Um Olhar Crônico Esportivo

Um espaço para textos e comentários sobre esportes.

<

sábado, março 15, 2008

Boladas & Caneladas do meio de março

Futebol Inglês: oito ou oitenta

Pela primeira vez na história da Champions League, quatro dos oito times da semifinal são do mesmo país: Manchester United, Arsenal, Liverpool e Chelsea. Uma demonstração à prova de tudo da força do futebol jogado pelos clubes da terra da Rainha, confirmando, para muitos, que a Premier League é o melhor campeonato de clubes do mundo. Pode ser...

Por outro lado, foram definidos os oito times para a semifinal da Copa da UEFA, e nenhum deles, simplesmente, é da terra da Rainha.

Isso quer dizer alguma coisa?

Ou nada?

Muita força no topo e muita fraqueza abaixo deles?

Em tempo: esse blogueiro torce pelo:

- Fenerbahce, de Diego Lugano e Alex.

- Roma, de Mancini, Tadei e Doni.

- Barcelona, de Ronaldinho e Henry.

- Arsenal, de Denílson.

Não necessariamente nessa ordem.



Taça das “bolinhas” de novo na ordem do dia

O torcedor são-paulino Gianpaulo Scaciota, 37 anos, entrou com nova ação na justiça – a segunda já – exigindo da CBF uma posição sobre a famosa taça.

Baseado no Estatuto do Torcedor, ele já tinha entrado com uma ação em novembro. Apesar de ter um mês para responder, a CBF não o fez (e, curiosamente, fica tudo por isso mesmo). Agora, verdadeiro espírito-de-porco (nada a ver com o Palmeiras, apesar do nome), como diria vovó, ele entra com nova ação.

Parabéns, Gianpaulo!

Gostaria de ter sua paciência e conhecimento (ele é advogado) para fazer o mesmo, ou seja, encher o saco da CBF.

E da FPF.

E do Congresso Nacional.

E da Câmara Municipal de São Paulo.

E do Senado da República.

E da Câmara dos Deputados.

E da Presidência da República.

E do Itamaraty.

E do Chávez...

E do Correa...

E...

Vixxi, melhor parar por aqui.



Quando quatrocentos mil é mais que um milhão

Essa parece ser a matemática da diretoria palmeirense.

Mandante do Choque-Rei de domingo, o Palmeiras não quis jogar no Morumbi e optou pelo estádio Santa Cruz, do Botafogo de Ribeirão Preto. Isso porque a Polícia Militar e o Ministério Público não querem mais clássicos no Parque Antártica, devido à sua localização e vias de acesso, que dificultam o controle e separação das torcidas, favorecendo encontros que têm resultado em brigas, correrias, ferimentos e prejuízos.

Com o Pacaembu em reformas, a alternativa seria jogar no Morumbi, palco de muitas conquistas alviverdes, da mesma forma que de muitas conquistas alvinegras, tanto do time do Parque São Jorge como do time da Vila Belmiro.

Mas isso nunca, deve ter raciocinado a direção palestrina. Melhor uma renda de 400.000 em Ribeirão que uma renda de 1 milhão no Morumbi.

Decisões como essa explicam porque em dezembro de 2007 o Palmeiras recebeu sete dos oito e meio milhões de reais do patrocínio da Fiat para esse ano. E porque recebeu, também em dezembro, a maior parte do patrocínio Adidas para 2008.

Mas pelo jeito os cofres devem estar abarrotados para abrir mão de pelo menos meio milhão de reais de bilheteria.

E ainda tem dirigente que reclama da Lei Pelé...

(A esse respeito, ver post com declarações de Sua Majestade a respeito.)



Chamem o Harry Potter!

“Aquele-que-não-pode-ser-nomeado” está solto.

É impressionante a quantidade de lesões que vem acometendo os jogadores dos principais times brasileiros.

Duvido, e muito, que a ausência de pré-temporada e a sanha das torcidas exigindo vitórias em torneios estaduais não esteja por trás disso. Ao lado, é claro, de “Você-sabe-quem”, ao que tudo indica.

Agora é Jadilson que sentiu o joelho e as coisas ficaram ainda mais feias para o Cruzeiro, que vai para Caracas com apenas 15 jogadores. No banco, estarão o goleiro e apenas 3 reservas. Dos 25 inscritos para a Libertadores, nada menos que 9 estão entregues ao Departamento Médico, em alguns casos com problemas que tomarão mais de 30 dias para recuperação.

Que coisa...

Tanta bruxaria tem que ser coisa de Lord Voldemort e, nesse caso, só recorrendo a Harry Potter e aos aurores do Ministério da Magia.



Jancarlos no São Paulo

Que disputa!

Que vitória!

Uma batalha repleta de lances ousados e altas apostas!

Essa é a idéia que alguém pode ter ao acompanhar o noticiário envolvendo a contratação do lateral Jancarlos pelo São Paulo. Segundo o noticiário, o Santos tinha interesse em sua contratação e o Corinthians estava com a negociação adiantada. Quanto ao interesse santista não há certeza, mas com o Corinthians sim, estava tudo se encaminhando para um acerto quando o time do Morumbi entrou na disputa.

E entrou via amizades. Aloísio e Dagoberto falaram com Jancarlos e abriram o caminho para a conversa entre o clube, o atleta e seu empresário.

Coisas do futebol, mas, sei lá, já vi disputas mais interessantes. A torcida Tricolor espera que Jancarlos justifique a batalha.



Sobrou pro Lulinha

(Que não se perca pelo nome.)

Terminado o jogo do Morumbi, Corinthians 2 x 2 Juventus, a torcida corintiana vaiou o garoto Lulinha. Irritada, com certeza, pelo empate, pelas oportunidades perdidas, pela liderança não alcançada do Paulista e, quem sabe, talvez até saindo do famoso G4. Então, tome vaia sobre um garoto de 17 anos, lançado na fogueira do BR 2007, entrando agora no time de Mano, cujo objetivo maior é o retorno à 1ª divisão do BR. Lulinha não tem corpo, não tem malícia, não tem força de um jogador adulto.

Nessa idade, há que ter muito, mas muito cuidado ao mandar um garoto assim de encontro às feras. Além de cuidados, é bom que não se descarregue muita pressão sobre ele. Melhor ainda que não se crie muita expectativa.

Fizeram tudo ao contrário e continuam fazendo.

As vaias são apenas o corolário dessa seqüência.

Mas o garoto é bom de bola e tem futuro.

Assim como o time do Corinthians treinado por Mano.



Para terminar...

“Vocês têm que procurar onde está o dinheiro!”

Sua Majestade, Pelé, Rei do Futebol.


.

Marcadores:

<

Mais Pelé...

Sobre Ronaldo

Ele acha difícil o retorno de Ronaldo ao futebol, pelo menos jogando em alto nível. Recordou que depois de sua contusão na Inter, esteve em sua casa e ali, com ele, Milena e outras pessoas, rezou por sua recuperação, mas agora, com mais idade, fica mais difícil perder o peso, readquirir a forma. E disse novamente: “Sim, pode voltar, mas em primeiro nível é difícil.”

Sobre 2014 e o Pan Americano

Perguntaram-lhe sobre a lisura nos tratos com a Copa 14 e ele disse que é muito cedo para falar alguma coisa, antes é preciso conhecer os nomes que comporão o Comitê Organizador. Mas espera que seja um processo diferente e não tenha os mesmos problemas (de lisura no trato com o dinheiro público) que aconteceram no Pan Americano realizado no Rio de Janeiro.

Arbitragens

Os juízes falham em todo o mundo, mas estão falhando demais no Brasil. Para Pelé, falta melhor preparo para nossos juízes. Mas não preparo físico e sim preparo psicológico, que permita a eles apitar bem, sem pressão ou sem sentirem a pressão.

Libertadores 2008

Prevê dificuldades para os times brasileiros que não têm conseguido manter jogadores por mais tempo, ao contrário dos times argentinos que mantêm sua base por mais tempo. Destacou, também, o crescimento dos times mexicanos. A esse respeito citou o Chivas que, segundo ele, dominou o Santos em plena Vila Belmiro a maior parte do jogo.

Contrato de produtividade

Acha válido quando feito como fez Luxemburgo em relação a Pedrinho ou motivando um jogador já veterano, com situação financeira definida, dessa forma preservando o clube de um investimento de risco elevado. Mas há controvérsias a respeito e o próprio Leão, citou como exemplo, tem dúvidas sobre a validade e utilidade desse tipo de contrato. Mas não pode ser feito com jogadores jovens, muito menos tornar-se prática comum, pois seria prejudicial aos jogadores.

Crise Brasil / Espanha

Perguntaram a Don Emilio Botín e a Pelé sobre a crise provocada pelo repatriamento de turistas brasileiros no aeroporto de Madrid e o troco brasileiro, fazendo o mesmo com turistas espanhóis em aeroportos brasileiros.

Don Emilio disse que era assunto que já estava sendo resolvido pelos ministros dos dois países.

Pelé, brincalhão, disse que ficou preocupado que as autoridades brasileiras não permitissem a entrada de Don Emilio e mandassem-no de volta para a Espanha.

Fecha.

:o)

.

Marcadores:

<

“Onde está o dinheiro?”

Pelé fala... Cartolas retrucam

Durante sua apresentação, o presidente mundial do Banco Santander disse que Pelé era um exemplo para “niños y jóvenes que quieren ser como tu”. Palavras difíceis de serem pronunciadas para a maioria dos profissionais de destaque no mundo esportivo, verdade seja dita (verdade contestada, curiosamente, apenas em dois países; ganha um doce o blogueiro que adivinhar quais são). Foi essa figura mítica que respondeu, com educação e toda a atenção, a uma verdadeira enxurrada de perguntas, tanto do palco como depois cercado pelo “muro móvel” citado em post anterior.


A primeira pergunta que provocou reações mais fortes de Pelé foi a respeito da saída que não aconteceu de Rodrigo Souto. Naturalmente, a pergunta encadeava a resposta (triste vício do jornalismo esportivo brasileiro) e esta tinha a ver com a atuação dos empresários no mundo do futebol e a lei que leva seu nome.

Pelé respondeu que os problemas, na verdade, começam com a administração dos clubes e, mais uma vez, explicou que a Lei Pelé foi muito mexida pelo Congresso Nacional, tendo uma redação final bastante diferente da original que saiu de seu gabinete. Ela previa, entre outras coisas, a profissionalização dos clubes de futebol, incluindo itens como prestação de contas anual (ainda hoje há problemas nessa área – nota do Editor). Se um clube pretende vender uma cadeira velha da piscina, é necessário haver uma autorização do Conselho Deliberativo. Entretanto, o mesmo clube vende (direitos federativos) um jogador no valor de muitos milhões sem nenhuma aprovação interna. Nada impede essse tipo de negócio.

Na mesma resposta, Pelé falou, também, que a falta de profissionalismo na gestão permite, ou facilita, a saída de jogadores jovens para o exterior e, nesse ponto, criticou a ação de empresários sem caráter, contando que, há dois anos, foi convidado para uma solenidade em memória de Yashin, o Aranha Negra, em Moscou, da qual participou também a viúva do antigo craque. E no Aeroporto de Moscou, ele e seu pessoal, encontraram dois jovens jogadores brasileiros ali abandonados, sem dinheiro, sem orientação, dormindo em bancos. Disse que providenciou o retorno dos dois jovens para o Brasil e casos como esse acontecem porque os clubes, em todos os níveis, não têm administração profissional. Citou o São Paulo como exemplo oposto, por ser bem administrado.

Pouco depois, o repórter Roberto Thomé perguntou-lhe sobre o êxodo de jovens para o exterior e que mudanças na Lei Pelé poderiam ser feitas para evitar isso. (No momento, por pressão dos clubes, o Ministério dos Esportes prepara uma proposta de mudança na lei no que diz respeito ao item conhecido como “proteção do clube formador” – nota do Editor.)

Segundo Pelé, e como defende esse Olhar Crônico Esportivo, não há como evitar a saída dos jovens por força de lei. Hoje, um clube europeu que quer determinado garoto, simplesmente leva toda sua família para fora e resolve a questão. E não há como impedir isso por ser inconstitucional. O direito de ir e vir é garantido pela Constituição (e é um dos Direitos Universais do ser humano – nota do Editor). Novamente, e demonstrando se não irritação, pelo menos uma ênfase muito maior, Pelé voltou a dizer que esse êxodo é fácil porque falta honestidade na administração dos clubes. E lançou uma pergunta:

- Por que ao invés de falar disso, vocês não perguntam onde está o dinheiro?

Com isso, referiu-se às muitas dezenas de milhões de dólares que entraram em clubes brasileiros e ali sumiram. Citou, nominalmente e com os valores:

- Flamengo: mais ou menos 80 milhões de dólares, lembrando que foi ele um dos que intermediaram o acordo entre a ISL e o clube;

- Vasco da Gama: 65 milhões de dólares do American Bank;

- Cruzeiro: 60 milhões de dólares;

- Grêmio: 38 milhões de dólares;

- Corinthians, que teve três parcerias...

E voltou à carga, repetindo que falta honestidade na administração dos clubes brasileiros, que é preciso profissionalizar a administração.

Repercussões

Era para ter escrito e publicado esse post ainda ontem, no calor dos acontecimentos, mas não consegui fazê-lo, por conta de atividades outras e também porque a Record pulou fora da licitação do Clube dos 13 como vocês já viram. Esse atraso, porém, permitiu a esse blogueiro tomar conhecimento da repercussão das palavras de Pelé.

Tomo aqui a liberdade de transcrever trechos publicados na edição de hoje da Folha de S.Paulo (não coloco o link porque o material só é acessível a assinantes):

Zezé Perrella, do Cruzeiro: "Pelé não pode falar do Cruzeiro. Se quiser saber alguma coisa, faça uma visita a Minas e venha ver o nosso CT. Nosso dinheiro da parceria foi auditado por duas empresas, e as contas, aprovadas", defendeu-se Perrella. "Parafraseando Romário, ele, calado, é um poeta."

Esse cartola foi mais longe ainda, além de citar a frase tola sobre ser ele um poeta quando calado: disse que é “bobagem” ele dizer que é inconstitucional fechar contratos com menores de 14 anos. Naturalmente, o cartola, que é deputado estadual (interessante isso, não?), desconhece o que seja um direito constitucional e o que seja o direito de ir e vir.

Eurico Miranda, do Vasco: "A lei foi feita para vender o futebol brasileiro", disse Eurico. "O negócio deles [Pelé] é fazer negócio. E briga com seu preposto quando a divisão do dinheiro não está certa [sobre desavença do ex-jogador com seu ex-sócio Hélio Viana]."

Kleber Leite, do Flamengo, não tentou tampar o sol com a peneira, totalmente: "A culpa [dos dirigentes pela evasão] é em parte. Há outros componentes, como a abertura de mercados. Há maus e bons dirigentes e empresários." Mas ele concordou com Pelé sobre a má gestão no clube durante a parceria com a ISL. Em função disso, o ex-presidente da época, Edmundo dos Santos Silva, sofreu impeachment.

Para esse blog, declarações como a do Perrella Zezé e Eurico Miranda, não surpreendem nem um pouco, pelo contrário. Perrella cita como fruto da parceria a Toca da Raposa, o moderno e excelente CT do Cruzeiro. Ora, dizer tal coisa é zombar com todos que têm uma noção ainda que mínima dos custos para se construir uma obra como aquela. Lembrando, o que é sempre bom, que naquela época o dólar era muito mais valorizado do que é hoje, no mínimo o dobro, descontando a inflação. Ou seja, trazendo para a nossa realidade econômica de 2008, o dinheiro que entrou no Cruzeiro foi de 200 milhões de reais para cima. Façam as contas para os outros clubes citados...

Apenas para efeito comparativo, qualquer blogueiro pode acessar os balanços do São Paulo e acompanhar os custos do CCT de Cotia, o mesmo cujo custo foi coberto várias vezes apenas com a venda do zagueiro Breno – meros 19 milhões de dólares, com o dólar valendo o que vale hoje.

Para esses dirigentes, sem a menor sombra de dúvida, Pelé é mesmo um poeta quando está calado.

.

Marcadores: , ,

<

sexta-feira, março 14, 2008

S.Excia., o Embaixador da Libertadores



O Rei agora é Embaixador, mas sem perder a majestade jamais.

A presença maciça de jornalistas de todos os tipos de mídia é a comprovação, como se fosse necessária, dessa verdade. Ao final da entrevista coletiva, um muro sólido e compacto ergue-se em torno do Rei do Futebol. Quando ele se movimenta, o “muro” movimenta-se junto, e só um garçom com muita presença de espírito e agilidade evitou o desastre que teria sido o choque do “muro” móvel com uma mesa onde mais de 200 copos e taças estavam arrumados, aguardando para serem usados. Mesmo de raspão, o choque levou algumas finas taças para o chão. O “muro”, impávido colosso, nada sentiu, nada percebeu, pois o “muro” é todo olhos e ouvidos para o Rei.

Rei do Futebol só existe um e um só, Pelé. Informação redundante, pois estou certo que todos já sabiam sobre quem eu falava.



Embaixador Santander

O Banco Santander apresentou hoje, em São Paulo, Pelé como seu Embaixador na Copa Santander Libertadores.

Seu carisma, aparentemente eterno, vai ajudar ao banco a consolidar sua marca por toda a América Latina, onde já é a maior instituição financeira na somatória dos países. No mundo, é o sétimo, mas como disse Don Emilio Botín, seu presidente mundial, já está brigando para vir a ser o maior banco do mundo. Em seu discurso, Pelé declarou-se pronto a lutar por isto, lembrando que só jogou em times campeões, para alegria dos muitos diretores do Santander presentes ao evento.

Gostei de ver isso: o presidente mundial de uma empresa do porte do Santander, acompanhado por meia dúzia de seus principais diretores, prestigiando um evento ligado à Copa Libertadores de América.

Sem dúvida, é mais que justo acrescentar-lhe o Santander.

O banco dá enorme importância à Copa, como esse blog destacou desde antes da assinatura do contrato de patrocínio, e isso é muito positivo para o torneio, portanto, para o futebol latinoamericano como um todo.

Cabe destacar que o Santander é um dos maiores empregadores dessa imensa região, com nada menos que 65.000 funcionários do México à Argentina, sem contar, ainda, com os milhares de funcionários do recém-adquirido Banco Real.

Emilio Botín destacou em suas palavras o prazer de vir ao Brasil num momento como esse, em que uma crise de porte ronda os grandes mercados mundiais, a começar pelos Estados Unidos, onde originou-se e ameaça crescer. Segundo ele, “venir al Brasil es una injeción de otimismo... y dinamismo”. Disse mais Don Emilio, que o Brasil “será o último país a ser afetado por uma crise, pois o Brasil hoje é uma fortaleza e está preparado” (para enfrentar turbulências externas). Suas palavras podem ser protocolares, mas não deixam de ser agradáveis, mesmo porque por mais protocolares que sejam, são verdadeiras em boa parte, talvez na totalidade, apesar dos muitos problemas que vivemos.

(Essa estabilidade econômica é parte da “herança maldita”... nota do Editor.)

E o futebol só tem a ganhar com economia estável e mais ainda com renda melhor distribuída.

Pelé falou sobre o futebol brasileiro, mas para suas palavras vou abrir um post exclusivo. O Rei merece.

.

Marcadores: , ,

<

Record fora


A Rede Record comunicou hoje que não vai participar da licitação pelos direitos de TV do Campeonato Brasileiro para o período 2009/2011.

O que levou a rede a essa decisão foi a decisão do Clube dos 13 de não separar os direitos para a TV aberta em dias e horários, viabilizando, assim, uma vitória da Record pelo menos em um ou dois dias. A rede queria, por exemplo, um jogo com sinal aberto na noite de quinta-feira, em horário diferente das noites de quarta (21:45). Ela sabia que a Globo jamais transmitiria futebol nesse dia da semana em pleno horário de seus carros-chefe de audiência, o Jornal Nacional e a novela das “oito”. Como o Clube dos 13 manteve o formato fechado, uma proposta única para todos os jogos para sinal aberto, a desistência foi a saída meio natural.

Outro ponto que desagradava em muito à Record era a cláusula de preferência da Globo, ou seja, ela tem o direito de igualar qualquer proposta maior. Não está claro se essa cláusula será mantida no novo contrato.

Ainda recentemente, um dirigente de um dos maiores clubes do país e interessado direto nessa questão, disse a esse blogueiro que a Globo era uma “beleza para se trabalhar”, era e é um parceiro extremamente confiável e que ano após ano o dinheiro do patrocínio é pago religiosamente em dia. Isso, para um dirigente, é motivo de alívio e tem um grande peso na balança.

Nunca foi dito nada a respeito, ao menos para esse blogueiro, mas para muitos dirigentes dos clubes a Record precisa provar ser confiável, tanto quanto o é a Rede Globo.



Proposta Globo

Segundo soube há pouco, a Rede Globo entregou sua proposta antes do anúncio oficial da Rede Record.

Isso pode significar alguma coisa?

Dificilmente. Graças à cláusula de preferência, a Globo deve ter entregue uma proposta com valores conservadores e em consonância com o que seus executivos vêm falando há tempos. Sem o peso da concorrência, fica difícil prever alguma coisa para os valores do sinal aberto. No caso do sinal fechado e PPV, esse Olhar Crônico Esportivo segue apostando em sua previsão de crescimento nos valores, audiência e número de assinantes.



Olhar Crônico Esportivo errou

E pede desculpas.

Contrariamente ao que foi postado anteriormente, o prazo para o novo contrato é de três anos e não apenas de um ano.

Essa era, de fato, a idéia inicial, mas não foi levada adiante no Clube dos 13.


.

Marcadores: ,

<

Ética ou liberdade?


“Não há moral, ética, nada”, disse o diretor da Federação Cubana de Futebol, Antonio Garcés, em relação à fuga de sete atletas da seleção cubana sub-23 que disputava o Pré-Olímpico em Tampa, na Florida.

Primeiro foram 5 atletas de uma só vez, incluindo o capitão da equipe. Depois de brilhante empate em 1x1 com a seleção americana, comemorado efusivamente na ilha (ainda) de Fidel, os jogadores, durante a madrugada, abandonaram o hotel. Na madrugada de ontem mais dois atletas fugiram e, comenta-se, ainda sem confirmação, que o mesmo fez um membro da comissão técnica cubana.

Com isso, o grupo de 18 atletas viu-se reduzido a 11, mas com um deles suspenso, Cuba entrou em campo para jogar contra Honduras com apenas 10 jogadores em campo e nenhum no banco. O jogo terminou em2x0 para Honduras, para alegria da delegação cubana que temia uma goleada retumbante e ainda mais desmoralizante.

A regra permite que uma equipe entre em campo com um mínimo de 7 jogadores – a mesma regra que já levou jogos ao final prematuro por conta de expulsões e contusões.

Os primeiros atletas a desertar estão negociando a ida para o Miami FC, que disputa a MLS – Major League Soccer e tem um grande contingente de torcedores cubanos em sua base.

Então, volta a pergunta: falta de ética ou desejo de liberdade?

A liberdade, para quem a tem, é algo vago, difuso, nunca considerado para nada na vida, afinal, como considerar algo “inexistente”?

A falta dela, todavia, é “existente”, é concreta, é dura, é pesada, é triste.

Ao ser humano, quase tudo é permitido na luta pela liberdade. Antigamente, tudo era permitido e aceito. Hoje, com atentados terroristas que matam inocentes, essa aceitação já é mais restrita, mas, certamente, a fuga de um regime ditatorial não é condenada. Exceto por aqueles que nada enxergam da realidade sem as lentes fortes da ideologia.

Já durante o Pan Americano, no Rio de Janeiro, três atletas e um treinador cubanos desertaram. Dois permaneceram no Brasil, já tinham tudo planejado. Dois atletas, porém, foram capturados pela Polícia Federal – mesmo sem nenhum crime ter sido cometido – e entregues ao governo cubano, que mandou um avião especialmente para levá-los de volta à ilha. Os atletas não tiveram tempo e apoio para pensar, para raciocinar sem pressões. Poucas vezes tive tanta vergonha do governo brasileiro como dessa feita. Negamos nossa história, para dizer o mínimo. Esse risco, pelo menos, os atletas que fugiram nos Estados Unidos não correrão.

Que sejam felizes no novo lar, em liberdade, ainda e sempre nosso bem mais precioso.

Pois não há agressão à ética nesse caso, há, tão somente, a fuga para a liberdade.

Mesmo porque, na visão do dirigente cubano, ético seria retornar à virtual prisão que é a ilha de Fidel e de Raul. E isso, convenhamos, nada tem de ético.


.

Marcadores: ,

<

quinta-feira, março 13, 2008

Entrando no terço final...

... do campeonato, três dos quatro grandes do futebol paulista ocupam a 2ª, 3ª e 4ª colocações. “Se” o Paulista terminasse hoje, o líder Guaratinguetá completaria o quarteto com o Trio de Ferro para a disputa do título.

Mas, há pouco mais de um mês, não era esse o cenário, longe disso. Sabem os leitores que esse Olhar Crônico Esportivo não dá muito valor aos campeonatos estaduais, principalmente quando tomam para si 23 datas de um calendário já apertado e, para os bons times, massacrante – sim, para os bons, porque eles jogam muito mais que os ruins e medíocres. Entretanto, eles existem e são disputados intensamente, movimentando paixões e gerando tensões logo no início da temporada, justamente quando elas são mais daninhas que motivadoras, com os times vindo de férias e seus atletas trabalhando para recuperar o ritmo de competição em sintonia diferente dos atletas de equipes menores. E foi tendo isso em mente que esse tema, o Campeonato Paulista, foi abordado várias vezes nesse Olhar Crônico Esportivo:

- “Cobranças prematuras” em 30 de janeiro;

- “Cobranças prematuras – Parte II” em 1º de fevereiro;

- “Amontoados de jogadores” em 7 de fevereiro;

- “Luz no fim do túnel ou só coincidência?” em 11 de fevereiro.

O tom geral nos posts era sempre o mesmo: as críticas e cobranças eram prematuras e exageradas. Nesse período de duas semanas coberto pelos posts mencionados, entre o final da 4ª rodada e da 8ª, as críticas ao desempenho das equipes avolumaram-se. Para os críticos, todos estavam mal, e talvez só um, o São Paulo, viesse a terminar a fase classificatória no G4, ressalvando-se, claro, que também ele vinha jogando mal, abaixo das expectativas, etc.

O Santos de Leão já era dado como rebaixado por muitos.

O Palmeiras de Luxemburgo sofreu três derrotas consecutivas.

O Corinthians de Mano só empatava.

O São Paulo de Muricy não convencia ninguém.

Desde então, vieram os jogos da Libertadores para Santos e São Paulo, a Copa do Brasil começou, mais rodadas foram disputadas, e hoje terminará a 14ª rodada, restando,então, somente cinco para o final da fase de classificação.

O Corinthians é o vice-líder, com o São Paulo em 3º, mas com mesmo número de pontos, e o Palmeiras é o 4º colocado, apenas um ponto atrás. O Santos está mais atrás, no meio da tabela, mas já não flerta com as últimas colocações e vem demonstrando um crescimento consistente no gramado.

E o que levou a isso, a essas mudanças de posições e humores?

Tempo e trabalho, simplesmente.

Tempo para os atletas irem adquirindo melhores condições físicas e para o treinador ter mais do que já era necessário: trabalho. Não há milagres.

Curiosamente, dos quatro grandes o que parece, ainda, em pior situação é justamente o São Paulo, o que sempre esteve melhor colocado que os demais, exceto nas duas últimas rodadas, talvez por ser a equipe mais cobrada e, não por coincidência, a mais afetada por contusões e suspensões, além de ter sido a que mais perdas de titulares sofreu na “janela de inverno”. Ao São Paulo talvez falte, hoje, paciência por parte de seus críticos.

Apesar disso, a vitória sobre o Barueri ontem à noite foi boa, menos pelo resultado e muito mais pelo futebol de Carlos Alberto, que jogou 90 minutos e mostrou que poderá ser importantíssimo para a equipe, e pela volta de Dagoberto em excelente forma, criando jogadas, indo para cima da boa defesa do Barueri com habilidade e velocidade. Ao lado deles, um Adriano brigador, disputando bolas, ajudando a equipe e sendo o personagem decisivo para que Borges marcasse os dois gols.

O Palmeiras, sem Valdivia e Diego Souza, virou um jogo dificílimo contra a então vice-líder, a Ponte Preta, em pleno Parque Antártica. Vitória convincente por 2x1, que deixou a torcida animada e confiante na presença no G 4.

O Corinthians venceu um jogo encruado em São José do Rio Preto, contra o Rio Preto que melhorou bastante nas últimas rodadas e deu muito trabalho ontem. O time de Mano parece já ter se “encaixado”, e evoluiu de forma muito consistente, um processo ainda em curso.

Essa, por sinal, é a tônica do Trio de Ferro e mais o Santos: são times em evolução, com muita coisa para melhorar, mas, o que é importante, com plenas condições de melhorar, pois todos eles têm atletas e estrutura para isso. Como estamos em meados de março, a menos de dois meses do início do Brasileiro, na metade da primeira fase da Copa Libertadores e entrando na terceira e última parte da fase classificatória do Paulista, essa, parece-me, é a situação ideal: times em evolução.

O ano promete.

Mas os críticos ainda não calaram de todo suas cornetas.


.

Marcadores: , , , ,

<

terça-feira, março 11, 2008

And the Oscar goes to...


Segunda-feira, 17 de março, 14:00 horas – na sala de reuniões do Clube dos 13 em São Paulo terá início a abertura dos envelopes com as propostas para a compra dos direitos de transmissão de televisão em sinal aberto, fechado e pay-per-view do Campeonato Brasileiro 2009.
A
oferta será válida apenas para o ano de 2009,contrariando a prática atual de assinar contratos válidos por três temporadas.

Outras mudanças importantes é que não mais haverá uma proposta única para os três segmentos - nesse ano, o Clube dos Treze modificou o processo e as propostas serão apresentadas, de forma independente, para os sinais aberto e fechado e para o PPV - e os direitos de transmissão serão comercializados apenas para o Brasil, pois a própria entidade está negociando a transmissão para outros países.

Os envelopes contendo as propostas deverão ser entregues até as 18:00 horas da próxima sexta-feira, dia 14.

Todas as redes e emissoras receberam convite do Clube dos 13 para a disputa, mas salvo algum terremoto de origem desconhecida, haverá competição de fato apenas pelos direitos para o sinal aberto, onde a Record continua interessada em penetrar.

Como acompanharam os leitores desse blog, muito se falou em valores, alguns até apoteóticos, que teriam sido propostos pela Rede Record. Meros balões de ensaio, porém, nada concreto, nada formalizado. Comenta-se que a rede ligada à IURD teria dito que pagaria um bilhão de reais por todos os direitos. Bom, para dizer o mínimo, esse é um número tão irreal que sequer vale a pena ser comentado. Pensando nos valores atuais do contrato, e acompanhando um pouco o mundo publicitário, vou atrever-me a uma previsão.

A tabela abaixo mostra a distribuição de valores pagos ao futebol pela televisão em 2007 e também para 2008, podendo haver mudança, a ser comentada, apenas no tocante ao item PPV.



Milhões Reais

% s/ total






Sinal aberto

180


58






Sinal fechado

40


13






PPV


90


29

Do total de 310 milhões que foram pagos em 2008, mais da metade – 58% – veio da TV por sinal aberto. A metade desse percentual – 29% – veio do PPV, a venda dos jogos para assinantes. Para as emissoras de sinal fechado, na verdade apenas o Sportv, ficou o pagamento da menor parcela, 13%.

Diante do grande crescimento da venda de assinaturas de TV, já em 13 de dezembro esse Olhar Crônico Esportivo estimava um bom crescimento na base do PPV, o que poderia elevar o valor repassado aos clubes ainda em 2008 para algo como 120 milhões de reais, um mais que robusto crescimento superior a 30%. Nesse caso, teríamos para 2008 o seguinte quadro:



Milhões Reais

% s/ total






Sinal aberto

180


53






Sinal fechado

40


12






PPV


120


35

Provavelmente, é a partir dessa base que teremos os números para 2009.

A partir de agora entramos no terreno movediço e traiçoeiro das previsões feitas mais pelo feeling que a partir de dados concretos. Pode chamar de chute, também.

A se confirmarem os números de crescimento previstos para a TV por Assinatura e as previsões feitas para o aumento na venda das assinaturas do futebol, teremos em 2009 valor próximo a 160 milhões de reais a ser pago pelo PPV, talvez até mais. Sabe-se que a possibilidade de ver o futebol sem restrições é hoje o maior impulsionador para o crescimento desse segmento.

No caso do sinal fechado, o Sportv também alavancará sua parte, baseado em maiores preços para o patrocínio das transmissões graças, também, ao crescimento da base de assinantes. Poderemos esperar, portanto, uma proposta entre 50 e 60 milhões de reais. O valor apresentado vai depender, fundamentalmente, da projeção dos preços de tabela para 2009, e isso é coisa que só deve ser conhecida pela cúpula da emissora.

Finalmente, a arena da grande briga, a disputa pelos direitos da TV aberta. Aqui, além de números de audiência e preços do segundo comercial, temos a importância do futebol para as grades de transmissão das emissoras. Esse produto é um grande fidelizador de audiência, cria um público cativo, tal como as novelas. Um público com grande poder de compra, grande potencial de consumo, grande poder de decisão, um público, em suma, extremamente atraente para as emissoras e que dificilmente é atingido na mesma intensidade por outros programas. Tê-lo nas mãos é fundamental para quem quer crescer ou para quem precisa manter-se no topo.

Se a Record não soltou mais o balão de ensaio bombástico de um bilhão de reais, em nenhum momento deixou de dizer com todas as letras que tem interesse na compra dos direitos de transmissão por sinal aberto. Considerando os valores que foram oferecidos na briga pelos principais campeonatos estaduais, principalmente o Paulista, quando sua oferta foi, praticamente, o dobro do que oferecia a Globo, arrisco uma previsão de pelo menos 300 milhões da Record apenas pelos direitos para a TV aberta. Um valor 66% maior do que o que é pago atualmente pela Globo. Não ficarei espantado, porém, se a oferta for de 320 ou mesmo 340 milhões, valores um tanto quanto temerários quando comparados ao que projetei inicialmente.

Dessa forma, caso essas previsões do Olhar Crônico Esportivo se confirmem, teríamos o seguinte quadro:



Milhões Reais

% s/ total






Sinal aberto

300


59






Sinal fechado

50


10






PPV


160


31

O total chegaria a pouco mais de meio bilhão de reais, valor bastante plausível na visão desse blog, e já apontado no post de 13 de dezembro de 2007.

Pode ser maior?

Sim, pode, mas dificilmente chegará a um número tão espantoso como 600 milhões de reais, não já. Tudo irá depender do apetite da Record e do crescimento da base de assinantes da TV paga.

Nem é preciso dizer que tudo isso depende da manutenção de um quadro econômico estável e sem nenhuma alteração de grande porte.

A Record vai levar?

Duvido. A Globo, por força de contrato, tem direito a igualar a maior oferta e levar tudo. Nas últimas semanas, os executivos da Rede vêm dizendo que a audiência não é mais o que era, que os custos estão altos, etc. Nada disso, naturalmente, foi dito por acaso. Há raciocínio e planejamento por trás dessas declarações. Nem que seja para reduzir um pouco o ímpeto da Record na formulação de sua proposta.

Os próximos dias prometem ser muito interessantes.

E mantenho minha aposta, a aposta desse blog: 2009 será um ano de grande impacto para o futebol brasileiro, graças à injeção de dinheiro de gente grande.

E tudo começará nessa segunda-feira, com a abertura dos envelopes.

Bem que podiam convidar o Billy Cristal (é antigo, mas é meu ídolo) e a Woopy Goldberg para abrir os envelopes em transmissão ao vivo e a cores.

And the Oscar goes to...

.

Marcadores: , ,

<

¿Qué pasa?


¿Qué sucede con San Pablo?

Tempos estranhos...

O aquecimento global é uma realidade, mas o verão teve cara e gosto de inverno brando, em janeiro e fevereiro.

Terroristas, narcotraficantes e seqüestradores ditam os rumos da política externa de vários estados independentes da América do Sul e muita gente acha normal.

O dólar despenca e o real sobe. Mais um pouco e será mais barato fazer shopping na Florida que no Iguatemi aqui da Faria Lima.

Aquele que é celebrado em prosa e verso de norte a sul, leste a oeste, como o melhor time e melhor clube do Brasil, é agora a “geni” da vez. Jogam pedras sobre tudo, nem o famoso REFFIS escapa, nem a decantada diretoria se livra dos petardos.

Como em “A vida de Brian”, muita gente que não deveria atirar pedras está atirando, usando as proverbiais e circenses barbas falsas que Monty Python consagrou.

O disfarce é inócuo e bobo como no filme, mas é usado para disfarçar a moral e não o rosto. É compreensível.

Torcedores, talvez enfastiados com o histórico recente de conquistas, são os primeiros a pegar os pedregulhos. Os que chegam atrasados valem-se dos não menos proverbiais camelôs, vendendo os projeteis em sacolas com doze e seus múltiplos. Ninguém quer perder a festa, o happening do Morumbi. No blog Jogo Aberto, meu amigo Lédio Carmona elegeu o São Paulo como a decepção desses primeiros... 70 dias de 2008, ou primeiros 62 dias da temporada Tricolor.

Senhores, senhoras, 62 dias de atividades, é a isso que se resume a temporada. Entretanto,nesse curto período, a equipe disputou 15 partidas – quinze. Não foi a única, bem sei, há outras com o mesmo número de jogos. Nessas 15 partidas em 53 dias, ou um jogo a cada três dias e meio, Muricy Ramalho não conseguiu repetir a mesma formação uma única vez. Nem para remédio. Foram 15 jogos com 15 formações diferentes.

O São Paulo foi o grande clube que mais perdeu jogadores titulares: nada menos que três, um em cada setor da equipe. O Palmeiras perdeu apenas um e o Flamengo nenhum jogador, por exemplo (o caso do Corinthians não se encaixa aqui). Essas perdas desmontaram não tanto o esquema tático, mas principalmente a fluência do jogo do São Paulo. E, tão ruim ou pior, quebraram o encaixe que tinha o time de 2007. Por causa de três saídas, várias posições e jogadores foram mudados.

Pesa nos resultados o fato do time disputar um estadual que é, sem dúvida, o mais difícil do Brasil, onde, das 20 equipes, 4 estão na Série A do Brasileiro, 7 na Série B e mais algumas na série C. Vale dizer que o líder da competição, o empresarial Guaratinguetá, preferiu não disputar a Série C para não perder dinheiro. Obviamente, o grau de dificuldade num campeonato como esse é muito maior do que o enfrentado por clubes grandes de outros estados, alguns com campanhas excelentes. Boa parte da gritaria recente deve-se à derrota para a Portuguesa. Aparentemente, as pessoas parecem ter esquecido que a Lusa subiu para a Série A com um time bem montado, ancorado em forte e eficiente sistema defensivo, muito bem dirigida por Vagner Benazzi. Uma derrota para esse time, numa fase da competição como essa, não é anormal, nada tem de extraordinária.

O jogo contra a Portuguesa foi o terceiro em sete dias, numa seqüência que pode ser ampliada para quatro jogos em quatorze dias, com três viagens no meio, sendo que duas delas ocuparam um dia inteiro, praticamente, cada uma. Meros detalhes sem importância, aparentemente, principalmente para quem tudo vê de fora, sem vivenciar o dia-a-dia do clube e dos atletas.

O atual elenco Tricolor é reduzido, conta com 26 atletas, incluindo os juniores promovidos. Desse total, nada menos que 9 jogadores estavam sem condições de jogo na noite de sábado, dos quais dois por suspensão e os demais por contusões. Com apenas 17 jogadores em condições, sobrou um lugar no banco de reservas.

O técnico Muricy Ramalho diz que o time está cansado e o Depto. Médico tem vários casos para trabalhar. O que acontece com o São Paulo do famoso REFFIS?

Comentei a respeito disso ainda ontem no blog do Marcelo Damato. Transcrevo minhas palavras e a sua resposta:

“Isso (o número de contusões e o cansaço) vem me intrigando nesse início de ano, início de temporada.

Não conversei com ninguém da área a respeito, embora tenha essa vontade, mas acredito que times desarrumados expõem os jogadores a maiores riscos de contusões.

Associado à desarrumação, temos a forte pressão externa que parece acompanhar o São Paulo, tanto ou mais que clubes sem a mesma taxa de sucessos.

Jogadores tensos, estressados, atuando sem o famoso “encaixe”, desgastam-se mais, ficam mais cansados e, uma coisa é certa, mesmo sem falar com especialistas: pessoas estressadas são mais sujeitas a lesões.”

E a resposta do Marcelo:

“...acho que você tocou num ponto importante. Jogar num time desarrumado, os próprios profissionais do São Paulo já me disseram, aumenta a chance de contusão, pelo aumento do esforço e pelo estresse.”

Agradeci ao Damato pela confirmação do que eu vinha pensando, baseado em conversas e leituras diversas de outras situações, mas com pontos de semelhança. Ainda ontem, um torcedor são-paulino fez uma comparação entre o mesmo período desse ano e o de 2005, mostrando que os jogadores de 2005 estavam, em sua maioria nessa mesma altura, com um número de jogos bem superior ao dos atuais titulares. Bom, eis aí uma verdade incontestável, mas que serve para provar a importância de um time entrosado. Quando o jogo flui, as jogadas acontecem, cada um sabe onde ficar e todos sabem onde cada um está, os resultados acontecem e o cansaço é menor. Sem tensão, a recuperação física é mais fácil e mais rápida, pois há necessidade apenas de descanso e repouso para a musculatura. O cérebro é poderoso e interfere com o corpo de formas diversas, algumas nem sequer compreendidas em toda sua extensão, ainda.

Ao mesmo tempo, avolumam-se as críticas a jogadores como Juninho e Joilson, além de Hugo e até Dagoberto.

Impaciência e insatisfação são os sentimentos na ordem do dia. Contra eles é difícil que qualquer argumento funcione. São os mesmos sentimentos que num tempo recente mandaram embora do Morumbi dois dos melhores jogadores que por lá passaram, Kaká e Luiz Fabiano. Outro vocábulo que começa com “in” tem lugar nessa análise: intolerância. Os três, por sinal, em algum momento podem até ser sinônimos, tão grande é a afinidade entre eles.

Na minha visão, modesta e de fora, o time não está jogando bem porque ainda não existe um time. O São Paulo 2008 não está pronto, está em fase de ajustes e testes. Não sei até quando vai essa fase, como também não sei se ela será o bastante para fazer a equipe avançar nas competições que disputa, principalmente a Copa Libertadores. O que sei é que vivemos um período semelhante em tudo ao vivido em 2007. Para o são-paulino, ficar mais um ano sem conquistar a Libertadores será um golpe terrível. A torcida parece ter-se acostumado a uma conquista que é extremamente difícil e que exige boas equipes. No momento, paradoxalmente, o São Paulo encontra dificuldades para montar uma boa equipe. Vários jogadores que eram pretendidos pelo clube assinaram com outros. A mesma política salarial e administrativa que foi e é a razão do sucesso do clube, contribui, nesse momento, para o não fortalecimento da equipe. Muito ruim a curto prazo, mas, sem dúvida, correto e bom a médio prazo, desde que a equipe existente consiga manter um bom nível de apresentações e de conquistas, como fez em 2006 e em 2007.

Na minha visão, portanto, nada há de errado com o São Paulo.

O que enxergo é uma coleção de “ins”: insatisfação, impaciência e intolerância.

Uma comandando e alimentando a outra, num ciclo vicioso.

Al San Pablo no le pasa nada.


.

Marcadores: , , ,