Um Olhar Crônico Esportivo

Um espaço para textos e comentários sobre esportes.

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quinta-feira, fevereiro 28, 2008

Torcedor, Consumidor ou Simpatizante?


Até poucos anos, o Chelsea era um clube londrino com um bom e mediano time de futebol, uma boa história e um razoável número de torcedores concentrados em Londres e arredores. Nada que assustasse o rival Arsenal, por exemplo. E seguia sua vida de time intermediário placidamente, de vez em quando agitada por alguma vitória inesperada ou uma derrota preocupante.

Até que de repente, surgido do nada, ou melhor, surgido da emergente Rússia capitalista, Roman Abramovich entrou em cena. Comprou o clube. E passou a injetar milhões de euros. Dezenas de milhões de euros. Centenas de milhões de euros.

Como já leram os leitores desse blog, Ferran Soriano, falando sobre as mudanças ocorridas no mundo do futebol, referiu-se a esse evento como “de repente aparece um russo louco e injeta centenas de milhões de euros num clube, fazendo o mercado dar uma nova guinada em valores”. Abramovich, como está no post de 22 desse mês, colocou no Chelsea “580 milhões de libras esterlinas, valor equivalente a 773 milhões de euros, 1,137 bilhão de dólares ou, ainda, 1,947 bilhão de reais.”

É muito dinheiro, qualquer que seja o parâmetro, qualquer que seja a moeda.

O resultado disso foi o crescimento do nome, melhor ainda, da marca Chelsea, pois o time de estrelas, algumas inflacionadas, dirigido por José Mourinho, passou a ganhar jogos, ganhou títulos, conquistou espaço na mídia e na mente de muitas pessoas.

Ao ponto de crescer de quatro a cinco vezes nas pesquisas sobre torcidas realizadas na Europa, transformando-se na sétima maior torcida européia – ver o post de ontem, 27 de fevereiro – “Barça e Madrid – as maiores torcidas da Europa”.

Quatro a cinco vezes de crescimento em 5 anos...

Espantoso!

Mas...

Péra lá!

Terão tantos corações assim mudado de amor?

Coração? Amor?

Hummmmmmmmmm...

Tenho dúvidas. Minha pouca experiência mostra que as pessoas mudam de religião... Mudam de ideologia... Mudam de esposa ou esposo... Mudam até de sexo!

Mas, francamente, mudar de time? Não depois que a consciência do ser ganha forma. Uma criança ainda pode mudar de time e muda, nos dias de hoje, com alguma freqüência. Mas com mais de dez, onze anos de idade, o time do coração é algo imutável. Como na Europa não há tanta criança assim para justificar tão espantoso crescimento... (Aliás, faltam crianças na Europa, até para garantir o futuro.)

Então, possivelmente, não foi o número de torcedores do Chelsea que cresceu. Foi o que então? Que nome devemos dar a esse novo tipo de torcedor? O mesmo tipo de torcedor que fez a torcida do Real Madrid decrescer 11% nos mesmos 5 anos.

É torcedor mesmo? Torcedor-torcedor, como conhecemos?

É simpatizante?

Ou é, talvez, um consumidor apaixonado?

Apaixonado consumidor do espetáculo chamado Futebol e de todas as traquitanas e símbolos a ele acoplados: camisas, roupas, brinquedos, objetos de uso pessoal e muito mais.

Esse torcedor-consumidor – está difícil encontrar um termo para ele – vai aos campos, canta, agita bandeiras, veste a camisa. Identifica-se com aquele time que está em campo, faz parte da tribo, do clã, da turma Chelsea. Mas, possivelmente, trocará o Chelsea pelo Liverpool ou pelo Barcelona, com alguma facilidade, caso o time de Abramovich despenque, fique sem ganhar, perca seu charme vencedor, diminua sua presença na mídia e, consequentemente, fique menos exposto aos caprichos da mente.

Sim, a mente, essa volúvel, pois o coração, sabemos todos, desconhece o que seja volubilidade.

Será esse, também, o perfil do torcedor do futuro?

Já tinha esse post mais ou menos alinhavado quando li o comentário do Paulo Machado questionando justamente esse torcedor, ou “torcedor”. O Paulo vai mais longe e fala do piracicabano declarando-se “torcedor doente” do Manchester.

Pois é, difícil acreditar que esse torcedor seja mesmo um torcedor-torcedor, daqueles que, como diz o Paulo, “acompanham o time, conhecem sua história, seus ídolos etc.”

O que dizer, então, dos blaugranos ou que se dizem blaugranos? Torcer para o Barcelona é algo que transcende ao campo esportivo. Envereda pela nacionalidade catalã, pela história, pela rivalidade, às vezes guerra, entre Barcelona e Madrid, pela unificação da Espanha contra a vontade de vários de seus povos, passa pela Guerra Civil e pelas centenas de milhares de pessoas que nela pereceram, passa por uma visão de mundo e da vida.

Mesmo assim, o Barça tem 60% de sua torcida européia fora da Espanha, e o Real Madrid tem 50%, conforme outra pesquisa, essa da Sportfive, também disponível nesse Olhar Crônico Esportivo – clique na tag Pesquisa ou Ranking. Isso, Paulo, por sinal, responde ao seu questionamento sobre a torcida do Barça ser maior que a população espanhola.

Pesquisas podem estar erradas, seus números podem ser maiores ou menores que a realidade, mas uma coisa é incontestável: a receita desses clubes é gigantesca e vem crescendo num ritmo quase alucinante. O Chelsea pode não ter mais torcedores “de coração” que muitos outros times, mas têm muito mais consumidores apaixonados, que se não lhe dão a vida, dão dinheiro, retorno e visibilidade.

Sinal dos tempos.

E nós?

E o futebol da Terra de Vera Cruz?

Passaremos por algo semelhante?

Uma coisa é certa: entre a rapaziada mais jovem Milan, Barça, Madrid, Manchester, já são presenças fortes, figurinhas fáceis de serem encontradas por toda parte, desde um café da manhã entre amigos, quando um deles veste uma camiseta de grife Barcelona, até os corredores dos shoppings e motoristas aborrecidos no trânsito congestionado.

Fica a pergunta. Ficam muitas perguntas no ar.

Devagar, poderemos conversar sobre várias dessas questões.


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Que vergonha...


Gosto da Copa Libertadores.

Paixão antiga, começou no distante 74, quando o São Paulo ficou com o vice-campeonato. No decorrer desses anos vi inúmeros jogos por essa competição, muitos deles ao vivo, muitos de outros times que não o São Paulo. Acostumei-me, e me penitencio por isso, às cenas de pedradas, arbitragens inomináveis, pressões, lixo no gramado, violência em campo, etc.

Todavia, nos últimos anos a UEFA Champions League passou a fazer parte do nosso dia-a-dia. Hoje, chego a mudar reuniões e atividades para ter o final de tarde livre e assistir a algum confronto da Champions. Às vezes não vale a pena, mas geralmente vale, até porque escolho a dedo o que vou assistir. Gosto da organização, gosto do hino, gosto dos gramados e dos estádios, gosto até de alguns times. A Champions League, agora, é o meu parâmetro para competições continentais.

A Copa Santander Libertadores de América é uma competição continental. É transmitida para dezenas de países. Compactos dos jogos são apresentados em quase todos os países em que o futebol tem importância. A Libertadores é a cara de nossa Latino América, particularmente da América do Sul. Infelizmente, mostramos ao mundo e a nós mesmos, a nossa pior cara, a nossa cara mais feia e lamentável.

Uma cara que nos envergonha.

Em Medellín, na Colômbia, Jorge Wagner não conseguiu cobrar escanteio direito. Pedras e outros objetos foram atirados contra ele em todas as cobranças. Para poder fazer a jogada, policiais eram obrigados a postar-se atrás deles com os escudos erguidos. Tal e qual nos velhos filmes de Hollywood retratando as guerras de antes de Cristo. Quem vê essas cenas hoje, constata que nossa evolução é pífia ou inexistente.

Os jogadores reservas não puderam fazer aquecimento no local para isso destinado, devido às pedradas. Recolheram-se ao banco.

Lixo no gramado, nas proximidades de uma das áreas e em dois corners. Pilhas de papel atirados das arquibancadas, atrapalhando a imagem pela tv e atrapalhando os jogadores em campo.

Até quando, CONMEBOL?

Tudo isso repete-se ano após ano, e a Confederação nada faz para coibir e punir esses atentados à segurança, à beleza do jogo e ao fair-play preconizado pela FIFA.

Até quando, dona CONMEBOL, até quando?



Post scriptum


Muito melhor fariam os clubes brasileiros se deixassem de lado a picuinha com relação à disputa de jogos na altitude e concentrassem suas energias na resolução dessa verdadeira barbárie.

Pedradas podem afetar a segurança e a saúde dos atletas muito mais que jogar a 3.600 m acima do nível do mar.

Lixo no gramado atrapalha a cobrança de escanteio, jogada importante para o São Paulo, por exemplo.


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quarta-feira, fevereiro 27, 2008

Barça e Madrid, as maiores torcidas da Europa

Top 20 da Europa

SPORT+MARKT divulgou sua última pesquisa sobre torcidas de clubes de futebol na Europa. Foram ouvidos 9.600 torcedores em 16 países do continente, com media de 600 entrevistados por país. Feitas as projeções em cima do número estimado de torcedores (não sobre o contingente populacional total), o FC Barcelona alcançou o maior número de torcedores, com 50,3 milhões de adeptos (em homenagem aos amigos portugueses), seguido pelo Real Madrid com 45,9 milhões. Em seguida, Manchester United com 32,8 milhões e Arsenal com 22,9 milhões de torcedores na 3ª e 4ª posições.

Os clubes da Espanha têm um total de 103,5 milhões de torcedores, enquanto os ingleses atingem um total de 99.2 milhões de torcedores em toda a Europa. Os ingleses têm uma base doméstica maior, mas são largamente suplantados pela maior disseminação dos espanhóis por todo o continente.

Hartmut Zastrow, Diretor Executivo da SPORT+MARKT fez alguns comentários sobre os resultados do trabalho:

“Juntamente com o Chelsea FC, o FC Barcelona é o maior vencedor entre os Top European Clubs. Apesar de ainda ter um grande potencial de crescimento, as últimas cinco temporadas com insucessos do Real Madrid fizeram-no perder nada menos que 11% de torcedores, transformando-o no maior derrotado nessa competição.”

“Enquanto isso, o Chelsea aumentou sua base de torcedores em 5 vezes, mostrando claramente como o mercado de futebol se movimenta com extrema rapidez. Um clube pode crescer muito num prazo muito curto.”

“A Europa ainda oferece grandes possibilidades de crescimento para seus clubes. Eles poderão aumentar suas receitas em quatro ou cinco vezes nos próximos 20 anos, particularmente explorando novas mídias, além do fato de não estarem mais restritos às televisões nacionais. Entretanto, nas grandes ligas, o dinheiro da TV chegou ao limite, e crescimento, agora, só mesmo com as novas mídias, atingindo novos target groups.”

“Este é um mercado em crescimento e há mais 225 milhões de pessoas que são torcedoras de futebol, bem ao lado dos clubes, sobre as quais parece mais promissor concentrar a atenção aqui mesmo do que nos mercados do leste asiático, onde clubes ingleses, italianos e espanhóis, bem como suas ligas, já têm boa presença.”

A lista completa dos Top 20 da Europa:

Barcelona CF
Real Madrid
Manchester United
Arsenal London
AC Milan
FC Bayern Munich
Chelsea FC
Liverpool FC
Juventus Turin
Zenit St. Petersburg
FC Spartak Moscow
Inter Milan
Olympique Lyonnais
Olympique Marseille
ZSKA Moscow
Wis_a Kraków
Ajax Amsterdam
Galatasaray Istanbul
AS Roma
Werder Bremen

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terça-feira, fevereiro 26, 2008

Para pensar um pouco


Parte I – O sucesso de Joel Santana

O Flamengo venceu o primeiro turno do Campeonato Carioca e conquistou a Taça Guanabara. É uma disputa tradicional e de alto valor simbólico para os times cariocas, equivalendo quase à conquista do título.

Nas últimas semanas tive oportunidade de ler inúmeras críticas ao Joel Santana pelo fato dele estar escalando, basicamente, o time de 2007, deixando no banco as novas contratações. Alguns dos recém-contratados entraram em diversos jogos, mas geralmente saindo do banco. Tardelli chegou a ser titular e voltou para o banco.

Burro!

Essa foi uma das palavras usadas pelos rubronegros para expressar sua opinião sobre o treinador.

Burro?

Muito longe disso. Quisera eu ser 5% tão “burro” como ele. Joel é um treinador bem sucedido, fez história, ganhou títulos, ganhou dinheiro. É bem verdade que pouco brilhou fora do Rio de Janeiro, mas nem por isso deixa de ser menos importante ou bom técnico. E mantendo os novos contratados no banco ou até fora dele, Joel conduziu o Flamengo a mais uma conquista de título.

Ou seja, foi campeão com a base de 2007.

Parte II – Saídas & Chegadas

A janela de inverno foi cruel com os times de São Paulo e foi praticamente inexistente para os times do Rio de Janeiro. Saíram Breno, Leandro e Souza, do São Paulo, Eduardo Ratinho, Everton Santos e Zelão, do Corinthians, Caio, do Palmeiras, Maldonado e Marcos Aurélio, do Santos; do Rio de Janeiro, apenas Guilherme, do Vasco, foi para o exterior. Sem dúvida, não só pela quantidade, mas sobretudo pela qualidade dos jogadores, foi o São Paulo o time mais afetado nesse processo.

O bem sucedido “sistema defensivo” que esteve na raiz do sucesso do time em 2007 foi desmanchado, pois esse esquema começava ainda no ataque, passava pelo meio e terminava com a zaga e o goleiro.

Da mesma forma que muitos jogadores saíram, muitos outros voltaram. Flamengo, Palmeiras, Corinthians, Santos e o próprio São Paulo reforçaram-se com muitos nomes, assim como o Fluminense. Talvez o verbo reforçar seja prematuro nessa frase, e seja melhor substituí-lo por “trouxeram”. Sim, fica melhor, trouxeram é mais correto que reforçaram-se.

É sempre difícil trocar um jogador para os grandes clubes brasileiros. Isso ocorre porque o treinador não consegue obter o jogador que precisa, e tem que aceitar o jogador que o clube consegue contratar. Como diz Muricy Ramalho, um técnico de um time europeu de ponta fala para a direção que quer Fulano. E Fulano é contratado. Mesmo assim, escolhendo a dedo o jogador, muitas vezes há um longo período de adaptação e “encaixe”.

Aqui, se o treinador chegar para a direção e falar que quer Fulano, ouvirá risadas e nada mais. A menos, é claro, que o Fulano em questão seja apenas um fulaninho, sem nome, perdido na base ou em algum time de menor expressão. O normal, portanto, é que, salvo raríssimas exceções, fulaninho vai chegar e ser somente mais um no elenco.

Dessa forma, é difícil para o treinador brasileiro montar um time, é um trabalho demorado, tenso, exaustivo. Às vezes o famoso encaixe acontece mais cedo, como parece estar acontecendo agora com o Santos de Leão. Resta ver se é um encaixe de fato, ou se é apenas uma fase passageira de bons resultados.

Outras vezes, a troca é ainda maior e envolve o técnico. Como no caso do Santos, e também do Palmeiras e Corinthians. Nesses casos, mais que a remontagem de um time, temos uma alteração em toda a cadeia de comando, nos métodos e na filosofia de trabalho. Curiosamente, mudanças tão radicais trazem, às vezes, resultados mais rápidos, em parte porque há uma menor cobrança e uma menor expectativa imediata. Todo mundo – torcedor, dirigente, imprensa – entende que tanta mudança requer mais tempo para que tudo se encaixe e isso, consciente e inconscientemente, gera menos pressão e acelera o resultado. É o caso típico do Corinthians, auxiliado, paradoxalmente, pela queda para a segunda divisão. Um bom trabalho da direção conseguiu fazer a torcida acreditar no time para esse ano e não para já. De repente, o time começa a apresentar resultados já, imediatamente.

No Santos a história é diferente. O treinador que saiu deixou a equipe, literalmente, arrasada, com reflexos na estrutura do clube, resultado de uma visão míope da direção que acreditou fazer o correto ao entregar, literalmente, o clube nas mãos de um treinador. A par disso, o Santos vem de um período de conquistas e destaque, com dois títulos brasileiros em cinco anos e boas participações na Libertadores. Tudo isso gera uma pressão muito grande e imediata e ela reflete no desempenho dos jogadores. Emerson Leão radicalizou, como é de seu feitio, e mudou tudo. De certa forma, com essas medidas destruiu grandes expectativas imediatas e está reconstruindo uma nova expectativa, prometendo um novo time para o futuro. Bem ou mal, parece estar funcionando e ele já consegue respirar com certa facilidade.

O Palmeiras veio de um bom ano.

Tinha um bom treinador.

Tinha um bom elenco.

Nada disso, contudo, era o bastante. Há uma ânsia no Parque Antártica, agora chamado por todo mundo de Palestra Itália, por grandes feitos, grandes conquistas.

Até mesmo voltar a usar Palestra Itália denota essa vontade, pois o passado é glorioso e Palestra Itália está intimamente ligado às grandes conquistas.

Vanderlei Luxemburgo é parte disso tudo. Em suas mãos repousa o desejo palestrino de voltar a ganhar. Aposta perigosa, mas não é o tema desse post.

No campo, Luxemburgo recebeu vários e excelentes reforços. Perdeu somente Caio, mas nem se pode dizer que perdeu-o, já que não chegou a tê-lo como jogador. Mesmo assim, está sofrendo para formar o novo time. Maus resultados em seqüência, de repente um, dois, três bons resultados, e uma nova queda, e assim vai, como se estivesse numa gangorra. Em algum momento o time vai se acertar e começar a voar. Será, quase com certeza, muito tarde para algo mais concreto nesse Campeonato Paulista, mas será ótimo para a Copa do Brasil e para o Campeonato Brasileiro – pelo menos até julho.

Parte III - Ainda...

Esse advérbio foi a palavra mais usada na matéria do Estadão de hoje sobre o São Paulo, que embarca nessa manhã para Medellín.

“... o São Paulo ainda está devendo esse ano” – Presidente Juvenal Juvêncio.

“... o time ainda não jogou o que todos esperavam” – idem.

“Ainda mais na véspera de um torneio tão esperado” – do autor da matéria.

“Ainda não apresentamos um futebol convincente...” – Rogério Ceni.

Não está na matéria, mas Muricy Ramalho disse vários “ainda” em entrevistas.

“O time ainda não encaixou.”

“Ainda falta entrosamento.”

“Ainda faltam jogadores, pois há vários machucados, há suspensões...”

Ainda e não, duas palavrinhas que refletem uma situação curiosa: o bicampeão brasileiro parece à beira de uma crise de nervos sem motivo. Ou melhor, o motivo talvez esteja nessa frase de Rogério Ceni, também na matéria do Estadão:

“O erro foi aceitar o favoritismo que a imprensa colocou.”

Favoritismo não só da imprensa, Rogério, mas da grande massa torcedora e também de muita gente do mundo da bola. O campeão brasileiro sempre começa o ano como favorito, não há como fugir disso. E esse favoritismo gera uma forte pressão de fora para dentro e também, o que é mais pernicioso, uma forte pressão interna. Os próprios atletas cobram de si e dos companheiros, querem mais, querem voltar ao bem bom do jogar bem e ganhar tudo. Quanto mais pressão recebem e geram, mais difícil se torna dar resposta adequada, os erros se sucedem, uma coisa atropela a outra, um atropela o outro. Acontece na vida de todo mundo, basta prestar um pouco de atenção. Porque é simplesmente humano, é assim que somos e funcionamos.

E, com isso, termino por aqui.

Novamente, e não por coincidência:

Parabéns, Joel Santana.

Um treinador inteligente, embora muita gente goste de tratá-lo jocosamente.

Mas ele é um cara que sabe das coisas.

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domingo, fevereiro 24, 2008

103...




300 foram os bravos que protegeram Esparta do ataque das forças infinitamente superiores da Pérsia de Xerxes. Todos pereceram, mas as forças persas não chegaram até Esparta.

103 foram os bravos – o que? torcedores? amantes do futebol? abnegados? felizardos? – que foram ao velho e histórico Ulrico Mursa, para ver o jogo em que o Barueri derrotou o São Caetano por 6 gols a 1.

103 pagantes, numa tarde/noite de sábado, para ver um jogo entre dois bons times, com bons jogadores, os dois disputando a renhida Série B do Campeonato Brasileiro, isso num jogo válido por um campeonato disputadíssimo, como é o Paulista.

103 pessoas deixaram o conforto de suas casas e compraram ingresso para ver um espetáculo, ou o que deveria ser um espetáculo, mas que no Brasil nada mais é que uma partida de futebol, com tudo que isso implica, como desconforto, amolação para estacionar, ingresso caro pelo pouco que se oferece, etc, etc, etc.

103 torcedores é um número triste, mas tem lá suas explicações: nenhum dos dois times em campo é da simpática cidade litorânea; isso porque o Azulão não pode jogar no estádio de sua cidade, o Anacleto Campanella, ora em obras de correção de algumas coisas que não deveriam existir ou já deveriam ter sido corrigidas há muito tempo. A noite tinha lá suas ameaças meteorológicas, o que é sempre um bom motivo para ficar no sofazão. E, vamos e venhamos, pagar 40 reais é meio puxado para um jogo como esse. Além disso, os torcedores dos dois times que fossem até Santos, gastariam um bocado no deslocamento: gasolina ou álcool, pedágio, esses pequenos detalhes que não matam, mas aborrecem.

103 testemunhas viram Pedrão, do Barueri, marcar três gols.

103 testemunhas...

Eis algo para se meditar.

Em tempo: como vocês puderam ver, nada disso tem algo a ver com os 300 de Esparta.

Mas também, pudera, desde quando 103 pagantes tem algo a ver com alguma coisa?


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