Um Olhar Crônico Esportivo

Um espaço para textos e comentários sobre esportes.

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sábado, novembro 15, 2008

Botafogo sob nova direção – em breve




Acabei de assistir à entrevista feita pelo site GloboEsporte com o
Mauricio Assumpção, próximo presidente do Botafogo. Uma entrevista muito boa, em termos de conteúdo, e um programa muito bom, tecnicamente falando. Praticamente sem cenário, apenas o Mauricio e três entrevistadores, um deles o setorista do clube e outro o editor-chefe do site, o Gustavo Poli. Todo mundo educado, ninguém falando por cima do outro, e muito menos por cima do entrevistado. Como é bom simplesmente ouvir uma pessoa de cada vez!

Alguns comentários sobre a entrevista em si.

Não conheço o Mauricio, o pouco que sei é que é cirurgião-dentista e professor universitário. Isso já diz bastante, pois um professor universitário numa disciplina como a dele precisa ser profissional de respeito, com boa formação científica, ter uma mente organizada e expressar-se claramente. São boas características para um presidente de clube, desde que bem assessorado em áreas como finanças, controladoria e marketing, além, evidentemente, do futebol.

Outros pontos importantes: o Mauricio é novo, tanto na idade como no meio futebolístico. É cara nova, não é mais do mesmo de sempre, coisa tão comum na maioria absoluta de nossos clubes. Para mim, mais um ponto a favor. Não que isso seja por si uma qualidade, mas nada como mudar um pouco o cenário.

Ele tocou em alguns pontos realmente críticos e deu a eles a importância devida, na minha opinião.

Divisões de base: “se o Botafogo não montar uma boa base nos próximos anos, seu futuro estará ameaçado.” Colocação perfeita, visão correta do futuro. Mesmo clubes bem estruturados e com a vida financeira em ordem não podem prescindir de suas divisões de base. Juvenal Juvêncio, por exemplo, diz claramente que já a partir de 2010 quer o São Paulo formado em sua maior parte por jogadores saídos da base. Mauricio se preocupa, também, em blindar a receita para manter a base e, tão importante quanto, blindar os atletas nela em formação. Essa será, para ele, a tarefa mais importante de sua gestão e a de maior impacto para o futuro. O modelo como funcionará essa área ainda não está claro, ele e sua equipe trabalham nisso, podendo ter o Botafogo como único responsável, ou criando um fundo, o que talvez acelere e dê algum ganho mais rápido.

Realidade: o próximo presidente do clube não tem ilusões e sabe que precisará adequar-se à realidade. Apesar das dificuldades, ele acredita na montagem de uma boa equipe, e para isso aponta um fato que considero importante: “O Brasil tem muito jogador para ser descoberto” – uma grande verdade e nosso maior diferencial em relação ao resto do mundo. Esse é um assunto que, sozinho, renderia dias de discussão, mas gostei de ouvir essa opinião na boca do Maurício. O clube, inclusive seus companheiros de chapa que vão cuidar do futebol, já conversa com alguns jogadores visando sua manutenção no elenco, e também com o treinador Ney Franco. Embora delicado, um ponto é pacífico: a necessidade de reduzir a folha de pagamentos, principal despesa do orçamento de 2009. Isso significa a saída de vários atletas do atual elenco, como ele reconheceu. O clube vai se esforçar para manter alguns titulares, formando o embrião de um novo time.

Dinheiro: está curto e será um problema em 2009, pois o clube já antecipou praticamente todas as receitas do próximo ano, tal como este Olhar Crônico Esportivo vem dizendo a seus leitores – e isso, como também já foi dito aqui, não é exclusividade do Botafogo. Isso leva ao próximo ponto...

Marketing: entre os planos para 2009 está o fortalecimento da campanha “Botafogo no coração”, incrementar em todo o Brasil a captação de sócios-torcedores (pelo que pude deduzir, o clube criará mecanismos para que torcedores distantes do Rio de Janeiro também colaborem, sem ser por meio de doações) e promover vendas de ingressos, cadeiras e camarotes no Engenhão, ate reproduzindo, em parte, o que foi feito na volta à 1ª divisão, em 2004.

Engenhão:
o Mauricio sabe que o custo do estádio é alto, mesmo sem jogo algum. Ele entende que em 2010, com o Maracanã em obras, os clássicos terão que ser disputados no Engenhão, ou seja, e isso é dedução do blogueiro, se a polícia considera que há problemas de segurança, ela que dê um jeito de contornar os problemas e garanta a segurança dos torcedores em qualquer jogo, tal como já deveria ter feito para esse último confronto contra o Flamengo. Com mais jogos, o clube terá melhores receitas no estádio, como as indiretas, relacionadas com o movimento de pessoas consumindo produtos e, sobretudo, aumento nos valores de publicidade em função da maior exposição e visualização.

Dividas e Timemania: o Botafogo, como todos os demais clubes, está preocupado com os parcos resultados da Timemania até agora. O novo presidente, porém, sabe que qualquer ação nessa área só terá força se empreendida de forma coletiva. Para isso ele destacou o papel do Clube dos 13, onde os clubes estão discutindo o assunto e está se chegando a um consenso sobre a necessidade mudar a loteria e ampliar o prazo para que os clubes paguem suas dívidas.


Esses foram os principais pontos abordados.
Dos assuntos importantes na visão deste Olhar Crônico Esportivo, faltou perguntar sobre sua visão a respeito do Clube dos 13 e a posição do Botafogo em relação ao atual G4, ora em fase de crescimento para G5, onde ele participa ao lado do Corinthians, Flamengo, São Paulo e em breve o Atlético Paranaense, em oposição à atual gestão e estrutura do Clube dos 13.


Para quem quiser assistir na íntegra, clique aqui.


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Sofrimento II – Mais por vir

(Com post scriptum em 16/11)


$ofrimento II - Mais por vir



Carlos Alberto, jogador do
Botafogo, entrou na justiça com um pedido de desligamento do clube por falta de pagamento dos salários, atrasados há 3 meses, e também por falta do recolhimento do FGTS durante todo o tempo em que esteve vinculado ao clube – cerca de seis meses.

Como era temido, o Botafogo não conseguiu recursos para pagar seus compromissos correntes. Assim como outros clubes, ele estava recorrendo a empréstimos bancários dando como garantia as cotas de TV de 2009, devidamente avalizadas pela Globo, GLOBOSAT e Clube dos 13.

A esse respeito, este Olhar Crônico Esportivo alertou no post “$ofrimento”, em
10 de outubro:

“Segunda-feira (6 de outubro), o presidente do Botafogo, Bebeto de Freitas, prometeu pagar os salários atrasados (dois meses) dentro de 15 a 20 dias. Para isso, segundo as matérias jornalísticas, ele conta com um cenário mais calmo e definido na economia. Não entendi, pois, nesse período é exatamente isso que não teremos.”

E foi o que tivemos: um período confuso, complicado, sofrido e, pior ainda, um período que está longe de terminar.

Nos dias que se seguiram outras notícias deram conta de fatos diversos, todos eles com maior ou menor relação. No
Corinthians, por exemplo, descobriu-se que empresários estão recebendo maiores comissões que o normal nas negociações de jogadores. O presidente Andrés Sanches veio a público e não só confirmou, como explicou, curto e grosso, como costuma fazer:

“Se não faço isso, ele vende atleta de outro time.”

Essa resposta foi dada ao repórter da Folha de S.Paulo que questionou uma comissão maior para o empresário que negociou Zelão. O clube não podia correr o risco de ficar sem a venda do atleta, portanto, o presidente não hesitou e concordou em pagar uma comissão maior. A oposição chiou – é bom que o faça, é o papel da oposição – e muitos torcedores reclamaram, mas essa foi apenas mais uma dose de um remédio amargo, sem o qual o organismo ficaria pior.

Os salários no
Flamengo estavam atrasados e ainda estão, mas uma parte já foi paga. Também o Botafogo conseguiu pagar parte dos salários devidos. Este Olhar Crônico Esportivo não conseguiu a confirmação, mas aparentemente a Globo e GLOBOSAT entraram no circuito e adiantaram mais cotas de TV de 2009, que os clubes tentavam antecipar via empréstimos bancários, mas sem conseguir, devido ao virtual fechamento das carteiras de crédito dos bancos.

Informes vindos do
Parque Antártica dão conta de seguidos empréstimos feitos ao clube por conselheiros e diretores, para que os salários sejam mantidos em dia. Mesmo assim esse objetivo não foi alcançado e há, pelo que se sabe, atrasos nos pagamentos dos direitos de imagem, pelo menos.

Depois da brilhante partida contra o Vasco, já tem torcedor do
Atlético Mineiro sonhando com a transferência de Renan Oliveira para a Europa por alguma coisa como 15 milhões de euros, hoje quase 45 milhões de reais, o bastante para acertar a vida imediata do Galo.

Sonho de uma noite de primavera, tão somente. A situação na Europa está ruim e piorando, o que é assunto para o próximo post.



Pos scriptum - 16/11

Como disse acima, não tinha conseguido até a noite de sexta-feira a confirmação da ação da Globo, Globosat e Clube dos Treze para ajudar os clubes.
Mas o que este blogueiro não conseguiu, a Folha de S.Paulo conseguiu, conforme pode-se ler na coluna Painel, hoje:


"Água mole... A força-tarefa montada pelo Clube dos 13 e pela Globo para levantar dinheiro em bancos para os times mais endividados já rendeu ao menos um fruto. E o beneficiado foi um membro da oposição da entidade: o Botafogo, que pagou um mês de salários atrasados."


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quinta-feira, novembro 13, 2008

Rolando pelo mundo



O fator Obama


Tokyo e Madrid já estão preocupadas com o significado da vitória de Barack Obama para a candidatura de Chicago a sediar os Jogos Olímpicos de Verão de 2016 e seus Comitês Olímpicos já estão se mexendo freneticamente, principalmente o japonês.
Por aqui, o COB segue apostando na herança da infra-estrutura do Pan e na beleza natural da Baía da Guanabara e do Cristo Redentor.

Mas o fator Obama não se limita aos Jogos Olímpicos: um alto dirigente da FIFA declarou ao site Yahoo Sports que o recém-eleito presidente americano pode ser um fator decisivo para conquistar a indicação dos Estados Unidos como sede da Copa 2018 ou da Copa 2022. Esse temor é visível em Londres, onde a FA – Football Association – confirmou que a Inglaterra disputará a indicação para sediar a Copa do Mundo de 2018.

“Como ele pode não fazer a diferença?” disse o dirigente da FIFA ouvido pelo site. “Hoje, quando pensamos em Estados Unidos, não pensamos em Bush, não pensamos em guerra, mas pensamos neste homem, Obama, que fez história e trouxe esperança para milhões. Os homens que votarão na escolha do país-sede da Copa do Mundo não são imunes a esses sentimentos. Se os Estados Unidos apresentarem boa organização e infra-estrutura, então Obama poderá ser o fator decisivo.”

Enquanto isso, a US Soccer está se preparando e, segundo seu presidente, Sunil Gulati, apenas aguarda que a FIFA decida sobre as regras para as próximas Copas para anunciar a candidatura americana para 2018 e 2022.

Embora Barack Obama não mais vá estar no poder em qualquer uma das duas Copas pretendidas, mesmo se reeleito, a escolha será em 2011, durante seu primeiro mandato. Já é certa a visita de Joseph Blatter ao Presidente Obama, no próximo ano.


Na escolha do Brasil para 2014, embora com regras diferentes, em situação também muito distinta, o “fator Lula” pesou positivamente para a escolha do Brasil. Não se trata tanto de uma questão política, mas como disse o dirigente da entidade máxima do futebol, os homens que votam e decidem a escolha de uma sede são atingidos pelas mesmas ondas de simpatia ou antipatia, fé ou descrença, que os demais. O Presidente Lula, em que pesem desacertos em seu governo, tem excelente imagem internacional, associada a uma grande dose de boa vontade para com ele e, naturalmente, o Brasil.

Depois de décadas de visão negativa, não deixa de ser interessante ver os Estados Unidos da América ser o repositário de sentimentos de esperança e simpatia em todo o mundo.

É o fator Obama.



Copa conjunta Belgo-Holandesa?


Segundo a Reuters, as federações nacionais de futebol da Holanda e da Bélgica concordaram em disputar juntas a indicação para sede da Copa do Mundo de 2018.

A KNVB – Federação Holandesa de Futebo – informou à imprensa que onze cidades na Bélgica e na Holanda estão dispostas e prontas a sediar os jogos da Copa. Há cerca de um ano, os governos dos dois países disseram, formalmente, que tinham interesse em sediar a Copa 2018, permitindo assim o desenvolvimento de gestões junto às cidades em condições de participar do evento.

México, Espanha, China e Austrália também demonstraram, oficialmente ou não, interesse em sediar essa Copa, além da Inglaterra, Estados e Bélgica/Holanda.

É bom lembrarmos que a FIFA aboliu o velho sistema de rodízio de continentes e, recentemente, o Comitê Executivo da entidade adiou para dezembro a decisão sobre se a escolha para 2022 será feita simultaneamente com a de 2018.

Do jeito que os ingleses são malucos por futebol – mais de 8.000 torcedores em média para jogos da 4ª divisão – se uma das Copas for na Inglaterra não sobrará uma só entrada para ninguém de fora. É capaz que o Emirates Stadium fique lotado para um jogo como Coréia do Norte x Togo decidindo a lanterna de um dos grupos.



Samba e arco e flecha


Se o Rio de Janeiro for a cidade indicada para sediar os Jogos Olímpicos de 2016, as competições de arqueria serão realizadas no Sambódromo.

Tom Dilen, secretário-geral da FIFA - Federação Internacional de Tiro com Arco - visitou o local e disse que ele está de acordo com as normas da Federação e do COI, participando, também, de reuniões técnicas com membros do Comitê Rio 2016.

Aos jornalistas, Dilen disse que o local é muito bom, em boas condições e preenche totalmente as necessidades do esporte, além de ter excelente localização e acessos. Por fim, disse que “a idéia de misturar samba com esporte é fantástica.”

Essa, sem dúvida, foi uma excelente idéia do Comitê Olímpico Rio 2016.
Não só se aproveita uma obra de porte, já pronta, com poucas adaptações, eliminando a necessidade de gastar com instalações, como, ao mesmo tempo, junta-se um símbolo da cidade que irá correr mundo.



“Fly Emirates” até 2014 no PSG


A companhia aérea Emirates Airline renovou seu contrato de patrocínio com o Paris Saint-Germain até 2014, mantendo seu logo, que muitos confundem com o nome da própria companhia, em evidência em camisas que já foram de Raí e Ronaldinho.

A empresa já patrocina o clube desde 2005, e é a patrocinadora principal da camisa desde 2006. Além desse patrocínio, ela desenvolve várias ações de marketing e de naming rights no estádio Parc des Princes.


No evento em que o novo acordo foi anunciado, Boutros Boutros, Vice-Presidente de Mídia, Patrocínios e Eventos da companhia aérea fez o discurso normal dessas solenidades, dizendo que "... estamos vivendo tempos muito interessantes e animadores para o PSG e para a Emirates Airline, e que a empresa está satisfeita em manter-se unida ao clube e à sua enorme legião de torcedores."
Os valores do contrato não foram mencionados.

A Emirates é a principal patrocinadora, também, do Arsenal, cujo novo estádio tem o nome da empresa através do que é, hoje, o mais conhecido e reconhecido contrato de naming rights do mundo, o Emirates Stadium. Na Alemanha patrocina o Hamburgo, e na Itália iniciou agora uma relação com o Milan, através da presença em seu centro de treinamentos e no San Siro.

Com vôos que cobrem mais de 100 destinos em mais de 60 países, o patrocínio de times e eventos esportivos é parte vital da estratégia de crescimento e disseminação de sua marca por todo o mundo.

No Brasil, continuam insistentes os rumores de que a empresa seria uma das possíveis patrocinadoras do São Paulo para 2009.

A rota
São Paulo/Dubai vem operando diariamente com excelente nível de ocupação, e a empresa já conversou com a INFRAERO e membros da Secretaria de Transportes do Estado, pensando em usar Viracopos para esses vôos, utilizando o Airbus 380, o maior avião de passageiros do mundo. O aparelho precisa de pista mais longa para pousar e decolar, daí o interesse por Viracopos em lugar de Cumbica.

Além do Brasil, a rota com origem em São Paulo também atende a Buenos Aires.
Nenhuma informação foi divulgada sobre o valor do contrato.


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quarta-feira, novembro 12, 2008

Players globais – comentando os comentários




Luiz Henrique, toda a estrutura do nosso futebol é baseada em cartórios e nos acordos feitos pelos donos dos cartórios entre eles.

O que é uma federação se não um cartório?
O que é uma confederação se não um grande cartório central?

Nessa estrutura, pensada e consolidada no Estado Novo, não por acaso um regime de ideologia fascista, os clubes não têm poder, os torcedores menos ainda.
Donos de cartórios, ops, quero dizer, presidentes de federações ficam no poder por temporadas longas, a perder de vista. Não raramente, passam esses feudos de pai para filho ou, também, de sogro para genro, principalmente se este nomear o filho com o nome do sogrão, mantendo viva, dessa forma, o nome famoso.

Às federações interessa manter os estaduais, pois a base de votos de seus presidentes está nos times pequenos e estes sobrevivem, em boa parte, ou quase que exclusivamente, do dinheiro ganho nos estaduais da TV e nos jogos contra os grandes.
Se depender deles, os estaduais durariam doze meses, com jogo toda semana.
Isso faz parte de um certo comodismo brasileiro, essa coisa de “pequenos” quererem ser teúdos e manteúdos dos grandes...

Vai ser difícil termos players globais enquanto for mais importante jogar em Sorocaba, Bagé, Juiz de Fora ou Nova Friburgo, por exemplo, do que ver os grandes clubes jogando em Madrid, Amsterdam, Tóquio, Xangai, Milão, Londres...

Sobre o
México: a onda de crescimento pós-NAFTA teve um impacto positivo sobre a distribuição de renda mexicana, cujo PIB é hoje pouco menor que o brasileiro, para uma população que é, aproximadamente, a metade da nossa.
Isto refletiu nos clubes, muitos dos quais têm ótimas estruturas e vão consolidando sua importância no cenário das três Américas.

Eu acredito que já tivemos um bom desenvolvimento da
gestão em muitos clubes brasileiros desde a introdução e consolidação dos pontos corridos e o acesso/descenso de quatro equipes. A necessidade de profissionalizar a administração foi, ainda, reforçada pelo Estatuto do Torcedor e pela adesão à Timemania.
Estamos melhorando, ainda que, na média, a passo de tartaruga manca.

A
Globo não vai interferir nessa estrutura política do futebol brasileiro.
Existindo os torneios estaduais, ela vai brigar para transmiti-los e garantir audiência e fidelidade do espectador.


LBL, quanto à parte técnica, se por um lado concordo que os expoentes máximos de nosso futebol jogam em terras d’Europa, por outro discordo muito de quem diz que por aqui só joga o resto, o terceiro escalão de nossos jogadores.
Esses mesmos jogadores, transplantados para bem organizados times europeus, ganhando bem, com boas condições de trabalho e direções firmes, transformam-se em profissionais de primeira linha.
No momento em que tivermos mais clubes organizados, com boas receitas, com gestão profissional, inclusive no aspecto técnico, teremos elencos melhores.


Ronaldo, veja como são as coisas: até mesmo boa parte dos rubro-negros não gostaram da indicação do Marcelo de Lima Henrique. Estamos falando em players globais e a Confederação e sua Comissão de Arbitragem fazem uma barbaridade dessas. É longo o caminho à frente...


Fernando, paradoxalmente, Flamengo e Corinthians largariam bem atrás hoje numa hipotética corrida para se transformarem em players globais.
Isso em relação a São Paulo e Internacional, não só pelas conquistas recentes, mas também pela estrutura e visão de suas direções.

Potencialmente, entretanto, os dois clubes poderão ser
global players, desde que se estruturem de fato e não de discurso.

Você fala em Top 4 e eu tendo a concordar, mas em parte. Talvez não tenhamos quatro, talvez tenhamos mais de quatro. Talvez, e infelizmente, não venhamos a ter nenhum.
O açodamento da nova diretoria palmeirense foi ditado, em boa parte, por essa visão e pela realidade do futebol hoje, culminando com a necessidade de não deixar o São Paulo distanciar-se.
A nova direção vascaína também tem essa visão, mas de imediato não tem como correr atrás, não sem antes limpar o entulho deixado por Eurico Miranda.
A mesma coisa, diga-se, que vem fazendo o Corinthians em relação aos (muitos) anos de administração Dualib.

O desenvolvimento do Brasil e de seu futebol, levou à multiplicação de times de ponta, de grandes clubes. Essa é uma discussão que mereceria, sozinha, todo um seminário. São Paulo tem quatro grandes times (Santos incluído), o Rio de Janeiro também tem quatro, Porto Alegre e Belo Horizonte têm dois grandes cada uma.
Mas, temos mercados que suportem todas essas agremiações?

Londres, por exemplo, tem um grande time e alguns médios, como o Tottenham e, originalmente, o Chelsea, que só cresceu em virtude da quantidade brutal de dinheiro nele enterrada por Abramovich. Milão tem dois. Madrid, a rigor, tem um só grande clube, assim como Barcelona.

Muitas questões, muitas discussões, muitas possibilidades.

o
Crash de 2008 é um fator novo e complicador. Até 2010, 2011, talvez 2012, viveremos sob seus efeitos, cuja intensidade ainda desconhecemos. Minha crença em virmos a ter players globais permanece, mas demorará mais até chegarmos lá.

Os cartórios tupiniquins ganharam no Crash um aliado de peso, tão maléfico e inútil quanto eles.


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segunda-feira, novembro 10, 2008

Player global: teremos algum?



O Rodrigo, leitor deste Olhar Crônico Esportivo na bonita e aprazível Porto Velho (saudades de comer surubim no Caravelas), em Rondônia, enviou-me um e-mail muito interessante, do qual transcrevo um trecho:

“O ponto que gostaria de discutir com você é o seguinte: não me conformo com a pobreza técnica dos times brasileiros gerada por administrações, quando não calamitosas, perdulárias, inconseqüentes dos clubes, apenas abaixo do medíocre, deixando de aproveitar todo o potencial econômico que poderiam ser gerados por nossas agremiações.

O ano passado, li na Folha de São Paulo, caderno Dinheiro, uma entrevista de um executivo europeu ligado ao futebol. Não lembro o nome, mas acredito que seja o Peter Kenyon, ex-Manchester United, atual Chelsea. Na entrevista ele diz que ao menos um clube brasileiro, se bem gerido, deveria ser um player global, ou seja, um clube que disputasse os melhores jogadores do mundo em pé de igualdade com os clubes europeus.

O que você acha disso? Você realmente acredita nesta assertiva?”

Vamos começar pela questão de termos ou não um
global player.
Há um ano, em palestra no Brasil, o vice-presidente econômico do Barça, Ferran Soriano, disse a esse respeito:

Grandes marcas globais

A direção do Barcelona, assim como as dos demais, estou certo, trabalha com a previsão que o mundo comporta de 5 a 7 grandes marcas globais, clubes que vão dominar de forma decisiva o cenário do futebol mundial. Ele não listou os nomes, mas as probabilidades apontam para Real Madrid, Barcelona, Manchester United, Milan e Bayern Munich. Particularmente, não enxergo o Chelsea de Abramovich como parte desse clube ultra-seleto. Talvez a Juve, dificilmente Arsenal, Liverpool e Internazionale.
Infelizmente, e obviamente, ele não vê perspectiva para nenhum clube brasileiro ser sócio desse grupo. Aliás, em termos internacionais, ele destacou que o Boca Juniors, e também o River Plate, já são marcas globais. Não é difícil entender essa ausência, uma vez que nossos grandes clubes estão sempre disputando os torneios estaduais ao invés de excursionarem por Europa, Ásia e Norte América, a bordo de um calendário mundial, ponto que esse blog vem batendo frequentemente.”

(Esse trecho faz parte da quarta parte da cobertura da palestra de Ferran feita por este Olhar Crônico Esportivo e postada em 7 de dezembro de 2007.)

Há diferenças entre marca global e player global, mas para efeito prático coloco tudo junto.

Temos clubes que faturam mais que o Boca Juniors e muito mais que o River Plate, desconsiderando, naturalmente, as receitas com transferências de atletas. A economia paulista, tomada isoladamente, é pelo menos 1,5 vez maior que a economia argentina. Apesar disso, como destacou Ferran, Boca e River são marcas globais, mais próximas de se tornarem
global players que São Paulo, Flamengo e Corinthians, os clubes brasileiros de maiores receitas operacionais: TV, marketing, bilheteria, licensing. Outros clubes, como Internacional e Palmeiras, apresentam, em tese, melhores condições potenciais que um River, por exemplo.
O mesmo, provavelmente, com o Cruzeiro (cujas informações financeiras não foram obtidas, daí a ressalva).

O que, então, impede que o Brasil tenha um, dois, talvez até três
global players no mundo do futebol? Pelo menos três marcas globais?

A meu ver:

- Gestão dos clubes

- Gestão do calendário

- Maiores receitas


Dos três itens, o menos importante – sempre a meu ver – é justamente o terceiro.

O próprio Peter Kenyon (ou quem quer que tenha dado a entrevista que o Rodrigo cita) já menciona a questão-chave para termos um player global: “se bem gerido”.
Nossos clubes, de maneira geral, pecam por gestões atrasadas, perdulárias, corruptas (com certeza em muitos casos), absolutamente ineficientes.
Gestões que desprezam o torcedor e, por extensão, a renda que ele pode gerar para os clubes.
Gestões que de marketing conhecem apenas e tão somente o vocábulo.
Gestões que não buscam a união para cuidar de assuntos graves como a proteção ao licensing através do combate à pirataria.
A sorte dos clubes é que no quesito TV eles contam do outro lado com o profissionalismo da Globo, essa sim uma player global. Se melhorassem seus times e gestões, conseguiriam maiores audiências e mais dinheiro ainda da TV.
Gestão, a meu ver, é a palavra-chave que define o status do nosso futebol, e que não se encerra na gestão dos clubes, como abordo a seguir.

A gestão do calendário, em particular, e a gestão do futebol brasileiro como um todo, é atrasada. Nossos clubes têm que disputar torneios deficitários (exceto dois) que a nada levam e consomem, no caso paulista, 23 datas. Falo, é claro, dos estaduais.

A Confederação, que em tese deveria cuidar, proteger e fortalecer nosso futebol, que tem os clubes como base, preocupa-se, de forma quase exclusiva e obsessiva, com as seleções, as muitas seleções sub-alguma coisa e, sobretudo, a seleção principal, galinha fenomenal de ovos de ouro. Nosso futebol propriamente dito, esse pobre coitado que gerou os títulos mundiais, a fama e tudo o mais, fica jogado às moscas, fica entregue à sanha de dirigentes regionais que se perpetuam ad eternum no poder, eles próprios ou seus fechados grupos), e mexem seus pauzinhos de maneira a ter os grandes clubes como somente vacas leiteiras, cuja finalidade única é mantê-los abastecidos, gordos, luzidios, pelo brilhante, como gatos de estábulo que tanto leite gordo bebem que deixam os ratos tomarem conta das rações que deveriam alimentar as vacas que dão o leite que deixa-os gordos, felizes e preguiçosos.

Olhando para o que escrevi fiquei com vontade de cortar a torrente de adjetivos e imagens figuradas, mas, para que? Esse besteirol tem tudo a ver com essas pessoas que cuidam das federações e confederação, que jamais poderão ser chamadas de gestores. Melhor preservar essa palavra para quem faz algo pelo menos parecido com gestão.



Um player global tem que se mostrar ao mundo, este é o primeiro ponto. Nossos clubes, entretanto, e já abordei isso em um post intitulado “Bairrismo, o mal dos nossos clubes”, em 7 de fevereiro desse ano, são players paroquiais.

Temos times de paróquias.

Enquanto um Boca disputa um torneio de verão na Holanda ou Alemanha, engalfinhamo-nos na disputa do nosso Brasileiro. Porque as datas que deveriam ser utilizadas para enfrentar Real Madrid, Barcelona, Manchester e outros de igual porte e nome, em torneios na Europa, Ásia ou América do Norte, são usadas em vibrantes confrontos contra o XV de Campo Bom, o São Bento de Sorocaba, o Friburguense, o Ituiutaba...

Clubes de valor que, como os demais, merecem todo o respeito, mas que não podem ser privilegiados com a existência de campeonatos estaduais anacrônicos e, na quase totalidade, deficitários.

Então, Rodrigo, voltando às tuas perguntas, eu acredito que poderíamos ter, sim, um, dois, três
global players, desde que tivéssemos um futebol gerido com um mínimo de inteligência e preocupação com os clubes.
Desde que tivéssemos um calendário modificado e adaptado ao calendário europeu, que está se tornando um calendário mundial.
Desde que, acima de tudo, tivéssemos nos clubes boas administrações. A partir da introdução dos pontos corridos, em meio ao mar de lamentações que o sistema provocou, já começamos a perceber que há mudanças para melhor na administração dos clubes, inclusive entre os que vivem tomados pelos fantasmas de dívidas monstruosas. Isso é animador.


O Crash de 2008 veio complicar um bocado, ou melhor, irá complicar um bocado o fortalecimento dos clubes no aspecto financeiro. Tudo indica que teremos dois ou três anos de recessão, acompanhando o que irá ocorrer com a economia dos Estados Unidos e da Europa. Os fatores Obama e China poderão influir positivamente, mas não sabemos como e em que medida.
Fazer prognósticos hoje é tarefa mais difícil que o normal.


Há comentários que 2010 será o ano da mudança.

Aproveitando a realização da Copa do Mundo, a CBF mudaria o calendário do nosso futebol, adequando-o ao europeu. Isso por si só não bastará.
Será muito útil no sentido de termos o mesmo time disputando o BR praticamente do começo ao fim, o que hoje não ocorre devido à janela de verão (europeu), mas não será o bastante, a menos que se mexa nas datas destinadas aos torneios estaduais.
São eles que mantêm nossos clubes presos em suas paróquias, repetindo o que já expus.

‘Trocentas’ linhas depois, sequer falei do aspecto técnico e pouca importância dei à questão das receitas. Nesse último caso porque não considero nossas atuais receitas, em fase de crescimento, como o fator limitante. E no aspecto técnico eu não compartilho a opinião que temos um campeonato de baixo nível técnico, que só contamos com jogadores de 3º escalão, etc e tal. Apesar do êxodo anual, temos, sim, bons jogadores e bons times, que seriam ainda melhores e mais estáveis com boas gestões nos clubes.

O Peter Kenyon fala em ser um player globar e “disputar os melhores jogadores do mundo em pé de igualdade com os clubes europeus”. Tão cedo não disputaremos os melhores do mundo, e nem chega a ser o caso. Simplesmente não teríamos como pagar jogadores nessa faixa, em primeiro lugar. Em segundo, podemos, sim, ter clubes em posição de destaque no futebol mundial sem que, necessariamente, tenhamos o dinheiro suficiente para tirar Kaká do Milan ou Cristiano Ronaldo do Manchester.

É o que eu penso. Por favor, fique à vontade para contestar, você e os demais, claro.


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domingo, novembro 09, 2008

Timemania II – Agora é pra valer – Será?

Desde o começo este Olhar Crônico Esportivo tomou posição a favor da Timemania. Mais que isto, criticou a ingerência arrecadatícia da Receita, modificando de tal forma a proposta original que acabou por contribuir, em muito, para o fracasso da, vamos chamar assim doravante, Timemania I.

Desde sua origem, essa loteria foi pensada como um projeto para ajudar os clubes a se manterem operacionais e, sobretudo, financeira e legalmente saudáveis, pagando seus impostos de forma corrente como deve ser feito por qualquer empresa e qualquer cidadão. Da forma como estava a maioria dos clubes brasileiros, principalmente metade ou mais dos doze maiores, era apenas questão de tempo medido em meses para que essas entidades fechassem as portas por absoluta incapacidade de sobrevivência.

Naturalmente, atraiu críticas pesadas e até mesmo justas, uma vez que os clubes não deveriam ser ajudados, a menos que o mesmo fosse estendido a todos, cidadãos e empresas. Mas, sejamos realistas: como lidar com a extinção pura e simples de um clube com milhões de torcedores, com história, com raízes na cultura popular?
Uma lista dos clubes mais tradicionais do Brasil mostraria, e mostra, no mínimo 5 grandes clubes de projeção nacional nessa situação. Não por acaso e muito menos por terrorismo, o próprio presidente de um deles, o Sr. Marcio Braga, mais de uma vez declarou que seu clube estava, a rigor, insolvente.

A culpa por isso é do Estado brasileiro? Do torcedor brasileiro?

Não. A culpa é do próprio clube através de seus dirigentes, culpa acumulada ao longo de inúmeras administrações, história que pode ser transplantada sem mudar uma vírgula do Flamengo para o Vasco para o Fluminense para o Botafogo para o Atlético Mineiro para a Portuguesa de Desportos para...

Não por acaso, também, os presidentes Marcio Braga e Bebeto de Freitas empenharam-se a fundo para a aprovação da Timemania I, trabalhando tanto junto a autoridades do poder executivo como no Congresso Nacional, em especial na Câmara dos Deputados.

Futebol é paixão na sua forma mais pura e não compreensível pela razão. Essa paixão foi, em parte, a causadora dos débitos, associada, disso não tenho dúvidas, a gestões fraudulentas ou, no mínimo, imorais ou amorais. Sendo realista, uma vez mais, não ajuda a ninguém remexer o passado nesse momento e fazer uma grande caça às bruxas rapinantes que o povoaram. Ou melhor, é até bom que haja a caça não às bruxas, mas sim aos corruptos e ladrões que desviaram dinheiro de clubes. Essa, porém, é tarefa para autoridades policiais devidamente municiadas por documentos de auditorias dos clubes. Contudo, duvido muito que algum deles tenha tanta vontade assim de remexer o passado.


O fracasso


A Timemania I fracassou porque os torcedores não viraram apostadores. Os que já apostavam, não migraram suas apostas de outras loterias para a Timemania.

Por que?

Na opinião deste blogueiro, pelo custo e pelos prêmios minguados, raramente saindo em valores dignos de registro midiático. Nessa manhã de domingo, por exemplo, as páginas de abertura de portais de notícias dizem-me, em letras garrafais, que a sena está acumulada em 18 milhões de reais. Ora, isso motiva muito o apostador, até porque motiva a mídia a fazer a abordagem – vamos e venhamos, é uma dinheirama. Tal fato nunca ocorreu nesses, incluindo o de hoje, 37 testes.

Os técnicos da Caixa estimavam, antes do lançamento, um movimento de 500 milhões de reais no primeiro ano, dos quais os clubes repassariam diretamente para os cofres da Receita 110 milhões de reais. Dessa forma, havia um horizonte muito razoável de eliminar o estoque das dívidas – 1,5 bilhão de reais, pelos cálculos feitos no início desse ano – em menos de vinte anos.

Hoje, contudo, a previsão para o primeiro ano, a encerrar em fevereiro, é de somente 124 milhões arrecadados. Desse valor, pouco mais de 27 milhões serão repassados à Receita para amortização das dívidas dos clubes. Os razoáveis vinte anos transformaram-se em quase um século.

Ou transformar-se-iam, pois o acordo feito para a aprovação da loteria estipulou que os clubes pagariam suas dívidas nos vinte anos estimados, que viraram ponto de contrato e de lei. Que prevê o pagamento mensal pelo próprio clube da diferença entre o valor arrecadado pela loteria e o valor da parcela ideal a ser paga.

Trocando em miúdos: peguemos um clube que deve 120 milhões de reais. Esse valor, dividido em 240 parcelas mensais, implica num pagamento de 500 mil reais todo mês. Digamos que a loteria cubra somente um quinto – 20% – desse número, o que dá 100 mil reais. A diferença para o valor da parcela, 400 mil reais, tem que ser paga pelo clube, todo mês, chova ou faça sol. Prevendo um primeiro ano de movimento mais baixo, o acordo permitiu aos clubes pagarem apenas 50 mil reais mensais, no máximo, como amortização da diferença entre o arrecadado e o que deveria ser pago. Essa facilidade, entretanto, termina em 28 de fevereiro próximo. A partir de março todos os clubes deverão bancar a diferença integral entre o arrecadado pela loteria e o valor da parcela da dívida faturada em 240 meses.

Trocando em mais miúdos: os clubes não agüentarão, pura e simplesmente. Isso vale para todos com dívidas elevadas, principalmente, mas afetará a quase totalidade dos 80 participantes.


A perspectiva que se desenha


Clubes com débitos fiscais – IR, INSS, FGTS e outros – são inscritos na Dívida da União e apontados como inadimplentes. Isso significa que sempre que precisarem efetuar uma operação financeira, seus nomes aparecerão no certificado negativo de débitos fiscais exigido por lei, como inadimplentes. Dessa forma, não terão acesso às operações bancárias.

Esse é, entretanto, o menor dos males a médio e longo prazo, pois as dívidas são cobradas, mesmo que isso demore, e essa cobrança dá-se por meio da penhora de bens para leilão ou do bloqueio e seqüestro de valores depositados em bancos, além das próprias rendas de jogos.

Não tem jeito. Todos, cidadão ou empresa, estão sujeitos à mesma lei, que é dura e é aplicada diariamente por todo o país, sem choro nem vela, e sem ajudas de loterias.

Voltamos à paixão. A idéia inicial era, e continua sendo, fazer com que o torcedor responsabilize-se pelo pagamento da dívida de seu clube, por sua livre e espontânea adesão através das apostas. A contrapartida dos clubes a esse ato de generosidade repetido toda semana, seria a de se profissionalizarem, melhorarem suas administrações, cumprirem fielmente todo o receituário fiscal, mantendo-se, dessa forma, não só operacionais como saudáveis aos olhos da legislação. O governo e parte do Parlamento queriam que os clubes se transformassem em empresas como condição
sine qua non para se associarem à Timemania. Essa vontade foi derrubada. Curiosamente, tenho a impressão que os clubes fizeram mais lobby para derrubar essa medida do que para garantirem condições mais realistas de pagamento. A CBF também fez parte desse lobby, não podemos esquecer.

Com esse fracasso, a tendência é os clubes, em especial os mais endividados, simplesmente não conseguirem pagar mais nada e afundarem de vez. Porque, e isso é importante, o acordo da Timemania prevê, também, o pagamento correto e integral de todas as obrigações fiscais, todo mês. O não pagamento por três meses seguidos tira, automaticamente, o clube do acordo.

De fato, em especial no Brasil, não é tarefa fácil pagar os impostos, mas eles têm que ser pagos e muita gente faz isso. Para começo de conversa, todo assalariado, religiosamente, todo santo mês, vê uma parcela razoável de seu salário tomar o caminho dos cofres governamentais. O mesmo faz, todo mês, a maioria das empresas brasileiras. Tudo se resume a ter uma boa administração, no mínimo. Seriedade e honestidade, com boa fiscalização dos conselhos dos clubes, também são coisas óbvias e minimamente necessárias.


O futuro – Timemania II?


Diante desse cenário, já há intensa movimentação de dirigentes de clubes e da própria Caixa, buscando medidas para, por um lado, tornarem a loteria mais atraente ao apostador, e de outro, que permitam aos clubes manter-se operacionais e com possibilidades de realizarem operações financeiras.

O que eu enxergo, particularmente, é que é interessante, sim, à sociedade, manter nossos clubes vivos. Nem vou entrar em arrazoado sobre a importância social, cultural, histórica, sociológica e outras mais dessas entidades. Vou me ater a algo mais prosaico: investir contra eles com a força da lei, implicará, simplesmente, no fechamento de muitos, sem que a Receita receba nada sequer razoável em troca das dívidas imensas.

Mantê-los vivos, saudáveis, aptos a se comportarem como empresas, significa, em primeiro lugar, a manutenção de pagamentos em dia de suas contribuições correntes, coisa que, lembrem-se, simplesmente não existia e agora existe, para a maioria dos devedores. Esse é o ponto realmente importante, e que deve ser perseguido e mantido.

O segundo ponto é o pagamento da dívida.
Abusando da paciência de quem lê essas mal digitadas, e correndo o risco de ser mal compreendido, a grande verdade é que a quase totalidade dessa dívida de 1,5 bilhão levantada há um ano, já era dada como perdida. Sabia-se que jamais seria paga.
Ao criar a Timemania, esse pagamento foi viabilizado. Nesse momento, se isso vai ocorrer em vinte, trinta ou cinqüenta anos, sinceramente, não é relevante.
O que realmente importa é que as contribuições correntes sejam pagas e que as passadas, acumuladas, também o sejam dentro das possibilidades de cada um, porque não é do interesse de ninguém, muito menos da sociedade, que clubes sejam extintos.

Que um novo acordo exija mais dos clubes.
Que de fato se profissionalizem.
Que se transformem em empresas.
Que seus dirigentes sejam de fato punidos pecuniariamente, por desvios e faltas.

Que se mantenha, em resumo, esse privilégio concedido aos clubes e somente a eles. Odioso, como todo privilégio, injusto com o conjunto da sociedade, principalmente as empresas.

Mas, que diabos, a vida é feita de exceções, também, e se há uma exceção que merece ser tratada com carinho, é o futebol.

Mas, com toda franqueza, que a lei seja dura e muito rápida com quem descumpri-la. Porque há limites para tudo na vida, inclusive para os clubes e seus dirigentes.


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