Só marketing?
Tiago, o novo e jovem goleiro do Vasco, marcou um gol de pênalti em jogo válido pelo Campeonato Carioca. A repercussão foi enorme e, pelo que pude perceber na internet, a aprovação da torcida foi total.
Bruno, goleiro do Flamengo, igualmente jovem como Tiago, tentou cobrar uma penalidade máxima em jogo do mesmo campeonato e foi impedido pelo centroavante Souza, numa situação até um pouco constrangedora, e que poderá resultar em problemas internos, se não agora, mais adiante. Nesse caso, as reações de muitos torcedores do Flamengo foram, em minha opinião, muito conformistas e apegadas ao modelo convencional de sempre. Uma pena, pois Bruno sempre manifestou esse desejo e treina faltas e cobranças regularmente.
Ambos seguem o exemplo de Rogério Ceni, do São Paulo, que por sua vez seguiu o exemplo de Chilavert. Rogério que, por sinal, não é um bom cobrador de pênaltis, e chamou para si essa responsabilidade num momento em que o time ressentia-se da falta de bons cobradores e o jogador destacado para fazê-lo à época, Diego Tardelli, perdeu uma cobrança de forma bisonha. Desde então, mesmo com a chegada de novos jogadores ao elenco, ele permaneceu como o cobrador oficial.
Cobrar pênalti parece fácil, mas não é.
Tem mais: já foi muito menos difícil e muito mais produtivo para os batedores do que é hoje. Os goleiros evoluíram – essa, sem dúvida, foi a posição que mais evolução apresentou no futebol nos últimos 50 anos – e hoje são muito mais aptos a defender essas cobranças que no passado, graças ao melhor preparo físico, aos treinamentos específicos e às informações que toda boa comissão técnica reúne e passa a seus jogadores.
Hoje, mais do que nunca, é verdadeira a celebre frase do filósofo da bola, Neném Prancha: “O pênalti é tão importante que deveria ser batido pelo presidente do clube” ou, levando em conta os tempos modernos, pelo dono do clube.
Seria interessante ver Kaká abrir caminho para Berlusconi cobrar uma penalidade contra a Internazionale. Se o ex-primeiro-ministro italiano perdesse seria criticado pela torcida e pela imprensa, mas, e daí? O time é dele, logo, ele faz o que quer. Só em teoria, felizmente.
Rogério é muito melhor cobrando faltas. Seu índice de acertos é elevadíssimo, mesmo prejudicado por um cuidado extra ao bater: ele precisa fazê-lo de tal forma que evite, ao máximo, que a bola bata na barreira e desse rebote nasça um contra-ataque fatal. Isso aconteceu uma única vez, em jogo contra o Santos já treinado por Luxemburgo, que armou-se muito bem para aproveitar o rebote e conseguiu marcar o gol enquanto Rogério ainda estava fora da meta. O outro gol sofrido por ele depois de uma cobrança, feito por Roger, no Fluminense, foi fruto de celebração exagerada por parte dos companheiros, o que atrasou seu retorno à meta. Ao mesmo tempo, o juiz apitou o reinício com ele ainda fora de posição. Desde então, quando marca um gol Rogério corre de volta para sua posição de goleiro em linha reta, sem abraços e “montanha” de jogadores, apenas toques de mão na corrida.
Bruno e Tiago são, ao que dizem, bons cobradores de faltas. Tiago, inclusive, já marcou gols dessa forma e não só batendo pênaltis. Ambos têm muitos anos de carreira à frente e poderão até ultrapassar Rogério, que começou tardiamente e mais tarde ainda a cobrar os pênaltis do São Paulo.
Vale a pena?
Ah, sim, vale a pena, sem a menor dúvida. Quando tem falta para o São Paulo bater na entrada da área adversária, o estádio ferve, a torcida pula, a gritaria aumenta.
Enquanto o goleiro deixa sua meta e caminha em direção ao lugar mais improvável para sua presença em campo, a expectativa toma conta de todos que estão assistindo ao jogo. Pode-se dizer que o estádio silencia nos segundos finais antes da cobrança. Adversários torcem contra, fazem figa, torcem as mãos, alguns até oram pedindo pelo erro. A torcida são-paulina vive um momento único de suspense, um momento de quase-gol, seja a favor, seja contra.
É um sentimento único.
De repente explode.
Se resultou em gol ou não é até irrelevante, pois todo o preparo, toda a mise-em-scène que precede esse momento, vale plenamente e é um espetáculo por si só.
Está certo o Vasco ao permitir que Tiago cobre pênaltis e, quem sabe mais à frente, também algumas faltas.
Errou o Flamengo ao tirar esse doce da boca de sua torcida. É uma pena, volto a repetir. Ter dois goleiros cobrando faltas e pênaltis no mesmo campeonato por dois times com tanta tradição e com tanta rivalidade, seria uma grande atração para um campeonato, cá entre nós, muito chocho e sem graça, com tudo preparado para os quatro grandes treinarem sem problemas sem sair da cidade.
Porque goleiro marcar gol é muito mais que marketing, é espetáculo da melhor qualidade.
.Marcadores: Flamengo, Jogadores, Marketing e Dinheiro, São Paulo, Vasco
5 Comments:
At 10:03 AM, André Carnielli said…
Olá Emerson, gostei do seu blog, porém tenho que discordar da sua opinião...
Em que você se baseia para afirmar que Rogério Ceni não é um bom cobrador de pênaltis? Eu te dou os números: ele cobrou 39 pênaltis na carreira e errou apenas 7 cobranças. 82% de acertos.
Outro ponto que chamo atenção é quando você escreve que Thiago já marcou muitos gols de falta em sua carreira. Dos 14 gols marcados por ele, apenas dois foram em cobranças de falta.
Visito sempre aqui. Um abraço !
At 10:13 AM, Emerson said…
André, na minha opinião o Rogério precisa voltar a variar as cobranças de pênaltis. Ele só tem cobrado na direita do goleiro, a meia altura, invariavelmente. Os goleiros, todos, têm ido na bola e várias vezes não defenderam por muito pouco.
Mas acho que peguei meio pesado, mesmo. Talvez eu tenha exagerado na dose. Uma coisa, porém, é certa: ele é melhor como cobrador de faltas.
Veja, eu não escrevi que o Tiago já marcou "muitos" gols de falta:
"Bruno e Tiago são, ao que dizem, bons cobradores de faltas. Tiago, inclusive, já marcou gols dessa forma e não só batendo pênaltis."
Rogério é soberano nesse ponto hoje e assim continuará por mais alguns anos. Mas nada impede esses dois goleiros de evoluírem e marcarem muitos gols.
Vou aproveitar o comentário para dar os parabéns pelo seu blog e do Bruno, o "Atrás do Gol".
Vale a pena conhecer:
http://atrasdogol.blogspot.com/
At 2:02 PM, Anônimo said…
Bruno e Tiago são, ao que dizem, bons cobradores de faltas.
O que o pessoal de rádio que cobre os treinos do Flamengo, o Bruno treina cobrança de faltas, mas não bate bem.
No jogo ele bateu uma falta. E bateu de forma meio primária.
At 2:59 PM, Douglas Heinz said…
Concordo com o seu pensamento, Emerson.
Goleiros cobrando falta e penalti trazem, como direi... um certo "romantismo" ao futebol, que é um negócio, mas está muito ligado ao entretenimento dos torcedores. Com certeza essa situação peculiar motiva os fãs, trazendo um algo a mais ao jogo.
Espero que o Bruno tenha novas chances de cobrar faltas e penaltis. Mas nas faltas, pelo o menos segundo o que vi, ele tem que melhorar muito. Talvez tenha sido o medo de chutar na barreira que você citou que fez com que ele mandasse a bola tão para o alto, hehehe.
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Quanto ao Tiago, já mostrou valor nos penaltis, mas acho que ainda tem que melhorar nas faltas. Os dois gols que fez desta forma pela Lusa foram bem parecidos, com a bola quase na linha da área, onde ele chutou forte no canto, tirando da barreira.
Quero ver ela fazer como o Rogério, cobrar de perto, de longe, pelo lado direito, pelo lado esquerdo, etc. Aí sim irei considerá-lo um bom cobrador de faltas.
At 3:19 PM, Anônimo said…
Eu acho o máximo goleiro fazendo gol...
Uma das melhores sensações que tive no Morumbi foi ver o Rogério fazendo gol...e a comemoração da torcida em gol dele tbém é diferente!
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