Um Olhar Crônico Esportivo

Um espaço para textos e comentários sobre esportes.

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sexta-feira, dezembro 05, 2008

Rolando pelo mundo



A UEFA paga


Os clubes ingleses receberam da Confederação Européia de Futebol 4.14 milhões de libras, equivalentes a 4.75 milhões de euros ou
15,3 milhões de reais. Essa dinheirama é referente ao empréstimo dos atletas que jogam nesses clubes para a disputa da EuroCopa 2008.

Segundo a BBC, o Arsenal recebeu o maior cheque, no valor de 841,435 euros, pouco mais de 2,7 milhões de reais. Em toda a Europa, o maior cheque foi para o Werder Bremen, no valor de 935,107 libras, equivalentes a 3,5 milhões de reais.

Os valores foram calculados pela UEFA em função do acordo fechado em janeiro com os clubes e federações nacionais e cobrem, também, os torneios qualificatórios para a EuroCopa. O valor médio por jogador e por dia de serviço para a Confederação é de 3,420 libras (12.647 reais).

Os países que mais receberam, somando seus clubes, foram Alemanha, Espanha e inglaterra. Veja a lista dos cinco clubes da Inglaterra que mais receberam pela cessão de seus atletas, com os valores em libras e reais (em milhões).

Arsenal

£732,760

2,71

Chelsea

£702,827

2,6

Liverpool

£607,641

2,25

Manchester United

£440,614

1,63

Manchester City

£253,832

0,94



Por aqui, a CBF usa e abusa e nada paga pela cessão de jogadores, que têm seus salários pagos integralmente pelos clubes quando convocados.



Cassinos virtuais em mais camisas


A
Bwin patrocina Real Madrid e Milan e outros clubes já têm suas camisas patrocinadas por casas de apostas, ou cassinos virtuais como são chamadas essas empresas pelos torcedores europeus.

Em outubro, a mesma Bwin fechou um acordo com o
Bayern Munchen, passando a patrocinar três dos maiores clubes da Europa e do mundo.
Na sequência, no início de novembro, o
Valencia fechou seu patrocínio de camisa com a Unibet, pelo restante dessa temporada e mais a temporada 2009/2010. O clube espanhol receberá 1,5 milhão de euros pelo restante dessa temporada atual, e pela seguinte receberá 6 milhões de euros. Esse patrocínio será um dos maiores de toda a Europa, tirando os clubes Top Ten, sem fazer feio mesmo em comparação com esses.

Nessa semana, depois de um período de três meses sem patrocínio, desde que a empresa de turismo XL quebrou em setembro devido à crise global, o
West Ham voltou a ter um patrocinador: é a casa de apostas Sbobet.

A Sbobet é a maior operadora de apostas da Ásia e opera com licença filipina.

O West Ham que recebia 3 milhões de libras da XL, segundo algumas fontes, receberá 1,9 milhão de libras da Sbobet por 18 meses de contrato, basicamente o final dessa temporada e mais a temporada 2009/2010.

Embora asiática, a Sbobet vem se expandindo pela Europa, principalmente nas Ilhas Britânicas. Não por acaso, tem licença operacional também do governo da Ilha de Man.


É um fenômeno curioso e preocupante o crescimento das casas de apostas no mundo do futebol. Menos curioso e muito mais preocupante, principalmente levando em consideração os envolvimentos passados entre apostadores, atletas, juízes, o que já levou a FIFA e a UEFA a tomarem precauções com essas empresas.


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Morumbi: 350 toneladas de doações

Entre a quinta-feira, dia 27 de novembro, e a tarde de terça-feira, dia 2 de dezembro, a Campanha de Arrecadação de Donativos para as vítimas das chuvas em Santa Catarina, e realizada dentro do Programa São Paulo Social, recebeu cerca de 350 toneladas de alimentos, roupas e outros produtos de uso urgente e necessário pelos desabrigados e pelos moradores que retornam a suas casas.

Esse resultado tão impressionante é fruto da mobilização de torcedores são-paulinos e de outros clubes, que deixaram suas doações nos portões do Estádio, no dia do jogo contra o Fluminense, e no portão 1 nos outros dias. Para alcançar esse resultado, todo o clima criado em torno desse jogo contribuiu bastante para o sucesso da campanha.




Receber os donativos era uma parte da campanha. A outra, tão importante quanto, era assegurar que os produtos doados chegassem a Santa Catarina.
Para isso, a parceria inicial com a Granero recebeu o apoio também das transportadoras Expresso Mirassol, A Lusitana, Shuttle, Salvador Logística e Unicargas. Essa enorme quantidade de produtos – alimentos, galões de água, roupas, calçados, cobertores, edredons, colchões, travesseiros, brinquedos, material de limpeza e de higiene pessoal – ocupou nada menos que nove carretas totalmente carregadas, que deixaram o Estádio rumo à Santa Catarina na noite da terça-feira mesmo.

Graças a essa combinação de esforços e solidariedade, os donativos chegaram a Santa Catarina na tarde da quarta-feira.



Quadriciclos para agilizar os resgates


Outro parceiro do São Paulo, a MVK Motos, que também fabrica quadriciclos, procurou o clube e através dele doou 10 desses veículos que serão usados nos trabalhos de resgate e acesso às vítimas em diferentes pontos do estado. Os quadriciclos são veículos de grande mobilidade nos mais diversos tipos de terreno e irão ajudar o Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil catarinenses a chegar aos locais comprometidos com mais agilidade e em menor tempo.



O proprietário da MVK, Erik Diego Altrichter, explicou o porque de sua doação:

“Estamos muito felizes em participar. Já tínhamos pensado em uma ação solidária nesse sentido, e quando soubemos que o São Paulo tomou esta iniciativa pensamos prontamente em uma forma de ajudar. Estive na China durante os terremotos recentes, e acompanhei o uso de quadriciclos no resgate e auxílio às vítimas. Vendo a situação em Santa Catarina percebi que lá também seriam uma boa ajuda nos trabalhos.”

Um resultado bonito e impressionante, sem dúvida.
As doações em momentos como esses são de fundamental importância para as pessoas, quando um quilo de arroz ou duas garrafas de detergente, tornam-se bens de inestimável valor, entre tantas outras corriqueiras do nosso dia-a-dia, mas ausentes num quadro de destruição como o que está sendo vivido pelo povo catarinense.




As doações prosseguem


A ação do Clube dos Treze junto aos associados foi um êxito, segundo este blog ouviu de representante da entidade. Praticamente todos os clubes envolveram-se em ações junto a seus torcedores para a coleta de donativos e diversos veículos de informação, como o Sportv, fizeram boas coberturas dessas ações.


O Corinthians já coletou 55 toneladas de alimentos, água potável e roupas, principalmente. Quatro caminhões já deixaram o Parque São Jorge com destino a Santa Catarina e a campanha prossegue até as 18:00 de sábado.
No momento, o pessoal que coordena a campanha no clube está pedindo que as doações se concentrem nos produtos mais necessários: colchões, cobertas e produtos de higiene pessoal.

Também o Palmeiras está com a campanha de coleta em andamento. No domingo, os jogadores entrarão em campo com uma faixa solicitando doações.
Um caminhão já deixou o Palestra Itália levando a primeira carga. Até terça-feira mais um ou dois caminhões partirão para Santa Catarina com os produtos doados.


Desde ontem, a Defesa Civil de Santa Catarina não está recebendo doações no estado por falta de locais para armazená-las antes de fazer a distribuição. O pedido da Defesa Civil é que as doações sejam feitas, preferencialmente, em dinheiro.

Visão muito pessoal: pode parecer o que vocês quiserem, mas confesso-me incomodado com doação em dinheiro. Para isso já existem ações do governo federal, mas o motivo mais forte é muito triste: tenho sempre dúvidas com a entrega de dinheiro para órgãos públicos. Mesmo em situações de calamidade. Minhas doações em produtos já seguiram para Santa Catarina e, espero, já foram distribuídas.


As campanhas dos clubes do Trio de Ferro foram muito boas e prestaram um real serviço à sociedade.



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Uma comédia de erros




Nem tão comédia e tampouco com um final tão divertido, independentemente do que venha a rolar em campo além da bola, mas tão shakesperiana como a homônima do gênio inglês. Uma comédia de erros que, nitidamente, tem a ver com
o poder, a ambição de políticos e o oportunismo de um grande dirigente do futebol tupiniquim. Depois de uma novela curta, mas intensa, com idas & vindas, sem mocinhos e só vilões, começou a venda dos ingressos para o jogo Goiás x São Paulo.
Sobre o qual falarei uma vez mais.



As vendas começaram ontem, finalmente, em Brasília e em São Paulo. Em Goiânia, devem começar somente hoje.




Em Brasília, as filas começaram a se formar durante a manhã, esperando a abertura das vendas, que estava previst
a para as 14:00, mas que começou depois das 16:00, com muito mais gente nas filas. Há relatos que os guichês fecharam no início da noite, deixando ainda muitos torcedores sem ingresso.

Em São Paulo, desinformação. Logo cedo já havia torcedores no Morumbi aguardando a abertura da bilheteria principal, o que só ocorreria depois que os ingressos chegassem de Brasília. Chegou a circular a informação, passada por funcionário do clube, que os ingressos só chegariam tarde e seriam vendidos hoje, sexta-feira. Muita gente abandonou a fila e foi embora, mas os que persistiram, sabe-se lá porque, foram recompensados, pois os ingressos chegaram ao Morumbi e a venda teve início.

Estamos falando de um jogo que decide um campeonato, que será realizado num estádio minúsculo, com capacidade para menos de 20.000 torcedores. Está certo que é moderno, recém-inaugurado, mas, assim mesmo, é muito pequeno e, assim mesmo, a operação banal de vender 19.000 ingressos é tão complicada, tão confusa, que chega a assustar. Quanto evoluiremos até 2014?

E ingressos caros, ou caríssimos, frente à média de preços do Campeonato Brasileiro e da Copa Libertadores. Esse é outro capítulo e mais um erro a ser somado aos que serão comentados agora.



Erros...


Na visão deste blogueiro, temos dois grupos de erros nesse episódio.
Os erros de fora do futebol, cometidos por instituições do Estado e os erros de dentro do mundo da bola.

Começarei pelos erros de dentro.

1 –
STJD: errou ao punir o Goiás por incidente no qual, a rigor, não há culpa objetiva do clube; curiosamente, o mesmo tribunal deixou de agir assim em casos parecidos, quando vândalos brigaram entre si e não foram contidos pela polícia.

2 –
STJD, que erra novamente, ao determinar que punição com perda de mando de campo deve-se dar através da realização da partida em outra cidade a mais de 100 km de distância; na prática, na vida real fora do tribunal, isso conduz muito mais a uma punição ao visitante do que ao punido, pois este, geralmente, continua jogando para sua torcida, não tem sua logística muito afetada e não toma a pior punição, que é a perda da renda; há mesmo casos em que a renda do jogo da punição supera a média de renda do clube punido. O visitante, porém, que nada tem a ver com a história, tem sua logística alterada sempre para pior, precisa mudar sua programação de treinos e viagens, geralmente acaba jogando em condições piores de estádio, gramado e até de segurança, do que os demais participantes do campeonato nos confrontos contra o clube punido. Diante disso, o melhor seria a manutenção da punição antiga, em que o clube punido jogava em sua sede habitual com os portões fechados. Chato, sem a menor dúvida, estranho de ver pela televisão, ouvir no rádio, mas uma punição que não dava margem a tantos problemas e bate-bocas.

3 –
CBF: cometeu o absurdo de decidir sozinha o local do jogo, sem consultar os clubes. Ignorou o desejo que os dois clubes manifestaram de jogar, por exemplo, no Rio de Janeiro, no Engenhão, ou em Uberlândia, no Parque dos Sabiás. A diretoria do Goiás encarava com bons olhos a perspectiva de jogar no Rio de Janeiro, onde a repercussão de mídia seria ainda maior do que o normal, mesmo em se tratando de jogo decisivo. Outro ponto a favor: a maior cobertura internacional, que tem muitos representantes no Rio de Janeiro, muito mais do que em Brasília, por exemplo.
Finalmente, mas não menos importante, fosse no Rio ou em Uberlândia, a presença de público seria muito maior, dando mais brilho e motivação para o jogo.
Curiosamente, até mesmo a direção do Grêmio, parte interessada nisso tudo, manifestou-se favorável ao jogo no Rio de Janeiro, acreditando que grande número de torcedores do clube iriam a campo torcer contra o São Paulo.
Para o Goiás também teria sido ótimo jogar na cidade de Uberlândia, que além do estádio com capacidade para 50.000 torcedores, prontificou-se a pagar as despesas dos dois times para jogar na cidade. No entanto, apesar de tudo isso, prevaleceu a decisão autoritária e solitária da CBF, marcando o jogo para Brasília, para um estádio pequeno, entregue a uma federação confusa que sequer consegue imprimir e distribuir num prazo razoável uma carga de menos de 20.000 ingressos.


Cabe uma pergunta: a quem interessou mandar esse jogo de grande repercussão para o pequeno estádio do Gama, que há poucos dias já recebeu o mais importante amistoso da Seleção Brasileira disputado em Terra Brasilis nos últimos anos?


4 –
Federação Brasiliense e governo do DF: erraram ao estipularem preços absurdos para o uso de um estádio tão pequeno: R$ 135.000,00 de taxas e mais 10% da renda. A pressa com que recuaram diante do clamor de torcedores, imprensa e Goiás Esporte Clube, é um bom sinal do caráter meramente oportunista e especulativo de tal taxa.
Ficou claro, também, que o uso do estádio é fortemente condicionado por interesses políticos, causando espanto a este blogueiro que o governador de uma unidade da Federação tenha ficado 5 horas em reunião a discutir esse assunto. Ou é amor demais pelo futebol ou falta de ter o que fazer.

5 – Finalmente, errou o
Goiás ao indicar o preço esdrúxulo de 400 reais para os ingressos. Esse erro, contudo, seria pago somente por ele, que teria uma arrecadação pífia, que talvez nem cobrisse o pagamento dos juízes e a viagem de ônibus do time de Goiânia para Gama. Um erro que seria pago com a pior e mais "preciosa" parte do corpo do ser humano e de suas instituições: o bolso.
Muitos dizem que o Goiás assim agiu em retaliação à CBF e seu autoritarismo mais que suspeito nesse caso. Pode ser. Como também pode ser que seja verdadeira a explicação de seus diretores: aumentaram o preço, com a promoção de reduzi-lo em 50% com a entrega de donativos, simplesmente para fazer algum dinheiro e terem um bom lucro depois do pagamentos das taxas brasilienses e demais despesas do jogo.


O Goiás, entretanto, não teve tempo e condições para sofrer com seu erro, ou reavaliá-lo, pois foi atropelado por uma sucessão de outros erros: os erros de fora do mundo da bola. Vamos a eles:


1 –
PROCON: errou ao intrometer-se em assunto que não é e não pode ser de sua alçada. Um jogo de futebol é um produto para o entretenimento das pessoas, ninguém é obrigado a vê-lo. Vai ao jogo quem quer e quem pode. Como espetáculo, seu preço é condicionado por muitas variáveis, como, por exemplo, a qualidade dos artistas ou atletas, a importância da partida, sua condição de ser única. Os clubes têm o direito de estipularem os preços que melhor entenderem para cada partida, a partir de um patamar mínimo, somente. Se o preço para o espetáculo for muito alto, ninguém irá vê-lo e o clube terá prejuízo. Ponto. Compete ao PROCON, isso sim, zelar para que os direitos do torcedor, transformado em consumidor a partir da compra do ingresso, sejam respeitados. Isso inclui, por exemplo, a garantia do torcedor chegar ao local com minutos de antecedência e encontrar o lugar que está marcado em seu ingresso, vazio, esperando por ele. Inclui a existência de bons sanitários, por exemplo, além de outros pontos, muitos outros pontos passíveis de melhoras e carentes de fiscalização.

2 –
MP: errou tanto quanto o PROCON ao intrometer-se no mesmo assunto, querendo, talvez, mostrar serviço. Melhor faria agilizando o combate aos fatores que geram insegurança e trazem prejuízos reais para as pessoas.



Tivemos, enfim, uma sequência de erros que se transformou, com boa vontade e algum sarcasmo, numa comédia. Quem paga por ela, como de hábito, é o torcedor.

Os preços, finalmente definidos, continuaram altos para o padrão brasileiro:

-
R$ 100,00 para as arquibancadas atrás dos gols;

-
R$ 150,00 para as arquibancadas laterais;

-
R$ 250,00 para as cadeiras na “tribuna de honra”

A meia-entrada será válida apenas para estudantes, idosos e professores (categoria que a imprensa não tem colocado como habilitada a comprar meio-ingresso, o que lhes é permitido por lei do DF), devidamente identificados. O desconto de 50% com a entrega de donativos foi cancelada. O motivo, segundo diretores do Goiás, é a existência de outra lei brasiliense que proíbe esse tipo de promoção.

As filas e a procura pelos ingressos estão mostrando que os preços, agora, talvez não sejam assim tão altos, tão caros.
Fica, de qualquer forma, uma certa tristeza por tantos erros terem sido cometidos.
Fica a tristeza de não ver esse jogo no Rio de Janeiro, num estádio com quase cinqüenta mil torcedores.
Fica a lição para os clubes.
Fica, por último, uma pergunta:
será que aprenderam alguma coisa?


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quarta-feira, dezembro 03, 2008

Dezessete reais a menos

Cinco horas de reunião entre diretores do Goiás e governantes brasilienses, governador inclusive. Cabe até a pergunta: pode um governador de uma unidade federativa ficar cinco horas em reunião com dirigentes de um clube de futebol?

Ao fim e ao cabo, saiu-se da reunião com os preços definidos tal como no Post scriptum de ontem neste Olhar Crônico Esportivo.

Com uma diferença, entretanto: acabou a história de doar alimentos e pagar meia-entrada. A meia-entrada será privilégio de estudantes e professores, estes em função de lei específica do DF. Segundo explicação do Vice-Presidente do Goiás, Edmo Pinheiro, uma lei brasiliense proíbe esse tipo de promoção.

No frigir dos ovos, houve uma redução de 200 para
183 reais. Esse é o valor médio estimado por este Olhar Crônico Esportivo, considerando a venda de todos os lugares – 19.400 (parece que a polícia brasiliense liberou lotação total) – e com números aproximados para as arquibancadas laterais e norte/sul (atrás dos gols).

Nesse caso, teríamos uma renda por volta de 3.500.000 e um preço médio dos ingressos a 183 reais. Isso não ocorrerá, naturalmente, em função das
meias entradas, cujo número não foi divulgado.

Tanto barulho por dezessete reais.

Mais uma aula de Brasil que poucos frutos renderá.

Quanto aos donativos, adeus.
Será que os adversários do governador José Roberto Arruda aproveitarão esse cochilo?
Para quem não lembra, esse senhor era senador da República e renunciou ao mandato, junto com Antonio Carlos Magalhães, para escapar de inevitável cassação do mandato e dos direitos políticos, devido ao episódio conhecido como a fraude do painel de votação do Senado.

Até esse momento, faltando dois minutos para as duas da tarde de quarta-feira, o site do Goiás não traz nenhum esclarecimento sobre os novos preços e sobre a cassação, quero dizer, a eliminação da troca de donativo por metade do valor de face do ingresso.

Enfim, vida que segue.

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terça-feira, dezembro 02, 2008

Intromissões indevidas



Fui surpreendido pela divulgação que os ingressos no Bezerrão para o jogo Goiás x São Paulo iriam custar
R$ 400,00. Num primeiro momento não dei atenção, achando que fosse brincadeira.

Mas não era, a coisa era séria e soava como meio ofensiva, até, com a explicação que o preço seria de somente (sic) duzentos reais se o endinheirado torcedor levasse também dois quilos de alimentos para as vítimas da enchente em Santa Catarina.

Cheguei a manifestar-me por escrito sobre isso, na internet, criticando com acidez a diretoria do Goiás.

Hoje, porém, tive oportunidade de ouvir as entrevistas de dois diretores do clube goiano, um deles o diretor administrativo do Goiás, Marcelo Segurado (clique aqui para ouvir na íntegra). Logo no início, Marcelo esclarece que o Goiás Esporte Clube tem excelente relacionamento com o São Paulo, desfazendo, assim, algumas conversas em sentido contrário. Fala, na sequência, das punições sofridas pelo clube, devido a incidentes entre torcedores nos jogos contra o Vasco e contra o Cruzeiro. É bom destacar, também, que o diretor do GEC atribui a punição aos “vândalos“ e não critica a medida tomada pelo STJD.

Resumindo, Segurado diz que se esse jogo final, valendo a conquista do título, fosse no Serra Dourada, também teria os preços reajustados, as cadeiras para 70 ou 80, a arquibancada para 50 reais, dando ao clube a chance de um bom faturamento. Com a punição, fizeram um jogo em Itumbiara, onde o clube teve prejuízo, devido à baixa renda. Esse é um ponto importante: o Goiás Esporte Clube teve prejuízo em Itumbiara e, por conseqüência, queria fazer o jogo contra o São Paulo em outro estádio de maior porte. Pelo que ele fala, e pode ser conferido no áudio linkado acima, o clube via com bons olhos a sugestão do São Paulo para fazer o jogo no Maracanã ou no Engenhão, assim como a oferta da cidade de Uberlândia, que ofereceu o Parque dos Sabiás, com capacidade para 50.000 pessoas, em ótimas condições financeiras para o Goiás, e oferecendo-se, inclusive, para pagar as despesas do São Paulo.

O Goiás, entretanto, foi surpreendido pela marcação do jogo pela CBF para o novo estádio Bezerrão, na cidade de Gama, no Distrito Federal. Como esse estádio tem apenas 19.000 lugares e a diretoria deverá vender somente 18.000 ingressos, optou-se pelo aumento nos preços dos ingressos para poder dar algum lucro para o Goiás.

É importante essa sequência para entendermos que os dois clubes não queriam jogar em Itumbiara, que ambos queriam jogar em estádios grandes, com boas condições de jogo para o São Paulo, e com bom retorno financeiro para o Goiás.

Marcando o jogo para o Bezerrão a CBF atropelou os dois clubes e o próprio STJD, que recém-retirou a punição de perda de mando sofrida pelo Goiás, mas não a tempo de reverter o jogo. Ficou decretado: Jogue-se no Bezerrão.

Que é bom estádio, isso não se discute. E bem localizado, numa área com alto poder aquisitivo – não a cidade de Gama, mas sua vizinha rica, a capital da República, cidade que tem a maior renda per capita do Brasil.

Mas...
Somente 19.000 lugares.

Ora, o Goiás que já sonhava em terminar o BR 2008 com dois milhões líquidos dessa renda em seu caixa, dinheiro bastante para pagar dezembro, décimo-terceiro e férias de seu elenco, viu-se, de repente, obrigado a jogar em um estádio pequeno, onde a renda, aos preços normais, daria algo como oitocentos mil reais ou menos, brutos.

Agora vem a parte mais incrível de tudo isto. O diretor goiano foi claro, como podem constatar pelo áudio linkado: a administração do Bezerrão cobra uma taxa administrativa de campo (para usar o campo, vestiários, bilheterias) de nada mais, nada menos, que R$ 135.000,00 – chamada por Marcelo de “exorbitante”. E é mesmo, muito exorbitante. Tem mais: há também a taxa de 10% da renda bruta como aluguel. Além dessas taxas, há outras (repetitivo, não?): 5% para o INSS, 5% para a Federação Brasiliense, 5% para a Federação Goiana e 5% para a CBF. Mais as despesas com juízes, seguro de vida, etc. Enfim, uma exorbitância. Não há como definir melhor.

O próprio Marcelo Segurado tornou a conversar com o presidente da Federação Brasiliense e este mostrou-se irredutível, não iria reduzir nenhuma cobrança, dizendo, segundo o Marcelo, que esse jogo não deveria ser jogado lá e outras milongas mais.

Diante disso, a diretoria goiana resolveu cobrar 400 reais pelo ingresso, estabelecendo a meia-entrada em 200 reais, com a condição do torcedor não estudante levar 1kg de alimento ou roupa, cobertor, brinquedo, etc (segundo o site oficial do clube os donativos arrecadados serão todos destinados à Organização das Voluntárias de Goiás - OVG.

Dessa forma, a diretoria do Goiás espera arrecadar por volta de pelo menos dois milhões de reais brutos.

Diante dos fatos expostos, caso não sejam contrariados, o Goiás está correto. Quatrocentos reais, o preço oficial, ou duzentos, na “promoção”, são valores muito altos para um jogo de futebol com ingressos de preço único.
Como parâmetro, em 2005 e em 2006 o próprio São Paulo cobrou 150 reais pela cadeira nos jogos finais da Copa Libertadores.

Em tempo: o artigo 16 do Regulamento do Campeonato Brasileiro dá ao clube mandante o direito de cobrar o que quiser, desde que dentro das normas legais.
Esse artigo, posteriormente, recebeu um complemento a pedido dos clubes, estabelecendo o preço mínimo dos ingressos em dez reais.

Ou seja, o Goiás está certo aos olhos do regulamento, e está certo na minha visão a respeito desse tema, que já manifestei em outras oportunidades.
Diante disso tudo, fica claro que esse jogo poderia e deveria ser realizado no bonito Engenhão.



Demonstrativo da renda com ingresso a 50 reais


Ainda a tempo: se o Goiás cobrasse 100 reais cada ingresso e estabelecesse a meia-entrada como padrão (estudantes mais os doadores), e vendesse todos os 18.000 lugares, obteria uma renda bruta de 900.000 reais. Com os descontos devidos:


Despesa

% s/ renda bruta

Valor

Taxa de uso do estádio


135.000

Taxa de aluguel do estádio

10%

90.000

INSS

5%

45.000

CBF

5%

45.000

Federação Brasiliense

5%

45.000

Federação Goiana

5%

45.000

Arbitragem, seguro, outras


10.000 (estimado)


Total despesas

415.000


Renda líquida

485.000 (estimado)



Uma final de Campeonato Brasileiro – ou melhor, um jogo que se transformou em final – tem um grande atrativo e merece uma diferenciação em seu preço. Acho duzentos reais um valor alto, mas não mais exageradamente alto, pois o que realmente está pela hora da morte são os custos adicionais, particularmente os custos do estádio.



Punição?

Fica uma questão: é essa a melhor maneira do STJD punir os clubes? Antes, jogava-se a partida da punição com os portões fechados. Sem dúvida, uma coisa horrível, absolutamente sem graça. A gritaria contra foi alta, por parte dos clubes e por parte dos usuários e mantenedores do espetáculo, os torcedores.

Será que jogar fora de sua casa, a partir de um raio de 100 km é mesmo uma punição?

E por que o tribunal tinha de se intrometer numa questão que poderia e deveria ter sido solucionada pelas duas diretorias?



Post scriptum


A decisão do Goiás provocou intensa polêmica em Brasília e São Paulo, principalmente, repercutindo no Rio de Janeiro e na CBF.

Depois do presidente da Federação Brasiliense ter dito ao diretor do Goiás que a posição da Federação era definitiva, inarredável, o ex-Senador J R Arruda, governador do DF entrou em cena, forçando a reunião e convencendo seu pessoal (alguma dúvida a respeito?) a reduzir as taxas cobradas inicialmente.

Depois de longa negociação com a diretoria do Goiás, incluindo o presidente Pedro Goulart, foram definidos 3 diferentes preços para diferentes setores do estádio:

- Tribunas de honra: R$ 250,00 >> R$ 125,00

- Arquibancadas laterais: R$ 200,00 >> R$ 100,00

- Arquibancadas atrás dos gols: R$ 150,00 >> R$ 75,00


Todos que levarem donativos pagarão meia-entrada.
Preços ligeiramente salgados, sem dúvida, mas compatíveis com a importância do jogo.
Não é simpática essa atitude, mas é correta, de um ponto de vista profissional num esporte competitivo e de custos tão elevados como o futebol.

Não podemos perder de vista dois pontos importantes nesse episódio:

1 - A interferência indevida e autoritária da CBF.

2 - Os custos cobrados por uma federação que administra um bem público.

Muitas críticas estão sendo feitas ao Goiás, mas, na minha visão, não são justas.

É importante, também, destacar que esse caso cria uma importante jurisprudência para uso futuro pelas outras equipes.


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segunda-feira, dezembro 01, 2008

Um pouco sobre Marcelo Portugal Gouvêa



Muito já foi dito no decorrer desse domingo e nos jornais dessa manhã de segunda-feira sobre Marcelo Portugal Gouvêa.
Nunca será o bastante para se ter a real dimensão do que foi e do que representou para sua família e para o São Paulo, que também era sua família. Uma família exigente em tempo, atenção, dedicação.
Enquanto voltava para São Paulo na manhã desse domingo que começou triste, pensava no dirigente, a quem já conhecia pela imprensa desde a posse como presidente, e pensava na pessoa, que conheci em 2004.




Marcelo primava pela educação e gentileza, sempre, dando importância e atenção a todos.
Sua gestão à frente do São Paulo foi, para mim, a síntese do que deve ser a administração de um clube que tem no futebol sua razão de ser, apoiado na democracia interna e no trabalho em equipe, em que a paixão não é inimiga da razão.

Na prática, ele foi o primeiro dirigente a perceber a nova dimensão que tomava o futebol brasileiro com o fim do malfadado e anacrônico “passe” e a plena vigência da Lei Pelé. Graças a isso, o São Paulo saiu na frente e apontou os caminhos que começavam a ser trilhados na Europa e hoje fazem parte da rotina de nosso futebol, mas ainda mal compreendidos e pior executados por muitos clubes.
Ao contratar Ricardinho, em 2002, ele disse que aquela era a última grande transação daquele tipo em nosso futebol.
Dito e feito.

O futebol era sua paixão e o time de 2002 correspondeu a ela durante toda a fase classificatória do Campeonato Brasileiro, voando em campo com Kaká, Simplício e Julio Batista, além de Rogério Ceni, crias da base tricolor, e mais Luiz Fabiano, Reinaldo e Ricardinho, conquistando uma série de dez vitórias seguidas.
Mas o futebol é o que é e aquele time fantástico não conquistou o Brasileiro. Foi, também, o começo de uma era em nosso futebol. No ano seguinte, com uma nova filosofia colocada em prática, o clube voltou, depois de dez anos, a disputar a Copa Libertadores de América, paixão maior de todo torcedor do São Paulo. No retorno, uma campanha excelente, chegando à semi-final e perdendo para o desconhecido Once Caldas, que viria, em seguida, a conquistar o título derrotando o poderoso Boca Juniors. Desconhecido, sim, mas muito competente.

Novamente classificado para a Libertadores, 2005 foi o grande ano da história recente do São Paulo. Mesmo com uma mudança de técnico no meio da disputa da Libertadores, o time conquistou o campeonato e, no final do ano, tornou-se campeão mundial do novo campeonato instituído pela FIFA, em sua primeira disputa nos novos moldes, fechando um ano brilhante que começara com a conquista do Campeonato Paulista.
Em campo, um time formado em parte dentro da nova realidade do futebol brasileiro.



Em 2003 Marcelo foi para o Uruguai e lá contratou um jovem zagueiro, promissor, mas desconhecido, Diego Lugano.
O então treinador não gostou muito e referia-se a ele como o “jogador do presidente”. O treinador pouco durou e pouco é lembrado hoje, mas o “jogador do presidente” tornou-se um dos maiores ídolos da história recente do São Paulo, ao lado de Rogério Ceni.

O outro “jogador do presidente” foi o melhor jogador de futsal do mundo, Falcão, que teve poucas chances de mostrar seu valor e adaptar-se para valer ao futebol, sendo pouco utilizado pelo treinador da época. Que teve seu trabalho respeitado pelo presidente.

Ao mesmo tempo que cuidava do time de futebol, levando-o a grandes conquistas, sua gestão foi marcada pela inauguração do REFFIS, considerado uma referência mundial em recuperação de atletas lesionados, e no futuro do clube, com a inauguração do Centro de Formação de Atletas Laudo Natel, em Cotia.



Em sua gestão, a área social do clube foi revitalizada e estruturada, iniciando um processo que transformou-a em centro gerador de receitas e não só de despesas, um caso quase único no universo dos clubes brasileiros.

O torcedor Marcelo nunca esqueceu os jogadores que levaram, no decorrer de sua história, a ser o São Paulo o que é.
Uma de suas “menina dos olhos” era o Encontro de Ex-Jogadores, uma festa bonita, no CCT da Barra Funda, reunindo atletas de diferentes épocas, ídolos de outros tempos, outras conquistas, ou de tempos difíceis, durante os quais o clube investia em seu futuro, construindo o Morumbi.
Sua alma de torcedor levava-o a fazer pequenas “loucuras”, que contava sorridente, como despertar à uma da manhã para ver um jogo de vôlei feminino da seleção dirigida por Zé Roberto Guimarães, dormir um pouco e acordar novamente às cinco para acompanhar a seleção de futebol sub 15 ou sub 17.

Há algum tempo, conversando com o amigo e são-paulino Damião, ele contou-me um episódio com o presidente do São Paulo que marcou-o. Enquanto voltava para São Paulo, numa Anhanguera com vans, ônibus e carros lotados, levando torcedores e suas bandeiras para o jogo contra o Fluminense, liguei para Damião e pedi-lhe para relatar esse episódio. Há outros, mas ficarei com esse, que retrata bem um pouco do Presidente Marcelo Portugal Gouvêa:

“Emerson, pouco sabia sobre Marcelo Portugal Gouvêa antes dele assumir a presidência do Tricolor. Mas na sua passagem pela presidência, tenho uma experiência pessoal que me deu noção de quem foi MPG, como era carinhosamente tratado pela torcida, na direção do nosso São Paulo e do tamanho do seu nível de atenção com as nossas coisas, o qual relato a seguir.

Quando da venda de Cicinho para o Real Madrid, em agosto de 2005, eu, torcedor do Tricolor e advogado por profissão, por vício do ofício, me preocupei que tal venda não fosse, efetivamente, uma manobra da então atuante MSI, para adquirir nosso craque de forma indireta. Diante disto, resolvi externar minha preocupação ao Tricolor, na figura do presidente e enviei um fax para seu gabinete no clube, inclusive sugerindo que fossem adotadas providências jurídicas para que se evitasse uma possível operação triangular.

Pensando ter cumprido meu dever, dei tal assunto por encerrado.

Qual não foi minha surpresa ao receber um telefonema do próprio Marcelo, quando ele teve a oportunidade de esclarecer para mim todos os pontos da negociação. Travamos uma agradabilíssima conversa na qual ele pôde me relatar os meandros dos problemas que enfrentava na direção do clube e as ações que estava implantando.

Eu que, por observação e por informações indiretas - inclusive de integrantes da própria oposição do clube - já estava formando uma impressão positiva em relação ao MPG, depois deste inusitado contato com ele, passei a ser um admirador seu.

Que o bom Deus reserve um lugar na 'Tribuna de Honra' do céu, para que logo mais, se o destino assim nos permitir, o Tricolor possa alcançar a glória do primeiro Tricampeonato da sua história e da história do campeonato brasileiro, e oferecer para o nosso eterno "Trisidente Mundial", conforme gosto de tratá-lo carinhosamente.”


Ontem, por ser o futebol o esporte maravilhoso que é, o São Paulo não conquistou o Tri-Campeonato tão ansiado. Quem sabe para não entristecer Mestre Telê, pois a vitória de um Tricolor sobre o outro iria fazer isto. Quem sabe se lá na “Tribuna de Honra” celestial eles todos reunidos não resolveram nos dar mais uma semana de emoção, até o próximo domingo?

Estou certo que o time conquistará em campo mais esse título para o “Trisidente” Marcelo, justo e merecido. Muito merecido, pois durante esses anos ele permaneceu na direção do clube, como seu diretor de planejamento, trabalhando, como sempre, pela família Tricolor.

Descanse em paz, Marcelo.


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