Lembranças de Interlagos
“Não fica aí parado pensando muito, não, porque de pensar morreu um burro.”
Minha avó, minha mãe, minhas tias, minha família toda, enfim, não eram nada politicamente corretas. Vai falar isso para um moleque dos tempos modernos...
Nem por isso deixei de pensar bastante, geralmente com parcos proveitos, mas pensei e não morri, sinal que burro não sou. Quem sabe um jumento, mas burro não.
E de tanto pensar, resolvi: não vou a Interlagos hoje.
O leitor mais atento já disparou a pergunta: Vai como, tem ingresso? Se tem, como é que não vai?
Não, não tenho ingresso, mas isso não chega a ser um grande problema. Vou ao GP Brasil desde o primeiro, ainda sem contar pontos para o campeonato, em 1972.
De lá para cá perdi a conta – mas ele é capaz de saber – de quantas vezes fui ver essa corrida, inclusive no Rio de Janeiro por duas vezes, uma delas a serviço, já que um cliente era um dos patrocinadores da equipe Williams, do insuportável Piquet e do simpático Keke. Durante muitos anos, eu e meu primo íamos a Interlagos com ingressos comprados antecipadamente, tudo bonitinho e tudo muito caro, afinal, vendem para 3 dias, mas quem consegue ir em todos eles? Até que num GP de um ano qualquer perdido no tempo, meu primo chegou de supetão, vindo de Marília, e intimou: vamos ver a corrida.
E os ingressos?
Ah, lá a gente se vira.
De fato, nos viramos e compramos de quem estava vendendo. Detalhe: chegamos meio tarde, quase dez da manhã, ao invés das oito da matina a que estávamos acostumados das outras vezes. Não só compramos o ingresso, como nada a mais pagamos por ele.
A história repetiu-se outras vezes, exceto nos anos em que ganhei entradas para setores tidos como privilegiados. Passamos a comprar ingressos na manhã de domingo. Que me lembre, uma única vez pagamos uns caraminguás a mais, pouca coisa. Por outro lado, outra descoberta assaz interessante: um dia chegamos às onze da manhã no autódromo, apavorados, certos que nada compraríamos.
Pois bem, não só compramos como pagamos mais barato.
Interlagos tem lá suas manhas, mas há, também, o risco de ficar a ver navios. Nunca tivemos problemas com ingressos falsos, mas já soube de gente que perdeu o dinheiro, não viu a corrida e ainda teve que gastar saliva explicando aos policiais de quem tinha comprado, onde, quando, essas coisas todas.
Voltando ao exercício de pensar, decidi-me: não irei ver esse GP Brasil, apesar do Felipe. Torcerei por ele do meu sofazão e tão logo termine a corrida vou pro Morumbi.
Até 2014
São 11:43 e fui interrompido pelo telefone.
- Ô f.d.p! V., b. (e outros adjetivos e nomes impublicáveis), como vai você, seu isso, seu aquilo?
- Beto?! Caraca, ondé que cê tá, seu f.d.p., seu isso, seu aquilo?
- Ué, onde que eu to? Adivinha!
- Putz, tá em Interlagos, claro!
- Eu tô, seu isso e seu aquilo, e você taí, seu bundão!
- Hahahahahahahahahaha
(Explicação: as carinhosas trocas de palavras entre nós dois só são possíveis entre pessoas que se gostam muito. Hehehehehehehe...)
- E aí, já comprou ingresso?
- Comprei nada, isso aqui tá uma putaria hoje.
- É mesmo? Como assim? Não tem ninguém vendendo ingresso?
- Ter tem, claro, mas os caras tão pedindo 600 paus pro “nosso” setor (G e H) que custa 370. Tão malucos. Mas eu consegui no setor E, que custa 1.990, por 800 reais. Se não abaixarem o preço do G eu vou comprar esse mesmo, eu e um amigo de Marília.
- Pô, tá bem de grana, hein?
- Bem nada, eu tô é f., mas você acha que eu venho todo ano e justo este eu ia perder?
- É, tá certo. Por que não ligou antes?
- Porque eu sabia que você não viria, seu...
(Começa a chover aqui na Granja Viana.)
Conversamos mais alguns minutos.
- Vai no Morumbi ver aquele time de frescos hoje?
- Claro que vou. Pena que o teu time não participa da 1ª Divisão, né?
- Qual dos dois, v.?
- Os dois, mano, os dois.
- Então eu vou no Morumbi com você, o meu amigo que veio comigo de Marília é bambi também.
- Ah, ótimo, assim você vai poder assistir um jogo de um time da 1ª divisão. Muito bom.
- Hahahahahahahahahaha...
- Vê se usa tua influência lá, Beto, o MAC não pode cair.
- Vai cair não, sossega.
Falamos mais um pouco e combinamos nos encontrarmos num bar perto do Morumbi.
O Muricy pediu, eu vou. E levarei junto mais dois, embora um deles torça pro time errado. Paciência, carrego essa cruz desde meus 4 anos de idade.
Hehehehehehehe...
Voltando a 2014
Desculpem a pausa, mas, sinceramente, não tinha como não colocá-la aqui.
Sobre 2014: ontem, Bernie Ecclestone e Gilberto Kassab assinaram o novo contrato para o GP Brasil dos próximos anos.
Interlagos será sua casa até 2014, o ano da Copa.
O GP é hoje, tomado como evento isolado, o mais importante de São Paulo. Acoplado como nesse ano à abertura do Salão do Automóvel, agita ainda mais a cidade. O Beto, por exemplo, veio pro GP e ficará pro Salão, voltando somente amanhã à noite para Marília. Conhecendo a figura, vai voltar na terça de madrugada.
A prefeitura investiu 30 milhões em obras para esse ano, inclusive um novo hospital, atendendo a pedido da FIA.
Mas é compensador. Não tenho os números exatos, agora, perdidos por algum canto da minha bagunça eterna, mas a cidade fatura mais de 200 milhões de reais com a realização do GP. O número de turistas que vem para assistir à prova é estimado em 60.000, gerando um grande movimento financeiro.
Além disso tudo, outro ponto importante: em 2007, ano sem Copa do Mundo, o GP Brasil foi o segundo evento ao vivo mais assistido em todo o mundo, perdendo apenas para o SuperBowl americano, também transmitido para todo o planeta. O terceiro maior evento em termos de audiência foi a final da Champions League.
Esse é outro ponto muito importante para a cidade, e sempre resulta em boa imagem, apesar das emissoras européias não abrirem mão da tradicional pauta da pobreza em meio à riqueza, etc, etc.
Então, é isso, até 2014.
Até lá, prometo, voltarei a Interlagos.
Quem sabe em 2009, para ver o Bi do são-paulino Felipe Massa?
Boa sorte, Felipe!
(Outra hora falarei sobre corridas, em particular meus ídolos Senna e Mansell.)
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Marcadores: F1
2 Comments:
At 9:43 AM, DERLY. said…
Pô deixou o seu amigo lhe chamar de bambi hem,eu também vou começar a chamar a partir de agora he he he e quanto a corrida,impressionante,que corridaço,é como voce fala,um evento de alto nível,o ingresso tem que ter um preço diferenciado mesmo,a informação que eu li na folha é de que 85.000 pessoas foram a sampa para os eventos citados e só em interlgados tinha cinco mil pessoas trabalhando,valeu,líder hem he he he.
At 1:11 PM, Anônimo said…
Olá Emerson, bacana esse seu blog. Vi que você foi a GP Brasil de 1972, será que você não teria o ingresso daquele ano perdido por aí? Se tiver, bate uma foto ou digitaliza e se possível me envia por e-mail, pois também adoro F-1 e aquele foi o primeiro GP no Brasil.
Grande abraço e Parabéns!
Meu e-mail: georgewosley@yahoo.com.br
George Wosley Nogueira
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