Um Olhar Crônico Esportivo

Um espaço para textos e comentários sobre esportes.

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quinta-feira, setembro 07, 2006

Pitacos TimeManíacos

- O Arena de ontem, com o ministro dos esportes, foi meio decepcionante. Nada de novo e o ministro seguindo a linha de seu chefe, falando o óbvio e já sabido. Bullshit.

- Mas, com esforço, alguma coisa dá pra aproveitar. Por exemplo: o volante do jogo deverá ter um espaço chamado “Time do Coração”, e ali o apostador identificará seu time. Os times com maior participação terão uma participação ligeiramente maior no bolo. Só não está claro como essa identificação será feita, tarefa a cargo da comissão que vai regulamentar e criar o sistema e ferramentas para o jogo, inclusive o volante.

- Essa comissão será formada por pessoal da CEF, Receita Federal, Ministério dos Esportes, Clube dos 13 e Sindicato dos Clubes.

- Os times participantes, mesmo depois de pagas as dívidas, terão o uso do dinheiro monitorado. Outra coisa a ser regulamentada, e que afetará os clubes que nada devem à União e poderão receber sua parte desde o começo.

- 180 meses... Esse é o tempo para que os clubes equacionem suas vidas, suas operações, profissionalizem-se de fato e quitem suas dívidas com a Receita, INSS e FGTS. É um tempo bem razoável, verdade seja dita. Dá para formar bons jogadores, vender e quitar parte da dívida não coberta pela arrecadação da loteria. Isto, é claro, se o clube for bem administrado e sério. E não sucumbir à pressão dos torcedores e fazer besteira em cima de besteira.

O que vai acontecer daqui a 15 anos? Sei lá. Ninguém sabe, tampouco a turma que está no comando desse projeto. Aliás, o que vai acontecer daqui a 15 dias? :o)

- O time devedor que não participar, continuará sujeito a tudo que está sujeito hoje: arresto de bens e rendas, execução judicial, bloqueio de contas, etc.

O governo não vai mudar nada nessa área. A justiça tem seu próprio tempo e ele geralmente é longo. Mas um dia a casa cai, porque a cobrança chega. A verdade é que os grandes devedores só não foram fechados até hoje por conta desse tempo da justiça. Dirigente sério, tentando administrar essa situação aterrorizante, não dorme. Já o torcedor não toma conhecimento de nada, exige mundos e fundos e, não obtendo, xinga o dirigente. Muito injusto, mas assim é a vida.

- Parece incrível, mas tem dirigente que só soube da isonomia fiscal e tributária pela imprensa. O nível da maioria dos dirigentes de nossos clubes é baixo. Numa escala de zero a dez os membros dessa maioria ficam em menos quatro, menos três. Aliás, alguém precisa explicar para muitos deles o que é isonomia. Ou, então, dá o endereço desse blog. :o)

- Infelizmente, os dirigentes de clubes continuarão sem comprometer seus patrimônios pessoais. Para falar a verdade, além da gritaria contrária ter sido alta e forte, teriam que mexer em tanta coisa para dar a isso um acabamento jurídico perfeito, que a TimeMania só sairia do papel em 2020. Mas a passagem direta do dinheiro da CEF para a Receita até a quitação das dívidas, e mais o monitoramento pelos órgãos federais (TCU, provavelmente) da destinação do dinheiro livre das dívidas, já é um avanço.

- O Vasco não quer participar porque não concorda com a passagem do dinheiro diretamente da CEF para a Receita. Um dos jornalistas disse isso e o ministro concordou. O Vasco aparece como devedor para os órgãos federais, mas diz que não deve e tem como provar. Bom, então já deveria ter provado.

No fundo, a maioria dos clubes só está interessada numa coisa: mudar de Inadimplente para Adimplente. Nenhum clube, entre os grandes devedores, tem um projeto sério e conseqüente para o futuro. Vai todo mundo pagar os impostos em dia (ou tentar) e empurrar o resto com a barriga. Daqui a 180 meses, se sobreviverem todo esse tempo, vão pensar no assunto novamente.

Apesar disso, sou a favor da TimeMania.

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quarta-feira, setembro 06, 2006

Diáspora no mundo da bola continua


Aproximadamente 500 jogadores (25 em cada um dos 20 clubes participantes) começaram, em abril, a disputar o Campeonato Brasileiro de 2006.

Terminada a janela de transferências de agosto, 39 jogadores tinham se transferido para times da Europa e Ásia, algo como 8% do total. Um número até baixo, devido ao fracasso do Brasil na Copa, principalmente. Com preços confirmados, temos 26 jogadores, com um total de 71 milhões de euros, um valor baixíssimo, considerando a qualidade de alguns desses jogadores. Sobre outros 13 não há informações ou elas são desencontradas. Isso inclui Carlitos Tevez e Javier Mascherano, transferidos (?) para o West Ham.

Com certeza, não tivesse tido o Brasil a participação fraca e decepcionante que teve, esse número seria maior e ultrapassaria a marca de 10%. Um percentural preocupante, agravado pela qualificação dos jogadores que vão embora, geralmente entre os melhores em cada posição.

Não sou contra a transferência, pelo contrário, enxergo-a com bons olhos por motivos vários. O principal deles é que os jogadores partem para ganhar bem mais do que ganham no Brasil, e isso é importante para eles, vindos de famílias muito pobres em sua maioria, pelas quais são responsáveis.

Não me agradam medidas jurídicas ou administrativas de nenhum tipo visando a permanência desses jogadores por mais tempo entre nós. Esses mecanismos, além de não surtirem efeitos práticos, são atentatórios aos direitos básicos de todo ser humano. E não acredito em jogador continuar num clube ao qual está ligado por um contrato, sendo pretendido por outro que pagar-lhe-ia bem mais. Na prática, tal coisa não existe, a menos que as compensações sejam muito atraentes.

Então, que fazer diante disso? Como evitar que exatamente na metade do mais importante campeonato do país, dez por cento de seus participantes vão embora?

Só enxergo uma solução: a unificação dos calendários. No caso, dado o peso maior do futebol europeu, a adequação do calendário brasileiro ao do Velho Mundo. E, ao mesmo tempo, uma redução ou até a extinção da janela de janeiro. Dessa forma os times brasileiros poderiam começar e terminar o Campeonato Brasileiro e a Libertadores da América com o mesmo plantel com que iniciou. Mesmo a janela de inverno não chega a ser tão destruidora como a de verão, daria para conviver com ela sem grandes dramas.

Imaginava-se que a CBF aproveitaria 2006, um ano quebrado pela Copa do Mundo, para adequar o calendário, mas não, ficou tudo como dantes no quartel de Abrantes. E o calendário de 2007 já foi divulgado, com algumas mudanças para pior, muito pior. O futebol brasileiro continuará convivendo com a inexistência de pré-temporada digna do nome, os grandes times continuarão fora do circuito internacional, pois não há datas para que possam disputar os torneios do verão europeu e asiático. E, pior, os times continuarão sendo privados de seus melhores jogadores no auge da temporada.

Muito lamentável.

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TimeMania – atualizando e corrigindo


É, os deputados mudaram mais coisas do que eu tinha conhecimento, portanto, aí vai uma atualização e correção.

As mudanças mais importantes são o prazo máximo para quitação das dívidas e a distribuição do dinheiro arrecadado.

Pela primeira versão do projeto não haveria prazo determinado para o pagamento da dívida, tal como no REFIS I. Posteriormente, com a tendência a ter esse prazo, forçado pela oposição até como um castigo à postura dos clubes em rejeitarem a obrigatoriedade de se transformarem em empresas, os clubes pleitearam 240 meses, prazo que acabou reduzido para 180 meses. Um prazo mais do que razoável e, aparentemente, suficiente para a quitação dos débitos, pois, imagina-se, os clubes passarão a ser melhor administrados e conseguirão honrar seus compromissos.

Outra mudança importante foi no destino do dinheiro e seus beneficiários, que ficou dessa forma:

Timemania – distribuição da arrecadação

46% - prêmios
22% - dívida dos clubes de futebol
20% - custos da CEF
3% - Fundo Nacional Penitenciário
3% - Santas Casas de Misericórdia
2% - Secretarias de esportes estaduais
2% - Lei Agnelo/Piva
1% - Seguridade Social
1% - Clubes Sociais

Com as mudanças, os clubes perderam 3% do inicialmente acordado – outro castigo – e ganharam instituições fora do futebol, como Pinheiros, Minas Tênis e Ulbra, entre outras.

Os maiores devedores listados pelo governo são o Flamengo, Botafogo, Fluminense, Atlético Mineiro e Portuguesa de Desportos.

Além do São Paulo, outros clubes em dia com a Receita são Internacional, Cruzeiro, Atlético Paranaense, Goiás e o São Caetano. Caso participem da TimeMania, esses clubes receberão o valor de suas participações mês a mês. Não é nada, não é nada, é um bom reforço de caixa.

Os deputados querem, ainda, que a CBF estabeleça critérios mais nítidos e duradouros para os participantes da 3ª Divisão, dando a ela maior estabilidade. E os clubes participantes terão que publicar seus balanços anualmente, seguindo as normas legais para isso. Por incrível que pareça, a maioria dos clubes brasileiros não faz isso. Inclusive muitos da série A.

Novos valores

Considerando uma arrecadação anual de 500 milhões de reais, a divisão ficaria da seguinte forma:

- 1ª Divisão – 20 clubes – 71,5 milhões de reais – 3,6 milhões/clube

- 2ª Divisão – 20 clubes – 27,5 milhões de reais – 1,4 milhão/clube

- 3ª Divisão – 64 clubes – 11 milhões de reais – 0,17 milhão/clube

Essa medida vai ajudar o futebol, sem dúvida, mas vai ajudar, principalmente, os grandes clubes com dívidas gigantescas. Apesar disso, muitos especialistas tributários acreditam, informalmente, que esses clubes não conseguirão cumprir com suas obrigações, a mais simples das quais é pagar em dia os impostos e contribuições. A menos que mudem radicalmente seus métodos administrativos e estruturas.

Agora, é aguardar para ver.

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terça-feira, setembro 05, 2006

O melhor da TimeMania


Tão bom ou melhor, muito melhor que a receita financeira, é a possibilidade aberta para a transformação em empresas dos departamentos de futebol dos clubes com isonomia fiscal e tributária. Ou seja, o futebol do clube vira empresa e paga os mesmos impostos e taxas que são pagos atualmente, com alíquotas muito menores que as praticadas para as empresas em geral.

Esse ponto é visto com simpatia pela própria diretoria do São Paulo.

Entre os muitos obstáculos para a implantação do “clube-empresa” no Brasil, os custos fiscais estavam entre os mais sérios e desestimulantes.

O caminho do futuro passa pela profissionalização e pela implantação da estrutura, prática e gestão empresarial nos times de futebol.



Obrigações


Considero a TimeMania um projeto inteligente, do tipo ganha-ganha.

Será financiado pelo povo, mas não por obrigação. Aposta quem quer e como quer. Essa será mais uma loteria em meio às demais. Quem apostar, provavelmente, em boa parte será amante do futebol e, portanto, com sua aposta estará prestando uma ajuda para seu time e seu esporte.

O pulo-do-gato da TimeMania é a manipulação dos recursos. Ou melhor, a não-manipulação, pois eles irão dos bolsos dos apostadores para os cofres da CEF e destes para os cofres do Tesouro. Dirigentes corruptos e/ou incompetentes não terão como pôr suas mãos sobre os valores que seus times “receberão”.

E as contrapartidas? Não existem?

Sim, existem, menos talvez do que seria o ideal, mas ainda assim um passo adiante.

A principal delas: a obrigatoriedade de pagar os impostos novos em dia: impostos, contribuições para o INSS e FGTS. Um atraso de sessenta dias e adeus TimeMania. Portanto, o dinheiro dos torcedores ajudará diretamente as contas públicas e o INSS, além de forçar a continuidade dos pagamentos pelos participantes, evitando, dentro do possível, novos calotes.

O prazo máximo para quitação das dívidas foi reduzido para 180 meses, um avanço, sem dúvida.

Se nada fosse feito, os clubes continuariam não pagando, aumentando suas dívidas. E, conhecendo o Brasil, dificilmente medidas drásticas seriam tomadas, ainda mais com os políticos que por aqui pululam.

Enfim, não foi ótimo, mas foi bom, muito bom. E isso já é, sim, alguma coisa. Aliás, muita coisa.

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TimeMania, enfim

Demorou, mas a TimeMania estará chegando em breve ao mercado consumidor brasileiro. Consumidor de sonhos através das apostas, mas consumidor. A Câmara dos Deputados aprovou-a hoje, através de acordo das lideranças. A oposição cedeu, os governistas cederam e, como de praxe na política, o projeto foi aprovado. Nesses tempos bicudos, convém destacar que tudo isso é correto, faz parte do “fazer política”. As pressões pró e contra foram intensas e transparentes. Debates aconteceram, a sociedade acompanhou, opinou, manifestou-se e, depois de longa demora, chegamos à aprovação. Só falta a assinatura do presidente da república, agora, mas sobre ela não pairam dúvidas.

Basicamente, a TimeMania é um jogo de apostas tendo como apelo os escudos dos clubes brasileiros das 1ª, 2ª e 3ª divisões de nosso futebol. Do total de sua renda, 25% será destinado aos clubes participantes, como forma de pagar pelo uso de suas imagens. Do restante, 46% vão para os apostadores, 20% para custeio e manutenção, 5% para projetos sociais do Ministério do Esporte, 3% para o Fundo Penitenciário Nacional e 1% para seguridade social (talvez alguns desses percentuais tenha sido alterado ultimamente, não tenho certeza pois não revisei; mas o percentual destinado aos clubes é o mesmo, 25%, disso estou certo).

O Brasil tem hoje 84 clubes nas 3 divisões profissionais com campeonatos nacionais: 20 na Primeira, 20 na Segunda e 64 na Terceira Divisão.

Estima-se, a grosso modo, uma arrecadação anual na casa de 500 milhões de reais, dos quais 125 milhões seriam destinados aos clubes. trabalhando com esse valor, teríamos, em números aproximados:

- Primeira Divisão – 20 clubes – 81 milhões de reais – 4 milhões/clube

- Segunda Divisão – 20 clubes – 31 milhões de reais – 1,5 milhão/clube

- Terceira Divisão – 64 clubes – 13 milhões de reais – 0,2 milhão/clube

Não se pode dizer que esses valores sejam esplêndidos e que venham a ter forte impacto sobre as finanças dos clubes. Pelo contrário, até, embora 4 milhões de reais por ano para um clube de pequeno ou médio porte façam diferença.

De qualquer forma, a divisão do bolo não parece sacramentada e há clubes, como o São Paulo, que não estão dispostos a aderir ao projeto. Curiosamente, a diretoria tricolor deu total apoio à iniciativa desde seu começo, mas considera o valor a ser recebido muito baixo. Eu acredito que, mesmo com essa reclamação, o São Paulo participará. Afinal, 4 milhões não caem do céu e sempre representam alguma coisa. O São Paulo, provavelmente, será um dos poucos times a receber o que tem direito, pois está com as obrigações fiscais em dia, sem atraso.

A TimeMania é um grande negócio para os times com dívidas gigantescas junto à Receita, INSS e FGTS, com valores que superam em muito os duzentos milhões de reais (Flamengo e Botafogo) e se aproximam disso (Fluminense). Para esses clubes, a vinda da TimeMania significa oxigênio puro para quem está sem ar para respirar. A partir do momento da adesão, os clubes mudam de classificação fiscal, deixando a situação de inadimplentes com dívidas em execução. As parcelas a que terão direito irão diretamente dos cofres da Caixa para os cofres da Receita, abatendo suas dívidas num prazo máximo de 240 meses. Considerados “em dia”, poderão voltar a operar no mercado financeiro e, acima de tudo, ficam livres dos arrestos de rendas, bens e até direitos sobre jogadores.

A expectativa é que o presidente lulla da Silva assine a medida até o final desse mês.

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domingo, setembro 03, 2006

Salários... mais um pouco

Três comentários apenas no post sobre salários, mas que comentários!

Um anônimo reclamando que seus filhos não “deram” pra bola. Bom, junto-me à sua reclamação, meu caro. Adoraria, hoje, ser pai de jogador muito bem sucedido. Mas não me fale dos não tão bem sucedidos, por favor. Porque aí a coisa pega e é tristeza demais.

O Lédio declarou seu incômodo com os valores envolvidos, principalmente por levar em conta o país em que são pagos. É... Incômodo é uma palavra suave.

E o Chico da Kombi mostrou o absurdo, o ridículo, a loucura ou sei lá qual outra palavra usar para descrever tudo isso, ao constatar que 3 profissionais ganham mais que outros 704 juntos.

Pura loucura.

Pura loucura...

Há muitos anos, uma informação abriu caminho à força entre meus neurônios e por ali acampou. Até hoje, por sinal. Era uma luta do Cassius Clay, que as novas gerações conhecem por Muhammad Ali. Por uma luta, não lembro contra quem, ele ganharia alguns milhões de dólares. Não era nada exagerado, pela ótica atual, mas na época chamou-me a atenção. Anos depois, Mike Tyson ganharia trinta milhões de dólares por uma só luta e aquilo calou mais fundo entre minha meia dúzia de neurônios. E pôs-me pensativo sobre as mudanças que o mundo vivia. Tínhamos ali um atleta recebendo inúmeros milhões de dólares por uma ação de dois minutos ou, quando muito, trinta minutos.

O mundo mudava, loucamente.

Trinta milhões de dólares para uma luta do Tyson era fruto não de sua técnica e agressividade, mas sim da sociedade de massa e de consumo massivo que o transformou em objeto de consumo. Não tanto ele, mas a diversão proporcionada por seu trabalho.

De lá para cá as mudanças continuaram e em ritmo muito mais acelerado. Ninguém mais se espanta com o fato de um motorista de carros de corrida ganhar mais de oitenta milhões de dólares para dirigir um carro por quinze a dezoito mil quilômetros por ano, no máximo, já considerando os testes. Um jogador de golfe ganha dezenas de milhões por ano. Jogadores de futebol, montes deles, ganham, também, duas unidades de milhões anualmente. Tudo em dólares, claro. Ou euros, pior ainda.

O lazer, a diversão, a satisfação de necessidades básicas do ser humano, são hoje atendidas em escalas que se medem pelos milhões e dezenas e até centenas de milhões de pessoas/consumidores.

Pessoas/consumidores... Não há como separar esses dois conceitos, eles tornam-se um só cada dia mais.

As empresas vão atrás dessas pessoas, precisam mostrar-se a elas, precisam entrar em suas mentes e ali conquistar um lugar. Pagam por isso, pagam caro. Esse é o dinheiro que sustenta o mundo fantástico dos esportes hoje, dinheiro que se mede, ainda, por centenas de bilhões de dólares, mas que em três, talvez quatro anos, atingirá a casa do trilhão de dólares.

No Brasil não é diferente. As pessoas gostam de futebol, sentam-se em frente à tevê e assistem aos jogos. Chegar até elas é a chave para o crescimento, para a manutenção de preciosos pontos de market share, ter um bom share of mind é fundamental para o sucesso de qualquer produto. Paga-se por tudo isso, paga-se bem.

Minha mulher não liga para essas coisas, mas liga para os valores envolvidos em salários. Fica escandalizada e até meio revoltada comigo quando tento explicar o porquê disso tudo. Ela não se conforma com a minha aceitação. Na sociedade, muitas pessoas também consideram os valores exagerados, escandalosos.

Bom, eu não. São valores altos, sem dúvida, mas quando critico faço-o tendo em vista a adequação dos mesmos ao mercado brasileiro. Não é o valor em si que espanta, assusta, incomoda e traz prejuízos. É sua inadequação à nossa realidade mercadológica e financeira. E não sua inadequação à nossa realidade social.

E é essa realidade, calcada, alicerçada numa distribuição de renda cuja definição mais suave que vem à mente é criminosa, que explica porque os altos salários de apenas três profissionais da bola somam mais dinheiro que os 704 salários dos jogadores titulares da 3ª divisão.

Esse é o Brasil real, esse é o Brasil que não muda, esse é o Brasil que sustenta estatais generosas, políticos corruptos, que sonha com um 13º salário, iludido com seu fictício poder de compra e sua aparência de conquista. Esse é o Brasil real, o Brasil dos iludidos, e que assim permanecerá por muito, muito, muito tempo ainda.

Um verdadeiro bananal.

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sábado, setembro 02, 2006

Estelionato Olímpico

O COB – Comitê Olímpico Brasileiro – aprovou ontem, em sua Assembléia Geral, a indicação da cidade do Rio de Janeiro como candidata a sediar os Jogos Olímpicos de 2016.

Não houve um processo seletivo.

Não foram realizadas consultas.

Simplesmente, o COB decidiu.

Ah, sim, contrataram uma empresa de consultoria que fez um estudo a respeito, concluindo ser a cidade do Rio de Janeiro a única em condições, no Brasil, de organizar grandes eventos esportivos.

Já por ocasião da escolha da cidade-candidata aos jogos de 2012, houve muita contestação aos critérios e mesmo aos eleitores. A maioria das federações esportivas mantém sede no Rio de Janeiro. A maioria dessas federações tem baixíssima representatividade, isso quando tem alguma. No item transparência o único resultado que se encontra é o nulo. Ela inexiste desde o COB até a mais pobre das filiadas, passando pela poderosa Confederação Brasileira de Vôlei, da qual é egresso o presidente do COB.

Qualquer cidade brasileira – Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Recife, Curitiba, Xiririca do Norte, Xiririca do Sul – e seus habitantes, brasileiros pagadores de impostos e iguais em direitos, tem todo o direito de pleitear a indicação para ser sede de uma Olimpíada. A candidatura é livre, a escolha deve ser feita a partir da avaliação da capacidade e das condições da cidade e do estado (que deve estar junto no pleito) em abrigarem, organizarem, realizarem os Jogos Olímpicos.

Do jeito como foi feito, eu me sinto esbulhado em meu sonho.

A cidade de São Paulo foi esbulhada.

O povo de São Paulo foi esbulhado.

Isso nada mais foi que um estelionato olímpico.

Mais um.

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Salários... Bons salários


Pego carona e cópia no blog do Milton Pazzi, do Estadão, e acrescento alguns privilegiados mensalistas que não constaram em sua lista, passando, também, o valor correspondente em euros pelo câmbio de ontem:

- Zé Roberto - R$ 500 mil – 182.000 Euros

- Tevez - R$ 400 mil – 145.000 Euros

- Sávio - R$ 210 mil – 76.000 Euros

- Fábio Costa - R$ 200 mil – 73.000 Euros

- Maldonado - R$ 200 mil – 73.000 Euros

- Kléber - R$ 200 mil – 73.000 Euros

- Roger - R$ 180 mil – 65.000 Euros

- Marcos - R$ 170 mil – 62.000 Euros

- Carlos Alberto - R$ 160 mil – 58.000 Euros

A essa lista acrescento:

- Rogério Ceni – R$ 380.000 – 138.000 Euros

- Petkovic – R$ 300.000 – 109.000 Euros

Zé Roberto, Maldonado, Fábio Costa e Kleber jogam no Santos. Ao que tudo indica, vão muito bem as finanças do Santos. Sem falar que Vanderlei Luxemburgo ganha entra 350 e 500 mil reais por mês. Estou mais propenso a acreditar em 500 mil...

O salário propriamente dito de Rogério Ceni deve girar, hoje, em torno de 180.000 reais, e a esse valor é acrescida a parcela correspondente às luvas pelo novo contrato, que vai até 2008.

Em euros ou em reais ou em dólares, essa elite de jogadores é muito bem remunerada. Alguns, como Rogério, Marcos e Fábio Costa, dificilmente ganhariam muito mais na Europa, não em valores líquidos, pelo menos, já que as alíquotas de imposto de renda por lá chegam a 40% (e até mais), ao passo que aqui param em 30%. Naturalmente, dadas as condições e os serviços públicos, 40% lá é razoável e 30% ou qualquer outra coisa por aqui é um roubo. Todavia, por conta do direito de imagem recebido por meio de empresa em nome do jogador, o desconto total de IR é, na média, de mais ou menos 20% do total de ganhos. Também na Europa temos mecanismos parecidos, que reduzem em alguns pontos o desconto médio sobre os ganhos.

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sexta-feira, setembro 01, 2006

Albérico, o personagem

No futebol, o meu time me encanta. Claro, óbvio.

Mas não só.

No futebol e em outros esportes, alguns personagens também me deixam como encantado. Às vezes pela tragédia, coisa que não é de meu particular agrado. Quase sempre pela superação, pela volta por cima, pelo grande retorno.

Felizmente, são muitas as histórias assim.

Nenhuma, talvez, como a de Ronaldo, tido como acabado para o futebol, que por quase dois anos travou uma luta terrível para poder voltar a um campo de futebol. Voltou, em plena Copa do Mundo. Foi o artilheiro, foi o melhor jogador da Copa, marcou dois gols na grande final. Uma história tão improvável que produtor nenhum de Hollywood aprová-la-ia em forma de roteiro. Afinal, cinema é fantasia, é certo, mas há que guardar um resquício de realidade, há que ter alguma verossimilhança.

Mas Ronaldo, a essa altura, já me parece passado, já me parece história. Talvez ele retorne e atinja o topo novamente, mas me parece difícil. Tenho a impressão, cá comigo, que ele cansou.

Vou ficar com um personagem mais próximo do nosso dia-a-dia.

Seu nome é Albérico e já tem 35 anos de idade. Já rodou o mundo do futebol brasileiro, o grande mundo dos pequenos times, a maioria desconhecidos da massa torcedora. Há algum tempo está no Fortaleza e disputando a 1ª divisão do futebol brasileiro.

Ontem à noite o Fortaleza, 19º e penúltimo colocado no Campeonato Brasileiro, entrou em campo, no Morumbi, para enfrentar o São Paulo, atual campeão mundial de clubes, vice-campeão da Libertadores recém-concluída, líder isolado do Brasileiro por umas dez rodadas seguidas, já. O jogo de ontem era um jogo de resultado anunciado. Eu mesmo, frequentemente temeroso em relação a esses jogos muito fáceis e óbvios, dava como certa uma vitória por três ou quatro gols.

E tudo parecia indicar que assim seria.

Durante todo o primeiro tempo o São Paulo parecia treinar ataque contra defesa. Em apenas dois momentos fugazes o Fortaleza ameaçou. Em inúmeros momentos o São Paulo massacrou. E, já no final, Rogério cobrou uma falta na trave. Já tinha feito outra excelente cobrança para uma das muitas grandes defesas de Albérico, que só no primeiro tempo foram cinco ou seis. Tantas grandes defesas e mais a trave começavam a deixar um gosto estranho na boca, começavam a trazer aos corações e mentes da torcida do São Paulo o velho adágio futebolístico: quem não faz, toma.

Veio o segundo tempo. O time de Albérico voltou modificado em um jogador, na disposição, na atitude. O jogo mudou, não radicalmente, não em cento e oitenta graus, mas ficou mais difícil para o São Paulo chegar. Mesmo assim, chegava. Um chute forte do zagueiro Fabão travestido em atacante resvalou na trave e saiu. Um outro chute bateu na trave e as grandes defesas de Albérico continuaram, uma depois da outra.

Já nos minutos finais, depois do São Paulo ter trocado três jogadores, entrou Rinaldo, no Fortaleza. Um jogador perseguido por sua torcida nos últimos tempos por não fazer o que todo artilheiro deve fazer: gols.

E a menos de cinco minutos do final do tempo regulamentar, um contra-ataque, um cruzamento sem muitas pretensões, uma falha da zaga e Rinaldo, de peixinho, marca.

O inacreditável acontecia.

Inacreditável, sim, pela teoria, mas possível, e, pela anti-lógica futebolística, mais que provável.

Em menos de dois minutos, contudo, o São Paulo empatou.

E em mais dois minutos, já nos acréscimos, lançamento longo para a área do Fortaleza. Mineiro recebe, mata no peito e sofre carga por trás. Pênalti.

É a virada.

Quem vai cobrar o pênalti é o herói Rogério Ceni, o maior goleiro-artilheiro da história do futebol e recente autor de memoráveis gols, tanto cobrando faltas como pênaltis.

Rogério afasta-se apenas os três passos de sempre. Suas ultimas cobranças foram no lado direito do goleiro e no alto. Indefensáveis.

Três passos para a frente e o chute. Rasteiro, procurando o canto direito de Albérico. Encontrando as mãos de Albérico.

Pênalti defendido, Albérico vibra, comemora, é cumprimentado.

E o juiz encerra o jogo.

O jogo de Albérico.

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P.s.: passei o dia inteiro de ontem tentando postar esse texto e não consegui; o blogger mudou configurações e coisa e tal, e na minha tentativa de postar com uma foto do Albérico, dancei; portanto, vai o texto, não vai a foto; e vai atrasado, mas antes tarde do que nunca, tal e qual a justiça.

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