Mudando o enquadramento
Mesmo uma atriz de primeiro escalão, super-cuidada e cheia de cuidados com sua pele, não grava uma mísera cena em plano aberto sem um bom e competente trabalho de maquiagem, tampando buracos, escondendo imperfeições diversas. Se a gravação pede um close, então, aí o trabalho do maquiador é exigido ao máximo. Mesmo assim, vez ou outra alguma coisa escapa e o ‘pau’ come na emissora ou produtora. Acaba sobrando para o maquiador, claro, embora nem sempre seja ele o culpado.
Entretanto, ao assistir a um programa esportivo ou a uma transmissão esportiva ao vivo, enxergo coisas que, francamente, preferia não ver.
Como profissional de vídeo e televisão, uma das coisas que mais detesto nesses programas é a imagem em super-close de entrevistados. Algumas chegam a ser repulsivas, pois quando o infeliz abre a boca pode-se perceber o estado de cada um de seus dentes, como se cada telespectador fosse o dentista do entrevistado. Outros, principalmente jogadores jovens ou nadadoras ‘saradonas’, enchem a tela com suas acnes em detalhe. Muito lamentável, para dizer o mínimo, se bem que já disse o que penso um pouco antes.
E por que esse festival de horrores?
Por que esse enquadramento radical e que contradiz todas as regras de enquadramento profissional?
Simples: evitar a exposição das marcas que aparecem no boné do entrevistado, em sua camisa, na parede à frente da qual ele é postado pelo pessoal da assessoria de imprensa de seu clube.
Entendo os cuidados das emissoras com essa situação, entendo mesmo. A emissora, no caso a Globo, paga uma fortuna pelos direitos de transmissão, que são patrocinados por empresas que pagam um bom dinheiro. Daí, depois de tudo isso, aparece o logo de outra empresa numa transmissão... Como disse, entendo a postura da emissora, mas, assim mesmo, não gosto de sua prática. Por motivos estéticos, sem dúvida, mas também porque os patrocinadores das equipes também são responsáveis pelo grande espetáculo do futebol. Os patrocínios permitem, ou deveriam permitir, que os clubes mantenham bons elencos e, dessa forma, melhorem o espetáculo que a televisão compra e vende para seus anunciantes, e passa para os telespectadores. Enxergo isso como uma grande corrente, onde um ajuda o outro que ajuda um que ajuda outro...
Mudança no enquadramento
Dentro do pacote de negociações envolvendo os direitos de transmissão para 2009, os clubes, através da Comissão de TV do Clube dos 13, e a Globo e GLOBOSAT, chegaram a um bom acordo sobre esse ponto. As emissoras – Globo, Sportv e canais Premiére – abrirão o ângulo de enquadramento de suas câmeras, atendendo a uma reivindicação bem antiga.
Ouvido pela Máquina do Esporte, José Carlos Brunoro disse: “Acho que não vai, necessariamente, inflar nada. Você vende sempre que está incluso uma visibilidade 'x', então já estava previsto. É que não estava entregando muito bem. É uma correção de rumo. Mas é lógico que o retorno maior pode gerar um aumento no valor das negociações”.
Entretanto, conversando com um amigo que trabalha na área de mídia em uma grande agência de propaganda, ouvi dele a mesma expectativa que eu tinha, ou seja, que essa medida vai facilitar, vai ‘azeitar’ as negociações e, talvez, até infle um pouco o mercado. Não que o Brunoro esteja errado, longe disso, mas na opinião desse profissional e na minha, vai impactar o mercado, mesmo. Talvez pouco, talvez muito, não dá para saber, mas irá aumentar o interesse pelo mercado de patrocínio.
Nas negociações entre a Comissão e a Globo, a emissora conseguiu maiores e melhores facilidades para seus profissionais, veículos e equipamentos nos estádios, assunto que sempre gera um bocado de dores-de-cabeça, em especial em jogos mais importantes, quando aumenta o número de câmeras e de profissionais. No todo, um simples detalhe, mas importante para quem trabalha, pois influi diretamente na qualidade das transmissões.
Minha impressão é que essa medida, que acabou passando meio despercebida no burburinho dos últimos dias, é a mais importante conquista dos clubes, fora, é claro, o aumento nos valores negociados e a distribuição da receita do pay-per-view de acordo com as preferências clubísticas dos compradores.
Impactos imediatos
A curto prazo, vários clubes irão se beneficiar diretamente dessa medida. Por exemplo, o Vasco da Gama, que tem um contrato de patrocínio de camisa de valor muito baixo, bem menor do que representa seu potencial de mercado. Apesar de declarações iniciais da nova direção no sentido de manter o patrocínio MRV para 2009 e até 2010, eu, particularmente, não aposto um tostão furado nessa decisão, principalmente depois da demissão de Marcus Duarte da gerência de marketing do clube de São Januário. Não que essa nova postura da emissora vá garantir um patrocínio, não custa repetir, mas vai, sim, dar maior poder ao clube na busca por um novo patrocinador com um valor mais adequado ao que representa o clube.
Já para o São Paulo e Corinthians, que estão em plena temporada de negociações para novos valores ou mesmo novos patrocínios, o enquadramento maior será apenas um ponto a mais no aumento de visibilidade proporcionado pelos clubes, já bastante grande. Embora não tenha o mesmo valor para uma empresa como a Petrobrás, também o Flamengo vai usar isso como argumento na briga anual por mais dinheiro. Olhando à distância, creio, porém, que essa medida é mais interessante e passível de levar a uma melhora na remuneração, para empresas preocupadas com o consumidor de forma mais direta, como LG e Medial, enquanto o patrocínio Petrobrás ao Flamengo tem um caráter mais institucional que mercadológico. Claro, posso estar enganado, afinal, essa é a minha opinião como observador externo.
Marcadores: Clube dos Treze, Marketing e Dinheiro, TV
2 Comments:
At 5:55 PM, DERLY. said…
Caramba emerson estou tão descrente
de programas esportivos que faz tempo
não vejo uma mesa redonda por exemplo
o que tenho visto mais é no domingo
o troca de passes do sportv para ver
os gols e melhores momentos da rodada
além dos resultados,tabela e lances
polêmicos,no mais tenho passado bati
do,abraços,ronaldo.
At 1:54 PM, DERLY. said…
FELIZ DIA DOS PAIS EMERSON APROVEITE
ABRAÇO RONALDO DERLY
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