Um time possível
Assim é o Campeão Brasileiro de 2006, um time possível.
Quando o São Paulo venceu a Libertadores de 2005 escrevi o óbvio: era a vitória de um time comum, porém não no sentido que iguala comum a baixa qualidade, e sim no sentido de ser um time que não dispunha de um ou dois jogadores aquinhoados com benesses extraordinárias pelos deuses do futebol.
E mais que isso, mais que comum, era um time possível. Essa era e é a grande verdade sobre o time do São Paulo desde 2003, ano em que o Campeonato Brasileiro, finalmente, passou a ser disputado em pontos corridos, permitindo, simplesmente, a vitória do melhor time.
O São Paulo de hoje, como o do ano passado, exceção feita sempre a Rogério Ceni, é um time que poderia ter sido montado por qualquer outra das grandes equipes do futebol brasileiro. Pouco se gastou para montar esse elenco, pois há vários anos, o São Paulo, ao lado do Cruzeiro, entendeu perfeitamente as novas regras do jogo introduzidas pela Lei Pelé. O passe acabou, foi relegado à lata de lixo da história do futebol. Pode-se dizer, sem medo de exagero, que foi a libertação do jogador do jugo escravista que o passe carregava. E foi o sinal verde para a modernização das relações de trabalho no mundo da bola.
Mas, apenas em teoria qualquer um dos outros grandes clubes brasileiros poderia ter montado esse elenco, e isso por um motivo básico: é um elenco de manutenção cara. E que precisa ser mantido satisfeito, o que só se consegue com uma boa administração, que possibilite ao jogador preocupar-se apenas com o futebol, sabendo, como disse o Souza num programa de televisão, que no dia 30 de cada mês o dinheiro do salário estará na conta e o cheque passado não será devolvido. Essa é uma condição sine qua non para que um profissional, em qualquer área, possa desenvolver seu trabalho com o máximo rendimento. E se esse trabalho estiver sujeito aos humores da criatividade, da inspiração, da vontade maior ou menor, maior ainda é a necessidade de concentração e ausência de preocupações que desviem o foco.
Ora, pagar em dia é obrigação mínima de qualquer empresa ou pessoa que contrate o trabalho ou serviço de outro ou compre alguma coisa. No Brasil, todavia, essa obrigação mínima que sequer deveria ser mencionada por sua obviedade, é ainda um fator de diferenciação entre os clubes de futebol (outros esportes também). Sorte, então, do São Paulo. E de mais meia dúzia de equipes que conseguem manter seus compromissos dentro de sua capacidade financeira e têm bons times, em parte como conseqüência direta disso.
O time sem estrelas e sem gênios do São Paulo já ganhou muito e continuará ganhando, porque gênios da bola ou craques reconhecidos sem contestação, não aparecem toda hora. E quando aparecem correm a ser negociados com o exterior. Não concordo com a visão simplista e negativa de que todos os bons jogadores estão fora do Brasil. Essa é uma meia verdade, ou uma verdade três quartos, digamos. O Brasil e a América do Sul oferecem amplas possibilidades para a montagem de boas equipes. Depois de algum tempo, mesmo essas sofrerão desmanches parciais, pois é parte das regras do jogo, e desde que o mundo é mundo e o bicho homem descobriu o comércio, ele pula de galho em galho em busca das melhores condições para ganhar seu sustento e conquistar as benesses que a vida oferece a quem por elas pode pagar. Brigar e lamentar por conta disso a nada conduz. Essa é a realidade e a melhor maneira de seguir vivendo e prosperando é pensar e trabalhar em harmonia com ela, evitando dentro do possível suas desvantagens e aproveitando ao máximo tudo que ela pode oferecer como vantagens.
Nos próximos anos o São Paulo continuará no centro das grandes disputas, vencendo umas, perdendo outras. Mas sempre no centro, simplesmente porque está pensado, montado e preparado para isso. Simples assim.
São Paulo – o time possível – Campeão Brasileiro de 2006
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Marcadores: São Paulo
2 Comments:
At 10:03 AM, Anônimo said…
Belo texto, Emerson. ´Tá tudo dito aí, planejamento a longo e prazo e dinheiro em dia, dá sempre resultado.
Parabéns pelo títulomais do que merecido e um grande abraço.
Nos "vemos" pelo JA
Lecobom
At 11:14 AM, Huayna Tejo said…
grande texto
parabens
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