Golpe de morte no anti-doping
A absolvição pura e simples do jogador Dodô pelo STJD, depois de uma condenação unânime por 5 votos a 0 e sem nenhum fato novo que viesse a público e justificasse tal medida, parece-me um golpe duro demais no controle de dopagem esportiva no Brasil.
É uma medida que vai contra toda a prática internacional, onde a tendência, na verdade, é pela maior penalização, inclusive na esfera criminal, como já ocorre na Itália e alguns outros países europeus.
Essa medida é, também, uma prova da desmoralização e montagem casuística desse tribunal, no qual, dos nove auditores, nada menos que quatro são da mesma cidade, o Rio de Janeiro, e torcem para o mesmo time, o Botafogo. Mais: os mesmos quatro são considerados “homens” do presidente da CBF, o Sr. Ricardo Teixeira, do qual, por sinal, dois deles são advogados particulares.
Ao que tudo indica o atleta é inocente, e a substância proibida apareceu em seu organismo por meio da ingestão de produtos fornecidos pelo próprio clube, não só a ele como a todos os demais atletas. Isso, porém, aos olhos da legislação anti-doping não é relevante, fato que talvez venha a ser mudado, segundo o Dr. Eduardo de Rose em entrevista ao Estado de S.Paulo em 15 de julho desse ano, para penalidades mais brandas. Mas nada ainda foi mudado, portanto, a decisão do STJD fere toda a filosofia e legislação anti-dopante.
Nesse momento, tudo indica que o caso morrerá dessa forma. O problema, porém, é que um jogador atuou dopado num jogo do Campeonato Brasileiro. Pior: pelos depoimentos tomados e não contestados, o doping estava em produto farmacêutico fornecido pelo próprio clube, como já foi dito. Mesmo assim, todavia, tudo caminha para o arquivamento puro e simples, como se nada houvesse ocorrido.
Com isso, tudo ficará no ar, sem resposta.
Os outros jogadores também atuaram dopados?
Foi um acidente de manipulação?
Foi um fato isolado?
A farmácia de manipulação é a culpada?
O clube nunca se preocupou em analisar o que fornecia aos seus atletas?
Quem foi, afinal, o responsável pelo doping do atleta?
E como é possível que ninguém venha a pagar por isso?
Nem que seja por negligência?
Essas e muitas outras perguntas permanecerão sem resposta.
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Marcadores: BR e Futebol Tupiniquim
1 Comments:
At 10:29 PM, Anônimo said…
"Isso, porém, aos olhos da legislação anti-doping não é relevante".
Não sou especialista em legislação antidoping. Sequer a li. Mas, por tudo que sai publicado na imprensa, esta frase está equivocada.
Imaginemos que um louco entre de madrugada na concentração de um time de futebol portando uma seringa de femproporex. O louco, ao entrar no quarto de um jogador, que dormia, injeta a substância no atleta sem que ele perceba. No dia seguinte, o jogador atua dopado e é flagrado no exame antidoping. Investiga-se e descobre-se todo o ocorrido, sendo que o louco inclusive confessa o que fez. O jogador nunca soube de nada. Ele seria punido porque a substância estava em seu corpo? Sim! Segundo a legislação antidoping, a causa da droga lá estar não é relevante. Um grande equívoco. Não é nada disso. Não é isso que responsabilidade objetiva quer dizer. Após a condenação do Dodô repetiram diversas vezes: "a condenação é triste pq ele parece ser inocente, mas está na lei e deve ser cumprida." Uma tremenda bobagem. Não é isso que parece (já que nunca a li) estar escrito na norma, segundo o que se noticia.
E não considero a absolvição um golpe em nada. Se não fosse o laudo da USP, aparentemente verdadeiro, a condenação seria inevitável. O laudo comprovou o rompimento do nexo de causalidade entre condutas do atleta e o doping. Se não existisse, ou seja, se não houvessem encontrado uma razão crível para o dopping, o atleta seria condenado justamente, ainda que fosse inocente.
Injusto é proibir alguém de trabalhar por 120 dias sem ter culpa de nada.
Quanto à composição do Tribunal, realmente parece grotesca. Assim como tantas outras coisas no futebol brasileiro que muitos, inclusive a maior mídia que cobre o evento, prefere não denunciar. Com isso, os campeonatos perdem credibilidade, já que parecem jogo de cumpadres.
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