Por Mexicanos e Americanos
Esse texto foi escrito para o Jogo Aberto, o blog do Lédio Carmona, onde foi publicado no sábado, dia 17 último com o título The Columbus Crew.
Trata-se de uma réplica, chamemos assim, a um post do próprio Lédio sobre a Copa Santander Libertadores 2008 e a ascensão de dois times mexicanos – América e Atlas – que, dependendo dos resultados, farão uma semi-final da Copa. Ou seja, teríamos, portanto, um time mexicano na final.
Isso acontecendo, independentemente da colocação desse time, o segundo jogo seria realizado, necessariamente, de acordo com o regulamento, na casa de seu adversário, um time sul-americano, que já seria, de antemão, o representante do continente no Mundial de Clubes da FIFA. Porque o regulamento da Copa Libertadores é claro e nítido desde o primeiro ano em que os mexicanos passaram a disputá-la: o representante da CONMEBOL ao antigo Torneio Intercontinental e ao novo Mundial de Clubes, será, sempre, o clube sul-americano melhor colocado na Copa Libertadores.
Aos que já o conhecem: publico-o aqui em especial para os leitores que não o leram no Jogo Aberto.
Por Mexicanos e Americanos, sem mudanças
FIFA
Asian Football Confederation
Confédération Africaine de Football
Confederation of North, Central American and
Confederación Sudamericana de Fútbol
Union des Associations Européennes de Football
Essa é a estrutura em que é dividido o futebol mundial, tendo a FIFA como órgão máximo e uma confederação para cada continente.
Cada confederação é um mundo à parte, um reino independente, dentro de certos parâmetros. Todos, com certeza, sabem disso, mas não custa relembrar.
Essa é a divisão formal, política, econômica do futebol.
Essa é, em síntese, a divisão do poder.
Todas as confederações têm o mesmo peso e importância na mesa de negociações.
A OFC vale o mesmo que a UEFA.
A CONCACAF vale o mesmo que a CONMEBOL.
Bem sabemos que na prática a teoria é outra, mas no mundo formal dos acordos e da ordenação de tudo que diz respeito ao futebol, é assim que é e é bom que assim seja.
Certo ou errado, de alguma maneira as sociedades precisam se organizar.
O futebol está alicerçado em símbolos desde seu princípio, e símbolos estão e sempre estiveram ligados à representação do poder e do território. Quando uma pessoa é investida num cargo de governo ou na direção de uma agremiação esportiva, por mais diferente que ela pense, por menos valor que ela dê a coisas desse tipo, o exercício do cargo acaba agregando alguns valores e necessidades, se não às crenças, com certeza à prática dessa pessoa.
As competições FIFA, a mais importante das quais é a Copa do Mundo, são guiadas e criadas tendo em vista a isonomia de todas as confederações. Da mesma forma isso acontece com o Campeonato Mundial de Clubes. No mundo das leis, no mundo formal, vale a máxima de direitos iguais para todos.
Mesmo antes de sua criação, quando tudo que tínhamos era a disputa, oficialmente, da Copa Intercontinental, a CONMEBOL, bem como a UEFA, já eram ciosas na defesa de seus interesses. E quais são os interesses de uma e de outra? São os interesses de seus associados.
O futebol mexicano ligou-se ao futebol sul-americano por interesses mútuos, mas que foram, inicialmente, muito maiores dos mexicanos, todos eles interesses de caráter técnico: os mexicanos, podemos dizer com pouco ou até nenhum exagero, queriam aprender a jogar o esporte bretão que consagrou Cabañas. O fato da seleção mexicana ter evoluído no ranking mundial e ser hoje considerada uma seleção de bom nível, ocorre de forma simultânea com sua entrada na Copa América e o ingresso dos clubes mexicanos na disputa da Copa Libertadores. Dessa forma, os confrontos contra equipes e seleções de países com pouca ou nenhuma expressão futebolística da América Central e Caribe, foram substituídos por disputas muito mais duras no seio da Libertadores, principalmente, e depois também na Copa Sul-Americana. Esses fatos não são apenas coincidências, há entre eles íntimas relações de causa e efeito, que não são totais, mas respondem, em minha opinião, por parcela significativa desse desenvolvimento. Portanto, aos mexicanos interessou, desde sempre, a associação ao futebol da América do Sul.
Da mesma forma, mas em menor intensidade num primeiro momento, interessou também à América do Sul ligar-se ao México, mais por motivos políticos do que econômicos. Num segundo momento, porém, e esse está ligado de forma clara à integração econômica com Estados Unidos e Canadá através do NAFTA, o México literalmente explodiu economicamente, crescendo numa velocidade muito superior a de todos os países sul-americanos. Em poucos anos o PIB mexicano ultrapassou o brasileiro. Nos últimos três anos, muito mais por motivos cambiais que propriamente econômicos, o PIB brasileiro voltou a ser maior que o mexicano. Isso, porém, nem é tão importante, pois o tamanho do mercado mexicano já é gigantesco o bastante para torná-lo extremamente atraente. Portanto, econômica e financeiramente, hoje interessa muito à Sudamericana estar ligada ao México.
Vou mais longe: em 2007 o Dallas disputou a Copa Sul-Americana. Nesse ano será outro, ainda não sei qual, mas teremos novamente um time da MLS – Major League Soccer – na nossa Copinha. A MLS está crescendo, e breve deverá ter 16 ou 18 clubes filiados, dois dos quais do Canadá (um em fase de ingresso). Talvez em 2010 – mas por mim seria já, ou até mesmo antes, em 2006 ou 2007 – teremos pelo menos dois times da MLS disputando a Copa Libertadores.
Isto não é informação de cocheira, não é inside information, é apenas a minha opinião e previsão baseadas no que conheço e tenho lido a respeito do futebol nas Américas.
Porque o Banco Santander investe tanto na Copa Santander Libertadores?
Em parte porque o banco tem no México sua maior operação latino-americana depois do Brasil. Da mesma forma, esse mercado ampliado é o que mantém a Toyota e motiva o VISA, outros patrocinadores de La Copa.
A satisfação dos clubes brasileiros e argentinos com a disputa daCopa Libertadores tem sua razão maior de ser nos ganhos que ela proporciona e que, estou certo, ainda têm muito a crescer. Quando falamos em México, falamos em agregar um mercado consumidor ligado a um PIB de 1,2 trilhão de dólares. E agora começamos a falar no mercado latino dentro dos Estados Unidos, um mercado que, sozinho, é maior que a soma de todos os países sul-americanos.
O caminho da integração é irreversível
Igualmente irreversível é que a CONMEBOL e a CONCACAF jamais abrirão mão de ter seus campeões a representá-las no Mundial de Clubes. A possibilidade de um time de outra confederação representar a CONMEBOL é nula. É um conjunto vazio, matematicamente falando.
Isso é sabido por todos desde sempre. Essa regra pétrea, imutável, foi estabelecida como condição sine qua non para que os mexicanos, e brevemente os americanos, disputassem a Libertadores. É algo sobre o qual não há discussão possível, algo como querer discutir a Lei da Gravidade. Os mexicanos aceitaram e aceitam plenamente essas condições, bem como a de que todo jogo final das Copas seja disputado em território sul-americano, porque para eles disputar esses torneios contra equipes sul-americanas é uma excelente forma de desenvolver seu futebol. Eles em nada são prejudicados, assim como os americanos futuramente, porque disputam a indicação para o Mundial de Clubes através de outra competição. Ninguém é prejudicado, portanto, numa análise fria da situação.
Em suma, a situação tal como é hoje, é atraente para todos os envolvidos, cada qual com seus motivos.
Nenhum centro de poder abre mão de seu sangue vital.
O poder não se transfere, o poder não se dá, o poder é sempre conquistado e defendido com unhas e dentes.
Essas regras são universais, atemporais, extremamente básicas.
Eu, particularmente, sou favorável e, dentro de minhas limitações, escrevo a favor da integração e da entrada dos americanos, dentro das regras do jogo tal como ele é jogado.
Ao menos por enquanto, estamos numa situação winning-winning, ou seja, onde os dois lados ganham e ninguém perde.
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Marcadores: CONMEBOL, Libertadores 2008, Libertadores Mundial LatinoAmerica, Palavra do Editor
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