Um Olhar Crônico Esportivo

Um espaço para textos e comentários sobre esportes.

<

sexta-feira, outubro 10, 2008

Sofrimento...




$ofrimento...



Notícias veiculadas nos últimos dias são sintomáticas, apontando vários clubes que estão em dificuldades financeiras hoje e que já têm suas verbas de TV de 2009 comprometidas.


Segunda-feira, o presidente do Botafogo, Bebeto de Freitas, prometeu pagar os salários atrasados (dois meses) dentro de 15 a 20 dias. Para isso, segundo as matérias jornalísticas, ele conta com um cenário mais calmo e definido na economia. Não entendi, pois, nesse período é exatamente isso que não teremos.


Roberto Dinamite, presidente do Vasco, vem reclamando, sistematicamente, do caixa vazio e das verbas de 2009 já comprometidas pela gestão anterior. O que ele não disse, parece-me, é que ele próprio também já recorreu aos ganhos de 2009 para pagar os atrasos de 2008. Mas só alguns deles, para sua infelicidade.


Andrés Sanches, presidente do Corinthians, não reclamou nos últimos dias, mas o Corinthians praticamente não tem mais nada a receber de direitos de TV em 2009. Ou, para ser mais preciso e não cometer uma injustiça, com sorte terá um terço da receita do ano para receber do Clube dos 13, já contando com os ganhos advindos da nova divisão do bolo do pay-per-view. Do Campeonato Paulista de 2009, pelo menos a metade já foi antecipada e usada.


No Palmeiras a situação segue complicada, cada dia um pouco mais. Desde o dia 1º desse mês, o clube já não tem receitas de patrocínio ou direitos de TV a receber. Boa parte das receitas de TV do BR de 2009 já foram, também, empenhadas. Dos direitos de TV do Paulista o Palmeiras nada mais tem a receber. Em junho, fora as dívidas existentes, a previsão era fechar o ano com um déficit de dez milhões de reais.

Entretanto, do dia 1º desse mês até o 31º e último dia de dezembro, o clube tem 3 folhas salariais, mais 13º, mais férias e todos os encargos correspondentes. A folha palmeirense tem um custo mensal de 4 milhões de reais, o que joga a despesa nesse último trimestre para algo próximo de 20 milhões de reais, somente com a folha de pagamentos. Nesse momento, a única previsão de entrada é a bilheteria dos jogos no Palestra Itália. Com as obras prometidas para a nova arena, o Palmeiras ficará dois anos sem jogar em seu estádio, o que vai provocar mais um impacto negativo em suas receitas.


Esse texto já estava pronto desde a quarta-feira quando, ontem, em Belo Horizonte, Antonio Silva Passos, vice-presidente do Clube Atlético Mineiro, disse que o clube ainda não pagou salários atrasados porque os bancos estão “fechados”. Mas o clube já tem tudo encaminhado, os documentos já estão assinados, e o dinheiro só não entrou por causa da crise financeira mundial. Pelo que sabe este Olhar Crônico Esportivo, esse empréstimo bancário também é por conta de adiantamento de direitos de TV de 2009, por meio de mecanismo que os blogueiros conhecerão mais adiante. Esta informação foi publicada no Além do Jogo, do Marcelo Damato hoje.



Esses clubes não são as exceções, pelo contrário. Há outros em situação ainda pior do que esses que foram citados.




O futuro próximo



Em conversa com este blogueiro, executivo financeiro de um dos clubes paulistanos colocou dois problemas imediatos: o primeiro, que já está pegando, é o fechamento das linhas de crédito nos bancos brasileiros, devido à crise mundial.


Dependendo de medidas do BC e do governo, os bancos podem voltar a emprestar, mas os juros e o spread serão ainda maiores do que já são. Ou seja, as despesas financeiras já elevadas, estão ficando ainda maiores. O significado disso é claro: a cada mil reais que entrariam em caixa futuramente, o clube só consegue receber novecentos ou menos. Como esse dinheiro em boa parte é usado para pagamentos atrasados, o que custava seiscentos passa a custar setecentos ou mais.


Eis o custo da má gestão: queima-se mil reais de janeiro ou fevereiro para pagar quinhentos ou seiscentos do janeiro ou fevereiro de algum ano para trás.


O outro ponto deverá afetar as contas de 2009: há muita expectativa quanto à continuidade das transferências para a Europa e Ásia e a primeira impressão não é nada boa.


Se essa fonte de receitas secar, os clubes brasileiros serão fortemente afetados, pois praticamente nenhum deles consegue sobreviver no azul sem a receita de transferência de atletas.


Em tese, os clubes deveriam sobreviver com suas receitas operacionais: direitos de TV, marketing, licensing e bilheteria. Isto em tese, pois na prática essas verbas não cobrem, às vezes, nem metade dos custos.




Os direitos de TV do BR 2009



Hoje, boa parte dos clubes que vão disputar a Série A 2009, já comprometeram a maior parte dos valores a que terão direito. Isso acontece de duas formas: via adiantamento da Rede Globo através do Clube dos 13, ou através de empréstimo bancário garantido pelos direitos de 2009.


No caso do adiantamento direto, a Globo e GLOBOSAT repassam o valor negociado para o Clube dos Treze que, por sua vez, desconta as taxas devidas e entrega ao clube.


Dessa forma, o Corinthians recebeu R$ 11.486.000,00 do Clube dos 13 referentes a adiantamento sobre direitos de TV de 2009. Como este blog adiantou, a assinatura do acordo com a Globo foi motivada por esse adiantamento. Este é o valor apontado como dívida e ele, provavelmente, incorpora os juros pelo adiantamento e mais as taxas de INSS e Direito de Arena. Nesse caso, o valor líquido recebido pelo clube foi muito menor.


A outra forma de adiantamento dá-se por meio de empréstimo bancário. Nesse caso, o clube negocia o valor com o banco – na prática, ele vende ao banco seus direitos a receber – e obtém a anuência da Globo e do Clube dos 13.


O valor negociado fica bloqueado, vinculado ou garantido para pagamento ao banco credor. Ao repassar esse valor, o banco cobra os juros e taxas, nada baratos, e entrega ao clube o valor líquido. Nesse caso, o mais provável é que o Clube dos 13 bloqueie os valores para pagar INSS e Direito de Arena.

Se for dessa forma, o valor a ser debitado é maior do que o que foi contabilizado.


Um bom exemplo desse tipo de negociação é o que deu ao Corinthians há poucas semanas, R$ 12.132.000,00.

Na melhor das hipóteses, se todas as taxas já foram descontadas, o clube deixará de receber 70% dos valores que serão pagos em 2009, pois já adiantou R$ 23.618.000,00.

E dos 30% restantes, algo como dez milhões de reais, ainda deixará no caixa um milhão (INSS e Direito de Arena).


Entretanto, com base nas informações recebidas, sobrou muito pouco para 2009, o que dá a entender que as taxas não foram abatidas e pagas.


Esses percentuais e valor a receber foram calculados a partir de um valor hipotético total de 34 milhões em 2009, de acordo com previsão deste oce.


Parte desse valor, contudo, será pago na forma de espaço nas emissoras, ou seja, não haverá transferência de dinheiro, o que reforça a informação que este blog recebeu: não só o Corinthians, mas alguns outros grandes clubes, já não tem praticamente nada a receber pelos direitos de TV do BR 09.


Embora seja importante pagar atrasados ou manter salários em dia, adiantar patrocínios e direitos de TV é péssimo negócio, tem um custo altíssimo. Mas é a forma, às vezes única, que dirigentes de clubes mal administrados têm encontrado para continuar respirando.


Nessa ciranda já embarcaram, entre outros: Corinthians, Palmeiras, Santos, Portuguesa, Flamengo, Fluminense, Botafogo, Vasco – inclusive na nova gestão, Atlético Mineiro, Cruzeiro...



$ofrimento. Infelizmente,esta é e continuará sendo a palavra de ordem por um bom tempo, tudo por culpa única e exclusiva, de gestões amadoras, incompetentes, gastadoras e, last but not least, provavelmente corruptas em alguns casos.


Porque é difícil acreditar em tanta incompetência concentrada.



.

Marcadores: , , ,

2 Comments:

  • At 5:53 PM, Anonymous Anônimo said…

    o grande problema desses clubes é que isso virou uma bola de neve e juntando a incompetencia deles se torna ainda pior, isso vai se arrastar por anos, enquanto nao houver uma concientizacao e um planejamento administrativo, os caras só pensao a curto prazo.

     
  • At 5:25 PM, Blogger bachiano said…

    Como Sócio do BOTAFOGO,já sugerí à sua Diretoria, em 2007, baixar drasticamente os salários a nível que se possa pagar sem sufoco, sendo 60% da remuneração valor FIXO e 40%, VALOR VARIÁVEL, este pago conforme a produtividade, ou seja, sucesso nos jogos (vitórias e empates expressivos). Expliquei, nos MOTIVOS, que isso obrigaria o jogador "come-e-dorme", satisfeito com o "feijão-com-arroz" dentro de campo a correr atrás. A dar, de fato, sangue em campo, a se dedicar prá valer. O que a grande maioria não faz. Não têm ambição de conquistas, de títulos. Estão se lixando prá história do Clube. Visam quase sempre o mercado do exterior.

     

Postar um comentário

<< Home