá haver saída. Triste, sem dúvida, mas é a vida, é a realidade dos fatos.

Chora-se, em proveito próprio futuro, a ausência de times de grandes torcidas na primeira divisão. É, pode ser lamentável, mas foram esses times e essas torcidas que buscaram e conseguiram isso. A reversão é possível, mas à custa de muito trabalho e inteligência. Com transparência e honestidade.

E aí o bicho pega. Transparência, trabalho e honestidade são outsiders no mundo do futebol tupiniquim. Seus poucos praticantes são tachados de tudo, menos de exemplares.

E assim volto de minha viagem, volto de meus dois dias fora do mundo, mas nem tanto do mundo esportivo.

Nada mudou e tão cedo nada mudará. E é possível, é provável, que perdas traumáticas aconteçam antes que um efetivo processo de mudança tenha início e transforme nosso circo sagrado, o futebol.

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segunda-feira, agosto 28, 2006

Fora do ar


Este blog estará meio fora do ar até quinta-feira, 31 de agosto, porque o blogueiro estará em Santa Catarina, gravando frangos, porcos, paisagens, carretas frigorificadas e o interior de uma indústria de processamento de frangos e suínos.

Por conta disso não fui para o sítio nesse fim-de-semana, pois preciso cumprir um período mínimo de 72 horas de "Vazio Sanitário", para poder entrar nas granjas de aves e suínos.

Enquanto eu estiver fora o São Paulo continuará na liderança. Ufa! Meno male.
Enquanto eu estiver fora mais alguns jogadores serão negociados para o futebol europeu.
Enquanto eu estiver fora o São Paulo "comprará" ou "aliciará" mais mais dúzia de jogadores felizes de outras equipes.
Enquanto eu estiver fora a Lusitana continuará rodando, o mundo rodando e o Frederico trotando.
E eu gravando.

Vou de Fokker 100, mesmo. :o)

E voltarei do mesmo jeito.

Na volta, comentários e fotos, talvez.

Viajo pensando nas coisas do futebol aqui e lá fora. A China também anda ocupando minha cabeça, mas não por causa do futebol. Enfim, bom mesmo será pensar no meu trabalho, isso sim, afinal, até prova em contrário eu sou um profissional, certo?

:o)

Boa semana para todos. Fui.
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domingo, agosto 27, 2006

Tostão - Os solistas e a orquestra


Na final da Libertadores, São Paulo e Inter fizeram ótimos jogos, mas faltaram solistas, que sobram no Barcelona

OUÇO BASTANTE dos treinadores e dos apaixonados pelos conceitos acadêmicos que, no futebol moderno, os jogadores precisam ter várias posições e funções em campo. Concordo, mas é uma meia verdade. Millôr Fernandes já disse que o perigo da meia verdade é você dizer exatamente a metade que é mentira.

Um atleta precisa ocupar várias posições em campo, porém ele só será um grande solista, um craque, se, além de talento, participar de uma afinada orquestra e encontrar o seu lugar, o seu jeito de jogar, que é só dele. Aí ele deslancha.

Esse encaixe, como dizem os treinadores, ocorre em um tempo variável e também não necessariamente uma única vez na carreira. Mas, parafraseando o imortal poeta Vinicius de Morais, ele tem de ser eterno enquanto dure.

Às vezes esse encontro nunca acontece, por falta de oportunidade, de apoio e de achar o seu lugar e o seu jeito. Esse é o perigo. Já imaginou se um Garrincha chegasse hoje às categorias de base de um clube e um técnico lhe dissesse: "Não existe mais ponta no futebol. Você tem de ser um atacante ou um meia-direita, que defende e ataca".

Os grandes encontros acontecem por acaso, mas não se tornam espetaculares e duradouros por acaso. É preciso cuidar bem desses momentos, engrandecê-los e vivê-los com intensidade, como acontece em todas as relações afetivas.

Parreira disse que faltou química à seleção brasileira. Faltaram muitas outras coisas. Não gosto dessa palavra (química), da moda. Ela parece excluir o desejo e a fantasia.
Prefiro dizer união de afinidades técnicas, emocionais e ideológicas.
Qualquer profissional, solista, além de encontrar o seu lugar, precisa ter cumplicidade com o seu trabalho, com a orquestra, como acontece com Rogério no São Paulo. Não é apenas uma relação de deveres e de direitos.

Como regra há exceções, não são os solistas que afinam as orquestras. Essas é que dão condições para os solistas brilharem. Às vezes as duas coisas acontecem juntas, de repente, sem saber o porquê.

Falo tudo isso para dizer que, após três meses, assisti a um espetáculo de futebol, mesmo sendo um amistoso, ao ver o show do Barcelona na goleada contra o Bayern de Munique por 4 a 0.

Estava com saudades do futebol eficiente, leve, de toque de bola, de dribles, tabelas, de jogadas de efeito e do supérfluo. Nada mais essencial do que o supérfluo.
São Paulo e Internacional fizeram ótimas partidas pela Libertadores da América, melhores do que as da Copa do Mundo. São duas equipes com boa técnica, mas que se destacam mais pelo entusiasmo, pela marcação e pela disciplina tática.

Tudo isso é essencial, mas faltaram grandes solistas.

Ronaldinho encontrou no Barcelona as condições ideais para brilhar. Devo ter sido apressado quando escrevi, antes do Mundial, que ele estava no nível de Maradona, Garrincha e dos maiores craques da história. O tempo vai dizer a verdade.
Mas nunca o comparei ao inigualável Pelé, como, maldosamente, um jornalista insinuou na televisão.

Ronaldinho, Eto'o, Deco, Xavi e Messi, que inicia sua carreira na seleção argentina, são grandes solistas de um afinada orquestra. Não sei se gosto mais de cada um ou do conjunto. Todos, e não apenas Ronaldinho, jogam melhor no Barcelona do que em suas seleções. As razões parecem óbvias.

Não vou pela milésima vez tentar dar explicações técnicas e táticas sobre Ronaldinho jogar melhor no Barcelona do que na seleção. Isso também não explica tudo.

Quando uma orquestra desafina, os solistas se tornam apáticos e se apagam.


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