Um Olhar Crônico Esportivo

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quinta-feira, agosto 28, 2008

Duro e bom aprendizado

(Aviso aos navegantes: esse é um post sobre o São Paulo.)


Há muitos anos, no distante 1985, vi um time do São Paulo sair de campo eliminado de uma competição depois de um empate. Parte do time era de meninos, que sentiam ali, na pele, as agruras da vida adulta. Era o time de Muller, Silas, Sidney, que ao lado de Pita e Careca viria a dar muitas alegrias ao torcedor do São Paulo.

Ontem, uma cena parecida aconteceu. Num Morumbi vazio e meio gelado, um time com 7 garotos, com idades entre dezessete e vinte anos, não conseguiu vencer o Atlético Paranaense no tempo normal. A disputa foi para os pênaltis, o experiente Juninho viu o goleiro defender seu chute e o mesmo aconteceu com o garoto – pouco mais de dezessete anos – Oscar.

Deu para perceber que ele chorava depois de terminada as cobranças, aliás, não só ele. Vejo nessa manhã com cara de inverno que ele chorou copiosamente.

Bom, sem querer ser sádico, tudo que posso dizer é: Excelente!

Talvez por ser meio antigo, sou de opinião que as perdas e reveses forjam o caráter muito melhor que vitórias, em especial as falsas vitórias. Por isso é bom sentir, mesmo, o peso de uma derrota que não aconteceu como normalmente aconteceria. Por isso é bom sentir o peso de um jogo empatado que foi para a cobrança de pênaltis para, ali sim, o time ver-se derrotado pelo capricho, pelo azar, pela falta de pontaria, pela falta de experiência, pela tranqüilidade maior dos jogadores do outro time. Esse jogo, essa eliminação, da forma que ocorreu, pode ter sido muito mais marcante e muito mais instrutivo do que se Pedro Oldoni tivesse marcado um gol e o CAP tivesse vencido no tempo normal. O empate seguido pela cobrança de pênaltis e a eliminação doeu muito mais, machucou muito mais, até pelo gostinho de estar próximo para logo em seguida ficar inalcançável.

Oscar é um excelente jovem jogador, mas só o tempo, e ele mesmo, dirá se será um excelente, um grande jogador, quem sabe um craque na acepção da palavra, como muitos profissionais experientes antevêem dentro do São Paulo. E não se pode dizer que sejam pessoas ineptas ou inexperientes, pois são as mesmas que acompanharam Kaká e Denílson, entre muitos outros jovens nascidos na base do clube.

O menino Oscar não está sozinho. Sergio Motta, Juninho (Victor Junior), Henrique, Mazola, Wellington, entre outros, além de Aislan e Cazumba que já estrearam no ‘time de cima’, são promessas de bom futuro, de grande futuro.

Muitos torcedores e críticos ainda vão criticar a diretoria por essa decisão de inscrever os garotos na Copa Sul Americana, deixando os titulares propriamente ditos concentrados somente na disputa do Brasileiro, mas eu, particularmente, tenho plena convicção que essa foi a melhor decisão possível. A Copa Sul Americana, apesar do nome e propósitos pomposos, tem muito pouca importância. A rigor, ela leva do nada a lugar nenhum. Para um clube como o São Paulo, que já disputou a Libertadores, ela representa mais uma carga de jogos e viagens extenuantes. O time participa dela por sua condição de campeão brasileiro, mas não a valoriza, ao contrário dos argentinos, por exemplo, cujos grandes times fazem questão absoluta de disputá-la. Esse, por sinal, parece ser o maior entrave para que ela ocorra de forma simultânea com a Libertadores, como deveria acontecer e como acontece na Europa, onde a Champions League e a Copa da UEFA são disputadas ao mesmo tempo, por equipes diferentes. Com uma coisa boa: os clubes eliminados na primeira fase da Champions League, mas que alcançaram a terceira colocação em seus grupos, são encaminhados para a disputa da Copa da UEFA, já em sua fase eliminatória. Nesse caso, sim, trata-se de um prêmio. De consolação, é bem verdade, mas é um prêmio.

Financeiramente, a Sul Americana tem pouca atração, com uma cota de 75.000 dólares por jogo. Esse valor, que equivale a 120.000 reais, é muito baixo e as rendas não são compensadoras. Ontem, no Morumbi, pouco mais de três mil testemunhas, quero dizer, torcedores, deixaram 64.000 reais nas bilheterias. Esse valor, na prática, é o mesmo que zero, uma vez descontadas as despesas com o funcionamento noturno do estádio, as despesas com o jogo, as despesas com as taxas diversas: CONMEBOL, CBF, FPF e arbitragem. Só as três entidades ficam com 20% da renda bruta.

O raciocínio da direção do clube é simples: o São Paulo tem muito mais a ganhar concentrando-se na disputa do título brasileiro ou, em último caso, uma vaga na Libertadores de 2009. A leitura pode ser inversa, também: o São Paulo tem muito a perder dispendendo esforços para a disputa da Sul Americana.

Os dois jogos contra o CAP foram válidos. Os meninos ganharam seu batismo de fogo, amadureceram, cresceram. Os torcedores puderam vê-los em ação e os mais atentos terão notado que é muito cedo, ainda, para eles jogarem no time principal. Falta-lhes, mais que experiência, um físico mais desenvolvido, que lhes permita agüentar o ritmo e os trancos de um jogo entre equipes maduras da primeira divisão. Ontem à noite, já na metade do segundo tempo era visível que muitos estavam cansados, desgastados, até por não terem a experiência necessária para dosar as energias. Somente os craques ou as exceções encaram sem problemas os ‘times de cima’ logo de cara. O próprio São Paulo tem alguns exemplos recentes: Kaká, Alex Silva e Breno. O primeiro é craque, já nasceu craque, e mesmo com físico pouco desenvolvido em relação aos companheiros e, sobretudo, aos adversários, já estreou jogando muito bem. Os outros dois são jogadores privilegiados por uma constituição física muito forte, que aliada à boa técnica fez com que começassem a jogar na principal categoria do Brasil sem que sentissem grandes impactos. São, entretanto, exceções, e não a regra.

Do jogo de ontem, ficou o valioso aprendizado. Será importante no futuro.


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