Um Olhar Crônico Esportivo

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terça-feira, novembro 18, 2008

O peso da promessa indevida





Prometeu tem que cumprir.

Quantas vezes já não ouvimos essa frase, até mesmo de nossas bocas?

É uma frase muito usada em relação a políticos. Melhor dizendo, nem chega a ser usada, pois no caso dessa categoria profissional (hummmm...), a frase costuma ser inócua, pois todos sabem que político adora prometer e nunca cumprir.

É diferente, porém, quando falamos essa frase para alguém próximo.

Como o filho para o pai, cobrando a bike nova ou o notebook da hora.
Como o maridão para a esposa, cobrando o alvará para ver o jogão do seu time pela televisão.
Como a esposa para o marido, cobrando a ida à casa da mãe para o almoço há muito evitado.
Como o sogrão para o genro recalcitrante, autor da barriga da filha e agora meio arredio com relação às obrigações dela, barriga, decorrentes.
Como o torcedor em relação ao treinador e ao cartola que prometeu o título e agora nada apresenta.

Como não quero me envolver com promessas de bike, almoço com sogra, promessa de casamento com a filha de sei lá quem, vou ficar só na promessa futebolística.

A direção do Palmeiras falou demais, prometeu demais, gastou demais.
Também não vou falar desse último item, agora, bastam os dois primeiros.

Ao demitir Caio Jr. e contratar Luxemburgo, pagando “os olhos da cara” por ele e seu entourage, a direção palmeirense acenou com algo há muito ansiado pelo torcedor palmeirense: a conquista de títulos, prato sumido do Parque Antártica há muitos anos, não contando, naturalmente, a conquista da Série B em 2003.

Para cumprir essa promessa, além de contratar Luxemburgo, tido e havido como melhor técnico brasileiro e conquistador de títulos, o Palmeiras associou-se à Traffic, que comprometeu-se a contratar jogadores e colocá-los no clube, prioritariamente. Pelo andar da carruagem pôde-se perceber que as contratações tinham como prioridade ser colocadas no time, diretamente, e não no clube, como seria o certo. Graças a essa parceria, vieram, entre outros, Diego Souza e Henrique. Esse último, antes mesmo de aprender o caminho de sua casa para a Academia de Futebol, nome do CT do Palmeiras, na Barra Funda, pegou o rumo de Cumbica e aterrisou na Europa. Como consolo, deixou algum dinheiro no clube como participação na negociação.

De imediato, e ancorado pela boa fase de El Mago, vendido logo depois, o Palmeiras conquistou o Campeonato Paulista e credenciou-se, agora de fato, ao posto de melhor time do Brasil e favorito absoluto para conquistar a Copa Brasil, competição da qual seus principais adversários, em tese, não participavam e, na sequência, o Campeonato Brasileiro, fazendo, assim, uma Tríplice Coroa nacional.

Entretanto,é muito temerário prometer algo como títulos num futebol como o nosso.
No meio do caminho, a Copa do Brasil foi perdida, o primeiro grande baque. Ninguém ficou muito incomodado, afinal, torneio mata-mata tem dessas coisas, mesmo. Acreditavam os torcedores, nunca desmentidos pela direção, que aliás já não tinha como desmentir, que o título do BR viria com naturalidade, ainda mais por ser em pontos corridos e por ser Vanderlei Luxemburgo o especialista, o cara que melhor entendeu as manhas e mumunhas do campeonato por pontos corridos.

A essa altura, Luxemburgo já dizia a quem quisesse escutar, que o projeto para 2008 era conquistar um título e garantir presença na Libertadores 2009, e que, portanto, a meta já estava quase cumprida.

Porém, a saída de Valdívia que pareceu não afetar o time num primeiro momento, revelou-se muito complicada para a equipe, agravada pela negociação de Henrique, que já compunha e liderava uma boa zaga.

Num certo momento, o time que deveria nadar a braçadas largas no campeonato, viu-se sufocado e o sufoco aumentou nessa reta final do campeonato. A torcida começou a perceber que o título dificilmente viria e as cobranças aumentaram. Uma derrota em circunstâncias extremas, em pleno Palestra Itália, foi a gota d’água para grupos de “torcedores” organizados, que aumentaram suas críticas e chegaram ao cúmulo de agredir o treinador no Aeroporto de Congonhas, no embarque da delegação para o Rio de Janeiro, onde disputou mais um jogo-chave, onde ao menos um empate era essencial para, pelo menos, garantir uma vaga na Libertadores.

O desenrolar imediato dessa história todos já conhecem bem: derrota fragorosa por 5x2 para o Flamengo (a derrota no Maracanã para o Flamengo jamais seria um problema, mas com esse placar...), jogadores não comemorando gol, proteção policial na chegada a São Paulo, jogadores tensos, nervosos, preocupados, o treinador registrou queixa por agressão e a diretoria não toma uma medida clara de condenação aos elementos que perpetraram a agressão.

Cabe pensar, agora, numa hipótese bastante possível e muito preocupante: o clube pode ficar fora da Libertadores 2009 e isso acontecendo irá gerar uma crise de enorme proporção.

Afinal, mesmo que isso ocorra, o ano terá sido tão ruim?

Ou será que a expectativa criada pela direção foi muito maior do que o aceitável e razoável?

O que é uma temporada ruim?
Ou, melhor ainda, o que é uma boa temporada?
Ela só é boa se tiver títulos?

Se desconsiderarmos o falatório da direção, repercutido pela imprensa, e os muitos e supostos milhões da Traffic, a temporada palmeirense até o momento é muito boa. Levando em consideração os milhões da Traffic, os milhões de Luxemburgo e sua comissão técnica e a expectativa criada pela direção, a temporada é um fracasso.

O que é mais importante?

A realidade, a vida real no competitivo futebol brasileiro, ou os castelos de cartas montados com cédulas ao invés de baralho?


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2 Comments:

  • At 3:25 PM, Anonymous Anônimo said…

    Emerson,

    Devemos lembrar que ano que vem o SEP completara 10 anos sem títulos relevantes e está vendo seus maiores adversários se revesando como campeões. Corinthias e Santos ganharam brasileiros. O São Paulo, que muitos palmeirenses elegeram não como rival mas como inimigo, além dos basileiros ganhou também a libertadores e o mundial, enquanto a fila palmeirense só aumenta... Racionalmente a temporada palmeirense foi ótima, mas pela ótica de torcedores apaixonados e carentes de títulos ela está sendo catastrofica....

    Abraço.

     
  • At 3:50 PM, Blogger Emerson said…

    Concordo totalmente, Sidney.
    O problema é que isso tem que ser enfrentado com o máximo de frieza e objetividade, com planejamento e trabalho e não com apostas.

    O Mustafá perdeu o rumo e a turma do Muda Palmeiras no poder não achou o rumo perdido.

    Apostas caras nem sempre viram o jogo, pelo contrário, fazem o dinheiro e o crédito acabarem ainda mais depressa.

     

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