Camisas: uma disputa longe do fim
No último domingo o Flamengo entrou em campo, na Ilha do Retiro, devidamente uniformizado pela Nike. Não fazê-lo implicaria em desobediência a sentença judicial e multa diária de algumas dezenas de reais. Não há informações, pelo menos confiáveis, de como estão os bastidores dessa disputa, agora dominada pela liminar conseguida pela Nike e que obriga o clube a cumprir seu contrato, que termina em 30 de junho do próximo ano. Este Olhar Crônico Esportivo, pelo pouco que seu titular conhece do mundo empresarial, acredita que a empresa está buscando uma negociação que satisfaça ao clube e a ela própria. Mesmo não conhecendo em detalhes a estratégia Nike para o mercado brasileiro, é fácil afirmar que o CRF é parte importante dela e, por isso mesmo, esse acordo não será rompido com facilidade. Como foi dito aqui há vários meses, à Nike interessa cumprir e renovar o atual contrato.
Sinais claros do comportamento vêm sendo emitidos a partir do Parque São Jorge. Andrés Sanches, tão logo eleito, buscou o confronto com a sua patrocinadora e fornecedora de material esportivo. Mesmo numa situação fragilizada, com a péssima campanha do time no Brasileiro 2008, seguida pelo rebaixamento para a Série B, a nova direção corintiana seguiu ‘peitando’ a empresa, criticando-a publicamente e anunciando iminente rompimento, seguindo a mesma linha de ação do Flamengo. Porém, ao contrário deste, o Corinthians não rompeu o contrato e diminuiu o tom e a freqüência dos ataques, como esse Olhar Crônico Esportivo registrou em alguns momentos.
Em sua edição de ontem, a Máquina do Esporte publicou com exclusividade que o clube e a patrocinadora reuniram-se na última sexta-feira e o clube apresentou proposta para a manutenção do atual contrato, que expira em 30 de junho de 2009, tal como o do Flamengo, e sua renovação. De acordo com o site, a proposta corintiana é que o valor do patrocínio passe dos atuais 5,5 milhões de reais para 16 milhões de reais por ano. A proposta inclui, também, o pagamento imediato de 11milhões de reais, para a manutenção do contrato atual. Desse total, quatro milhões seriam investidos em reformas do estádio do Parque São Jorge.
Comentário do Olhar Crônico Esportivo
Respeito a Máquina do Esporte e acredito em sua informação, mas não creio que sua fonte tenha passado tudo. Essa proposta, curiosamente, tirando a antecipação de onze milhões de reais, tem a ‘cara’ de uma proposta da Nike e jamais do Corinthians.
Por que?
Porque, tal como formulada e apresentada na notícia, ela é a mesma coisa que a Reebok paga ao São Paulo, com a diferença que o Tricolor já recebe valor basicamente semelhante – 15 milhões por ano – desde 1º de janeiro desse ano. Ora, isso vai contra tudo que o Corinthians falou e fez até o momento em comparação com o próprio São Paulo e fica muito abaixo do acordo Flamengo/Olympikus, da ordem de 21 milhões de reais. Pelo que já demonstrou, de forma alguma Andrés Sanches e sua diretoria proporiam receber o mesmo que o São Paulo e menos que o Flamengo pelo mesmo produto. Isso aconteceu no caso da patrocinadora principal, a Medial, mas como fruto de disputa de mercado na qual, o maior valor apresentado, foi o da empresa de medicina privada. Diante da realidade, Sanches aceitou o valor, mas agora seria diferente. Acredito que uma proposta corintiana teria um patamar mínimo de 21 milhões de reais, tal como o acordo já citado do clube da Gávea.
Por outro lado... e isso talvez explique e confirme a informação da ME, não se pode perder de vista a necessidade imediata de dinheiro que vive o Corinthians, não só para as despesas correntes como, sobretudo, para quitar os quarenta milhões que precisarão ser pagos em questão de semanas, não mais de meses. Uma injeção de onze milhões de reais nesse momento seria como uma generosa injeção de ar para quem está se afogando. Pensando por esse ângulo, essa proposta seria uma medida inteligente e de custo zero no presente para ajudar a atravessar o ano. Claro que, em tal caso, dificilmente a administração jogaria 4 milhões de reais
Os dados estão lançados e o jogo está correndo. Há negociações
Esse jogo não se limita aos muros da Gávea e Parque São Jorge, pois também é disputado no Morumbi, embora, nesse caso, apenas em fase de aquecimento, pois o valor de 21 milhões de reais despertou a atenção dos dirigentes são-paulinos que desde já estão sinalizando para a Reebok: se confirmado esse acordo, o São Paulo vai para a mesa de negociações pedir um aumento no valor de seu patrocínio.
É bom lembrar, ainda, que o clube do Morumbi anda em negociações, ou melhor, ainda está em fase de conversas sobre a renovação do patrocínio principal. Julio Casares, diretor de marketing, já disse que o clube espera conseguir 32 milhões de reais, pelo menos, para o ano de 2009, ou seja, nada menos que o dobro do valor pago até esse ano pela coreana LG. Em setembro de 2007, quando a Reebok antecipou seu acordo com o São Paulo, previ que essa disputa do patrocínio de camisa seria intensificada e adiantei que o novo valor seria por volta dos 25 milhões de reais. Posteriormente, e dependendo da campanha na Libertadores, levantei a probabilidade do valor chegar à casa dos 30 milhões de reais. A realidade, ou a vontade da direção tricolor, atropelou-me, e mesmo parando nas quartas e não chegando ao título e, consequentemente, à disputa do Mundial, a pedida já entrou bem na casa dos trinta milhões. O novo patrocínio do São Paulo terá reflexos imediatos sobre os patrocínios do Flamengo e do Corinthians, principalmente, além do mercado como um todo. E, da mesma forma que o patrocínio Reebok teve reflexo nos outros clubes e também sobre os patrocínios de camisa, esse, uma vez estabelecido um novo patamar, irá provocar reflexos, também, sobre os patrocínios e fornecimento de materiais esportivos.
Esse jogo está só começando, seu final está muito longe.
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Marcadores: Corinthians, Flamengo, Marketing e Dinheiro, São Paulo
3 Comments:
At 1:22 PM, Anônimo said…
Emerson a luta por um melhor patrocinio e saudavel e justa, sempre, mas o respeito a contratos tambem deve ser honrado...O Corinthians age a meu ver com correção, pressiona,reclama, mas segue honrando o contrato assinado enquanto luta por melhoras ate imediatas no prpiro, assim dentro da legalidade procura-se o melhor para o clube... ja o Flamengo age de forma irregular e desleal, tentando rescindir um contrato assinado entre partes sem motivos reais para tal, e pior ainda ja tendo negociado um outro contrato com outro fornecedor....
Tudo no intuito unico de conseguir adiantamento financeiro para torrar , sem muit afiscalização diga-se de passagem, basta ver a ultima aprovação de contas do Flamengo( onde se aprovou contas irregulares em nome de uma falsa "boa impressão"".
At 4:57 PM, Anônimo said…
Pefeita análise Emerson. Só acho exagerada, e de certa forma forçada a nivelação do SP junto a Flamengo e Corinthians. Corinthians mesmo em baixa teria que ter um poder de argumentação muito maior que o do SP, infelizmente o time se acanha frente aos patrocinadores.
PS: Sentença é a decisão final de um processo.
At 5:04 PM, Anônimo said…
Quanto ao comentário do ambrosio:
- Contrato faz lei entre as partes.
- Flamengo e Nike são as partes.
- Execução da obrigação no prazo estipulado é cláusula contratual.
- A Nike motivou a rescisão (mas isso será comprovado pelo Juiz somente ao final do processo após análise das provas).
- Motivou em várias ocasiões, mas duas são as destacáveis: não fornecimento de numeração adequada em algumas partidas 2007; atraso no fornecimento do novo uniforme 2008; abastecimento irregular e insuficiente das lojas...
- ... e no meu ver o pior (talvez não pra um Juiz): lançamento e abastecimento das lojas com camisas comemorativas do título estadual 1 dia antes do jogo!!!
PS: Ambrosio, irregular o Flamengo infelizmente é. Durante várias gestões e na atual, em menor grau continua sendo. Desleal foi a Nike ao assumir contrato que não pôde cumprir.
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