Um Olhar Crônico Esportivo

Um espaço para textos e comentários sobre esportes.

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sexta-feira, fevereiro 01, 2008

O Olho maior que a barriga, as Agendas positivas e os Patrocínios

O Olho maior que a barriga, as Agendas positivas e os Patrocínios

Tão logo o Corinthians foi rebaixado, Andrés Sanches, de forma atrevida, exagerada e muito inteligente, foi à luta. Colocou em ação uma “agenda positiva”, cujo objetivo era manter elevada a auto-estima do corintiano, manter acesa a chama da paixão e o ânimo para a nova temporada. Ocupou espaços em todas as mídias dizendo que o Corinthians passaria por reformulação e que ocuparia o lugar que lhe é de direito não só nas competições futuras, como também, e principalmente, nas ações de marketing, jogo que se disputa todos os dias do ano, independentemente do calendário do futebol.

Sanches não se limitou a falar e pôs em prática ações ou propostas de ações – o que vem a dar na mesma, em termos de repercussão, coisa que qualquer político iniciante sabe muitíssimo bem. Desde então, quase que dia-sim-dia-não, lemos ou ouvimos alguma coisa sobre marketing envolvendo o Corinthians, todas elas, é claro, com a promessa de mais dinheiro para os cofres corintianos. Assim foi com a campanha “Nunca vou te abandonar”, com a assinatura do novo contrato de patrocínio (que, talvez por pressa excessiva, foi mal feito e deixou espaço para o episódio “mangas”, que resultou ou resultará, em valor bem menor que o possível) e a camisa roxa, entre outros eventos ou declarações, como, também, a venda dos direitos de TV na série B e a chegada da TV Timão. Bem ou mal, exagerado ou não, a agenda positiva corintiana funcionou muito bem e atingiu seus objetivos.

Ainda no começo de dezembro, diante do quadro que tínhamos à vista, disse que o torcedor corintiano, rebaixado para a 2ª divisão, abastecido de esperança até a boca do tanque, passaria as festas de fim de ano mais feliz que o palmeirense, na 1ª divisão, sim, mas sem participar da Libertadores.

Logo depois disso, pressionada de um lado pelo sucesso do São Paulo e de outro pela agenda positiva corintiana, a do Palmeiras foi também à luta, já com o novo patrocinador, a Fiat. Aqui, todavia, começaram a exagerar não na dose de promessa, mas no tamanho das coisas reais. O novo patrocínio foi anunciado como o maior do Brasil. Esse blog duvidou, até porque bônus por conquista não é patrocínio, tampouco verba para ações sociais, ainda mais quando essa verba não passará pelos cofres alviverdes, e irão, como já vão, direto da Fiat para entidades diversas ligadas ao trabalho com crianças e jovens. Na seqüência, a impactante contratação de Luxemburgo e o acordo com a Trafic, esse também com distorções fundamentais. A propalada verba de 40 milhões de reais para contratar jogadores existe, mas é da Trafic e não do Palmeiras, e poderá ser utilizada para levar jogadores para quaisquer outros times, inclusive os rivais do Trio de Ferro. Apesar desses “detalhes”, a agenda positiva palmeirense também funcionou e até muito bem. Agora, porém, a fatura de tanta promessa começa a ser cobrada, é hora de mostrar resultados, o que já é outra história.

As duas agendas positivas movimentaram o final e o começo de ano de boa parte dos torcedores do Trio de Ferro.

Patrocínios, sempre

No Rio de Janeiro o Vasco da Gama também buscou sua própria agenda positiva como já relatado e como já acompanharam os leitores por toda parte. Em relação ao Vasco, veio à tona a questão dos valores que serão pagos pela MRV. No post “Patrocíííííííííííííínnniiioooo!”, falava sobre isso: “acreditava que o valor fosse de oito milhões, mas é improvável uma empresa bancar um aumento de três e meio (patrocínio da MRV para o CAM em 2007) para oito milhões, de um ano para outro. O valor de seis milhões é mais factível”. E, realmente, dias depois começaram a pipocar informações não oficiais tanto no Rio de Janeiro como em Belo Horizonte, apontando para valor ainda menor que 6 milhões de reais. O jornalista Gilmar Ferreira, de O Globo, em seu blog “Futebol e coisa e tal”, disse que o valor real do patrocínio seria de 350 mil reais por mês, ou seja, 4,2 milhões por ano. Em conversa com amigo belorizontino, ouvi que a realidade deveria ser essa mesma, mais condizente com o tamanho do budget da MRV, que pagava 300 mil por mês ao Atlético Mineiro. Caso essa seja a verdade, a MRV fez um grande negócio, sem dúvida, dada a exposição de mídia do Vasco em comparação com a do Galo. Por outro lado, nunca é demais lembrar que nada vale para o anunciante ver seu nome onde ele não está, ou seja, dependendo de onde a MRV atua hoje e está querendo atuar amanhã, de nada vale, por exemplo, o Vasco ter uma boa torcida na Ilha de Santa Catarina. Diante dessas informações, esse Olhar Crônico Esportivo inclina-se para considerar verdadeiro o valor de 4,2 milhões por ano, eventualmente com algum bônus por conquista de título.

Confirmada a notícia que a Fiat irá patrocinar, também, o Cruzeiro. Dessa forma a montadora estará presente nos quatro maiores clubes mineiros – acho que o veterano América está fora desse ranking, ao menos, e com total certeza, no futebol – e, como disse o Marcelo Damato, a montadora já é campeã mineira. No mínimo. Não deixa de ser interessante o apego da Fiat pelo futebol, com patrocínios de equipes na Bahia, Minas Gerais e São Paulo.

Interessante e digno de elogios, claro.

Boas movimentações no Nordeste. De acordo com a Máquina do Esporte, o Sport Recife anunciou que vai construir um Centro de Treinamento no valor de 3 milhões de reais, em parceria com uma empresa pernambucana. O foco deverá ser a formação de novos jogadores. Tomara, mesmo, que esse CT não se limite ao anúncio e torne-se realidade. É fundamental para o futebol brasileiro a existência de clubes sólidos e boas equipes de futebol no Nordeste.

Ainda em Recife, o Náutico está se mexendo. Atualmente, o time é patrocinado por Rapidão Cometa, Minasgás, Frevo, Zorba e Pernambuco dá Sorte, o que deixa o uniforme cheio de marcas, cada uma com pouca visibilidade. A direção está planejando ter um patrocinador único para 2009, por pelo menos 3 milhões de reais por ano, contra o atual 1,8 milhão recebido dos cinco citados. Ao mesmo tempo, o clube vai investir na TV e na Rádio Náutico, inclusive com espaços próprios no Aflitos, e também vai aumentar sua presença na comercialização de produtos do clube, com lojas próprias e via internet.

O olho maior que a barriga

Era o que minha avó me dizia, assim como minha mãe e minhas tias, ao verem meu, digamos, apetite, por certos acepipes. Não vou falar sobre isso agora para não deixar ninguém, especialmente eu mesmo, com água na boca. Vou falar do apetite fora de hora e açodado da diretoria do Flamengo. Volto a citar o Gilmar Ferreira e seu “Futebol e coisa e tal”:

O Flamengo ainda não pagou os salários do mês de dezembro, vencidos em janeiro, e não tem data para pagar os de janeiro, que vencem em fevereiro. Sem verba de patrocínio desde novembro, mês do término de seu contrato com a Petrobras, o clube também ainda não conseguiu quitar com os jogadores as premiações pelas vitórias obtidas no Campeonato Brasileiro. Com a comissão técnica, então, o saldo é maior: aqueles que trabalharam na campanha do título estadual ainda têm prêmios a receber.

Temos aqui erros de monta, como dezembro e janeiro, e provavelmente fevereiro, sem patrocinador. Não é nada, não é nada, isso representa cerca de 4 milhões de reais que poderiam já estar nos cofres uma parte e a outra próxima de entrar, mas que foram perdidos, viraram pó, simplesmente. A esse respeito, vale a pena uma leitura de nota da Petrobrás a respeito desse imbróglio, que foi divulgada no site interno da empresa:

Esclarecimentos sobre contrato de patrocínio esportivo

A respeito das negociações de renovação do contrato de patrocínio com o Clube de Regatas do Flamengo, a Petrobras e a Petrobras Distribuidora esclarecem que:

Em 12 de novembro de 2007, o C.R. Flamengo fez uma proposta oficial de renovação do patrocínio no valor de R$ 15,7 milhões, com adicional de R$ 500 mil em caso de classificação para a Copa Libertadores de América. O adicional não foi aceito, já que não existiu no ano anterior, tendo sido acordado, então, um contrato no valor de R$ 15,6 milhões, considerando os índices de reajustes oficiais. A proposta incluía, novamente, os direitos sobre as modalidades olímpicas com participação do Flamengo, que foram retirados anteriormente a pedido do clube.

Dessa forma, no dia 30 de novembro de 2007, a Petrobras iniciou os trâmites burocráticos para efetivação da contratação do patrocínio.

No dia 9 de janeiro de 2008, o C.R. Flamengo propôs nova reunião, na qual surpreendeu a Petrobras com proposta de aumento dos valores contratuais, em função de outras propostas recebidas pelo clube. No dia 16 de janeiro, o clube enviou à companhia uma proposta oficial de R$ 23,5 milhões por ano, elevando em 50,6% o valor já acordado.

No dia 18 de janeiro, a Petrobras fez contraproposta de R$ 16,2 milhões, incluindo o direito de ser um dos patrocinadores da Fla TV, conforme análise de valores realizada por agência de publicidade.

Conforme procedimentos da Petrobras, qualquer alteração de valores em instrumentos contratuais de continuidade deve ser baseada nos parâmetros do contrato vigente. Eventuais aumentos de valores são realizados a partir de novas contrapartidas oferecidas pelo patrocinado. A proposta do Flamengo, além de manter as mesmas condições do contrato anterior, inclui ativações do patrocínio e promoções, que geram mais custos para o patrocinador e são iniciativas que dependem, exclusivamente, do interesse mercadológico da empresa.

A parceria de 24 anos entre a Petrobras e o Flamengo sempre foi mantida nos melhores e piores momentos vividos pelo clube – nestes últimos, não tendo havido qualquer pedido de redução, por parte da Petrobras, dos valores contratuais. Neste período, como hoje, o patrocínio sempre esteve entre os maiores, se não o maior, do futebol brasileiro.

A empresa está satisfeita com o retorno de visibilidade do patrocínio e aguarda, para logo após o carnaval, uma definição do C.R. Flamengo em relação à última proposta apresentada pela companhia no dia 18 de janeiro.

Por fim, informamos que, conforme já formalizado e do conhecimento do clube, a exposição de marca de uma empresa, sem respaldo em instrumento contratual, é de única e exclusiva responsabilidade de quem a expõe.

Comunicação Institucional

Rio, 31/1/2008

Cabe destacar a última frase dessa nota: “a exposição de marca de uma empresa, sem respaldo em instrumento contratual, é de única e exclusiva responsabilidade de quem a expõe” – e também alguns pontos que, a meu ver, configuram uma falha no planejamento do Flamengo.

- Apresentação da proposta de renovação muito tarde, em 12 de novembro de 2007. Considerando a importância desse patrocínio para o clube e que dezembro, justamente o mês de maior despesa para as empresas brasileiras, estaria descoberto, o correto teria sido a apresentação da proposta ainda em setembro, o mais tardar em outubro. Provavelmente, houve uma decisão de aguardar a proximidade do final da temporada, confiando que uma melhor classificação do time alavancaria o valor do patrocínio. Essa hipótese, todavia, não só não se tornou realidade, como dificilmente seria, o que é do conhecimento de quem trabalha com empresas públicas.

- Contraproposta: não ficou claro o porque, provavelmente por conta de alguma sinalização vinda do clube, a Petrobrás em 30/11 deu início aos trâmites burocráticos para aprovar internamente o novo patrocínio. Entretanto, em 9 de janeiro o clube apareceu, de forma surpreendente, com o pedido de um valor maior para o patrocínio, o que foi formalizado somente uma semana depois, em 16 de janeiro. Enquanto isso, o mês corria, e o fato da equipe jogar com o nome do patrocinador já não significava nada, quando muito um gesto de boa vontade do clube para com a empresa.

- No dia 18 de janeiro a empresa contrapropôs 16,2 milhões, valor que, com certeza, poderia ter sido obtido em outubro ou em novembro.

Tomando como correta a informação que o patrocínio venceu em novembro, o Flamengo perdeu dezembro e janeiro sem patrocínio e, provavelmente, a menos que já tenha tudo acertado com outra empresa e uniformes já prontos, perderá também fevereiro, um mês muito curto, muito pequeno para se ganhar dinheiro, mas que é tão grande como os demais para o pagamento das despesas fixas. Portanto, o que disse no ínício sobre os 4 milhões que viraram pó, está justificado por essa seqüência de eventos, nitidamente mal planejados.

A diretoria do CRF enxergou a possibilidade de ganhar mais dinheiro com outro patrocinador. Provavelmente ela é verdadeira, eu acredito nisso. Penso que o novo patrocinador pagará algo como 20 milhões por ano. O mais curioso é que, se essa previsão for confirmada, o dinheiro que virou pó desses três meses é exatamente a diferença entre o que a Petrobrás se propôs a pagar e o que um novo patrocinador pagará. Durante todo esse tempo, os salários de dezembro ficaram para trás, assim como os salários de janeiro. E já estamos em pleno fevereiro.

Não será de duvidar que o clube, a exemplo do que fez o Palmeiras, peça uma polpuda antecipação do valor a receber apenas para pagar atrasados. No caso alviverde, esse valor foi de 7 milhões de reais, o que deixou quase nada a receber durante 2008 do patrocinador.


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Cobranças prematuras – Parte II


0x0... 0x1... 1x2... 3x1...

Resultados dos jogos de anteontem e ontem de Corinthians, Palmeiras, Santos e São Paulo, respectivamente.

0x0 – Pelo que pude ver, o time de Mano Menezes teve dificuldade em vencer a boa marcação do Sertãozinho, que, como é normal nos times do interior jogando em casa, ocupou o meio-campo com vontade e aplicação e atirou-se à frente. Os erros de passe ajudaram a deixar a superioridade com o time da casa.

0x1 – No caso palmeirense foi ainda pior. Diego Souza, a contratação-novela e badalada, estreou, mas o jogo, para variar, foi conduzido pelo bem marcado Valdívia. O Ituano teve várias chances claras de gol, mas marcou apenas um. O já sonhado “quadrado mágico” da torcida palmeirense – Diego, Valdívia, Lenny e Alex Mineiro – jogou meio-tempo junto, mas nada produziu. Talvez porque um ainda não saiba o nome do outro.

1x2 – Resultado terrível para o Santos, numa noite em que a bola não entrou e quando isso aconteceu, não valeu. No lance da cobrança de pênalti, confesso ter achado estranha a decisão do juiz, a princípio, pois julguei, como o locutor, que o lance foi invalidado pela invasão de área, mas não, o juiz invalidou porque o bandeira acusou posição irregular do goleiro antes da cobrança. Na cobrança válida, defesa de Renê. Antes e depois disso, o time totalmente mudado do Santos, com vários garotos vindos da base, dominou, atacou e não conseguiu marcar. Não faltou garra, não faltou vontade, não faltou nem mesmo muita correria, pelo contrário, os jogadores correram até demais. Faltou existir um time de futebol, coisa que Leão conseguirá, se permanecer, com mais algumas semanas de treinamentos.

3x1 – Único resultado positivo de um dos grandes, mas mesmo assim insuficiente na visão apressada, imediatista, da maioria dos torcedores e de muitos jornalistas, o São Paulo venceu o Rio Claro, mas com muita dificuldade, terminando o primeiro tempo sem abertura de placar. O Rio Claro não se intimidou e pressionou o São Paulo nos primeiros minutos de jogo, até sucumbir diante do acerto maior entre os jogadores tricolores. Que evoluíram no quesito “conjunto”, mas ainda deixam a desejar no quesito “passe” e também no “colocação”.

Tudo normal, entretanto. Ou melhor, deveria ser tudo normal.

Anteontem foi o 23º dia de trabalho do São Paulo e o 28º de Corinthians e Palmeiras.

O Santos foi “privilegiado”: jogou no seu 29º dia pós-temporada. A essa altura da já temporada, jogadores ainda estão estreando, como Diego Costa e Lenny. Outros estrearam tão somente 4 dias antes, como Bóvio e Carlos Alberto. Sintoma típico do início de temporada, o “cruzador” Jorge Wagner, anteontem, marcou um belíssimo gol, com um chute forte de fora da área direto no ângulo esquerdo da meta rio-clarense. Minutos antes, ao invés de alçar uma bola na área, ponto em que muitos consideram-no o melhor a fazer isso no Brasil, ele colocou-a em órbita da área. Mais um pouco poderia servir como satélite de comunicações. Bisonhice? Longe disso, simplesmente a musculatura, o equilíbrio, a noção de força e profundidade ainda não estão no ponto certo. Uma coisa é bater bola sem compromisso ou treinar ou disputar jogos amistosos, outra, muito diferente, é disputar um jogo válido por uma competição, ter a pressão combinada de torcida, direção e imprensa e, ainda por cima, enfrentar um adversário motivado, com jogadores que querem e precisam mostrar serviço, que disputam cada bola, todas as bolas, como se fosse o famoso prato de comida de Scolari.

As pressões crescem, em especial no Santos, onde podem resultar na queda de Emerson Leão, e no Palmeiras. No Corinthians, a “agenda positiva” de Andrés Sanches, tendo o marketing como foco, está dando certo e motivando a torcida, cujo comportamento é de apoio ao time, apesar de alguns resultados ruins. Apesar da invencibilidade e vice-liderança, Muricy vem sofrendo pressões no São Paulo e as críticas vão se avolumando. Se vencer a Ponte amanhã, conquistando a liderança isolada do Paulista, a paz voltará a reinar... Até o próximo empate ou a primeira derrota.

Luxemburgo tem personalidade, carisma e contrato fortes o bastante para tirar de letra o prenúncio de crise que ronda o Parque Antártica. A curto prazo deverá reverter a situação, ainda mais por dispor de bom elenco. Já o Santos está muito próximo de mais um ato desastrado de seu presidente, capaz de ceder às pressões das quais é ou deveria ser o único alvo, trocando Leão por outro nome. Consta que já procurou por Abel Braga, que recusou o convite e, ainda por cima, avisou Leão.

Tudo isso seria não normal, mas aceitável e compreensível, no final do campeonato e com os times amargando péssimas colocações. Mesmo assim, ainda não seria o caso, racionalmente, de tanta cobrança. Todavia, apenas terminou a quinta rodada do Paulista 2008 e amanhã começa a sexta rodada.

Mas já a sexta rodada amanhã?

A quinta terminou ontem!

Pois é, é assim que é no futebol do Brasil.



Post scriptum

Vejo em diversas matérias e comentários de torcedores a preciosidade que o Santos está na “zona de rebaixamento”.

Ora, com todo o respeito, falar em zona de rebaixamento na 5ª rodada de um campeonato com 19 é uma grande bobagem e apenas um componente a mais do item “pressão” sobre os times.

Na minha visão, essa colocação começa a ter algum sentido a partir da metade do campeonato e começa a fazer sentido de verdade, em seu terço final.

Antes disso não passa de pressão, inconsciente ou não.


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quarta-feira, janeiro 30, 2008

Cobranças prematuras


São Paulo, 30 de janeiro de 2008.

Há tão somente 23 dias os jogadores do São Paulo voltaram das férias. Desde então, e depois de treinarem por oito ou nove dias, já disputaram 4 partidas válidas pelo Campeonato Paulista.
A rigor, nenhuma foi fácil, enfrentando times altamente motivados e que já estão em fase de treinamento e apronto para esse campeonato há mais tempo.

A mesma coisa ocorre com Santos, Palmeiras e Corinthians, com diferença, apenas, de alguns dias a mais de preparo para essas equipes e com o mesmo número de jogos disputados.

Entretanto, apesar desse tempo inexistente para preparar um time, a imprensa, os torcedores e até mesmo alguns dirigentes já cobram melhor futebol do time do São Paulo e de seu treinador, cobranças que se repetem sobre os demais grandes times paulistas.

Para dizer o mínimo, ficarei com duas palavras: inacreditável e inaceitável.

Essas quatro equipes passaram por mudanças mais – Corinthians – ou menos radicais – Palmeiras, Santos e São Paulo.
Mesmo essas três, que mudaram menos que o bi-campeão brasileiro, também mudaram bastante, duas delas, inclusive, mudaram até o treinador.

A meu ver, e creio que na opinião da maioria das pessoas que trabalham a sério com o futebol, qualquer tipo de cobrança e boa parte das críticas, só passarão a ter alguma validade a partir de sessenta dias do início dos trabalhos.

Isso é o natural, é o correto.

Tem mais: as cobranças fortes de hoje podem impactar negativamente e criar uma situação de resposta sem a correspondente dose de preparação, gerando novos resultados tidos como negativos, que por sua vez somente aumentarão a carga de stress a que jogadores e comissões técnicas são submetidos tão precocemente.

Parte desse resultado será o aumento de lesões musculares.

Outra parte, paradoxalmente, uma maior demora para que o bom futebol apareça.

Onde está a inteligência e a visão abrangente do futebol?

Que torcedores, desinformados ou mal informados em sua absoluta maioria, para não dizer quase totalidade, façam cobranças, é compreensível, pode até ser admissível com grande dose de boa vontade. Mas que jornalistas e dirigentes, teoricamente melhor preparados e melhor informados sobre as coisas do mundo da bola também façam críticas e cobranças, isso, repito, é inaceitável.

Tal como foi a postura do vice-presidente de futebol do São Paulo, por exemplo.

Começa hoje para os quatro grandes mais uma rodada do Campeonato Paulista, a quinta já. Todos eles entrarão em campo bastante pressionados, bem além da pressão normal de todo time grande.

Antes do tempo, antes da hora, antes de atingirem um bom preparo físico, antes de alcançarem um mínimo de entrosamento.

Eis a provável razão para o mau humor do técnico Muricy Ramalho.

Eis a provável razão para o mau humor do técnico Emerson Leão.

Eis a provável razão para o mau humor do técnico Vanderlei Luxemburgo.

Eis a provável razão para o mau humor do técnico Mano Menezes.

Esse último, porém, mais disfarçado que os demais.

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terça-feira, janeiro 29, 2008

Só marketing?


Tiago, o novo e jovem goleiro do Vasco, marcou um gol de pênalti em jogo válido pelo Campeonato Carioca. A repercussão foi enorme e, pelo que pude perceber na internet, a aprovação da torcida foi total.

Bruno, goleiro do Flamengo, igualmente jovem como Tiago, tentou cobrar uma penalidade máxima em jogo do mesmo campeonato e foi impedido pelo centroavante Souza, numa situação até um pouco constrangedora, e que poderá resultar em problemas internos, se não agora, mais adiante. Nesse caso, as reações de muitos torcedores do Flamengo foram, em minha opinião, muito conformistas e apegadas ao modelo convencional de sempre. Uma pena, pois Bruno sempre manifestou esse desejo e treina faltas e cobranças regularmente.

Ambos seguem o exemplo de Rogério Ceni, do São Paulo, que por sua vez seguiu o exemplo de Chilavert. Rogério que, por sinal, não é um bom cobrador de pênaltis, e chamou para si essa responsabilidade num momento em que o time ressentia-se da falta de bons cobradores e o jogador destacado para fazê-lo à época, Diego Tardelli, perdeu uma cobrança de forma bisonha. Desde então, mesmo com a chegada de novos jogadores ao elenco, ele permaneceu como o cobrador oficial.

Cobrar pênalti parece fácil, mas não é.

Tem mais: já foi muito menos difícil e muito mais produtivo para os batedores do que é hoje. Os goleiros evoluíram – essa, sem dúvida, foi a posição que mais evolução apresentou no futebol nos últimos 50 anos – e hoje são muito mais aptos a defender essas cobranças que no passado, graças ao melhor preparo físico, aos treinamentos específicos e às informações que toda boa comissão técnica reúne e passa a seus jogadores.

Hoje, mais do que nunca, é verdadeira a celebre frase do filósofo da bola, Neném Prancha: “O pênalti é tão importante que deveria ser batido pelo presidente do clube” ou, levando em conta os tempos modernos, pelo dono do clube.

Seria interessante ver Kaká abrir caminho para Berlusconi cobrar uma penalidade contra a Internazionale. Se o ex-primeiro-ministro italiano perdesse seria criticado pela torcida e pela imprensa, mas, e daí? O time é dele, logo, ele faz o que quer. Só em teoria, felizmente.

Rogério é muito melhor cobrando faltas. Seu índice de acertos é elevadíssimo, mesmo prejudicado por um cuidado extra ao bater: ele precisa fazê-lo de tal forma que evite, ao máximo, que a bola bata na barreira e desse rebote nasça um contra-ataque fatal. Isso aconteceu uma única vez, em jogo contra o Santos já treinado por Luxemburgo, que armou-se muito bem para aproveitar o rebote e conseguiu marcar o gol enquanto Rogério ainda estava fora da meta. O outro gol sofrido por ele depois de uma cobrança, feito por Roger, no Fluminense, foi fruto de celebração exagerada por parte dos companheiros, o que atrasou seu retorno à meta. Ao mesmo tempo, o juiz apitou o reinício com ele ainda fora de posição. Desde então, quando marca um gol Rogério corre de volta para sua posição de goleiro em linha reta, sem abraços e “montanha” de jogadores, apenas toques de mão na corrida.

Bruno e Tiago são, ao que dizem, bons cobradores de faltas. Tiago, inclusive, já marcou gols dessa forma e não só batendo pênaltis. Ambos têm muitos anos de carreira à frente e poderão até ultrapassar Rogério, que começou tardiamente e mais tarde ainda a cobrar os pênaltis do São Paulo.

Vale a pena?

Ah, sim, vale a pena, sem a menor dúvida. Quando tem falta para o São Paulo bater na entrada da área adversária, o estádio ferve, a torcida pula, a gritaria aumenta.

Enquanto o goleiro deixa sua meta e caminha em direção ao lugar mais improvável para sua presença em campo, a expectativa toma conta de todos que estão assistindo ao jogo. Pode-se dizer que o estádio silencia nos segundos finais antes da cobrança. Adversários torcem contra, fazem figa, torcem as mãos, alguns até oram pedindo pelo erro. A torcida são-paulina vive um momento único de suspense, um momento de quase-gol, seja a favor, seja contra.

É um sentimento único.

De repente explode.

Se resultou em gol ou não é até irrelevante, pois todo o preparo, toda a mise-em-scène que precede esse momento, vale plenamente e é um espetáculo por si só.

Está certo o Vasco ao permitir que Tiago cobre pênaltis e, quem sabe mais à frente, também algumas faltas.

Errou o Flamengo ao tirar esse doce da boca de sua torcida. É uma pena, volto a repetir. Ter dois goleiros cobrando faltas e pênaltis no mesmo campeonato por dois times com tanta tradição e com tanta rivalidade, seria uma grande atração para um campeonato, cá entre nós, muito chocho e sem graça, com tudo preparado para os quatro grandes treinarem sem problemas sem sair da cidade.

Porque goleiro marcar gol é muito mais que marketing, é espetáculo da melhor qualidade.

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segunda-feira, janeiro 28, 2008

Patrocíííííííííííííínnniiioooo!

Essa palavra entrou na moda e rolou na boca dos mais diversos torcedores, principalmente nos grandes centros do futebol. Faltou pouco para termos os locutores anunciando a assinatura de contrato como se fosse um gol do time.

Como se fosse?

Na verdade, é.

É um gol, e dos mais importantes. Ninguém melhor que um vascaíno para dizer isso hoje, quando foi assinado o contrato com a MRV, com validade de um ano. Há muitos anos o C.R. Vasco da Gama não tinha um patrocinador em sua camisa, exceção feita ao curto período em que o time ficou à disposição de Romário para que este marcasse seu milésimo gol, sob o patrocínio do BMG.

O valor desse patrocínio não foi comunicado oficialmente, e pessoas ligadas ao clube falam em 12 milhões, mas esse blog estima que ficou entre seis e oito milhões de reais, um pouco abaixo dos valores dos patrocínio do Palmeiras pela Fiat (8,5 milhões, mais 1,5 de bônus em caso de conquista de título) e Santos (10 milhões), com a Semp Toshiba. A princípio acreditava que o valor fosse de oito milhões, mas é improvável uma empresa bancar um aumento de três e meio (patrocínio da MRV para o CAM em 2007) para oito milhões, de um ano para outro. O valor de seis milhões é mais factível.

A esse respeito, e como foi postado aqui nesse Olhar Crônico Esportivo em 17 e 21 de dezembro, não há muito o que inventar. Na época, disse que o patrocínio da Fiat para o Palmeiras seria na faixa de dez milhões e que o número de 19 milhões apresentado pela diretoria palmeirense era irreal, como de fato é. Primeiro, porque parte desse valor (7 milhões) já são aplicados pela Fiat em trabalhos sociais, que apenas serão acoplados ao Palmeiras. Segundo, porque além da realidade de mercado, documento interno da presidência para os conselheiros confirma o valor de 8,5 e mais 1,5 como bônus. Os números anunciados com fanfarras, confete e serpentina tinham como objetivo apenas fazer festa e passar uma mensagem positiva ao torcedor (que no fundo preferia, mesmo, é a classificação para a Libertadores).

Também por esses dias a Fiat assinou o contrato de patrocínio com o Clube Atlético Mineiro, comemorando seu centenário nesse ano. Tampouco nesse caso foi divulgado o valor do patrocínio, mas deve ser por volta de 6 milhões de reais, o mesmo valor, por sinal, que recebe o Botafogo da Liquigás.

No sul, o Internacional renovou recentemente com a Tramontina, presente nas mangas do uniforme, e segue com o Banrisul até dezembro, o Grêmio segue com seus patrocinadores, dois deles também do Internacional e o Atlético Paranaense fechou patrocínio com a seguradora HDI, por dois anos e valores não revelados.

Outros times por todo o Brasil assinaram novos contratos de patrocínio, contribuindo para que esse tema dominasse parte das discussões dos blogs e ocupasse espaços na imprensa.

Boa parte desse oba-oba começou com a assinatura cercada por câmeras e holofotes do novo patrocínio do Corinthians, com a Medial Saúde, no valor de 16,5 milhões de reais. Um belíssimo movimento da nova direção corintiana, sem dúvida, trazendo alento para os torcedores e colocando na ordem do dia das discussões um tema diferente e onde o time (na verdade, o clube) é vencedor. No momento, parece haver um impasse com relação à venda do patrocínio nas mangas da camisa, pois esse espaço, por falha contratual, é propriedade da Medial. Diz-se que para permitir um novo patrocinador nas mangas a Medial teria um desconto bem elevado em seus pagamentos.

No ano passado o São Paulo teve problema com a LG devido ao patrocínio Habib’s nas camisas de treino. O entrevero levou à suspensão dos pagamentos mensais por três meses, coincidindo com a eliminação do time no Paulista e na Libertadores. Motivo: açodamento nas negociações, provavelmente, que levaram a contratos com brechas para reclamações desse tipo. Nada como a experiência para aprender.

São Paulo e Flamengo mantêm seus patrocínios com LG e Petrobrás, respectivamente, ambos na faixa de 16 milhões anuais.

Na Gávea, as reclamações contra a Petrobrás são muitas, e vão desde a suspensão dos pagamentos motivada pela situação fiscal do clube, até o valor pago, considerado muito baixo. Comenta-se que parte da diretoria está disposta a lotear a camisa, com patrocínio de uma empresa na frente, outra atrás, mais uma no calção e nas mangas... Muitos clubes pequenos e alguns nem tanto fazem isso, mas o resultado, tanto estético quanto comercial, deixa muito a desejar. Há situações em que 2+2 = 4 vira uma sentença falsa e a verdadeira é, surpreendentemente, 2+2 = 3. No Morumbi o clima é tranqüilo, por enquanto, mas, provavelmente, as conversas sobre a renovação com a LG já começaram. Como esse blog comentou, dado o patrocínio Reebok e sua influência e sinalização, o valor do novo patrocínio deverá girar em torno ou próximo a 25 milhões de reais. Uma conquista da Libertadores, porém, poderá elevar esse valor para um nível mais alto. A ver.



Há ainda os patrocínios das empresas de material esportivo, mas o foco desse post e desse momento é o patrocínio “de camisa”, o mais visível de todos. Foi ele que entrou nas rodas de bar, nas conversas matinais nos elevadores, no bate-papo do almoço. Aos trancos e barrancos o torcedor brasileiro começa a tomar contato com a realidade do marketing no futebol, trazendo – ou não – recursos importantíssimos para a sobrevivência dos clubes e – por que não? – para a conquista de títulos.


Post scriptum


Muito do que está nesse post já foi publicado aqui mesmo, lamento. Fica com cara de coisa requentada, né? O problema é que o mercado está requentando tudo isso, há muito vai-e-vem de informações.


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