Mixto, um time de futebol do Brasil
Vamos falar de futebol brasileiro?
Futebol brasileiro, e não G5, ou G4, ou Clube dos 13 ou mesmo FBA.
Vamos? Ótimo, vamos lá.
Com uma semana tranqüila, o Corinthians foi disputar um amistoso em Cuiabá, contra o Mixto.
Amistoso? Ah, você esqueceu o que é. Bom, vamos lá: no linguajar do futebol, amistoso é o nome genérico dado a partidas que não envolvem a disputa de uma competição oficial. É uma forma do clube convidado ganhar algum dinheiro e também, dependendo da época do ano, testar e treinar a equipe. Jogos amistosos eram muito comuns no Brasil, antigamente, antes da CBF e das Federações se assenhorearem do calendário em sua totalidade.
Não é à toa que quase ninguém mais lembre o que seja um amistoso.
Voltando ao tema deste post, lá foi o Corinthians para um jogo sem televisão. Os jornais e sites pouco noticiaram, mas, alvíssaras, estamos na era da internet, e graças a ela e ao velho e confiável rádio, temos acesso a esse excelente post da Larissa Beppler, torcedora do Corinthians e responsável pelo blog Preto no Branco – recomendo a leitura, mesmo para quem não torce para o Corinthians. Transcrevo parte dele, assim como de comentário de um jornalista cuiabano e leitor da Larissa. A íntegra e demais comentários vocês podem ler no blog da Larissa, basta clicar ali atrás ou aqui.
“...os destaques da partida, surpreendentemente, não foram os jogadores alvinegros, mas os acontecimentos extra-campo. Pra não dizer que não houveram jogadores em destaque, Elias ex-lateral esquerdo do time de 1993 do Corinthians foi o homenageado da noite, mas só permaneceu em campo durante os 20 minutos iniciais e o meia Beto que era a novidade do time do Mixto, contratado especialmente para o amistoso. Beto que no intervalo do jogo, trocou a camisa com o lateral corinthiano Alessandro e depois acabou ficando sem uniforme. Dá pra acreditar?
Como se não bastasse a falta de estrutura do clube e a queda de iluminação no estádio, os jogadores mixtenses aproveitaram a repercussão da partida para protestarem contra os salários atrasados, no intervalo, ameaçaram não retornar para o gramado, caso não houvesse pagamento e foi preciso intervenção dos organizadores do evento para solucionar a situação. A Rádio Cultura noticiou que a diretoria do Mixto mal aparece pelo clube. É, a crise está grande nos times do Mato Grosso!
E teve até jogador chorando por não poder entrar em campo. Enquanto Mano Menezes aproveitou para trocar praticamente o time inteiro no decorrer do jogo, o técnico Fumanchu realizou apenas uma alteração, Elias por Ronny, que foi alvo da atenção do comandante corinthiano. E os jogadores do Mixto, sem chance de mostrar seus talentos na grande partida do ano, saíram decepcionados. O reserva Janse, visivelmente desapontado, reclamou: “É triste isso. A gente vem para cá com esperança, com o sonho de jogar contra um grande time, mas vê tudo isso destruído. Dá até vontade de parar.”
E como é triste ver qualquer clube brasileiro nessa situação. Não há dúvidas que o Mato Grosso tem capacidade de formar elencos competitivos, bem como qualquer outro estado do país. Assim como o Mixto já disputou a Série A no passado e o Operário (do Mato Grosso do Sul) já alcançou até a 3ª colocação no Campeonato Brasileiro. Basta que haja interesse dos gestores em administrar o clube corretamente, somando parcerias equilibradas, realizando um bom trabalho de marketing e se preocupando de fato com o clube, buscando atrair associados, renegociando o preço da mensalidade, etc. Não é difícil, mas precisa de gente trabalhando lá e não apenas realizando amistosos para constranger jogadores e torcida.”
Cuiabá apresenta o 37º maior IPC do Brasil (veja neste Olhar Crônico Esportivo o post “Cidades, IPCs e os clubes de futebol”, de 24 de setembro desse ano), o que a deixa em posição bem acima de Caxias do Sul, a 41ª, e São Caetano do Sul, a 91ª, ou, ainda, de Ipatinga, a 110ª no ranking brasileiro. O Mato Grosso desenvolveu-se de forma extraordinária nos últimos 25 anos – e isso falo de cátedra e boca cheia, pois desde 77 acompanho com razoável intimidade e presença o que se passa nesse estado, em todas as suas regiões. Sinceramente, não dá para usar o discurso batido, chato e ultrapassado da “falta de dinheiro”. Melhor assumir de vez a “falta de gestão”, sempre dizendo o mínimo, para não correr o risco de falar demais.
Bem a propósito, a Larissa teve um leitor e comentarista de primeira, o jornalista cuiabano Leonardo Miranda, que escreveu esse trecho em seu comentário: “Quanto ao que disseste sobre o futebol daqui, é realmente lamentável… os dirigentes locais ainda administram o futebol como na década de 70… é triste ver a tradição de times como Mixto, Operário e Dom Bosco se esfarelarem com o tempo…”
Ao fim e ao cabo voltamos ao mesmo ponto: gestão, administração, competência, seriedade, honestidade, inteligência.
Preocupado com o Cruzeiro x Grêmio de logo mais? Ou, quem sabe, com Palmeiras x Goiás? Talvez, como eu, ligado no Botafogo x São Paulo, no Engenhão? Ah, teu negócio é o Barradão e o encontro dos dois rubro-negros?
Opa, e temos ainda os novos torcedores, a turma que já não dá muita bola para o que rola por aqui, nem mesmo entre essa turma da elite, esse pessoal do Clube dos 13, G5, G4 e outros. É a turma que acompanha e torce por times d’além-mar. É, parece incrível, mas essa turma existe e está em viés de alta.
Ótimo, muito bom. Saiba, porém, que, mesmo que representem um grande percentual da torcida brasileira, esses jogos reúnem times que não representam o futebol brasileiro. Nesse ponto, o da representatividade, o Mixto é muito mais representativo de nossa realidade.
E acredite: há situações muito piores que a do time cuiabano.
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Marcadores: BR e Futebol Tupiniquim, Corinthians, Marketing e Dinheiro
2 Comments:
At 2:06 PM, Cookie said…
Obrigada pela menção ao blog e obviamente meu olhar se assemelha bastante ao seu nessa questão.
É lamentável que seja assim, mas reitero também as suas palavras.
Gostei muito do seu espaço, inclusive, tomei a liberdade de relaciona-lo no meu.
Abraços alvinegros!
At 3:22 PM, Saulo said…
Primeiramente, muito bom o seu blog.
Sobre esse jogo, o que mais me chamou atenção foi o velho problema da situação financeira que vive a maioria dos clubes brasileiros.
Não é só o Mixto que tem esse grave problema, mas sim vários outros clubes que passam por momentos ruins. Clube grande passa por isso também. É o caso do meu Botafogo.
Isso acontece por falta de profissionalismo no futebol. É pouca competência e muita corrupção. Eu sei que não é fácil administrar um clube de futebol, mas as maiorias dos dirigentes não sabem administrar um clube e acontecem esses problemas. É lamentável.
Valeu e até mais.
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