Entre os anos de 1990 e 1994 a seleção brasileira disputou 32 jogos amistosos, dos quais 17 em cidades brasileiras.
Entre 94 e 98 esse número foi de 33 jogos, com 17 no Brasil.
Caiu para 27 jogos entre 1998 e 2002, dos quais 10 foram disputados aqui.
E de 2002 até hoje, inclusive, são 26 jogos amistosos da seleção do Brasil. Apenas 2 foram disputados no Brasil.
Nesses dezesseis anos, a maior cidade brasileira, cuja região metropolitana abriga entre 12 a 14% da população do país, viu um único e solitário amistoso da seleção. Nesse mesmo período, Madrid, Barcelona e outras cidades de Espanha viram a seleção jogar 10 vezes. E cidades coreanas e japonesas viram 8 vezes, 4 em cada país.
Na tarde de hoje haverá um jogo amistoso em Estocolmo, contra a seleção do Equador. Quem se interessa por isso? Pouca gente, muito pouca gente, a maioria parentes e empresários dos jogadores convocados. Ou seja, só quem tem interesses econômicos nos jogadores. Ah, sim... Estatisticamente há um pouco mais de interessados: garotada sem aula à tarde e com o videogame ou o computador quebrados; meia dúzia de patriotas; mais uma dúzia que não muda o canal em que o televisor está sintonizado e duas ou três dúzias de jornalistas, que deveriam estar no bloco dos que têm interesses econômicos, pois estarão vendo o jogo a serviço.
O Brasil em muitos aspectos é hoje apenas uma caricatura de país. Nem vou alongar-me nesse tema de maneira geral, vou apegar-me ao seu mais conhecido, brilhante e bem sucedido produto de exportação, ao lado da soja, café, açúcar, ferro, frango e suco de laranja: o futebol.
Estamos como aqueles países muito pobres, onde costureiras em barracos paupérrimos e barracões caindo aos pedaços fazem milhões de calças jeans, todas devidamente empacotadas e exportadas por gente andando sem roupa ou com restos, não por naturismo ou moda, mas por falta de condições para ter uma roupa mesmo, já que nem comida consegue ter em suas mesas. Outros países igualmente miseráveis e habitados por gente de pés eternamente descalços, produzem milhões de fantásticos e incrementados tênis, todos para exportação, nenhum para consumo interno.
Assim é o Brasil no futebol.
Confesso que a última Copa do Mundo em que torci de fato para a seleção desse país foi a do México, em 1986. Depois daquela Copa, vejo hoje numa perspectiva de 20 anos que meu interesse e o de muitas outras pessoas declinou assustadoramente. Talvez porque já não seja muito nítida a identificação entre país e seleção.
A seleção é formada em sua maioria por ilustres desconhecidos, jogadores que mal e mal jogaram uma temporada inteira no Brasil e não criaram vínculo com os torcedores, não deixaram lembranças de jogadas ou conquistas. A única grande conquista de todos e de cada um em terras tupiniquins foi a assinatura do contrato com um time europeu. Não os critico, faria o mesmo, orientaria meu filho a fazer o mesmo. Mas não esperem minha torcida e, muito menos e muito pior, meu interesse.
A mim nada disso interessa, mas interessa à CBF, que transformou a Seleção do Brasil numa instituição caixeira-viajante, arrecadando níqueis aqui e ali, ganhando humilhantemente menos níqueis que os times do Barcelona e Real Madrid. E todo o dinheiro arrecadado desaparece por ralos incertos e não sabidos, fazendo com que times da terceira divisão de nosso futebol viajem 100 (cem) horas de ônibus, entre ida e volta, para disputar um jogo.
Hoje à tarde meu televisor estará desligado.
Pois, para mim, essa seleção em nada interessa.
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