Treinando contra “bomba suja”
O post sobre as Olimpíadas 2016 provocou alguns comentários interessantes, inclusive por e-mail (é melhor postar aqui mesmo no blog como “anônimo”; basta colocar a identificação no próprio texto). Ia responder aos comentários, em especial do M Pena, mas creio que é mais prático transformar a resposta, ampliada, num novo post, que é o que segue.
Tóquio: mais de mil componentes do Exército, Marinha, Guarda-Costeira, unidades de salvamento e policiais, foram envolvidos num exercício anti-terrorista.
O cenário indicava um atentado com uma bomba nuclear “suja” num centro de conferências da metrópole japonesa.
O que é uma bomba “suja”?
É o grande temor de todas as forças anti-terroristas do mundo, em especial americanas e japonesas. Trata-se de um artefato de produção relativamente fácil, pois, em síntese, é uma bomba convencional de alto poder explosivo rodeada por material radiativo de fácil e rápida dispersão. O césio-237 abandonado de aparelhos de raios-x, por exemplo, que contaminou terrenos e pessoas em Goiânia, se estivesse numa bomba poderia contaminar milhares de pessoas de uma só vez, com efeitos catastróficos. Há materiais radiativos muito mais poderosos que o césio, de aquisição relativamente fácil.
Esse exercício japonês está inserido no programa de capacitação de Tóquio para sediar os Jogos Olímpicos de Verão de 2016.
Tóquio, uma cidade extremamente segura para qualquer pessoa, simplesmente quer ser considerada a cidade mais segura do mundo e considera isso como um ponto importante na definição da sede olímpica de 2016.
Obama por Chicago...
Segurança por Tóquio...
E pelo Rio de Janeiro?
O exemplo do Pan, infelizmente, não é boa referência para nada.
A mim agradaria muito ver uma Olimpíada no Brasil. Seria algo esplêndido, sem a menor dúvida. Recentemente, membros do Comitê RJ estiveram no Morumbi e o São Paulo F.C. integrou-se ao esforço olímpico, pois o estádio foi colocado como sede de um dos grupos do futebol masculino e feminino, até porque, muito provavelmente, já teria sido o estádio de abertura da Copa 2014. Entretanto, por mais que me esforce, é difícil imaginar um trabalho realmente sério e que traga benefícios à cidade do Rio de Janeiro e ao país, ainda mais tendo em vista o recente exemplo dos Jogos Pan Americanos e seus equipamentos não utilizados ou, alguns, de maior sorte, subutilizados.
Acompanhando o que fazem as confederações de esportes olímpicos, fica difícil acreditar que essas entidades venham a formar atletas de bom nível em grande quantidade, só porque teremos uma Olimpíada entre nós. Hoje, depois do que se andou sabendo, não acredito nem na CBDA – Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos.
Os custos estimados para Londres 2012 tem crescido, em especial depois do Crash 2008, mas não há gritaria na Inglaterra por conta de aumentos absurdos como tivemos no Brasil. Um estádio pular de 80 para 380 e o custo dos jogos como um todo pular de 650 para 3,7 bilhões, é o tipo de coisa que soa como impensável em qualquer país.
Enfim, não acredito em Jogos Olímpicos entre nós tão cedo.
Gostaria de acreditar, mas não consigo.
Independentemente de ser Rio de Janeiro, São Paulo ou Brasília, não importa, é tudo Brasil e é difícil acreditar, basicamente por causa das pessoas que deveriam fazer isso acontecer e acontecer bem.
Quando, recém-terminados os jogos de Pequim, vemos a eleição do COB, falar mais o que?
Copa do Mundo pode?
A realização de uma Copa do Mundo de Futebol, por outro lado, é mais simples e muito mais factível. Claro, custará caro, já sabemos, mas ainda assim bem menos que uma Olimpíada.
Não custa lembrar que, em 1972, com relativamente poucos problemas, realizamos uma quase Copa do Mundo, com sedes em diferentes pontos do país. Na época, montanhas de dinheiro foram gastas em estádios super-dimensionados, ao gosto do Brasil Grande e do milagre econômico.
Para 2014, apesar dos inevitáveis gastos que ocorrerão, sou (relativamente) otimista e acredito que o custo será bastante interessante para o país, pois boa parte da estrutura esportiva será privada, como os estádios de São Paulo, Porto Alegre e Curitiba, caso essas venham a ser escolhidas como cidades-sede.
Estádios públicos, como os do Rio de Janeiro e Belo Horizonte, irão consumir recursos, mas serão, como já são hoje, intensamente utilizados e retornarão seus custos aos cofres públicos. Uma Copa está mais perto de já estar pronta, essa é a diferença, e provavelmente, tirando alguns estádios, os investimentos serão melhor aproveitados por toda a população.
Pensando nos Jogos Olímpicos, na Copa do Mundo, nas hidrelétricas, nas pontes, nos viadutos, nos “palácios” das Justiças – lembrem do Lalau – não deveríamos treinar desde já contra o “dinheiro sujo”, nossa versão nativa aterrorizante das “bombas sujas”?
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