Salários... mais um pouco
Três comentários apenas no post sobre salários, mas que comentários!
Um anônimo reclamando que seus filhos não “deram” pra bola. Bom, junto-me à sua reclamação, meu caro. Adoraria, hoje, ser pai de jogador muito bem sucedido. Mas não me fale dos não tão bem sucedidos, por favor. Porque aí a coisa pega e é tristeza demais.
O Lédio declarou seu incômodo com os valores envolvidos, principalmente por levar em conta o país em que são pagos. É... Incômodo é uma palavra suave.
E o Chico da Kombi mostrou o absurdo, o ridículo, a loucura ou sei lá qual outra palavra usar para descrever tudo isso, ao constatar que 3 profissionais ganham mais que outros 704 juntos.
Pura loucura.
Pura loucura...
Há muitos anos, uma informação abriu caminho à força entre meus neurônios e por ali acampou. Até hoje, por sinal. Era uma luta do Cassius Clay, que as novas gerações conhecem por Muhammad Ali. Por uma luta, não lembro contra quem, ele ganharia alguns milhões de dólares. Não era nada exagerado, pela ótica atual, mas na época chamou-me a atenção. Anos depois, Mike Tyson ganharia trinta milhões de dólares por uma só luta e aquilo calou mais fundo entre minha meia dúzia de neurônios. E pôs-me pensativo sobre as mudanças que o mundo vivia. Tínhamos ali um atleta recebendo inúmeros milhões de dólares por uma ação de dois minutos ou, quando muito, trinta minutos.
O mundo mudava, loucamente.
Trinta milhões de dólares para uma luta do Tyson era fruto não de sua técnica e agressividade, mas sim da sociedade de massa e de consumo massivo que o transformou em objeto de consumo. Não tanto ele, mas a diversão proporcionada por seu trabalho.
De lá para cá as mudanças continuaram e em ritmo muito mais acelerado. Ninguém mais se espanta com o fato de um motorista de carros de corrida ganhar mais de oitenta milhões de dólares para dirigir um carro por quinze a dezoito mil quilômetros por ano, no máximo, já considerando os testes. Um jogador de golfe ganha dezenas de milhões por ano. Jogadores de futebol, montes deles, ganham, também, duas unidades de milhões anualmente. Tudo em dólares, claro. Ou euros, pior ainda.
O lazer, a diversão, a satisfação de necessidades básicas do ser humano, são hoje atendidas em escalas que se medem pelos milhões e dezenas e até centenas de milhões de pessoas/consumidores.
Pessoas/consumidores... Não há como separar esses dois conceitos, eles tornam-se um só cada dia mais.
As empresas vão atrás dessas pessoas, precisam mostrar-se a elas, precisam entrar em suas mentes e ali conquistar um lugar. Pagam por isso, pagam caro. Esse é o dinheiro que sustenta o mundo fantástico dos esportes hoje, dinheiro que se mede, ainda, por centenas de bilhões de dólares, mas que em três, talvez quatro anos, atingirá a casa do trilhão de dólares.
No Brasil não é diferente. As pessoas gostam de futebol, sentam-se em frente à tevê e assistem aos jogos. Chegar até elas é a chave para o crescimento, para a manutenção de preciosos pontos de market share, ter um bom share of mind é fundamental para o sucesso de qualquer produto. Paga-se por tudo isso, paga-se bem.
Minha mulher não liga para essas coisas, mas liga para os valores envolvidos
Bom, eu não. São valores altos, sem dúvida, mas quando critico faço-o tendo em vista a adequação dos mesmos ao mercado brasileiro. Não é o valor em si que espanta, assusta, incomoda e traz prejuízos. É sua inadequação à nossa realidade mercadológica e financeira. E não sua inadequação à nossa realidade social.
E é essa realidade, calcada, alicerçada numa distribuição de renda cuja definição mais suave que vem à mente é criminosa, que explica porque os altos salários de apenas três profissionais da bola somam mais dinheiro que os 704 salários dos jogadores titulares da 3ª divisão.
Esse é o Brasil real, esse é o Brasil que não muda, esse é o Brasil que sustenta estatais generosas, políticos corruptos, que sonha com um 13º salário, iludido com seu fictício poder de compra e sua aparência de conquista. Esse é o Brasil real, o Brasil dos iludidos, e que assim permanecerá por muito, muito, muito tempo ainda.
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Marcadores: Marketing e Dinheiro
2 Comments:
At 4:41 PM, Anônimo said…
tem que destacar que a África do sul é um país pobre e vai pagar uma fortuna para o Parreira...
At 5:21 PM, Emerson said…
É verdade, e o valor que Parreira receberá já desperta reações contrárias na África do Sul.
Porém...
É caso para se pensar. A África do Sul tem um histórico pobre no futebol e será a anfitriã da próxima Copa. Sinceramente, não enxergo a anfitriã sendo eliminada ainda na primeira fase. Que caia, ao menos, nas oitavas, já será alguma coisa.
Para levar a seleção nacional a esse patamar, não basta um bom técnico, é preciso, também, uma grife, um nome de respeito.
É isso que os sul-africanos estão contratando: um bom treinador para essa situação, e um grande nome para dar respeito e respaldo ao futebol sul-africano.
Pensando bem, é um contrato bom para ambas as partes.
Mas é uma exceção.
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