Um Olhar Crônico Esportivo

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segunda-feira, novembro 06, 2006

Malícia de Rei


(Aproveito até o título do post do Luiz Zanin, no blog Bate Pronto, do Estadão. Aproveito, copio uma parte e agradeço, e também ao Milton Neves – nessas “puxadas” do baú da memória o Milton é insuperável. Pena que na cobertura do dia-a-dia tenha enveredado por outros caminhos.)

“Ouço, no programa do Milton Neves na Rádio Bandeirantes, a gravação de uma partida entre Santos e São Paulo em 1974. Nela, um lance famoso. O São Paulo ganha por 1 a 0 e o Santos não consegue empatar. Já no finzinho do jogo, a bola sobra na mão do goleiro Valdir Perez. Bola dominada. Pelé, dentro da área, arregala os olhos e parte para cima do goleiro, como se ele tivesse largado a bola. O zagueiro Samuel, assustado com a presença do Rei e de costas para o goleiro, agarra Pelé e comete a falta, marcada pelo juiz Armando Marques. Pênalti que Brecha cobra e converte: 1 a 1, resultado final. O interessante é que Milton Neves reproduz as gravações da época e os jogadores do São Paulo elogiam a malícia de Pelé. Não o recriminam. Depois de repetir a gravação do jogo, Milton entrevista ao vivo o Valdir Perez de hoje, morando em Vitória, no Espírito Santo. Ele, que foi o goleiro da seleção de 1982, relembra o lance com humor e fala da capacidade inventiva única de Pelé, da sua inteligência capaz de tirar do nada um lance desses para decidir uma partida difícil. Novamente: nenhuma recriminação, só elogios à inteligência do adversário.

Eu me pergunto se hoje em dia, com a atual mania do politicamente correto, de falso moralismo que domina o país, um lance desses seria assimilado assim, numa boa. Ou o jogador que o cometesse não seria execrado como antiético, desleal ou coisa parecida? Não é só que o futebol já tenha sido bem melhor: já foi também mais divertido. E inteligente.”

(Do Blog BatePronto, postado em 5/11/2006.)

1974, ao lado de 75 e 76, foi um ano em que estive afastado do futebol, com minha vida dedicada quase totalmente à política.

A quase total ausência dos campos de futebol privou-me de bons jogos e campanhas do São Paulo, como na Libertadores de 74 e, possivelmente, desse clássico contra o Santos que o Milton recordou e o Zanin reproduziu. Só não foi uma ausência total porque “fugi” e consegui assistir a alguns jogos com outro companheiro. Podem dar risada, mas o pessoal da direção acreditava piamente que o futebol era o ópio do povo. E, só para complicar, respondíamos a uma companheira. Pior ainda...

Não lembro do tape desse jogo, mas lembro, vagamente, da repercussão do lance, mais pela gozação de um companheiro de militância política que era santista e eu chamava de “pelezista”, já que todo mundo era algum “ista”: comunista (todos), socialista, stalinista (ninguém assumia), trotskista (eu tinha sido, dizia que não era mais), maoista... e, pelezista, claro.

Bons tempos? Sinceramente, sou mais os tempos atuais, mesmo com... Deixa pra lá.

Mas do Pelé eu tenho saudades.

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