Esperando Dom Sebastião
(Vai parecer história e vai, mesmo, ter um pouco de história; prometo, porém, que haverá futebol nesse texto; não desanime, leia.)
Em 4 de agosto de 1578, próximo à cidade de Tanger, ocorreu a batalha de Alcácer Quibir. Comandando as forças portuguesas contra os mouros, Dom Sebastião, jovem rei de Portugal, encontrou a morte na luta. Ele mesmo herdeiro de um clã que definhava, não deixou um sucessor de seu sangue. Com sua morte, e por força de velho acordo matrimonial, a Espanha assenhoreou-se de Portugal e dominou o país por 40 anos.
O povo português demorou a aceitar a morte de seu monarca, e uma parte dele jamais aceitou-a como verdadeira, passando a acreditar que um dia ele retornaria das terras d’África, retomaria o trono e levaria o povo a uma era de felicidade. Isso acabou gerando uma seita, cujos seguidores eram chamados de sebastianistas. O sebastianismo contaminou todo o tecido social do reino e, por extensão, de sua maior colônia. Muitos historiadores e sociólogos vêem sinais dessa crença nos sertanejos que seguiram Antonio Conselheiro e em Canudos resistiram às forças republicanas. A eterna espera por um “salvador da pátria”, por sinal bem retratada por Dias Gomes, é também uma herança do sebastianismo.
E o futebol com isso?
Bom, o futebol...
Embora não tenha o ferramental e nem o estudo necessário para tal, atrevo-me aqui, no meu cantinho, a dizer que o sebastianismo impregna nosso mundo da bola. Estamos sempre a esperar pelo Técnico ou pelo Artilheiro, aquele ser que, sozinho, irá levar nosso time aos píncaros da glória, dar-nos-á conquistas e mais conquistas, títulos e mais títulos, independentemente de termos ou não uma administração séria, honesta, competente, de termos ou não uma boa estrutura para a prática do futebol em alto nível. Bobagens, tudo se resume a encontrar o Artilheiro, a encontrar o Técnico, o cara que vai marcar todos os gols, o cara que vai acertar todas as escalações, vai motivar, vai incendiar, os caras, enfim, que irão redimir todos nossos pecados e levar-nos ao mundo maravilhoso da felicidade fácil.
O mesmo sentimento, a mesma esperança ingênua embala nossos sonhos quando vemos a maquininha de votar no abrigo da caixa de papelão da Justiça Eleitoral. Ignoramos o parlamento, ignoramos os assessores, ignoramos tudo para acreditar no candidato-Artilheiro, no candidato-Técnico.
Esse negócio de se esforçar para melhorar, de construir uma boa base, sólida e confiável, e crescer a partir dela...
Ah, pára com isso, que papo mais chato.
Ok, vou parar, afinal, nada disso é o que todos querem ouvir ou ler, nada disso irá reforçar a crença e o sonho fácil que embalam tantos torcedores Brasil afora. Enquanto isso, continuemos procurando o Artilheiro ou o Técnico.
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Marcadores: Crônicas
1 Comments:
At 6:29 PM, Anônimo said…
Faz sentido. Ou talves a gente seja só preguiçoso mesmo. Brincadeira, mandou bem.
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