Rolando pelo mundo da bola...
...e da estupidez humana na Europa
Na bola - Blatter em ação
Baixinho, simpático, esperto, uma verdadeira raposa como sói acontecer com a maioria dos dirigentes de grande expressão – e raposa aqui é no bom sentido –, Joseph Blatter, presidente da FIFA, muitas vezes é meu herói. Outras tantas é meu vilão.
Herói e vilão, que fique claro, não passam de licenças ditas ‘poéticas’ do autor dessas mal digitadas.
Nesse momento, ele vive um momento herói.
Em discurso no Parlamento Europeu, Blatter pregou a imediata necessidade da UEFA e das Ligas nacionais controlarem e imporem normas mais rígidas para a aquisição de clubes. Usando um tom de brincadeira, mas falando sério, ele disse que hoje comprar um clube tradicional é tão fácil quanto comprar uma camisa. Licença ‘poética’ à parte, ele não deixa de ter razão.
Sua preocupação, entre outras, é com a falta de identidade entre o comprador e a comunidade em que o clube está inserido, tem sua história, seu apoio, sua base. Especialmente nesse momento de crise econômica que se alastra e cresce dia-a-dia, Blatter disse que nada garante que alguém compre hoje e vá embora amanhã, subitamente, deixando para trás um clube entregue à própria sorte. Melhor seria dizer ao próprio azar.
Entre outras medidas, ele pregou a necessidade das entidades investigarem a sustentabilidade de quem compra, sua real capacidade presente e futura de arcar com a responsabilidade de ter um time de futebol. Nessa proposta, fica implícita a necessidade de conhecer a origem dos recursos do comprador, outro ponto importante, principalmente nos tempos em que vivemos.
Segundo Blatter, o que vemos são bilionários comprando cavalos e investindo em corridas, comprando equipes de Formula 1 e outras categorias, e agora comprando times de futebol, como a onda do momento.
6x5
Joseph Blatter não perdeu a oportunidade e voltou a abordar um de seus temas prediletos: a proposta para implementar o 6x5, ou seja, a necessidade de cada time ter pelo menos 6 jogadores em sua composição que sejam do mesmo país do clube, ali formados, e no máximo 5 jogadores de outros países, inclusive de dentro da própria Comunidade Européia.
É nesse ponto que o bicho pega: o Parlamento é radicalmente contrário a qualquer impedimento na livre movimentação e trabalho entre os países da Comunidade.
A velha raposa confederativa não deixou de alisar os parlamentares, ao dizer que sua pregação visa convencê-los dessa necessidade e que a FIFA não pretende impor nada que contrarie as leis européias. E que a importância dessa medida estaria na valorização dos jovens talentos de cada país e no combate ao tráfico de pessoas, tema que é particularmente sensível para o Parlamento Europeu.
Outro receio de Blatter é a crescente descaracterização, também, das seleções nacionais, cada vez com mais brasileiros vestindo outras camisas. Algo que, no futsal, já entrou na categoria do absurdo, agora em processo de imitação no vôlei de praia.
No mundo da estupidez - Crash e Preconceito
A crise econômica cresce e se alastra. Ao contrário, uma vez mais, do que disse o presidente de certo país tropical, a crise cruzou oceanos, selvas e cordilheiras e atinge o mundo inteiro. Não há exceções.
Um grande correspondente de guerra disse que sob a tensão da guerra, a morte sempre rondando, todo ser humano revela seu verdadeiro caráter. O mesmo ocorre, talvez em menor intensidade, nos momentos de crise econômica. Não à toa, sábio ditado popular diz que em casa em que falta o pão, todos gritam e ninguém tem razão.
Não falta o pão, ainda, mas a situação econômica nos países europeus, que vem se degradando há um bom tempo, tem levado mais e mais pessoas a revelar seus piores instintos, gritando palavras de ordem contra árabes, negros, muçulmanos, latino-americanos, europeus do leste, judeus,enfim, contra tudo e contra todos que, em suas visões limitadas ameacem seu status quo.
Na semana passada, o instituto americano Pew Research Center, divulgou relatório de 73 páginas, baseado em mais de 4.000 entrevistas feitas no Velho Continente, indicando a evolução das opiniões negativas sobre islâmicos e judeus entre 2004 e 2008.
Na Espanha, por exemplo, país que lidera nos índices de preconceito, 52% declararam-se contrários aos islâmicos, contra 37% em 2005. A aversão a judeus foi admitida por 46% dos entrevistados contra 21% em 2005. A Alemanha e a França apresentaram também índices de aumento significativos. Hoje, 50% dos alemães têm visão negativa sobre os islâmicos, índice que na França é de 38%. Em relação aos judeus, essa visão dos alemães aumentou para 25% nesse ano e para 20% entre os franceses.
Situações semelhantes também ocorrem em países da Europa Oriental, inclusive na Rússia. Neste país, porém, um detalhe: enquanto aumentou o preconceito em relação aos judeus de 25% para 34%, no mesmo período, de 2004 para 2008, o preconceito contra os islâmicos caiu de 37% para 32%.
De acordo com o relatório, as manifestações de preconceito crescem mais entre as pessoas acima de 50 anos de idade e sem formação superior. Há, ainda, um grande paralelo entre anti-semitas e antimuçulmanos na opinião pública da Europa Ocidental, acompanhando, também, os mesmos estratos sociais.
Um ponto positivo no estudo do Pew Research Center é a constatação de que o apoio dos muçulmanos a ataques terroristas lançados por homens-bomba caiu de 74% em 2002 para 32% em 2008.
Comentários
O estudo não indica, até porque sua fase de análise e interpretação foi concluída antes do crash em Wall Street, mas a tendência, na opinião deste blogueiro, é o aumento desses índices com o agravamento das condições econômicas.
Não é coincidência o fato de a Espanha ser o país com maiores índices de preconceito e ter índice de desemprego de 10,4%, chegando a assustadores 23% entre os jovens – ver o post de 23 de setembro sobre os efeitos do crash na Europa.
E o futebol com isso tudo?
As manifestações racistas contra futebolistas seguem sem interrupção na Espanha, Itália e França, principalmente. Jogadores são estrelas, ganham muito bem, principalmente no imaginário popular, e tornam-se, assim, alvos fáceis e óbvios de manifestações de desagrado com uma situação de dificuldade econômica.
Essa ligação, entretanto, é feita pela via doentia do preconceito.
“O que esse cara está fazendo aqui, ganhando nosso dinheiro? Volta pra tua terra!”
Esse grito econômico, dirigido a qualquer estrangeiro no auge de uma crise, vai primeiro contra os imigrantes de todo tipo e contra os imigrantes “vip”, os atletas.
Veremos muito mais disso tudo no decorrer de 2009 e, tudo indica, hoje, 2010 e 2011. Manifestações de preconceito só diminuem de forma espontânea com crescimento econômico e esse, com sorte, só voltará a acontecer em 2012.
Bom, isso segundo economistas, mas...
Enfim, previsões de economistas não costumam ser lá muito confiáveis. De repente pode até ser antes, coisa da qual duvido.
Não é difícil no próximo ano um cenário em que muitos atletas brasileiros tentem fazer o caminho de volta para essa Terra de Vera Cruz.
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Marcadores: FIFA, Futebol europeu e resto do mundo, Rolando pelo Mundo
3 Comments:
At 8:20 PM, DERLY. said…
emerson não a toa o simbolo da comunidade européia são vários circulos entrelaçados,ou seja,quem está dentro pode sair,no caso os imigrantes principalmente os ilegais e quem está fora não entra,a não ser nos casos especiais como jogadores de futebol contratados a peso de ouro
abraço ronaldo.
At 4:01 PM, Anônimo said…
Grande Emerson:
Realmente, o cenário europeu, apesar de considerarmos, na pesquisa mencionada por ti, uma certa faixa etária e social, pode-se tornar perigoso se esta crise de confiança econômica não se arrefecer nos próximos meses, numa avaliação pessimista. Ainda não é possível comparar, historicamente falando, com o pós-crash de 1929; mas o cenário é preocupante.
Abs.,
Marcello Teixeira Albertini
At 4:37 PM, Emerson said…
Taí uma hipótese na qual nem quero pensar, Marcelo.
Felizmente, eu acredito que o mundo tem, hoje, uma estrutura econômica que impede um pós-crash semelhante a 29, com depressão econômica prolongada e ascensão de regimes como o nazista e o fascista, além de ditaduras diversas.
Ronaldo, essa questão dos imigrantes tem um potencial terrível para gerar problemas.
Lembra dos conflitos em Paris há um ano ou por aí?
Foi uma amostra.
:o(
Ou seja, não acredito num cenário econômico por demais estagnado, mas creio que as possibilidades de conflitos localizados são muito grandes, onde o econômico será a máscara para o étnico, até que este aflore de vez.
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