Ainda sobre gols e goleadores
Por coincidência, o tema tratado no post de ontem é tratado hoje em boa matéria do Wilson Baldini Jr., no Estadão. Pelo visto, é mais do que coincidência, é sinal que o assunto vem despertando o interesse entre os profissionais do mundo da bola.
No jornal, o título da matéria é “Procura-se um artilheiro” e entre os artilheiros do passado que foram ouvidos, Pepe, que jogou na ponta-esquerda do Santos, time pelo qual marcou 405 gols em 750 jogos, aponta algumas causas para a falta de artilheiros:
“Em primeiro lugar, os jogadores saem muito cedo do País. Segundo, este esquema 3-6-1 adotado pela maioria dos times está matando os centroavantes',,, 'Fica-se à espera de jogadores que vêm de trás para ajudar o centroavante, que não chegam nunca.”
O ex-centroavante Careca caminha, basicamente, na mesma direção e chega a sugerir a criação do “treinador de artilheiro”, tal como existe o preparador de goleiros, visando aprimorar, desenvolver melhor a habilidade dos atacantes.
Bom, não serei eu que vou contestar Pepe e Careca, dois monstros sagrados do futebol do Brasil em todos os tempos. Mas, baseado nos números, essas entidades verdadeiras e mentirosas, dependendo de como as usamos, aponto novamente uma certa incoerência nas reclamações. Se a média de gols desse atual campeonato está parelha com a média histórica, e se os artilheiros individuais estão, aparentemente, com menos gols que em anos anteriores, isso significa que a marcação do gol está mais distribuída pelo time. O melhor exemplo disso é o Figueirense, que tem nada menos que 3 jogadores entre os maiores artilheiros da competição até o momento: Schwenck e Soares, com 10 gols cada um, e Cícero com 9.
O Grêmio, time com o melhor ataque do torneio, tem 2 jogadores com 8 gols cada um, outro com 6 gols e um com 4 gols, totalizando 28 tentos. Os demais 17 foram marcados por outros jogadores. No São Paulo, com 41 gols e um jogo a menos, a distribuição é parecida, sem concentração em um só jogador.
Essa maior distribuição de gols derruba a tese de Pepe de que outros jogadores não estão chegando para marcar. E permite, inclusive, olhar com alguma desconfiança a possível influência do 3-6-1 da Copa do Mundo como esquema que penaliza as artilharias.
Creio que as pessoas estão criticando um pouco depressa demais o campeonato desse ano. Não me parece um campeonato tão ruim como dizem, e se olharmos os números da artilharia, Souza, a manter sua média de gols, chegará a 21 gols no final da competição, um número bastante razoável (em 38 jogos, ao contrário de anos anteriores, quando o número de jogos foi maior que o desse ano).
De tudo isso, porém, uma coisa é certa: a maioria de nossos bons jogadores deixa o país muito cedo. Apesar de evoluírem na Europa, isso acontece de forma diferente do que ocorreria aqui. Evoluem mais taticamente, sem dúvida, mas parece-me que perdem um pouco da criatividade, da improvisação, da irreverência que nossos maiores e melhores artilheiros sempre tiveram.
Essas noites de inverno são bonitas. Ao olhar para o céu sem nuvens, enxergamos o brilho destacado de algumas estrelas e planetas. Mas vemos, também, o brilho difuso, leitoso, da Via Láctea e suas quase incontáveis estrelas.
Esse olhar noturno dá uma boa base para entendermos esse campeonato: falta-lhe o brilho solitário das estrelas, mas em seu lugar, temos o brilho difuso dos conjuntos.
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