Gramados e pastos
Em volta de casa, no sítio, tem um gramado. É simples, claro, foi formado por um pessoal que chegou num caminhão com os rolos de grama e terra que foram abertos sobre o terreno todo revolvido, com restos, ainda, da velha vegetação. Pegou bem, tá lá até hoje, e posso dizer que bem bonitão. Desisti de ficar passando a roçadeira nele, deixei essa tarefa a cargo do Brioso, meu cavalo que mora no sítio e é responsável pelo Departamento de Transportes Internos. Ou, pra falar sem frescura, é o cavalo que traciona a carroça com que trazemos cana para as vacas e outras tarefas. O Brioso passa parte do dia no gramado. Em decorrência disso, ele, digamos, deixa o gramado bem adubado, tanto na forma sólida como na líquida, o que é bom – para o gramado – e é ruim – para nós, bípedes que por lá circulamos. É bom, também, para os besouros, que carregam parte do adubo do Brioso para baixo da terra.
Ora, com tudo isso, posso dizer de boca cheia que é um bom gramado para a prática do esporte bretão que consagrou Ameli. Ou seria, se fosse maior e ficasse num terreno plano. Por isso, e muito mais, fiquei espantado quando, da minha brega cadeira de tirinhas plásticas na sala do sítio, vi o gramado em que Ituano e São Paulo disputavam um jogo pelo Paulista 2008. Aquilo era tudo, menos gramado. No dia seguinte, o presidente do Ituano veio a público e pediu desculpas ao São Paulo e ao Rogério Ceni pelo estado do que deveria ser um gramado. Francamente...
Algumas pessoas, ou muitas, chamaram-no de “pasto”. Puro desconhecimento, pois pasto implica em presença abundante de capim ou grama, o que não acontecia ali. Pasto é o meu gramado, regular e metodicamente comido pelo Brioso e alguns bezerros, de vez em quando.
De novo nessa história do gramado em que se jogou uma partida oficial de futebol, apenas o elegante pedido de desculpas do presidente do Ituano. A situação em si é velha, chata, repetitiva e presente em todo o território nacional, de norte a sul, de leste a oeste, nas melhores e mais badaladas casas, como os campeonatos Paulista e Carioca, assim como nas menos badaladas, como os torneios de várzea Brasil afora. Jogadores se contundem com gravidade, outros nem tanto, bolas são perdidas, passes saem bisonhos, gols são tomados por uma bola desviada, etc, etc, etc.
Olhando para o pasto do meu cavalo, digo, para o gramado da minha casa de roça, pergunto-me como e porque dirigentes públicos e privados deixam que o que deveriam ser tapetes verdes, transformem-se em áreas impróprias até para o pastejo de alimárias diversas. Um bom gramado não exige segredo algum, apenas um mínimo de cuidados e bom senso. É mais barato fazer uma boa e rigorosa manutenção do que implantar um novo gramado. Isso é fato, financeiramente simples e comprovável.
Então, por que?
Por que tratamos tão mal o futebol?
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Marcadores: Boladas e Caneladas, Estadual
3 Comments:
At 8:14 PM, Anônimo said…
Ótimo texto, Emerson!
E que bom que você voltou.
O seu blog é cada vez mais imprescindível!
Abs, Marcos Silveira
At 10:55 AM, Emerson said…
Obrigado, Marcos, mas o responsável por esse texto foi mesmo o Brioso.
O danado deixa a grama aparadinha, uma beleza, mesmo. Foi olhando pra ele na tarde de quinta-feira que fiquei pensando no lastimável gramado de Itu...
Curioso é que ele fica por ali todo dia durante algumas horas. Vai daqui pra lá, de lá pra cá, rola na grama, e ela não apresenta buracos.
Com certeza não é fácil manter um gramado em ótimas condições, mas tampouco é muito difícil, ainda mais num país com o nosso clima, livre dos meses de neve e gelo.
At 10:46 AM, Anônimo said…
É nessas horas que fico pensando se a decisão de apenas utilizar o maracanã, Engenhão e São Januário para os jogos dos 4 grandes do Rio é acertada ou não.
Fico imaginando o estado de certos gramados do interior Fluminense...
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