Albérico, o personagem
No futebol, o meu time me encanta. Claro, óbvio.
Mas não só.
No futebol e em outros esportes, alguns personagens também me deixam como encantado. Às vezes pela tragédia, coisa que não é de meu particular agrado. Quase sempre pela superação, pela volta por cima, pelo grande retorno.
Felizmente, são muitas as histórias assim.
Nenhuma, talvez, como a de Ronaldo, tido como acabado para o futebol, que por quase dois anos travou uma luta terrível para poder voltar a um campo de futebol. Voltou,
Mas Ronaldo, a essa altura, já me parece passado, já me parece história. Talvez ele retorne e atinja o topo novamente, mas me parece difícil. Tenho a impressão, cá comigo, que ele cansou.
Vou ficar com um personagem mais próximo do nosso dia-a-dia.
Seu nome é Albérico e já tem 35 anos de idade. Já rodou o mundo do futebol brasileiro, o grande mundo dos pequenos times, a maioria desconhecidos da massa torcedora. Há algum tempo está no Fortaleza e disputando a 1ª divisão do futebol brasileiro.
Ontem à noite o Fortaleza, 19º e penúltimo colocado no Campeonato Brasileiro, entrou em campo, no Morumbi, para enfrentar o São Paulo, atual campeão mundial de clubes, vice-campeão da Libertadores recém-concluída, líder isolado do Brasileiro por umas dez rodadas seguidas, já. O jogo de ontem era um jogo de resultado anunciado. Eu mesmo, frequentemente temeroso em relação a esses jogos muito fáceis e óbvios, dava como certa uma vitória por três ou quatro gols.
E tudo parecia indicar que assim seria.
Durante todo o primeiro tempo o São Paulo parecia treinar ataque contra defesa. Em apenas dois momentos fugazes o Fortaleza ameaçou. Em inúmeros momentos o São Paulo massacrou. E, já no final, Rogério cobrou uma falta na trave. Já tinha feito outra excelente cobrança para uma das muitas grandes defesas de Albérico, que só no primeiro tempo foram cinco ou seis. Tantas grandes defesas e mais a trave começavam a deixar um gosto estranho na boca, começavam a trazer aos corações e mentes da torcida do São Paulo o velho adágio futebolístico: quem não faz, toma.
Veio o segundo tempo. O time de Albérico voltou modificado em um jogador, na disposição, na atitude. O jogo mudou, não radicalmente, não em cento e oitenta graus, mas ficou mais difícil para o São Paulo chegar. Mesmo assim, chegava. Um chute forte do zagueiro Fabão travestido em atacante resvalou na trave e saiu. Um outro chute bateu na trave e as grandes defesas de Albérico continuaram, uma depois da outra.
Já nos minutos finais, depois do São Paulo ter trocado três jogadores, entrou Rinaldo, no Fortaleza. Um jogador perseguido por sua torcida nos últimos tempos por não fazer o que todo artilheiro deve fazer: gols.
E a menos de cinco minutos do final do tempo regulamentar, um contra-ataque, um cruzamento sem muitas pretensões, uma falha da zaga e Rinaldo, de peixinho, marca.
O inacreditável acontecia.
Inacreditável, sim, pela teoria, mas possível, e, pela anti-lógica futebolística, mais que provável.
Em menos de dois minutos, contudo, o São Paulo empatou.
E em mais dois minutos, já nos acréscimos, lançamento longo para a área do Fortaleza. Mineiro recebe, mata no peito e sofre carga por trás. Pênalti.
É a virada.
Quem vai cobrar o pênalti é o herói Rogério Ceni, o maior goleiro-artilheiro da história do futebol e recente autor de memoráveis gols, tanto cobrando faltas como pênaltis.
Rogério afasta-se apenas os três passos de sempre. Suas ultimas cobranças foram no lado direito do goleiro e no alto. Indefensáveis.
Três passos para a frente e o chute. Rasteiro, procurando o canto direito de Albérico. Encontrando as mãos de Albérico.
Pênalti defendido, Albérico vibra, comemora, é cumprimentado.
E o juiz encerra o jogo.
O jogo de Albérico.
.P.s.: passei o dia inteiro de ontem tentando postar esse texto e não consegui; o blogger mudou configurações e coisa e tal, e na minha tentativa de postar com uma foto do Albérico, dancei; portanto, vai o texto, não vai a foto; e vai atrasado, mas antes tarde do que nunca, tal e qual a justiça.
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