O Olho maior que a barriga, as Agendas positivas e os Patrocínios
O Olho maior que a barriga, as Agendas positivas e os Patrocínios
Tão logo o Corinthians foi rebaixado, Andrés Sanches, de forma atrevida, exagerada e muito inteligente, foi à luta. Colocou em ação uma “agenda positiva”, cujo objetivo era manter elevada a auto-estima do corintiano, manter acesa a chama da paixão e o ânimo para a nova temporada. Ocupou espaços em todas as mídias dizendo que o Corinthians passaria por reformulação e que ocuparia o lugar que lhe é de direito não só nas competições futuras, como também, e principalmente, nas ações de marketing, jogo que se disputa todos os dias do ano, independentemente do calendário do futebol.
Sanches não se limitou a falar e pôs em prática ações ou propostas de ações – o que vem a dar na mesma, em termos de repercussão, coisa que qualquer político iniciante sabe muitíssimo bem. Desde então, quase que dia-sim-dia-não, lemos ou ouvimos alguma coisa sobre marketing envolvendo o Corinthians, todas elas, é claro, com a promessa de mais dinheiro para os cofres corintianos. Assim foi com a campanha “Nunca vou te abandonar”, com a assinatura do novo contrato de patrocínio (que, talvez por pressa excessiva, foi mal feito e deixou espaço para o episódio “mangas”, que resultou ou resultará, em valor bem menor que o possível) e a camisa roxa, entre outros eventos ou declarações, como, também, a venda dos direitos de TV na série B e a chegada da TV Timão. Bem ou mal, exagerado ou não, a agenda positiva corintiana funcionou muito bem e atingiu seus objetivos.
Ainda no começo de dezembro, diante do quadro que tínhamos à vista, disse que o torcedor corintiano, rebaixado para a 2ª divisão, abastecido de esperança até a boca do tanque, passaria as festas de fim de ano mais feliz que o palmeirense, na 1ª divisão, sim, mas sem participar da Libertadores.
Logo depois disso, pressionada de um lado pelo sucesso do São Paulo e de outro pela agenda positiva corintiana, a do Palmeiras foi também à luta, já com o novo patrocinador, a Fiat. Aqui, todavia, começaram a exagerar não na dose de promessa, mas no tamanho das coisas reais. O novo patrocínio foi anunciado como o maior do Brasil. Esse blog duvidou, até porque bônus por conquista não é patrocínio, tampouco verba para ações sociais, ainda mais quando essa verba não passará pelos cofres alviverdes, e irão, como já vão, direto da Fiat para entidades diversas ligadas ao trabalho com crianças e jovens. Na seqüência, a impactante contratação de Luxemburgo e o acordo com a Trafic, esse também com distorções fundamentais. A propalada verba de 40 milhões de reais para contratar jogadores existe, mas é da Trafic e não do Palmeiras, e poderá ser utilizada para levar jogadores para quaisquer outros times, inclusive os rivais do Trio de Ferro. Apesar desses “detalhes”, a agenda positiva palmeirense também funcionou e até muito bem. Agora, porém, a fatura de tanta promessa começa a ser cobrada, é hora de mostrar resultados, o que já é outra história.
As duas agendas positivas movimentaram o final e o começo de ano de boa parte dos torcedores do Trio de Ferro.
Patrocínios, sempre
No Rio de Janeiro o Vasco da Gama também buscou sua própria agenda positiva como já relatado e como já acompanharam os leitores por toda parte. Em relação ao Vasco , veio à tona a questão dos valores que serão pagos pela MRV. No post “Patrocíííííííííííííínnniiioooo!”, falava sobre isso: “acreditava que o valor fosse de oito milhões, mas é improvável uma empresa bancar um aumento de três e meio (patrocínio da MRV para o CAM em 2007) para oito milhões, de um ano para outro. O valor de seis milhões é mais factível”. E, realmente, dias depois começaram a pipocar informações não oficiais tanto no Rio de Janeiro como em Belo Horizonte, apontando para valor ainda menor que 6 milhões de reais. O jornalista Gilmar Ferreira, de O Globo, em seu blog “Futebol e coisa e tal”, disse que o valor real do patrocínio seria de 350 mil reais por mês, ou seja, 4,2 milhões por ano. Em conversa com amigo belorizontino, ouvi que a realidade deveria ser essa mesma, mais condizente com o tamanho do budget da MRV, que pagava 300 mil por mês ao Atlético Mineiro. Caso essa seja a verdade, a MRV fez um grande negócio, sem dúvida, dada a exposição de mídia do Vasco em comparação com a do Galo. Por outro lado, nunca é demais lembrar que nada vale para o anunciante ver seu nome onde ele não está, ou seja, dependendo de onde a MRV atua hoje e está querendo atuar amanhã, de nada vale, por exemplo, o Vasco ter uma boa torcida na Ilha de Santa Catarina. Diante dessas informações, esse Olhar Crônico Esportivo inclina-se para considerar verdadeiro o valor de 4,2 milhões por ano, eventualmente com algum bônus por conquista de título.
Confirmada a notícia que a Fiat irá patrocinar, também, o Cruzeiro. Dessa forma a montadora estará presente nos quatro maiores clubes mineiros – acho que o veterano América está fora desse ranking, ao menos, e com total certeza, no futebol – e, como disse o Marcelo Damato, a montadora já é campeã mineira. No mínimo. Não deixa de ser interessante o apego da Fiat pelo futebol, com patrocínios de equipes na Bahia, Minas Gerais e São Paulo.
Interessante e digno de elogios, claro.
Boas movimentações no Nordeste. De acordo com a Máquina do Esporte, o Sport Recife anunciou que vai construir um Centro de Treinamento no valor de 3 milhões de reais, em parceria com uma empresa pernambucana. O foco deverá ser a formação de novos jogadores. Tomara, mesmo, que esse CT não se limite ao anúncio e torne-se realidade. É fundamental para o futebol brasileiro a existência de clubes sólidos e boas equipes de futebol no Nordeste.
Ainda em Recife, o Náutico está se mexendo. Atualmente, o time é patrocinado por Rapidão Cometa, Minasgás, Frevo, Zorba e Pernambuco dá Sorte, o que deixa o uniforme cheio de marcas, cada uma com pouca visibilidade. A direção está planejando ter um patrocinador único para 2009, por pelo menos 3 milhões de reais por ano, contra o atual 1,8 milhão recebido dos cinco citados. Ao mesmo tempo, o clube vai investir na TV e na Rádio Náutico, inclusive com espaços próprios no Aflitos, e também vai aumentar sua presença na comercialização de produtos do clube, com lojas próprias e via internet.
O olho maior que a barriga
Era o que minha avó me dizia, assim como minha mãe e minhas tias, ao verem meu, digamos, apetite, por certos acepipes. Não vou falar sobre isso agora para não deixar ninguém, especialmente eu mesmo, com água na boca. Vou falar do apetite fora de hora e açodado da diretoria do Flamengo. Volto a citar o Gilmar Ferreira e seu “Futebol e coisa e tal”:
“O Flamengo ainda não pagou os salários do mês de dezembro, vencidos em janeiro, e não tem data para pagar os de janeiro, que vencem em fevereiro. Sem verba de patrocínio desde novembro, mês do término de seu contrato com a Petrobras, o clube também ainda não conseguiu quitar com os jogadores as premiações pelas vitórias obtidas no Campeonato Brasileiro. Com a comissão técnica, então, o saldo é maior: aqueles que trabalharam na campanha do título estadual ainda têm prêmios a receber.”
Temos aqui erros de monta, como dezembro e janeiro, e provavelmente fevereiro, sem patrocinador. Não é nada, não é nada, isso representa cerca de 4 milhões de reais que poderiam já estar nos cofres uma parte e a outra próxima de entrar, mas que foram perdidos, viraram pó, simplesmente. A esse respeito, vale a pena uma leitura de nota da Petrobrás a respeito desse imbróglio, que foi divulgada no site interno da empresa:
“Esclarecimentos sobre contrato de patrocínio esportivo
A respeito das negociações de renovação do contrato de patrocínio com o Clube de Regatas do Flamengo, a Petrobras e a Petrobras Distribuidora esclarecem que:
Em 12 de novembro de 2007, o C.R. Flamengo fez uma proposta oficial de renovação do patrocínio no valor de R$ 15,7 milhões, com adicional de R$ 500 mil em caso de classificação para a Copa Libertadores de América. O adicional não foi aceito, já que não existiu no ano anterior, tendo sido acordado, então, um contrato no valor de R$ 15,6 milhões, considerando os índices de reajustes oficiais. A proposta incluía, novamente, os direitos sobre as modalidades olímpicas com participação do Flamengo, que foram retirados anteriormente a pedido do clube.
Dessa forma, no dia 30 de novembro de
No dia 9 de janeiro de 2008, o C.R. Flamengo propôs nova reunião, na qual surpreendeu a Petrobras com proposta de aumento dos valores contratuais, em função de outras propostas recebidas pelo clube. No dia 16 de janeiro, o clube enviou à companhia uma proposta oficial de R$ 23,5 milhões por ano, elevando em 50,6% o valor já acordado.
No dia 18 de janeiro, a Petrobras fez contraproposta de R$ 16,2 milhões, incluindo o direito de ser um dos patrocinadores da Fla TV, conforme análise de valores realizada por agência de publicidade.
Conforme procedimentos da Petrobras, qualquer alteração de valores em instrumentos contratuais de continuidade deve ser baseada nos parâmetros do contrato vigente. Eventuais aumentos de valores são realizados a partir de novas contrapartidas oferecidas pelo patrocinado. A proposta do Flamengo, além de manter as mesmas condições do contrato anterior, inclui ativações do patrocínio e promoções, que geram mais custos para o patrocinador e são iniciativas que dependem, exclusivamente, do interesse mercadológico da empresa.
A parceria de 24 anos entre a Petrobras e o Flamengo sempre foi mantida nos melhores e piores momentos vividos pelo clube – nestes últimos, não tendo havido qualquer pedido de redução, por parte da Petrobras, dos valores contratuais. Neste período, como hoje, o patrocínio sempre esteve entre os maiores, se não o maior, do futebol brasileiro.
A empresa está satisfeita com o retorno de visibilidade do patrocínio e aguarda, para logo após o carnaval, uma definição do C.R. Flamengo em relação à última proposta apresentada pela companhia no dia 18 de janeiro.
Por fim, informamos que, conforme já formalizado e do conhecimento do clube, a exposição de marca de uma empresa, sem respaldo em instrumento contratual, é de única e exclusiva responsabilidade de quem a expõe.
Comunicação Institucional
Rio, 31/1/2008”
Cabe destacar a última frase dessa nota: “a exposição de marca de uma empresa, sem respaldo em instrumento contratual, é de única e exclusiva responsabilidade de quem a expõe” – e também alguns pontos que, a meu ver, configuram uma falha no planejamento do Flamengo.
- Apresentação da proposta de renovação muito tarde, em 12 de novembro de 2007. Considerando a importância desse patrocínio para o clube e que dezembro, justamente o mês de maior despesa para as empresas brasileiras, estaria descoberto, o correto teria sido a apresentação da proposta ainda em setembro, o mais tardar em outubro. Provavelmente, houve uma decisão de aguardar a proximidade do final da temporada, confiando que uma melhor classificação do time alavancaria o valor do patrocínio. Essa hipótese, todavia, não só não se tornou realidade, como dificilmente seria, o que é do conhecimento de quem trabalha com empresas públicas.
- Contraproposta: não ficou claro o porque, provavelmente por conta de alguma sinalização vinda do clube, a Petrobrás em 30/11 deu início aos trâmites burocráticos para aprovar internamente o novo patrocínio. Entretanto, em 9 de janeiro o clube apareceu, de forma surpreendente, com o pedido de um valor maior para o patrocínio, o que foi formalizado somente uma semana depois, em 16 de janeiro. Enquanto isso, o mês corria, e o fato da equipe jogar com o nome do patrocinador já não significava nada, quando muito um gesto de boa vontade do clube para com a empresa.
- No dia 18 de janeiro a empresa contrapropôs 16,2 milhões, valor que, com certeza, poderia ter sido obtido em outubro ou em novembro.
Tomando como correta a informação que o patrocínio venceu em novembro, o Flamengo perdeu dezembro e janeiro sem patrocínio e, provavelmente, a menos que já tenha tudo acertado com outra empresa e uniformes já prontos, perderá também fevereiro, um mês muito curto, muito pequeno para se ganhar dinheiro, mas que é tão grande como os demais para o pagamento das despesas fixas. Portanto, o que disse no ínício sobre os 4 milhões que viraram pó, está justificado por essa seqüência de eventos, nitidamente mal planejados.
A diretoria do CRF enxergou a possibilidade de ganhar mais dinheiro com outro patrocinador. Provavelmente ela é verdadeira, eu acredito nisso. Penso que o novo patrocinador pagará algo como 20 milhões por ano. O mais curioso é que, se essa previsão for confirmada, o dinheiro que virou pó desses três meses é exatamente a diferença entre o que a Petrobrás se propôs a pagar e o que um novo patrocinador pagará. Durante todo esse tempo, os salários de dezembro ficaram para trás, assim como os salários de janeiro. E já estamos em pleno fevereiro.
Não será de duvidar que o clube, a exemplo do que fez o Palmeiras, peça uma polpuda antecipação do valor a receber apenas para pagar atrasados. No caso alviverde, esse valor foi de 7 milhões de reais, o que deixou quase nada a receber durante 2008 do patrocinador.
Marcadores: Clube Atlético Mineiro, Corinthians, Cruzeiro, Flamengo, Marketing e Dinheiro, Náutico, Palmeiras, Sport, Vasco