Botafogo sob nova direção – em breve
Acabei de assistir à entrevista feita pelo site GloboEsporte com o Mauricio Assumpção, próximo presidente do Botafogo. Uma entrevista muito boa, em termos de conteúdo, e um programa muito bom, tecnicamente falando. Praticamente sem cenário, apenas o Mauricio e três entrevistadores, um deles o setorista do clube e outro o editor-chefe do site, o Gustavo Poli. Todo mundo educado, ninguém falando por cima do outro, e muito menos por cima do entrevistado. Como é bom simplesmente ouvir uma pessoa de cada vez!
Alguns comentários sobre a entrevista em si.
Não conheço o Mauricio, o pouco que sei é que é cirurgião-dentista e professor universitário. Isso já diz bastante, pois um professor universitário numa disciplina como a dele precisa ser profissional de respeito, com boa formação científica, ter uma mente organizada e expressar-se claramente. São boas características para um presidente de clube, desde que bem assessorado em áreas como finanças, controladoria e marketing, além, evidentemente, do futebol.
Outros pontos importantes: o Mauricio é novo, tanto na idade como no meio futebolístico. É cara nova, não é mais do mesmo de sempre, coisa tão comum na maioria absoluta de nossos clubes. Para mim, mais um ponto a favor. Não que isso seja por si uma qualidade, mas nada como mudar um pouco o cenário.
Ele tocou em alguns pontos realmente críticos e deu a eles a importância devida, na minha opinião.
Divisões de base: “se o Botafogo não montar uma boa base nos próximos anos, seu futuro estará ameaçado.” Colocação perfeita, visão correta do futuro. Mesmo clubes bem estruturados e com a vida financeira em ordem não podem prescindir de suas divisões de base. Juvenal Juvêncio, por exemplo, diz claramente que já a partir de 2010 quer o São Paulo formado em sua maior parte por jogadores saídos da base. Mauricio se preocupa, também, em blindar a receita para manter a base e, tão importante quanto, blindar os atletas nela em formação. Essa será, para ele, a tarefa mais importante de sua gestão e a de maior impacto para o futuro. O modelo como funcionará essa área ainda não está claro, ele e sua equipe trabalham nisso, podendo ter o Botafogo como único responsável, ou criando um fundo, o que talvez acelere e dê algum ganho mais rápido.
Realidade: o próximo presidente do clube não tem ilusões e sabe que precisará adequar-se à realidade. Apesar das dificuldades, ele acredita na montagem de uma boa equipe, e para isso aponta um fato que considero importante: “O Brasil tem muito jogador para ser descoberto” – uma grande verdade e nosso maior diferencial em relação ao resto do mundo. Esse é um assunto que, sozinho, renderia dias de discussão, mas gostei de ouvir essa opinião na boca do Maurício. O clube, inclusive seus companheiros de chapa que vão cuidar do futebol, já conversa com alguns jogadores visando sua manutenção no elenco, e também com o treinador Ney Franco. Embora delicado, um ponto é pacífico: a necessidade de reduzir a folha de pagamentos, principal despesa do orçamento de 2009. Isso significa a saída de vários atletas do atual elenco, como ele reconheceu. O clube vai se esforçar para manter alguns titulares, formando o embrião de um novo time.
Dinheiro: está curto e será um problema em 2009, pois o clube já antecipou praticamente todas as receitas do próximo ano, tal como este Olhar Crônico Esportivo vem dizendo a seus leitores – e isso, como também já foi dito aqui, não é exclusividade do Botafogo. Isso leva ao próximo ponto...
Marketing: entre os planos para 2009 está o fortalecimento da campanha “Botafogo no coração”, incrementar em todo o Brasil a captação de sócios-torcedores (pelo que pude deduzir, o clube criará mecanismos para que torcedores distantes do Rio de Janeiro também colaborem, sem ser por meio de doações) e promover vendas de ingressos, cadeiras e camarotes no Engenhão, ate reproduzindo, em parte, o que foi feito na volta à 1ª divisão, em 2004.
Engenhão: o Mauricio sabe que o custo do estádio é alto, mesmo sem jogo algum. Ele entende que em 2010, com o Maracanã em obras, os clássicos terão que ser disputados no Engenhão, ou seja, e isso é dedução do blogueiro, se a polícia considera que há problemas de segurança, ela que dê um jeito de contornar os problemas e garanta a segurança dos torcedores em qualquer jogo, tal como já deveria ter feito para esse último confronto contra o Flamengo. Com mais jogos, o clube terá melhores receitas no estádio, como as indiretas, relacionadas com o movimento de pessoas consumindo produtos e, sobretudo, aumento nos valores de publicidade em função da maior exposição e visualização.
Dividas e Timemania: o Botafogo, como todos os demais clubes, está preocupado com os parcos resultados da Timemania até agora. O novo presidente, porém, sabe que qualquer ação nessa área só terá força se empreendida de forma coletiva. Para isso ele destacou o papel do Clube dos 13, onde os clubes estão discutindo o assunto e está se chegando a um consenso sobre a necessidade mudar a loteria e ampliar o prazo para que os clubes paguem suas dívidas.
Esses foram os principais pontos abordados.
Dos assuntos importantes na visão deste Olhar Crônico Esportivo, faltou perguntar sobre sua visão a respeito do Clube dos 13 e a posição do Botafogo em relação ao atual G4, ora em fase de crescimento para G5, onde ele participa ao lado do Corinthians, Flamengo, São Paulo e em breve o Atlético Paranaense, em oposição à atual gestão e estrutura do Clube dos 13.
Para quem quiser assistir na íntegra, clique aqui.
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